A Memória de Osmar Modolo: Um Testemunho de Vida Simples, Mas Profunda
Em toda profissão, seja ela qual for, a ética, o respeito e o discernimento são fundamentais para a construção de uma história significativa. E foi com esse espírito que Sr. Osmar Modolo, homem de vida simples e coração generoso, aceitou compartilhar sua trajetória de vida, repleta de episódios marcantes e de pessoas que, ao longo dos anos, fizeram parte de sua jornada.
Com uma memória impressionante e uma lucidez inabalável, mesmo diante das dificuldades de locomoção, Osmar desejava profundamente contribuir para o registro da história de sua cidade, oferecendo seu testemunho de vida como um legado para as futuras gerações. Seu bom humor, sempre contagiante, conquistou inúmeros amigos, e suas histórias, cheias de vivências e aprendizados, eram verdadeiras lições de vida. No dia 06 de dezembro de 2024, aos 96 anos de idade, o senhor Osmar faleceu.
Embora simples, a vida de Osmar foi rica em experiências que refletiam a beleza dos pequenos gestos e a importância das relações humanas. Cada episódio contado por ele carregava uma dose de sabedoria e carinho, como se o próprio Osmar quisesse nos lembrar da importância de valorizar o que realmente importa: as pessoas e os momentos que marcam o nosso caminho.
No dia 6 de dezembro do ano passado, Osmar partiu, deixando um vazio imensurável, mas também o desejo profundo de que sua história fosse contada. Foi então que sua esposa, Sra. Nair Bradoti Alves, com uma coragem admirável, decidiu honrar o desejo de seu amado marido. Mesmo diante da dor da perda, ela se dedicou a dar voz ao testemunho de Osmar, acreditando que sua experiência de vida merecia ser compartilhada, enriquecendo ainda mais a história de sua cidade.
O legado de Osmar Modolo é um convite para que todos nós, com humildade e respeito, nos lembremos da importância de preservar as memórias que nos definem e de reconhecer as pequenas histórias que, juntas, formam a grandiosa história de uma comunidade. Osmar Modolo nasceu no dia 02 de outubro de 1928, filho do Sr. Pedro Modolo e da Sra. Augusta Trevisan, falecidos.
Senhora Nair, em qual cidade a senhora nasceu?
Nasci na cidade de Rio das Pedras, situada a 16 quilômetros de Piracicaba. Nasci no dia 11 de setembro de 1940. Sou filha de Atilio Braidoti e Rosa Salvatto Bradotti Eles tiveram quatro filhas: Orlanda, Santina, Maria e Nair. Morávamos e trabalhamos na Fazenda São João. Quando mudamos para Piracicaba eu tinha entre 10 e 15 anos de idade. Em Rio das Pedras frequentei o Grupo Escolar Professor Corte Brilho, (Pelo Decreto de 23 de fevereiro de 1945 O Grupo Escolar de Chicó, em Piracicaba, recebeu a denominação de Professor Corte Brilho). O diretor era o Prof. João Chiarini, lá eu estudei até a quarta série. Convivi muito pouco tempo com o meu pai, apenas até os meus três anos de idade. Ele ficou muito doente. A minha mãe assumiu toda a responsabilidade, trabalhava na roça, cuidava de nós, foi uma luta muito grande. As minhas irmãs mais velhas ao terminarem a quarta série já iam trabalhar em período integral, ainda muito novas. Com aproximadamente 12 anos de idade eu terminei a quarta série. Depois mudamos para Piracicaba, eu fui trabalhar como paguem,
Em que bairro vocês vieram morar em Piracicaba?
Fomos morar no bairro Paulicéia, na Rua Fernando Lopes. Lembro-me da Padaria Nossa Senhora Aparecida, a Pansa. Era uma padaria muito boa. A medida que íamos crescendo, a minha mãe nos colocava para trabalhar em casa de família, para trabalharmos como empregada doméstica. Dormíamos no emprego, mas aos finais de semana avinhamos para a nossa casa. Naquela época da Paulicéia tínhamos que ir para o centro a pé.
Naquela época a Paulicéia tinha fama de ser um local de gente brava?
Não! Era um local muito tranquilo!
O sonho das moças era trabalhar na Fábrica Boyes. Eu me casei cedo, tinha 18 anos. Naquela época era comum casar-se cedo. Casei-me com Moacir Augusto Alves. No início ele trabalhava na Dedini, depois ele passou a trabalhar como corretor.
Vocês tiveram filhos?
Tivemos três meninas: Elisabete, Katia e Clélia. Duas filhas moram na Itália,
Quanto tempo a senhora e o seu marido ficaram casados?
Foram 24 anos. Ele faleceu, teve um infarto fulminante,
A senhora já tinha mudado da Paulicéia?
Já tinha mudado, estava morando na Rua Saldanha Marinho, em frente ao Parque Infantil Municipal. Lembro-me do Rancho Alegre, da Dona Joaninha, era um local onde tinha comida e doces finos, faziam festas requintadas. Nós íamos de trem, na época era a famosa Maria Fumaça, não podia sentar-se no vagão, vinham as fagulhas e estragavam as roupas dos passageiros que deixavam os vidros das janelas abertos. Mas era outra vida! Tempo do bonde. Íamos a cinemas como o Palácio (Situado na Rua Benjamín Constant, entre a Rua XV de Novembro e a Rua Rangel Pestana, onde hoje funciona uma igreja, Politeama, que foi demolido e virou estacionamento do Bradesco, na Praça José Bonifácio) O Cine São José, nós íamos, mas não gostávamos muito. (O prédio existe até hoje, com grande capacidade para acolher um grande público, é um prédio histórico, que merece maior atenção em sua manutenção. Hoje no Hall funciona um brechó. Ainda na Rua Benjamin Constant, quase esquina com a Rua Prudente de Moraes, ali funcionou ou funciona ainda uma igreja onde existia o Cine Colonial. na Rua Bejani Constant, havia o terceiro cinema dessa Rua, era o Paulistinha, onde a frequência era em grande parte masculina, os assentos eram de madeira, hoje no lo local funciona a empresa Freio Tec. Lá não íamos inclusive pela distância de onde morávamos. O Broadway, na Rua São José, entre a Praça José Bonifácio e a Rua Alferes José Caetano, era um bom cinema. O prédio existe até hoje.
A senhora pegou aquele tempo de quadrar jardim?
Sim! Foi lá que eu conheci o meu marido e casei-me com ele! Minhas irmãs e eu quadrávamos o jardim que ocupava parte da Praça José Bonifácio, tinha horário para entrar em casa, a mãe controlava o horário, nove horas da noite tinha que estar dentro de casa! Ela era muito brava nesse aspecto.
A senhora lembra-se da bomboniere do Passarella, ao lado do Cine Politeama?
Lembro-me! Antes de entrar no cinema comprávamos umas balinhas! Ele casou-se com a Marilena, uma moça conhecida nossa.
A senhora frequentava igreja?
Sim, a Catedral! Tempo do Padre Cecílio! Era bravo! Não podíamos ir de roupa com manga cavada, ele não deixava entrar na Igreja. Era obrigatório o uso de veu para as mulheres! Naquele tempo as mulheres não usavam calça comprida, de jeito nenhum! A minha mãe também não deixava. Só usávamos saia ou vestido, mas tudo comprido! Fiz um curso de enfermagem, trabalhei no Hospital dos Fornecedores de Cana, me especializei em fazer eletrocardiograma, na época era novidade, tido como um grande avanço para diagnósticos, é realizado até hoje. Na época eram poucas pessoas que realizavam o exame, e era solicitado por poucos médicos. O Dr. Mesanelli, era um dos médicos que trabalhavam nesse hospital, trabalhamos com muitos médicos conforme evoluiu o uso do exame de eletrocardiograma.
O paciente ficava receoso com aquela profusão de fios pelo tórax?
Ficava! Com jeitinho íamos deixando-o mais seguro, as vezes ficava até a marca onde tinha sido o ponto de contato. Eu trabalhava durante o dia, tinha as crianças pequenas em casa, a noite eu permanecia em casa.
Durante o dia quem tomava conta das crianças?
A minha filha mais velha é quem tomava conta das menores. Ela cozinhava, cuidava dos afazeres da casa, levava as crianças para a escola Moraes Barros,
A Clélia no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, e ela estudava no Colégio Industrial.
Quanto tempo a senhora ficou no Hospital dos Fornecedores de Cana?
Fiquei uns 4 ou 5 anos, depois fui trabalhar no IAMSP Instituto de assistência Médica ao Servidor Público do Estado de São Paulo no CEAMA- Centro de Atendimento Médico Ambulatorial. Trabalhei uns 20 anos lá, também fazendo eletrocardiograma. Nos intervalos, quando não havia paciente para eletro, auxiliava os médicos que necessitavam posicionar pacientes, serviço não faltava.
Era um ambiente tranquilo?
Sim. Tanto no Hospital dos Fornecedores como no SEAMA. Como atende funcionários do Estado, as vezes algum policial ia para fazer o exame. Eu perguntava se não tinha nada de metal, poderia dar interferência no exame. Algumas vezes começavam a tirar armas de fogo e colocavam em uma mesa. Alguns estavam bem armados! Era até divertido!
A senhora fez muitas amizades nesse trabalho!
Fiz boas amizades.
Os policiais faziam o exame por exigência legal ou a pedido médico?
Eles eram muito estressados! Isso refletia na saúde deles, ao passarem por consulta, geralmente o médico pedia o eletrocardiograma. O trabalho deles é por natureza, muito agitado. Alguns tinham uma sobrecarga maior para complementar o salário. Eles as vezes desabafavam o quanto estavam cansados. No SEAME trabalhei por 22 anos.
O seu primeiro marido faleceu nos meados dos anos 80. Quando a senhora decidiu casar-se pela segunda vez?
Por muito tempo eu fiquei sozinha, muitos anos. Tínhamos um vizinho que morava próximo, ele ficou viúvo. Naquela época os vizinhos se conheciam, conversavam. Com o passar do tempo, o Osmar Modolo, que tinha ficado viúvo, fortaleceu nossa amizade, passou a convidar-me para ir a missa, nós frequentávamos a mesma igreja, a Catedral. Ele era uma boa pessoa, muito correto, de uma família muito conhecida.
Que faixa de idade vocês tinham nessa época?
Eu tinha uns 50 e poucos, ele tinha uns 65 anos.
Já eram duas pessoas maduras.
Sim. Já tínhamos maturidade.
O Seu Osmar trabalhava no que?
Ele era motorista de taxi. Ele tinha ponto na Praça José Bonifácio, em frente a Rádio Difusora de Piracicaba. Ele tinha também uma perua em um ponto em frente ao Grupo Escolar Moraes Barros. Nó tempo em que ele trabalhava na Praça José Bonifácio, eram quatro irmãos e o pai, todos taxistas!
Quando ele começou a fazer transporte de pessoas com a perua, ele chegou a fazer transportes de atletas?
Sim, ele levava o pessoal do basquete feminino, a Paula, a Branca, ia todo o time. Levava também o time masculino, iam jogar fora, ele levava, para São Paulo, ia para muitas cidades. Ele conheceu muito a o Mazzola. (José João Altafini, Mazzola é conhecido no Brasil por ser muito parecido com o jogador italiano Valentino Mazzola nasceu em Piracicaba, Brasil, em 24 de julho de 1938. Ex-futebolista ítalo-brasileiro e comentarista esportivo, destacou-se como um dos maiores artilheiros da história do futebol. Foi campeão mundial em 1958 com a Seleção Brasileira, sendo o autor do primeiro gol do Brasil naquela Copa. Radicado na Itália desde jovem, tornou-se o quarto maior artilheiro da história da Série A, com 216 gols, ao lado de Giuseppe Meazza. Ele brilhou em clubes como Milan, Napoli e Juventus, conquistando títulos importantes e marcando época no futebol italiano. Mazzola também deteve por 40 anos o recorde de gols em uma única edição da Liga dos Campeões, com 14 gols na temporada 1962–63, marca superada apenas em 2014.
Na vida pessoal, casou-se em 1959 com Eleana D’Addio, com quem teve duas filhas, Patrícia e Cristina. Em 1962, por questões políticas e por ser cidadão italiano, Mazzola representou a Itália na Copa do Mundo, já que o Brasil não convocava jogadores que atuavam no exterior na época.
Após encerrar sua carreira como jogador aos 42 anos, com passagens finais por clubes suíços, tornou-se comentarista esportivo em uma TV italiana. Além disso, emprestou sua voz para o videogame Pro Evolution Soccer 2009, permanecendo como uma figura marcante no futebol e na mídia esportiva.)
Um time de futebol com 11 jogadores, reservas, técnico e outros componentes cabia em uma perua?
Nesse caso, iam duas, três peruas.
Uma das filhas, a Katia Fabiane Alves, que mora na Itália, e está ao lado da sua mãe, interrompe e diz:
Pôr coincidência encontrei-me com Mazzola que disse também ser de Piracicaba, , que reside ema cidade próxima a Veneza. Tomei um café com ele, contou-me um pouco da sua história. Isso foi em Milão. O fato de eu ser brasileira e de Piracicaba despertou sua curiosidade.
O Sr. Osmar teve filhos no primeiro casamento?
Do seu primeiro casamento ele teve quatro filhos: Paulo, Osmari, Doris e Aldir. Dois homens e duas mulheres.
Em qual igreja vocês se casaram?
Foi na Igreja da Vila Boyes. Vivemos por 33 anos juntos. Eu cuidei muito dele, . Ele foi muito bom para mim, meu amigo.
Vocês fizeram a viagem de núpcias para onde?
Fomos para a Itália quatro vezes. É um país muito bonito, come-se muito bem. A segurança pública é muito efetiva. O Osmar era muito inteligente. Minha filha fazia o roteiro do caminho para o lugar aonde queríamos chegar e ele seguia direitinho, ele dirigiu na Itália, para dirigir em Milão tem que ser muito profissional. Usávamos muito o metrô ou trem. Ficávamos o dia todo pelas ruas de cidades italianas.
E para comunicar-se na língua italiana?
Não tínhamos como falar fluentemente o italiano, porém sou neta de imigrantes e a minha mãe falava muito a língua italiana em casa. Dava para nosso o uso necessário.
Como era a saúde do Osmar?
Sempre foi muito boa! Não tinha a necessidade de cuidados médicos. Depois de uma certa idade começou a apresentar alguns sintomas. Eu levei-o a quase uma dezena de cardiologistas. O diagnóstico era sempre o mesmo: “Não é nada do coração!”. Davam o fato como normal. Até mesmo um médico especialista, um angiologista. Sempre fizemos muitas caminhadas, frequentamos academia. Até os 95 anos ele estava bem, sempre foi de comer bem. Nunca gostou de beber e nem de fumar. Ele cuidava bem da saúde. Foram feitos três exames de ultrassom só nas pernas, e não foi detectada quaisquer moléstias.
O Osmar deve ter tido muitas histórias para contar.
Ele contava situações interessantes ou curiosas. Na época nem todos os médicos tinham carro. Eles iam lá no ponto de taxi para atender pacientes. Em uma dessas situações, o médico e o Osmar foram atender uma paciente no trabalho de parto, era em um sítio, não tinha luz elétrica, só tinha lamparina. O médico pediu para o Osmar acender os faróis do carro para iluminar o local do parto. Após o nascimento da criança, o Osmar, que acabou sendo envolvido naquela urgência, ao manobrar o carro, quebrou um dos faróis. Ele e o médico durmiram dentro do carro até clarear o dia. Quando a vizinhança sabia que tinha um médico era comum dizerem: “Dr. O senhor pode ir à minha casa, a minha mãe está doente!”. O médico ia, acabava atendo cinco ou seis pessoas. Não cobrava. Eles davam um frango! Quando retornavam, geralmente o médico dava o frango para o Osmar. Com isso ele as vezes chegava com frango em casa.
Ele transportou gente famosa?
Ele foi levar um pessoal para São Paulo, na perua Kombi. Já de volta, passando por uma esquina, tinha umas pessoas com instrumentos musicais. Era fim de madrugada. Fizeram sinal para ele parar. Não tinha nenhum sinal de que era uma perua de transporte, Ele parou, eles tinham feito um show e precisavam levar todos aqueles instrumentos e as pessoas. Ele argumentou que pelo fato de não ser de São Paulo não poderia atendê-los. Disseram que eram apenas duas quadras mais para frente. Ele cedeu, e os instrumentos e músicos subiram na Kombi. Entre eles estavam Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Na hora de pagar ele não quis cobrar. O Roberto Carlos colocou umas notas no bolso da sua camisa. Ao chegar em casa ele viu que era um valor maior do que ele tinha cobrado para levar as pessoas de Piracicaba até São Paulo. Ele trabalhou para a Família Dedini, até a quarta geração. Para o Comendador Mário Dedini, seu filho Armando. O Mário Dedini tinha carro e motorista, mas ele pedia para o Osmar levá-lo de madrugada, ia até a sua empresa que trabalhava 24 horas, até o meu tio Miguel Salvatto trabalhava na Dedini. O Mário Dedini vistoriava a empresa, e dava uma boa gorjeta para os empregados que estavam trabalhando. Também para o Osmar ele dava uma gorjeta. O Armando era mocinho, o Osmar o levava aonde ele queria ir. Geralmente ia muito para o rancho, e lá tinha os amigos, que passavam a noite cantando, comendo bebendo. O armando gostava de festa. E o Osmar ficava lá com eles, geralmente na cozinha, fazia churrasco.
A Rádio Difusora tinha um auditório onde apresentava eventos ao vivo, que iam para o ar. Ele frequentava lá?
Ele ia. Também os quatro irmãos ficavam no ponto em frente a Difusora, aos domingos tinha um concorrido show de cururu, os artistas eram o Pedro Chiquito, Parafuso, Nhô Serra e outros, eles vinham conversar com os motoristas, tanto o Osmar como seus irmãos eram muito brincalhões. Sempre achavam um jeito de fazer alguma brincadeira, coisa de amigos. Os cantores vestiam paletó, era comum o uso de paletó na época. Um dia colocaram uma dentadura no bolso de um dos cantores. Ele percebeu só quando estava no palco, tirou em frente ao público, foi uma gargalhada geral. Os cururueiros passaram a fazer a Música tendo a dentadura como tema central. Na Rua Santo Antônio esquina com a Rua Prudente de Moraes, tinha a Padaria Vosso Pão, comprávamos muitos doces lá. Ali perto, na Rua Alferes José Caetano, entre a Rua Prudente de Moraes e Treze de Maio, ficava a Padaria Brasileira.
E políticos, usavam o taxi do Osmar?
Usavam! Um deles era o Bento Dias Gonzaga o “Bentão”, que foi deputado estadual, o Osmar trabalhou muito com ele, levava-o para São Paulo, nas reuniões em que ele participava. O Bentão ia no banco da frente do carro, ao lado do motorista. Ele tinha muita confiança no Osmar.
O Bentão tinha um eterno charuto aceso, isso não incomodava o Osmar?
As vezes o Osmar dizia: “Desça do carro e vai fumar lá fora!”. Ele tinha liberdade de falar isso não adiantava nada falar para o Bentão! Ele era folclórico, muito popular, tinha muita gente que gostava dele.
Certas coisas que hoje são aceitas, na época a polícia reprimiam. Quando eram presas essas pessoas não chamavam qualquer advogado. Telefonavam para o Bentão. Dependendo do caso, a pedido do Bentão, o delegado soltava a pessoa que tinha sido presa.
O Osmar conhecia a família Morgantti?
Ele falava muito sobre a Família Morgantti. O pai do Osmar e os filhos dele foram criados no Bairro Monte Alegre. Eles vieram para Piracicaba já mocinhos. O Osmar foi trabalhar como marceneiro, a marcenaria ficava na Rua Prudente de Moraes, Ele trabalhou alguns anos na fabricação de móveis. Ele ia se casar, tinha comprado a madeira e aos sábados e domingos ele fabricou os móveis da sua casa. Lá ele permaneceu mais um tempo, só que o pó estava fazendo mal para ele. O pai dele abriu uma oficina na Rua Santa Cruz, consertavam caminhões. Estavam no período da Segunda Guerra Mundial, os serviços de oficina diminuíram, só o pai que tinha um carro para dirigir. Ele começou a levar pessoas de Piracicaba para Águas de São Pedro, naquele tempo os cassinos funcionavam no Brasil. No Grande Hotel de Águas de São Pedro funcionava um cassino. Naquela época a gasolina era racionada. Os jogadores que ele tinha levado, pediram para que ele viesse buscá-los determinada hora do amanhecer. Ele então dormia no carro, para economizar o combustível. A situação começou a melhorar, aos poucos ele adquiriu um carro para cada filho. A partir desse ponto o pai parou de levar as pessoas para o cassino lembrando que em 1946 o jogo foi proibido no Brasil e eles começaram a levar passageiros para o Rio de Janeiro, mais tarde, para Brasília Foi um período que eles fizeram muitas viagens depois surgiu uma lei de que a pessoa não podia ter mais do que um carro. Ele deu carro para cada filho e disse que iriam trabalhar cada um por conta própria.
Até esse momento como era a relação do pai Sr. Pedro com os seus filhos?
Naquele tempo eles moravam todos juntos, mesmo casados. Davam todo dinheiro para o pai e ele que administrava. A partir desse dia cada um trabalhava com o seu carro, todos tinham o ponto em frente a Rádio Difusora. Era uma família muito unida, muito boa,
Eles chegaram a pegar a queda do Edifício Luiz de Queiroz, mais conhecido como Comurba?
Eles estavam do outro lado da praça, Na época eu morava na Vila Rezende, casada com o meu primeiro marido. Até a minha sogra Ambrosina Luchini trabalhava em uma loja situada no prédio. Aquele dia ela não tinha ido trabalhar! Os filhos e o pai estavam no ponto de taxi. O Osmar disse que foi uma correria. O susto foi muito grande. Nós íamos sempre no cinema que existia no térreo, era o Cine Plaza.