PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de julho de 2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ELIANA ROSSO COSTA


 
Eliana Rosso Costa nasceu em São Paulo a 12 de outubro de 1928, seu pai fez questão em registrá-la no registro civil no dia 1º de novembro, dia de Todos os Santos. (São Paulo naquela época era considerada uma cidade pequena) . São Paulo passou de centro regional a metrópole nacional, se industrializando e chegando a seu primeiro milhão de habitantes  em 1928. Em 1929 São Paulo ganha seu primeiro arranha-céu, o edifício Martinelli.






 A partir da década de 1920 com a retificação do curso de rio Pinheiros e reversão de suas águas para alimentar a Usina Hidrelétrica Henry Borden, terminaram os alagamentos nas proximidades daquele rio, permitindo que surgisse na zona oeste de São Paulo, loteamentos de alto padrãoconhecidos hoje como a “Região dos Jardins”.  Eliana Rosso Costa tem uma sólida formação escolar e acadêmica. Estudou inicialmente no Liceu Rio Branco Uma entidade escolar do mais alto nível do país. O Colégio Rio Branco é uma escola brasileiraparticular da cidade de São Paulo e tem como finalidade maior formar as crianças desde a educação infantil até o ensino médio. Com mais de 70 anos de história, é considerado um dos mais tradicionais colégios da cidade de São Paulo. O colégio faz parte do Programa de Escolas Associadas da UNESCO, que o qualifica para partilhar práticas educacionais com instituições de todas as partes do mundo, por meio de projetos inovadores nas áreas de Ciência e Cultura.Instalado em duas unidades, uma no bairro de Higienópolis, em São Paulo, com mais de 15.000m² de área construída, e outra na Granja Viana, município de Cotia, com área total de 80.000m² e 23.000m² de área construída. O colégio foi fundado por Savério Cristóforo, professor de um curso preparatório ao exame de admissão. Com o tempo, o curso se expandiu e precisou aumentar o espaço físico, mudando para outro local, e passou a chamar-se Instituto Rio Branco. Em 1926 foi trocado o nome para Liceu Nacional Rio Branco, passando por nova ampliação de suas instalações. Falecendo o professor Savério, em 1945, o Liceu foi comprado por dr. Antônio Sampaio Dória, mas acabou encerrando suas atividades logo no primeiro semestre.José Ermírio de Moraes, que foi senador da República por Pernambuco em 1963, vendo que a escola tinha um valor institucional, adquiriu o Liceu em 1945, e deu-lhe o nome de Colégio Rio Branco. Em 1946, o colégio foi doado à Fundação de Rotarianos de São Paulo. Nessa época localizava-se na Rua Doutor Vila Nova, onde atualmente é o Tribunal de Justiça da Polícia Militar; posteriormente, nos anos 60, transferiu-se para o atual prédio da unidade Higienópolis, o Edifício Rotary (Rotary International).O Teatro Rio Branco revelou atores como Antonio Fagundes, Dan Stulbach e Odilon Wagner.Outras pessoas notórias que também estudaram na instituição incluem o locutor e narrador esportivo Galvão Bueno, o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, o humorista e apresentador Carlos Alberto de Nóbrega, o zoólogo e compositor Paulo Vanzolini e o cantor e compositor Jair de Oliveira.

                                                      SÃO PAULO DE ANTIGAMENTE

Qual era a atividade de seus pais?

O meu pai Chiafredo Rossi veio da Itália, ele casou-se com a minha mãe, Aurora Baratti Rosso, filha de italianos. Tiveram três filhos: Rovana Rosso, Hélio Rosso e Eliana Rosso. O meu pai nasceu entre 1988 a 1989, ainda moço, em 1910 ele veio para o Brasil, por conta própria, não veio com alguma das levas de imigrantes, em 1914 teve que voltar para a Itália convocado pelo governo para servir as forças italianas durante a Primeira Grande Guerra Mundial. Em 1918 ou 1919 ele voltou para o Brasil ele e mamãe casaram-se, já haviam se conhecido anteriormente no Brasil. Mamãe, como de hábito naquela época cuidava da casa e dos filhos. Papai tinha escritório de importação e exportação, chamava-se DECAL – Despachos de Cabotagem Ltda.

A senhora nasceu quando a sua família morava em que bairro?

A nossa família morava na primeira travessa da Avenida da Consolação, para quem se dirige no sentido bairro–centro, ao lado direito. Era uma casa enorme com um quintal imenso. Ao fundo tínhamos a Avenida Nove de Julho, já estava traçada a avenida mas era em chão de terra batida! Tinha um barranco que dava para a futura Avenida Nove de Julho. Nós íamos para o escritório do papai lá pelas cinco e meia da tarde, mamãe de chapéu, eu de chapeuzinho também, íamos buscá-lo na DECAL. Ficava na primeira travessa da Rua Direita, no centro de São Paulo. Íamos a pé, até a Rua da Consolação, pegávamos o Viaduto do Chá e entrávamos na Rua Direita.
A senhora conheceu a antiga Igreja da Sé?

Não. Nós freqüentávamos a Igreja da Consolação. Eu estudei no Liceu Nacional Rio Branco que era perto do Mackenzie. É interessante observar que o Liceu Rio Branco tinha uma área em uma quadra e outra na quadra em frente, para os alunos passarem sem correrem riscos havia uma galeria subterrânea que atravessava a Avenida Higienópolis. Entrávamos pela entrada principal, nesse prédio tínhamos aulas, outras aulas eram dadas no prédio do outro lado da rua, para chegarmos até lá atravessávamos o subterrâneo. O Jardim da Infância eu estudei no Sagrado Coração de Jesus, situava-se na esquina da Avenida Consolação. A minha irmã fez todo o curso dela nessa escola.

A senhora conheceu o Mappin?

O Mappin era na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal. Tinha o famoso Salão de Chá, freqüentado pela elite de São Paulo. Eu era muita nova, não me lembro em detalhes. Era enorme, muito grande, seus proprietários eram estrangeiros. Lembro-me da Casa Fretin, existe até hoje. Ao lado do Mappin, na Rua Xavier de Toledo esquina com o Viaduto do Chá havia a Light, que fornecia energia elétrica para São Paulo.
MAPPIN
MAPPIN
MAPPIN
A Praça da República era bonita?

Muito bonita e bem cuidada. Havia diversos cinemas nas imediações, entre eles o Odeon, com duas salas: Sala Vermelha e Sala Azul.


Seus estudos no Liceu Rio Brancos deram-se após o término do jardim da infância?

Na época nós mudamos e o Liceu Rio Branco ficava mais próximo de casa. Conclui o primário e o ginásio no Rio Branco. O Clássico eu fiz em um colégio italiano, o Dante Alighieri. Na Alameda Jaú.  Naquela época os professores eram todos europeus.

O idioma falado era o italiano?

Não podia! Falavam português, mas ensinavam o italiano. Os professores não eram apenas italianos, mas também franceses, ingleses, alemães.

Quais idiomas eram lecionados?

Além do português, aprendemos grego, latim, italiano, francês, inglês, espanhol. A Avenida Paulista era muito bonita, praticamente havia só as mansões. Não havia prédio.
Qual era a mansão mais bonita?

Cada uma tinha uma característica própria, eram muito lindas, a muito famosa era a “Casa das Rosas” que é preservada até hoje. Acredito que a mais bonita e com certeza a maior era a do Conde Francisco Matarazzo. Era todo de mármore.

                                                       FRANCISCO MATARAZZO

                                               MANSÃO MATARAZZO DEMOLIDA…

                                           MAUSOLEO DA FAMÍLIA MATARAZZO                                     

Como era a área onde hoje se situam os bairros denominados de Jardins?

Era um local muito bonito! O meio de transporte que mais usávamos era o bonde, havia o bonde aberto nas laterais e o bonde fechado, também conhecido como “Camarão” pela sua cor vermelha.

O pai da senhora trabalhava em São Paulo?

O escritório dele situava-se em São Paulo, mais tarde colocou um segundo escritório em Santos.

A senhora formou-se em que área?

Formei-me pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da USP. Após concluir a faculdade fui lecionar em escolas privadas e depois prestei concursos para me efetivar no Estado.
A postura dos alunos em sala de aula era muito diferente?

Muito diferente! O aluno poderia até sofrer a sanção máxima que era a expulsão da escola. No ginásio eu aprendi francês e inglês. No clássico aprendi latim e grego.

O grego é uma língua mais complexa para aprendermos?

O alfabeto grego é diferente do nosso. Inicialmente tínhamos que estudar o alfabeto grego.

Latim já é mais familiar?

Sim! É o nosso alfabeto. Ou seja, o nosso alfabeto é que vem do latim.

O que muda é a pronuncia do latim?

É difícil saber exatamente qual era a pronuncia! A escrita nós conhecemos, ela esta presente, mas como saberemos a pronuncia? Havia mais de uma pronuncia do latim. Isso tudo é suposição. Não existia nada a respeito da pronuncia.

Pelo que vemos, duas pessoas podem pronunciar a mesma palavra em latim, de formas diferentes e ambos dirão que estão corretos?

Correto!

E na verdade ambos poderão estar pronunciando de forma incorreta a palavra em latim?

 Não havia meios de preservar a palavra em sua forma oral de modo original. Não existia gravação da palavra!  O que temos são suposições de pronuncias, apenas isso. A letra “c” simbolizada pela letra “k”. Como exemplo temos Kikero, ou seja, Cícero! Isso é apenas uma suposição, não há nada gravado!

O fato de a senhora ter estudado profundamente o latim, tornou-a professora de latim?

Eu lecionava só latim, depois quando eliminaram o latim do programa de estudo, passei a lecionar português.

A senhora vivenciou uma época em que o professor era considerado uma autoridade, tal qual um promotor público, um juiz.?

Os nossos salários eram equiparados aos da magistratura! Na minha época quem ia ser professor eram pessoas da classe média e alta. Éramos obrigados a preparar as aulas. Corrigia os exercícios. Ensinava.

Como eram os seus alunos de latim?

Eles aprendiam! Eram classes de 50 alunos, porém não abriam a boca, prestavam muita atenção a aula. Quando o professor entrava na classe estavam todos em silêncio, em pé, o professor mandava sentarem-se, eles sentavam.  O professor era muito respeitado, mesmo os pais quando iam conversar conosco, sentíamos o respeito deles por nós. Agora, infelizmente o professor está lá embaixo. Naquela época as classes já eram mistas, meninas e meninos.

A seu ver, deveríamos voltar a estudar latim?

O português, francês, rumeno, espanhol, italiano são todas línguas latinas. França, Espanha, Portugal, Rumenia, Itália, faziam parte do Império Romano, todas essas línguas são latinas, elas se diferenciaram porque anteriormente nesses países já havia outra língua. Quando aprenderam o latim, modificaram o som, modificaram as palavras, assim através de muitos séculos, surgiu o espanhol, o português, o francês, o italiano, o rumeno e uma série de outros dialetos.

O Brasil não tem dialetos, há uma razão para isso?

Os antepassados eram indígenas, e os portugueses nunca incorporaram a língua indígena, o contato lingüístico foi mínimo, não houve influência.

Houve um período em que o colégio do Estado era muito bem conceituado e o colégio particular era tido como ensino de qualidade inferior?

Teve sim! Foi um período em que o colégio do Estado tinha melhor reputação do que o colégio particular. Era uma honra ser aluno do Estado. O colégio do Estado expulsava o aluno, desde que o mesmo apresentasse razões para tal. Havia incentivo ao civismo, cantava-se o Hino Nacional com regularidade. Valia a pena ser professor. A escola é muito importante, é o inicio da vida profissional da pessoa.

A senhora acredita que um dia o ensino possa ter uma qualidade melhor?

Não! Pode piorar, mas melhorar não! O ensino está de acordo com o estilo de vida atual. A criança hoje manda dentro de casa, quando éramos crianças obedecíamos.

A senhora casou-se?

Quando eu era criança dizia à minha mãe que eu queria ter catorze filhos! Nem imagino onde arrumei esse número, mas era o que eu queria! Depois de adulta tomei consciência de que dois filhos eram suficientes. Casei-me com Manoel Costa. Não tivemos filhos.  Quando éramos professoras do Estado, prestávamos concurso para escolher a escola onde iríamos lecionarmos, uma vez escolhi Santos, onde permaneci por cinco anos, na época não era casada.

A senhora dirige até hoje?

Dirijo! Tenho 88 anos, enxergo muito bem, nem óculos eu uso. Tenho uma “vantagem” que nasci com ela: com um olho enxergo muito bem de perto, sou capaz de ler letrinhas de um milímetro. (Nesse momento Da. Eliana pede algo escrito em letra minúscula para demonstrar sua capacidade de leitura, o que é nitidamente comprovada). Com o outro olho eu vejo longe. Sou capaz de contar os andares de um prédio a longa distância. Esse defeito só foi detectado quando entrei na faculdade. Eles faziam um exame rigorosíssimo.

Os professores da USP eram muito exigentes?

Eram! Tínhamos que estudar e estudar muito!

Qual seu tipo de música preferida?

Música clássica apenas! A música me traz uma sensação muito agradável! Desde muito pequena já tocava piano. Meu irmão e minha irmã começaram com violino, quando comecei aprender a tocar piano minha irmã também passou a aprender a tocar piano. Papai era muito rigoroso com relação a música, só deixava ouvirmos música clássica. Ele nos levava ao Teatro Municipal de São Paulo. Era incrível! Teatro, concertos.
                                           TEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO







                                  
                                        

             Salão dos Arcos no subsolo do Teatro Municipal


Como a senhora conheceu Piracicaba?

Por muito tempo eu quis sair de São Paulo, por causa da poluição. Visitei diversas cidades do interior. Fiquei sabendo de uma conferência que ia ser feita na USP. Inscrevi-me, quando cheguei, vi quem iria proferir a palestra, uma professora que tinha sido minha professora na USP: a Maria José! Antes de ela proferir a palestra fui conversar com ela, contei-lhe da minha vontade de deixar São Paulo, foi então que ela disse-me que estava morando em Piracicaba, eu iria adorar vir para cá. Quando cheguei a Piracicaba foi paixão a primeira vista, decidi que era aqui que iria morar o resto da minha vida.
                                                  Instituto Rio Branco
Uma grande história começa com uma formação moral e intelectual sólida, muito trabalho, disciplina e perseverança. Foi assim com Savério Cristófaro, professor dedicado, que ganhou fama e levou muitos candidatos a procurá-lo para aulas particulares, até fundar uma escola preparatória aos exames de admissão no centro de São Paulo. O número de alunos cresceu muito rapidamente. Tanto que o professor Savério precisou transferir sua escola para um local maior, que levou o nome de Instituto Rio Branco, em 1925, e, mais tarde, em 1926, Liceu Nacional Rio Branco. Começava aí a linda história de um dos melhores e mais tradicionais colégios de São Paulo. Em 22 de novembro de 1946, nasceu a Fundação de Rotarianos de São Paulo, a partir da união de 20 rotarianos do Rotary Club de São Paulo. Protagonistas de seu tempo, conscientes de seu potencial de intervenção pela melhoria da sociedade, os fundadores definiram, como princípio de atuação, o investimento em educação, comprometendo-se com a formação das futuras gerações do país.  A esta época, problemas administrativos e financeiros levaram ao fechamento do Liceu Rio Branco. José Ermírio de Moraes, um dos fundadores da FRSP, adquiriu a escola, que passou a chamar-se Colégio Rio Branco. A instituição foi, então, doada para a Fundação de Rotarianos de São Paulo.


                                                     O cine-teatro Odeon

O cine-teatro Odeon foi construído a rua da Consolação, 40-42, em parte se adaptando para isso uma antiga agência de automóveis, o Coliseu-Palácio e, de outro lado, construindo-se um prédio de quatro pavimentos. Entre os dois imóveis, abria-se a entrada do Odeon. O Escritório Técnico Júlio de Abreu Júnior, instalado na rua Barão de Itapetininga, 65, ficou encarregado da obra. O prédio do número 40 seria de quatro pavimentos (térreo mais três andares) sob sete colunas de cimento armado de 0,30×0,30 cm. O de número 42 seria aumentado em um pavimento, adaptando-se o Coliseu-Palácio para dois cines-teatro, que mais tarde levaram o nome de Odeon Sala Vermelha e Odeon Sala Azul (Lícia de Oliveira engana-se ao apontar que este seria o primeiro cinema com duas salas de projeção, já que o Central, de 1916, também tinha duas salas). A frente do cinema ocuparia 16 metros, contando com três portas de entrada, com 30 metros de fundo, sendo ladrilhada e coberta por uma estrutura de ferro sustentada por oito colunas de cimento armado, criando um vão livre para cada um dos palcos. Cada


um deles teria platéia, camarotes e três escadas de acesso aos camarotes. Janelas em arcos se abriam neste piso para a rua. Nos dois últimos pavimentos seriam construídos apartamentos. Mandado para análise de Benjamin Egas em 15 de março, ele informou que era proibida a construção de cinemas com pavimentos superiores (art. 167 do ato


1235), estando em desacordo com a legislação o piso da platéia e as portas de acesso à platéia obstaculizadas por cadeiras. O engenheiro Júlio Pacheco, do escritório técnico, foi convocado para dar explicações suplementares. Ele anotou no processo que os dois cine-teatros tinham “[…] entradas amplas e independentes por meio de largos planos inclinados, sem nenhum degrau, e saídas para as ruas Consolação e Epitácio Pessoa. E bom notar que esta grande segurança dadas pelas amplas e fáceis saídas é ainda aumentada por ser toda a construção de concreto armado e se acharem as cabines dos operadores cinematográficos [projecionistas] externas às salas de espetáculos”. Sobre o art. 167 nenhuma palavra. Dito isto, ele entrou com um pedido de reconsideração do despacho. Em 23 de março, provavelmente Arthur Saboya e o diretor da Diretoria de Obras foram em vistoria ao prédio. Ambos declararam “bem impressionados” com o projeto de adaptação, “[…] verificando que os diversos planos terão acesso inteiramente independentes. Quanto à superposição de pavimentos [os destinados a apartamentos], tratando-se de destinos equivalentes – Cinema e Teatro – não é o caso previsto na lei”. A Administração já era bem flexível quanto à construção de apartamentos ou escritórios sobre cinemas doze anos depois da lei. O alvará de construção foi concedido em 11/4/1928 (nº. 875, série 1), pagando-se custas em 19 de abril (nº. 718, série 8), no valor de Rs 1:405$100 (um conto e quatrocentos e cinco mil e cem réis). Inventário dos espaços de sociabilidade cinematográfica da cidade de São Paulo (1895-1929)


José Inácio de Melo Souza Parceria AHMWL /DPH/ SMC/ PMSP e Cinemateca Brasileira Programa de Pós-Doutorado – Bolsista do CNPq-Brasil http://www.arquivohistorico.sp.gov.br http://www.cinemateca.org.br1 / 3 O Odeon foi arrendado para a Sociedade Anônima Empresa Serrador, sendo Inaugurado em 11/10/1928 com os filmes Lírio de Granada, com Lily Damita (Programa Serrador), na Sala Vermelha, e Quarteto de amor, com Florence Vidor, na Sala Azul (Programa Paramount). Nesse mesmo dia a empresa exibidora pediu a licença para funcionamento, cuja informação foi dada pelo engenheiro Antonio Fereira. Ele se limitou a dar a capacidade das salas: o Salão Vermelho tinha 30 frisas, 32 camarotes, 400 balcões e 1.680 poltronas; a Sala Azul era menor, com 18 camarotes, 240 balcões e 1600 poltronas. O alvará foi emitido no mesmo dia. Os ingressos para a estréia custavam dois mil réis e meia-entrada a Rs 1$500, somente na platéia porque frisas e camarotes estavam todos vendidos Segundo o site Almanack Paulistano, ele foi construído onde está hoje o estacionamento do edifício Zarvos, contando com 15 mil m2, cinco salões (dois cinemas, um bar, uma confeitaria-sorveteria com 300 mesas, dancing e uma sala


de exposições), intitulando-se o “maior centro de diversões da América Latina”, com capacidade para 15 mil pessoas. A Sala Vermelha seria mais requintada que a Azul, exigindo roupa de gala. Teria orquestra com 30 “professores”, uma Eletrola Ortofônica Auditorium para música de discos fabricada pela Victor Talking Machines, e apresentaria somente filmes em lançamento. Havia sessões especiais para as senhoritas nas quintas-feiras. As duas salas de projeções davam lugar a grandes bailes de carnaval, durante os festejos de Momo. O maestro da inauguração foi Antonio Giammarusti, apresentando-se no palco a cantora Ermelinda Cichero. Uma jazz-band animou o hall de entrada. Os escritórios da Empresa Serrador em São Paulo também foram transferidos para o prédio da rua da Consolação, 42, conforme pedido do gerente Júlio Llorente em


11/12/1928 (antes estavam na rua do Triunfo, 34). A capacidade de público da Sala Vermelha em 1939 era de 2.510 espectadores (1.740 na platéia, 315 nas frisas e 455 nos balcões); na Sala Azul cabia 2.020 espectadores (1.675 na platéia, 90 nas frisas e 255 nos balcões). MEMÓRIA Comentário do cronista Guilherme de Almeida: “Naturalmente para um cronista cinematográfico, gostosamente forçado a ‘torcer’ dia a dia pelo cinema, a inauguração de qualquer nova casa de exibições só pode ser motivo de júbilo. Ora, com a inauguração hoje, do ‘Odeon’, esse júbilo é particularmente grande, enorme, na mesma proporção da nova grande, enorme propriedade da Empresa Serrador. O ‘Odeon’ significa para o cinema e para São Paulo, um triunfo. Teatros, ‘bar’, confeitaria, ‘dancing’, galerias para exposições… tudo aí se reúne, tudo aí se confunde num microcosmo delicioso onde a vida correrá fácil e bonita entre as coisas gostosas e que são as únicas que justificam o inevitável sacrifício de viver… Ao cinema, o ‘Odeon’ dedica duas salas majestosas: a ‘Vermelha’ e a “Azul’. Aquela mais ‘rafinée’, mais feita para o ‘grand monde’… que por sinal, é bem Inventário dos espaços de sociabilidade cinematográfica da cidade de São Paulo (1895-1929) José Inácio de Melo Souza Parceria AHMWL /DPH/ SMC/ PMSP e Cinemateca Brasileira
                                                                   Light
Em 7 de abril de 1899, em Toronto, no Canadá, foi fundada The São Paulo Trainway, Light and Power Company, que em 17 de julho do mesmo ano, foi autorizada, por decreto do presidente Campos Salles, a atuar no Brasil. Sua atuação em São Paulo começou no mesmo ano, através da construção da Usina Hidrelétrica Edgard de Sousa em Santana de Parnaíba, concluída em 1901.
Posteriormente, a Light São Paulo passaria a operar os serviços de geração e distribuição de energia elétrica e os serviços de bondes elétricos do município de São Paulo, uma revolução para a época, quando havia apenas bondes puxados a burro.
No dia
9 de junho de 1904, os mesmos sócios canadenses criam a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power. A partir de 1912, as duas empresas passaram a ser controladas pela holding Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd.
Entre 1900 e 1930, a Light São Paulo realizou inúmeras obras de expansão dos serviços de energia elétrica na capital de São Paulo e municípios vizinhos, construindo em 1908 a
represa de Guarapiranga e usinas hidrelétricas, como Edgard de Souza e Rasgão, localizadas no Rio Tietê, em Santana do Parnaíba, a 40 quilômetros da capital. Eram obras necessárias para acompanhar o crescimento econômico e populacional da cidade e arredores e consecutivo aumento do consumo de energia elétrica.
Mais tarde, na década de 1940, a Light São Paulo também foi responsável pela retificação do rio Tietê, Rio Pinheiros e pela construção da represa Billings e da usina hidrelétrica Henry Borden.
Em meados da década de 1940, a Light São Paulo encerra os serviços de transporte público por meio de bondes elétricos, repassando-os à prefeitura de São Paulo, através da
CMTC, que extinguiria o serviço de bondes no fim dos anos 1960.
Em 1956, a holding Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd. começa a atuar em inúmeros ramos, dentre os quais o imobiliário, hoteleiro, serviços de engenharia, agropecuária, entre outros, e muda de nome, passando-se a chamar Brascan – Brasil Canadá Ltda. A empresa São Paulo Tramway, Light and Power Company se funde com a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company, numa única razão social, agora chamada de Light – Serviços de Eletricidade S/A, vinculada à
Brascan Ltda.

Fim das atividades

No final da década de 1970, durante o governo militar, o contrato de concessão da Light – Serviços de Eletricidade S/A com o governo federal, assinado no início do século e com validade de setenta anos, seria encerrado, com a entrega dos ativos investidos pela empresa ao governo brasileiro. Porém, em circunstâncias obscuras, o então ministro das Minas e Energia, Shigeaki Ueki, por meio da Eletrobrás, adquiriu o controle acionário da Light em 1979.
Na sequência, em
1981 o governo do estado de São Paulo adquiriu a Light paulista e criou a sua própria empresa de energia, com o nome de Eletropaulo, que na década de 1990 foi vendida em várias empresas de porte menor, sendo algumas privatizadas pelo governador Mário Covas.
O grupo
Brascan – Brasil Canadá Ltda., depois da venda da Light, continua operando no Brasil nos negócios remanescentes, nos ramos imobiliário, hoteleiro, serviços de engenharia, agropecuária, bancos, seguros e de shopping centers. É proprietário dos shoppings Rio Sul, Madureira Shopping, Bay Market, Paço do Ouvidor, Botafogo Praia Shopping e Centro Empresarial Mourisco – no Rio de Janeiro; Brascan Open Mall, Raposo Shopping, Pátio Higienópolis, Shopping Paulista, West Plaza – em São Paulo; Shopping Crystal – no Paraná; Shopping Cidade – em Belo Horizonte. Juntos, eles recebem 90 milhões de pessoas/ano, movimentando anualmente cerca de US$ 100 milhões em locação de lojas.

A marca e empresa Light, apesar de há muito tempo extinta pela sucessora Eletropaulo, deixou alguns legados pela cidade de São Paulo.

As estações de transmissão de energia elétrica mais antigas, como em Santana, Cambuci e Bela Vista, conservam traços do estilo arquitetônico da época e influências de arquitetos canadenses. O antigo edifício-sede da Light São Paulo, batizado de Alexandre Mackenzie, em homenagem a um dos sócios da empresa, localizado na Praça Ramos de Azevedo, ao lado do Teatro Municipal e do Viaduto do Chá, é considerado de relevante valor histórico e foi tombado pelo Condephaat. Construído na década de 1930, foi internamente adaptado para ser utilizado como um shopping center (o Shopping Light) na década de 1990, porém externamente conserva as características originais. Outro legado se observa nos postes ornamentais do centro histórico de São Paulo cujas peças foram importadas na primeira metade do século XX para a implantação do luz elétrica na cidade.
Ainda hoje, pais e avós, que viveram na época da Light, reclamam das elevadas contas de energia elétrica atuais e das luzes acesas sem necessidade aos filhos e netos dizendo “vocês acham que eu sou sócio da Light?”, numa prova de que o nome da empresa extinta ainda é forte no inconsciente coletivo paulistano.
A Fundação Energia e Saneamento, criada em
1998 para preservar e divulgar o patrimônio histórico-cultural do setor energético, herdou boa parte de documentos e objetos antigos da Light e de outras antigas empresas de energia e saneamento já extintas.
A Light também era jocosamente chamada de “São Paulo Light and Too Much Power”, ou seja, “São Paulo Luz e Poder Demais”.

Os primeiros passos da Light começam em 7 de abril de 1899, em Toronto, no Canadá, onde foi fundada a São Paulo Tramway, Light and Power Company, que em 17 de julho do mesmo ano, foi autorizada, por decreto do presidente Campos Sales, a atuar no Brasil. Sua atuação em São Paulo começou no mesmo ano, através da construção da Usina Hidrelétrica Parnaíba, concluída em 1901, posteriormente passando a operar os serviços de geração e distribuição de energia elétrica e bondes elétricos do município de São Paulo.
A partir do sucesso da operação paulista, no dia 9 de junho de 1904, os mesmos sócios canadenses criaram no Canadá a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power, o primeiro nome da Light no Rio de Janeiro, que recebeu autorização governamental para funcionar no Rio de Janeiro em 30 de maio de 1905. Nesse mesmo ano a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power adquiriu o controle acionário da concessionária de iluminação a gás, a empresa belga Société Anonyme du Gás de Rio de Janeiro, serviço que foi controlado pela Light até 1969, quando foi transferido para o governo estadual.
Em 1905, o Brasil ainda não era um país industrializado e a Light dava início à construção da então maior e mais moderna usina hidrelétrica do país, a Usina de Fontes, situada no município de Piraí, no estado do Rio de Janeiro. Nas décadas seguintes, conforme o Rio de Janeiro crescia, entraram em operação outras usinas: Ilha dos Pombos (1924), de Fontes Nova (1940), Santa Cecília (1952), Vigário (1952), Nilo Peçanha (1953) e Pereira Passos (1962).
Em 1907, a Light adquiriu e unificou diversas companhias de bondes e carris urbanos que funcionavam na cidade, controlando o serviço até 1963, alargando a zona urbana do Rio de Janeiro, contribuindo para o surgimento de vários bairros como Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon. Além dos bondes, em 1918 investiu no ônibus elétrico que percorria a avenida Rio Branco e circulou até 1927. Um ano antes, criou a Viação Excelsior, os modernos ônibus com cigarra e cobrador. Em 1928, surge o Imperial, ônibus de dois andares, logo apelidado de chope duplo pelo carioca, que utilizou a condução até 1948.
A Light adquiriu ainda, de um consórcio alemão, a concessão do serviço telefônico, passando a controlar as comunicações nas duas principais cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, quando em 1966 passa o serviço para o governo federal.
A partir de 1912, a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power passa a ser controlada pela holding também canadense Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd. – Batraco, que também se transforma em controladora da Light de São Paulo.
Ao longo de quase cinquenta anos a vida e a aparência da cidade do Rio de Janeiro foi modificada pela empresa, que substituiu o bonde puxado a burro pelo elétrico, o lampião a gás pela luz elétrica, o fogão a lenha pelo gás canalizado, o mensageiro pelo telefone.

Alteração de denominação

Em 1956, a holding Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd. começa a atuar em inúmeros ramos, dentre os quais o imobiliário, hoteleiro, serviços de engenharia, agropecuária, entre outros e mudou de nome, passando-se a chamar Brascan – Brasil Canadá Ltda. A empresa São Paulo Tramway, Light and Power Company se funde com a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company, numa única razão social, agora chamada de Light – Serviços de Eletricidade S/A, vinculada à Brascan Ltda. A partir daí, o nome Light, já popularizado e consagrado pela população dos dois estados, seria a razão social da empresa.

Estatização

No final da década de 1970, o contrato de concessão da Light – Serviços de Eletricidade S/A com o governo federal, assinado no início do século e com validade de setenta anos seria encerrado, com a entrega dos ativos investidos pela empresa ao governo brasileiro. Porém em circunstâncias obscuras, principalmente no momento político vigente (regime militar), o então ministro das minas e energia Shigeaki Ueki, através da Eletrobrás, adquiriu o controle acionário da Light – Serviços de Eletricidade S/A e estatizou-a.
A justificativa oficial para a compra era a de que esta se fazia necessária, pois só tendo o governo como mediador a empresa conseguiria os empréstimos externos necessários aos investimentos na expansão de seus sistemas. Sem isso, o próprio desenvolvimento industrial das cidades do eixo Rio – São Paulo estaria em risco. A compra da Light marcou a conclusão do processo de nacionalização do setor de energia elétrica, iniciado em 1961 com a aprovação da lei que criou a Eletrobrás, consagrando a adoção da solução estatizante para o setor.
Na sequência, em 1981 o governo do estado de São Paulo adquiriu a parte paulista da Light e criou a sua própria empresa de energia, com o nome de Eletropaulo.
A parte fluminense da Light, por outro lado, virou uma empresa estatal federal voltada à holding estatal federal Eletrobrás, com a mesma denominação de antigamente, Light Rio ou Light, sendo uma das principais empresas estatais do estado, mantendo a responsabilidade pelo fornecimento de energia elétrica nas principais cidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e do Vale do Paraíba Fluminense.

Privatização

A Light foi privatizada pelo programa federal de desestatização através de leilão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em 21 de maio de 1996, onde os compradores da empresa foram as empresas/consórcios:

Estas empresas passaram a controlar cerca de oitenta por cento do capital da Light Rio, sendo os outros 20,6 por cento pertencentes acionistas minoritários.
Em fevereiro de 2002, foi concluído o processo de reestruturação societária, consolidando a EDF como principal acionista/acionista controladora da Light.
Para cumprimento da legislação vigente sobre o setor elétrico, em que as atividades de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica precisam ser alocadas em empresas diferentes, foi efetuado o processo de desverticalização da Light em 2005, originando as seguintes empresas:

  • Light Energia S.A., responsável pela geração/transmissão;
  • Light Serviços de Eletricidade S.A., responsável pela distribuição,
  • Light Esco Ltda, comercializadora;
  • holding Light S.A., controladora das três operacionais.

Estas empresas formam, atualmente, o Grupo Light.
Em 28 de março de 2006, foi celebrado o Contrato de Compra e Venda de Ações entre a EDF International S.A (EDFI) e a Rio Minas Energia Participações S.A. (RME), sendo assim a empresa RME a única controladora das empresas do grupo, com 52.46% da Light.
Em Dezembro de 2009, a Companhia Energética de Minas Gerais comprou as ações da Andrade Gutierrez Concessões S.A. (AG Concessões), Pactual Energia Participações S.A. (Pactual Energia) e Luce Brasil Fundo de Investimentos em Participações (Luce)e tonou-se assim a única acionista da RME, com 52,46 por cento da Light S.A.
Atualmente, é administrada pela Companhia Energética de Minas Gerais.

Produção de energia

A Light Rio, através da Light Energia S.A, tem uma estrutura que inclui cinco usinas hidrelétricas, com capacidade instalada de 852 MW. São elas: Fontes Nova, Nilo Peçanha e Pereira Passos, localizadas no complexo hidrelétrico de Lajes (em Piraí, no Sul Fluminense), Ilha dos Pombos, no município de Carmo (divisa com Minas), e Santa Branca, no município paulista de mesmo nome.
A empresa possui também duas usinas elevatórias, Santa Cecília, em Barra do Piraí, e Vigário, em Piraí, responsáveis pelo bombeamento das águas do rio Paraíba do Sul e do rio Piraí, que geram energia. As águas do rio Piraí, além de aproveitadas para gerar energia, são utilizadas para abastecimento de água para o Grande Rio através do sistema Guandu, operado pela CEDAE.
Entretanto, a Light não produz toda a energia elétrica que distribui a seus clientes, necessitando comprar energia adicional de outras usinas/empresas geradoras, tais como o complexo nuclear de Angra dos Reis, Furnas Centrais Elétricas e Itaipu.
Em julho de 2011 seis bueiros da empresa explodiram simultaneamente.[7] Segundo empresa, o acidente pode ter sido por uma falha no sistema de transmissão

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