PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 dezembro de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 dezembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
Julia Simões Lourenço é filha de Walter Ribeiro Simões e Sonia Terezinha Rodondo. O médico Walter Ribeiro Simões tem dois irmãos, tios de Julia, que são muito conhecidos pela população piracicabana, os professores Newman Ribeiro Simões e Douglas Ribeiro Simões. Julia nasceu a 17 de junho de 1977, em Campinas, tem os irmãos Fernanda e Manoel. Casada com o médico André Luiz Gervatoski Lourenço, médico hematologista e diretor clínico da Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba. Julia Simões tem a formação universitária em publicidade e propaganda realizada na UNIMEP, formada na turma de 2002. Julia e André têm duas filhas: Clara e Sofia.
Seus primeiros estudos você fez em qual escola?
Estudei em Campinas em vários colégios, mas sempre estaduais ou municipais. Quando tinha de onze para doze anos mudei-me para São Pedro. Foi um período maravilhoso, o fato de ser uma cidade menor proporcionou uma qualidade de vida superior a de um grande centro. Na minha pré-adolescência e adolescência íamos até a praça central, ficávamos até altas horas tocando violão. Ia fazer serenata. Havia muita liberdade. Em São Pedro estudei na Escola Gustavo Teixeira até a oitava série. Os três anos de colegial fiz na Escola Estadual José Abílio de Paula – JAP. Aos treze anos eu comecei a cantar em uma banda sertanejaa “Sela de Prata”, eles me chamaram para participar, eu fui, apesar de ter crescido ouvindo Caetano Veloso, Gal Costa, Beatles.
Quantos componentes tinha a banda “Sela de Prata”?
Era uma banda pequena, tinha mais um vocalista. Na época estava estourada a música “Nuvem de Lágrimas”. Tocava-se muito “Adeus Paulistinha”. A minha escola de música foi na prática, cantar em bailes, em palcos, fazer barzinho. É uma formação que eu não indicaria para a minha filha por exemplo. Para mim foi uma escola, mas acho muito importante esse contato com uma faculdade de música, que dê uma formação musical de natureza mais acadêmica.
Qual é a classificação da sua voz?
Se for classificar a tessitura (Disposição das notas musicais, para se acomodarem a certa voz) é Mezzo Contralto. Tenho um alcance que é do contralto, embora pegue um pouco do soprano não é soprano, por isso é denominada mezzo.
Você toca algum instrumento?
Toco violão e estou apendendo a tocar piano. Não sou por definição uma instrumentista, em alguns shows me acompanho, toco algumas músicas.
Com que idade você começou a cantar profissionalmente?
Sempre cantei, desde muito pequena, tenho gravações cantando aos quatro anos de idade. Acredito que tem uma grande influência dos meus pais. Meu pai apesar de médico sempre tocou violão, sempre foi autodidata. Meu tio Douglas sempre tocou piano. Meu tio Newman não toca nenhum instrumento, mas sempre se envolveu na parte de produção, direção. Aos treze anos A minha avó materna, Emília Canhada, foi cantora de rádio. A minha avó paterna é descente de italianos, meu bisavô veio da Itália, é da família Maurutto. Da parte da minha mãe tem a origem espanhola, que originalmente era Rotondo e foi aportuguesado para Rodondo.
Você já se deu conta de que é um nome muito forte no meio musical de Piracicaba?
Acredito que sou conhecida pelo trabalho que desenvolvo. No início diziam; “A Julia, sobrinha do Douglas, do Newman!” Alguns até achavam que eu era filha de um deles Acredito que ao longo dos vinte anos que estou em Piracicaba fui construindo a minha carreira.
A Primeira Casa de Noel teve a sua participação que foi marcante!
Participei também da Segunda Casa de Noel. Neste ano de 2014 foi comemorado os quinze anos de Casa de Noel, o Bruno (Chamochumbi) me chamou, tive uma participação na noite em que ele fez uma apresentação especial.
Em São Pedro você morou até que idade?
Até os dezessete anos quando vim à Piracicaba fazer o cursinho. A princípio eu ia prestar o vestibular para medicina. Morei algum tempo com a minha avó paterna, outro período dividi um apartamento com uma amiga, e depois fiquei com a minha avó por dez anos. Quando eu estava fazendo cursinho, o dono da cantina do cursinho, o Santão, era músico percursionista, tocava na Banda Opus, fazia parte do espetáculo “Falando da Vida”. O Santão disse-me: “- Julia estão precisando de uma cantora no estúdio, você não quer fazer um teste para fazer jingle?”. Fui, adorei, comecei a ir sempre. Nesse meio tempo fui convidada pelo Souza para fazer parte da Banda Opus. Tudo isso no comecinho, isso foi em 1995. Foi então que decidi: “- Não tem nada a ver eu fazer o curso de medicina! Tem que ser alguma coisa próxima da música, da comunicação!”. Como eu queria ficar em Piracicaba, se fosse fazer música teria que ir para Campinas, iria estudar na Unicamp. Decidi ficar em Piracicaba, fui estudar publicidade, que achei que tinha o perfil do que eu queria fazer. Estava dentro da área que eu queria trabalhar, produzir jingle, coisa que faço até hoje, sou produtora de jingle. Trabalho com estúdio há 20 anos. As últimas campanhas políticas, as duas do Barjas Negri, do Gabriel Ferrato, do Machado antes do Barjas eu tinha feito. Componho as musicas e produzo.
Além de jingles voltados à política você faz outros, de cunho comercial?
Faço muitos! Fiz da Unimed, Amhpla, Drogal, Farmavip. Componho a letra, a música, locução. Faço toda parte de produção e execução também. Trabalhei dois anos na Rádio 92 FM e dois anos na Rádio 97 FM. Foi no período em que estava cursando a faculdade. Da uma hora da tarde até as cinco horas da tarde eu apresentava um programa ao vivo. Eu seguia a programação da rádio e dentro do meu horário tinha alguns quadros. Do tipo “De Coração para Coração”, que manda recadinhos, fazia tradução de música. As pessoas gostavam! Por dois anos fiquei na rádio 97 FM, o estúdio era em Águas de São Pedro, viajava todos os dias de segunda a sexta-feira.
Isso não a motivou a continuar trabalhando em rádio?
Eu adoro rádio, tenho vontade de ter um programa, mas que seja um programa meu, que eu possa desenvolver fazer uma programação das coisas que eu gosto de ouvir, que os meus ouvintes curtissem. Na época em que trabalhei em rádio fazia a programação da rádio, já era uma programação fechada, eu não intervinha em nada. Às vezes quando eu ficava sozinha na rádio, meu diretor, o Mário Cesar, até ligava dizendo; “- Julia, eu não me lembro de ter colocado essa música!”. No finalzinho da programação eu soltava uma música que eu estava a fim de ouvir! Mudava a programação!
Quando alguém encomenda-lhe um jingle é feito um estudo e uma analise do perfil do cliente e do objetivo a ser alcançado?
Quando chega para mim já vem através de uma pessoa ou agência que está cuidando da campanha. Passam-me o perfil, um briefing (conjunto de informações). Não tenho uma regra para compor, as vezes vem uma melodia, as vezes vem logo de cara o refrão da música, tem coisas que eu pego e escrevo a letra, a música vem depois. O segredo é gostar do que faz e as coisas fluem naturalmente. Das minhas gravações em CD, um deles, que fiz com meu tio Douglas, demoramos quase 15 anos para aprontá-lo. São CDs independendentes, não há nenhuma gravadora patrocinando. Há uma grande preocupação com o arranjo, com a letra. É uma coisa bonita, artística, sem a pretensão de realizar venda em massa. Seria demagogia da minha parte dizer que não tenho o sonho de uma música minha entrar em uma novela. Lógico que gostaria de ser reconhecida, da minha música “estourar”. Não com o objetivo financeiro, mas sim como divulgação do meu trabalho. Sou conhecida em Piracicaba, talvez um pouco na região. Mas essa coisa de nacional, mundial, depende de uma estrutura de grande alcance.
O que simboliza a música para você?
A musica para mim é mais do que profissão. A musica está presente no riso das minhas filhas, na alegria de escolher uma trilha sonora para estar com os amigos, para mim a música está sempre presente. Em um batizado feito em minha casa chamei a Banda Décadas para tocar, a música tem esse poder de unir as pessoas. Independente de idiomas. Estive recentemente em São Francisco (Estados Unidos), pude ver de tudo na rua, vários artistas se apresentando na rua, cantora lírica cantando na rua, todo mundo parando para ver. Outro só tocando bateria, muita gente parando para assistir. Muitas vezes cantando em uma lingua que você nem entende, mas aquilo te toca de alguma forma. Fui a uma casa de jazz. Adoro jazz. Por dois anos cantei em uma casa de jazz em Campinas. Cheguei a participar de alguns eventos do Traditional Jazz Band quando vieram a Piracicaba, através do José Fernando que toca jazz manouche através do Hot Club. Partiipei do Primeiro Festival de Jazz de Águas de São Pedro, fui convidada pelo Paulo Caruso. Participei de alguns festivais, um deles foi em Americana, em 2007, com uma música do meu tio Douglas: “Vida e Amor”. Ganhei em primeiro lugar como interprete. Neste ano de 2014, no final de agosto e inicio de setembro, ganhei como melhor interprete no Festival de Tatuí, no evento “Certame da Canção”. A música ganhou em quarto lugar. Ganhei também um prêmio de Aclamação Popular com essa mesma musica Cantiga pra Mariana, do CD Julia Canta Douglas Simões, “Tempo de Delicadeza”.
Você está lançando um CD?
É o “Sombra e Luz”, gravei com Marcos Cavalcante, que era de Piracicaba, mora ha mais de 10 anos nos Estados Unidos, é doutor em música, foi diretor da Faculdade de Música da Unicamp, todas as composições desse CD são dele, gravamos esse CD no final de 2012,foi lançado no começo do ano e agora no final do ano saiu no iTunes.
Você é casada com um profissional que tem uma atividade completamente diferente, como é a convivência de vocês?
É otima! Ele me conheceu cantando. É o meu maior incentivador, me apoia. Apesar das nossas profissões serem diferentes, tem uma coisa em comum, cada um da sua forma cuidam do ser humano. No caso dele cuida da saúde fisica, e eu imagino que a musica cuida da saúde espiritual, da saúde emocional, que é muito importante.
No seu ponto de vista a pessoa que canta esá tratando da sua própria saúde?
Acho que sim! A música em si deixa a pessoa mais leve. Isso faz bem.
Alguns artistas de renome envolveram-se com estimulantes químicos, criando dependência, sendo que alguns até faleceram precocemente. O que os levou a isso , sob seu ponto de vista?
Logo depois que saio do palco levo algum tempo para baixar a minha adrenalina. Quando nos apresentamos ficamos em uma excitação, em uma euforia. É natural que algumas pessoas acabem procurando algum subterfúgio no alcool ou em alguma droga, que relaxe, acalme, estabilize. A coisa acaba virando um habito. Quando você está no palco não é só o cantar, você tem que lidar com muitas situações que estão envolvidas naquele momento. Você fica a berto a muitas coisas, ai tem quem acredite em vibração, energia. O artista acaba virando uma esponja, vem todo tipo de vibração, de energia.
Voce tem idéia de quantas músicas você já compos até hoje?
Isso é uma particularidade, eu não sou compositora de música! No CD “Novos Ares”até tem duas músicas minhas. Compus poucas musicas. Eu consigo compor músicas por encomenda. Por isso eu faço jingle!
Isso é uma característica rara!
Tenho facilidade para isso. Não consigo sentar e dizer: “-Ah! Vou compor uma música!”. Preciso ter um tema, alguns elementos.
Você já chegou a fazer aquele jingle tipo “voz de aeroporto”?
Já! Na verdade faço muito o que é denominada de URA – Unidade de Resposta Audível. A entrada da Santa Casa usa a minha voz quando diz: “Insira o seu cartão de estacionamento!”. Faço para bancos: “-Você ligou para Banco Tal”. Devo ter feito mais de 600 jingles, com certeza.
É uma área rentável?
Em Piracicaba eu trabalho bastante, possivelmente em São Paulo o retorno financeiro seria bem mais expressivo. Outra atividade que tive foi a dublagem, trabalhei muito tempo nessa área. Existia em Piracicaba um estúdio de dublagem, eles mudaram para São Paulo. Era de uns argentinos que moravam em Piracicaba.
Você arquiva os jingles que faz?
Tenho muita coisa arquivada, mas tem muita coisa antiga que acabei perdendo. Graças a Deus tenho meu pai e minha irmã que me ajudam nessa parte de arquivar. Há um CD que gravei em São Paulo com uma banda de forró, a Buxixo, eu não tenho esse CD, meu pai tem! Meus CDs de demonstração que gravei antes de lançar os CDs oficiais não tenho.
Normalmente você grava em Piracicaba ou fora daqui?
Meu último CD gravei em Piracicaba, na Som Mix. O CD Novos Ares eu gravei em Campinas, isso porque queríamos gravar ao vivo, para gravar a banda ao vivo tinha que cada um estar em uma sala separada, para gravarmos, mas se por ventura alguém errasse alguma coisa depois refazia só aquele instrumento, não precisaria gravar todo mundo novamente. O único estúdio que tinha e podia realizar esse tipo de gravação era em Campinas. Em Piracicaba temos um estúdio maravilhoso, do Rogério Chiarinelli, baterista. Foi onde gravei meu mais recente CD.
Você faz regularmente shows ao vivo?
Muitos! No final do ano recebo muitos convites para realizar shows em eventos corporativos. Durante o ano além dos shows dos meus CDs, do “Falando da Vida” que tem uma vez por ano, faço mais eventos fechados: aniversários, casamentos. Tanto a cerimônia como a festa do casamento, tenho uma banda para isso. Entre a noiva chegar e o término da festa são quase três horas de música.
Você tem alguma novidade para ser lançada brevemente?
Junto com uma amiga estamos fazendo em parceria um CD infantil, tenho a pretensão de lançar no próximo ano, já temos a maior parte das músicas prontas.
Qual foi o fato mais inusitado que você realizou ou presenciou em alguma de suas apresentações?
Já fiz muita coisa, desde voz de violão onde me apresento com Otinel Aleixo, o Legal, que é muito conhecido, dá aulas. Temos um projeto muito bacana, no próximo ano já estou desenvolvendo um aplicativo para celular, é o “Julia Legal à La Carte”. As pessoas têm o habito de pedir musica, pensando com o meu marido, imaginamos em desenvolver um cardápio com as músicas que a gente faz, dividido por estilo musical, e as pessoas pedem a musica dentro do repertório que a gente faz. É tanta música às vezes a pessoa fica com vergonha de pedir. A idéia é a pessoa pedir a musica partir do seu celular, e já vir o pedido no meu iPad durante o show. A meu ver fica interativa, dinâmica. Dos muitos acontecimentos interessantes, teve um casamento em que o noivo era fã incondicional de Elvis Presley, todas as músicas da cerimônia era uma música do Elvis. Cantei. Foi muito legal. Sou muito fã da Rita Lee, em 1999 ela veio à Piracicaba, descobri em qual hotel ela estava, fui até lá, levei flores, um CD de demonstração. Escrevi uma carta enorme para ela, onde dizia que era sua fã, tinha o sonho de cantar uma música com ela. Fui ao show dela, e ela em determinado momento disse: “Queria chamar ao palco a Julia Simões que é uma cantora da cidade”. Cantei, junto com a Rita Lee. Foi muito legal. Abri show para muita gente: para Ana Carolina, já cantei com Seu Jorge , com Alcione, em um carnaval da Revista Vogue, em 2006.
Você é carnavalesca?
Atualmente não. Gostava muito quando morava em São Pedro, tinha essa coisa de bloco, a gente saia para a rua mesmo, era carnaval de rua. Já cantei muito em carnaval. Em 2008 eu até cantei em um carnaval em que a prefeitura de Piracicaba me contratou.
Como artista e mãe de duas filhas, qual é o seu ponto de vista sobre musicas que a mídia divulga sem critério algum, influenciando crianças sem capacidade de analise e julgamento?
Filtro muito o que eu ouço, o que ponho na televisão. Por mais que você proteja é impossível colocar um filho em uma redoma de cristal. Eu acredito muito na orientação, na educação, da minha parte vou mostrar o que é bom. Acho que a decisão deverá ser dela. A partir do momento que disser: “– Eu proíbo….” é o momento em que irá incentivar. Isso com tudo, não só com a música.
O sucesso a qualquer preço e a formação cultural prolifera essas aberrações musicais?
Muito do que é tocado em rádio tem pura motivação comercial. A partir do momento que passa a serem tocadas essas coisas, o ouvinte passa a consumir esse tipo de cultura. Acho meio utópico querer que o consumo aqui seja o mesmo da Europa, onde em qualquer praça tem musica clássica sendo executada. Há dez anos eu me apresento com a Orquestra Filarmônica de Rio Claro, temos um projeto muito interessante que é MPB em Concerto. A minha parte eu procuro fazer, acho que cada um tem que fazer a sua. Procuro mostra isso para as minhas filhas.
Qual é o endereço do seu site?
juliasimoes.com