O Software made in Brazil
15/02/2007
Recentemente, o software brasileiro recebeu duas páginas de elogios em dois dos principais jornais econômicos internacionais, The Financial Times e The Wall Street Journal . Uma pesquisadora do MIT chegou a afirmar que a qualidade do software brasileiro era um dos segredos mais bem guardados do mundo.
Poucos anos depois de ousar as primeiras investidas nos Estados Unidos, através da Brasscom (uma associação de empresas criada para esse fim), os desenvolvedores brasileiros convivem com duas realidades. Numa ponta, o reconhecimento internacional. Na outra, uma ameaça latente de transferência de parte relevante da produção para a Argentina – graças aos incentivos criados pelo governo Kirschner para a indústria de softwares local.
Principal porta-voz do setor, o presidente da Brasscom e da CPM Informática, Antonio do Rego Gil, foi a primeira pessoa que, alguns anos atrás, apontou para a possibilidade concreta de o país começar a comer a Índia pelas bordas. Hoje em dia ele vai além. Garante que a Índia não mais é páreo para o Brasil, apesar das exportações indianas ainda serem consideravelmente superiores às brasileiras.
O superaquecimento do setor, acabou deixando a Índia de calças curtas. O turn-over nas empresas indianas chega a 60%. A qualidade vem caindo significativamente, enquanto o custo do desenvolvedor vai aumentando cada vez mais.
Dias atrás, sua empresa recebeu uma visita de um representante do Gardners Group do Japão, que tinha vindo ao Brasil atrás de desenvolvedores. Os clientes japoneses estão insatisfeitos com as empresas indianas, e não querem depender de desenvolvedores russos ou chineses. Também recebeu a visita de uma enorme empresa global, que exigiu que seus fornecedores indianos passassem a produzir 20% dos serviços fora da Índia, em função da instabilidade política da região.
No final do mês, junto com a Câmara Americana do Comércio, a Brasscom irá realizar um seminário com executivos americanos interessados em fazer “outsourcing” (terceirização de serviços de Tecnologia da Informação) no Brasil. Foram convidados dez grandes executivos de TI de multinacionais americanas. Já se inscreveram 30.
A oferta de novos desenvolvedores começa a passar, agora, pelas empresas de call-center (que empregam centenas de milhares de atendentes). Na hora da seleção, identificam funcionários com bom potencial para se tornar desenvolvedor, e ele passa a receber treinamento dentro do próprio horário de serviço.
Um dos problemas mais sérios das empresas de software é o custo trabalhista dos desenvolvedores. Na média um desenvolvedor brasileiro é mais barato que um indiano. Com 80% de encargos, fica mais caro. Parte do setor recorre pesadamente a PJs (pessoas jurídicas que dão nota), mas com isso ficam reféns da rotatividade. Tanto assim que as maiores empresas, para garantir seus funcionários, estão formalizando toda relação trabalhista. Com o apoio do Ministro de Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende, e do Ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior Luiz Furlan, o setor tentou incluir no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) um regime previdenciário especial para seus funcionários. Não conseguiu. Mas continua tentando.
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