PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 janeiro de 2015.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 janeiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: PAULO DE TARSO PORRELLI
ENTREVISTADO: PAULO DE TARSO PORRELLI
Paulo de Tarso Porrelli nasceu a 7 de maço de 1961 em Piracicaba, na Santa Casa de Misericórdia. Filho de Arcanjo Porrelli e Maria José Moroni Porrelli, que tiveram os filhos: Vera Lúcia, Maria de Fátima, Marcos Paulo Vinicius e Paulo de Tarso. Seu pai foi Assistente Social, Professor de Latim e Português do Senai. Ele faleceu no dia 2 de março de 1969, aos 48 anos. Paulo de Tarso Porrelli é casado em segundas núpcias com a advogada Maria Esperança Marianno.
Em que bairro a família residia?
Morávamos a Rua Prudente de Moraes, em um daqueles sobradinhos entre a Rua Bom Jesus e Rua São João. Depois moramos um bom tempo na Rua Bom Jesus. Em 1969, quando meu pai faleceu mudamos para a Rua Ipiranga onde permanecemos até 1975, quando mudamos para o Edifício Prudente de Moraes esquina com a Avenida Armando de Sales Oliveira. Eu fui trabalhar em São Paulo e a minha mãe permaneceu nesse local até oito anos atrás, quando passou a morar com a minha irmã Vera Lúcia.
Você freqüentava igreja?
Freqüentei a Igreja Bom Jesus, depois a Catedral de Santo Antonio onde fiz a minha primeira comunhão. Participei do Movimento Jovem no Colégio Dom Bosco. A Rua Ipiranga marcou muito a minha adolescência, foi um grande carrossel, uma escola. Morávamos no número 360. Não existia nem o SESC ainda. Era amigo de infância da família Negri, do grande fotógrafo Davi, do seu pai Paulo, das famílias Guerrini, Bortoletto.
Quais escolas você freqüentou?
O primeiro ano estudei no Instituto Marta Watts. Eu ia e voltava com a minha professora Márcia, já falecida. Foi a minha primeira professora. A Unimep Centro estava sendo construída. Após o falecimento do meu pai fui para a Escola Prudente de Moraes onde estudei por seis meses. Era no tempo ainda em que as carteiras eram ocupadas por dois alunos, lembro-me que a filha do Dr. Odair Bortolazzo dividia assento comigo. Não peguei o tempo da caneta tinteiro, mas tinha na carteira o buraco onde era encaixado o vidro de tinta. De lá fui estudar no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, estudei com o Francisco Roberto Cabrini com quem eu trabalhei mais tarde, ele me ensinou a fazer televisão, trabalhei com ele 5 anos na TV Bandeirantes. Quando conclui o curso primário no Barão do Rio Branco fui para o Sud Mennucci e terminei o colegial no Colégio Dom Bosco. Tanto no Sud como no Dom Bosco toquei nafanfarra, sempre gostei. Participei de competições de fanfarras. O meu instrutor de fanfarras no Sud Mennucci era o Helinho, hoje é colega da Ana Boatafogo Nascido em Piracicaba, Hélio Bejani mora no Rio de Janeiro há 26 anos. Atualmente é o diretor do corpo de balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde já foi primeiro bailarino. O Hélio foi Guarda-Mirim, era trompetista. Ele é um exemplo de sucesso do trabalho da Guarda-Mirim de Piracicaba, que está sendo resgatada agora. O Maestro Isaac Karabtchevsky em uma de suas palestras falava da importância da preservação de coretos, de bandas marciais, de fanfarras, de bandas como é a União Operária aqui em Piracicaba, são preciosidades que as cidades do interior têm. Eu costumo dizer que vivemos em um universo multimídia que atropelou a humanidade, as pessoas não estão sabendo o que fazer com tanta informação, com tantas opções de escolha. Como diz muito bem Washington Olivetto as redes sociais já existiam nas cadeiras nas calçadas com as nossas tias e vovós tricotando, conversando. Só que olhos nos olhos.
Piracicaba é privelegiada em muitos aspectos com relação a cultura.
A Secretária Rosangela Camolesi está criando o Museu da Imagem e do Som, para guardar acervos preciosos, Piracicaba tem grandes talentos, grandes cabeças. Salão Internacional do Humor. Salão de Belas Artes. A Rádio Educativa é um tesouro.
Voltando a nossa linha do tempo, quando jovem, em Piracicaba, você trabalhava?
Sempre trabalhei! O primeiro emprego com registro em carteira foi no Hospital Cesário Mota, como auxiliar de pratice terapia, uma terapia de práticas manuais. Nessa época eu tinha de 16 para 17 anos. Eu tinha de cinco a seis chaves na mão para chegar ao setor, era perigoso, havia ferramentas, alguns pacientes gostavam de ficar ali. Era um barril de pólvora. Funcionava na Rua do Trabalho. Para a minha idade era uma experiência muito pesada. Até hoje tenho recordações de coisas inaceitáveis. Era uma unidade exclusivamente masculina. De lá fui trabalhar com o Chico na Libral. Uma grande pessoa. A Libral situava-se em frente a Rádio Educadora. Após uns seis ou sete meses fui trabalhar no Banco Nacional, situado na Rua Prudente de Moraes esquina com a Praça José Bonifácio. Até que aparece o radio em minha vida, eu vivia na loja Som-6 situada na Galeria Lucia Cristina, a Silvana, esposa do Christiano Diehl era a gerente. Como eu não tinha dinheiro para adquirir discos, mas como sempre fui apaixonado por musica, estudei na Escola de Musica uma época, fui bolsista lá, sempre gostei de percurssão. Eu ia na Som-6, colocava um disco e ficava escutando, a Silvana sabia que eu gostava, deixava. O Marcos Turolla da Rádio Difusora sempre ia lá. Começamos a trocar idéias musicais até que ele me perguntou: “-Você já entrou em uma rádio?” Ele então disse que quando quizesse poderia ir até a Difusora para conhecê-la. Era tudo que eu precisava! Apareceu a oportunidade, virei ‘disc–jockey‘! (Profissional que seleciona e “toca” as mais diferentes composições, previamente gravadas ou produzidas). O primeiro programa de FM ao vivo em Piracicaba foi o Lair Braga e eu que fizemos quando o Lair saiu da Joven Pan, chamava-se “Roller Skating Music”. Roberto de Moraes já era reporter. Isso foi nos finais dos anos 70. Já escrevia algumas coisas para a Tribuna, tinha um link com o Evaldo Vicente, o Mestre. Esse é o Mestre mesmo! Eu tinha uns 18 a 19 anos. Dentro da Difusora estava conversando sobre a minha indignação de uma conta de luz que eu considerava injusta. O nosso querido Jaime Luiz da Silva disse-me: “-Vamos lá no ar! Vamos falar!”. Foi quando me disse: “Você tem que ser repórter menino! Tem eloquencia! Fluência!”. Comecei a pegar o gosto, fui reporter de jornalismo, era o “Jornal da Difusora”, levado ao ar na hora do almoço e a tarde também. Trabalhei com Edirley Rodrigues. Meu nome é Paulo de Tarso, meu apelido é Lo. O pai de um amigo, Seu Lastória começou a brincar comigo e a me chamar de Lo. Acabei usando o nome “Lo Porrelli”, como nome artístico. Na Difusora fiquei de 79 até 84, uns cinco anos mais ou menos, conheci Dona Maria Conceição Figueiredo, José Soave, Waldemar Bília, Atinilo José, Garcia Neto, Orlando Murillo, Ary Pedroso, Benedito Hilário, Tarcisio Chiarinelli. Até que a vida andou, o Jamil Netto fundou a Rádio Educativa, trabalhei com o Benedito Hilário na Rádio Educativa quando o Jamil montou a Rádio Educativa, que na época funcionava junto ao SEMAE. Lembro-me que o Jamil disse-me que “Lo Porrelli” não era um bom nome, parecia mais nome de boutique. “-Seu nome é Paulo de Tarso Porrelli!”.
Que instrumento você tocava na Escola de Musica?
Estudei um ano e meio, fagote, com o Paulo Giusti.
Você foi para São Paulo em que ano?
Fui para São Paulo no final de 1989. Fui trabalhar na Jovem Pan, na Avenida Paulista, 807, 24 andar, Edifício Winston Churchill. Lembro-me que tinha um sapato e uma calça. No primeiro momento fiquei na casa de amigos, aluguei um quarto, fui me virando, conheci o Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o “Tuta”, seu filho, o “Tutinha”. Eu escrevi para o Fernando Vieira de Mello que introduziu no Brasil o estilo “All news”de rádio termo usado para designar uma emissora, seja de rádio, seja de televisão, cuja programação é composta apenas de notícias ou reportagens, ou seja, de cunho apenas jornalístico. Nessa carta que escrevi disse-lhe que estava insatisfeito no interior, queria aprender, trabalhar em uma grande rádio, a Jovem Pan é a minha paixão, eu tinha TRANSGLOBE, um receptor de rádio multibanda fabricado pela Philco Brasileira. Ouvia na Rádio Mundial do Rio de Janeiro “Big Boy Show” e “Ritmos de Boite”.Trabalhei com produções teatrais, trabalhei com o Roberto Diehl no Teatro Municipal, fiz contra-regragem, cenotécnica, fiz backstage que em um show vai desde a preparação e montagem de palco até a execução do mesmo, do som e iluminação. Fazia a divulgação. Apresentação. Fazia de tudo, tocava percussão em uma banda chamada “Casa Nova”
Financeiramente compensava?
Teve uma época em que vivemos de música. Tinha bailes todos os finais de semana, domingueiras. Fiz divulgação de discos. Toquei em festivais. Inclusive toquei no Festival da Musica Independente, em São Paulo, na Fundação Padre Anchieta, no Teatro Sesc Anchieta daRua Doutor Vila Nova, 245 – Vila Buarque. Fiz teatro com a Berenice Danelon, participei de produções da Caterpillar, junto com o Studio 415. Sempre estive envolvido com arte, poesia. Sempre escrevi poesia.
Você tem quantos livros publicados?
Tenho um: “Nós de Nada. Uma Belezura de Figura e Palavreado”, ilustrado pelo Palmiro Romani. O segundo livro está saindo agora: “O Som da Pétala Ágata”. Ele é ilustrado pela Carla Durante uma artista gráfica, editora de arte, com quem eu trabalhei na Rede Globo. O prefácio é do Dr. Ivan Amaral Guerrini que é físico quântico pela Unesp e a apresentação do Pasquale Cipro Neto, professor de lingua portuguesa. A Editora é a Palavra Impressa, situada em São Paulo, de propriedade do Julio, um grande parceiro.
Você recebeu alguma resposta da Jovem Pan quando mandou a carta à Fernando Vieira de Mello?
Um dia cheguei no SEMAE na Rádio Educativa, que era FM Municipal, recebi uma ligação do Fernando Vieira de Mello dizendo para que eu fosse até a Jovem Pan em São Paulo. Cheguei lá, ele me disse”-Gostei de você! Vamos para a reunião de pauta!” Fui, estavam lá Maria Elisa Porchat, que escreveu o livro “Radio e Jornalismo na Jovem Pan”, Drauzio Varella, Helvio Borelli, Valmir Salaro, Pedro Bassan, pessoas com condições mais privilegiadas do que a minha que estava começando. Nos primeiros seis meses viajei de São Paulo à Piracicaba quase todos os dias. Se eu fosse fazer o trânsito já tinha um carro esperando, passava as informações sobre o trânsito, depois ia para a redação, fazia a reunião de pauta, e da-lhe telefone, checagem, reportagem. Marcelo Parada foi meu chefe de redação na Jovem Pan e hoje é diretor nacional de jornalismo no SBT.
Quanto tempo você ficou na Jovem Pan?
Fiquei uns sete anos. Conheci o Seu Brim (Alberto Brim D´ Araújo Filho), era natural da Bahia, locutor, trabalhava no comercial da Pan, era uma pessoa sempre de bom humor, com seu vozeirão ele sempre me dizia: “-Oi Piracicaba! Tudo Manteiga!”. Para ele a vida era tudo manteiga. A Jovem Pan foi uma grande escola, fiz bons amigos. Ai fui fazer assessoria de imprensa, dentro de agências de assessoria de imprensa, escritórios de comunicação, que tem seus clientes, são empresas que contratam essas assessorias de imprensa. Trabalhei com a Câmara de Comércio Suiço-Brasileira, Redes de Hotéis de Santa Catarina, várias editorias na área de alimentos, turismo, política, economia, negócios, finanças, atendia a Zurich Financial que é uma seguradora suiça muito famosa.
Para o profissional de comunicação financeiramente a asssessoria de imprensa é interessante?
Financeiramente é o melhor caminho. Se tiver bons clientes, os resultados são interessantes. Ocorre que assessoria de imprensa é uma cultura pouco difundida. Quem contrata imagina que o assessor de imprensa é aquele que irá dar visibilidade para você desde a hora em que você acorda até a hora em que você irá dormir. A atividade do assesssor de imprensa é administrar fluxos de informação. Tornar a relação entre a fonte e as redações a mais expontânea e produtiva possível para que isso se traduza em algo de interesse público. O que o assessor de imprensa tem que fazer? Detectar no status da empresa e nos seus produtos aquilo que é realmente jornalístico para que se transforme em notas, matérias, entrevistas, artigos, crônicas. Para se ter o melhor aproveitamento de comunicação jornalística.
Paulo, você demonstra ter um conhecimento prático muito expressivo.
Sou autodidata, intuitivo, do batente mesmo. Aprendi conforme a água ia subindo eu saia nadando. Na Bandeirantes trabalhei com Fernando Mitre, José Ochiuso Júnior, piracicabano, Carlos Colonnese um dos maiores produtores de TV, piracicabano, eu era da equipe do Cabrini, produtor e editor. O Cabrini que me levou para a Bandeirantes e me ensinou na prática a trabalhar na televisão. Eu já fazia produção independente para ele, fizemos aquele Globo Repórter com a Jorgina Maria de Freitas (Jorgina Maria de Freitas Fernandes é uma ex-advogada brasileira e ex-procuradora previdenciária. Organizou um esquema de desvio de verbas de aposentadoria).
Como reporter investigativo o Cabrini é um exemplo a ser seguido?
Sob o meu ponto de vista o Cabrini é um dos maiores reporteres da televisão brasileira. Ele é intrépido, não sossega, é essenciamente investigativo. É um Sherlock Holmes, um 007 do jornalismo. Ele não desiste enquanto não esgota todas possibilidades de uma checagem de uma fonte, de uma pesquisa, um levantamento, uma apuração, ele vai fundo. Nem precisava, ele tem um nome muito respeitado, não precisa provar mais nada para ninguém. Cobriu como jornalista correspondente sete guerras, muitas olimpíadas, Formula 1, Copas do Mundo, ele iniciou na televisão com 17 anos. Não tem o que ele não faça na televisão.
Depois de sair da Jovem Pan você foi fazer assessoria de imprensa, foi em um único local ou em várias empresas?
Ai eu rodei bastante. Sempre com a base em São Paulo, mas rodando bastante.
Você trabalhou com Washington Olivetto?
Atualmente estou em contato com ele por algumas questões profissionais. Ele está recebendo um prêmio em Nova Iorque. Não tive a felicidade de trabalhar com ele. Conheci o Washington na época da Democracia Corinthiana, com o Magrão (Dr. Sócrates) que me chamava de Geninho. O Casagrande me chamava de Ruminigh.
Você morou fora do Brasil?
Morei um período em Portugal, em 1992, permanecilá por uns seis meses. Foi uma oportunidade de fazer rádio em Portugal.
Qual é a reação dos portugueses ao ouvir um locutor brasileiro, com sotaque brasileiro?
Eles são apaixonados pela nossa eloquencia, pelo nosso ritmo, pela nossa fala. Naquela época estava uma efeverscência em Portugal, por um lado os dentistas, por outro lado os radialistas. Fiquei em Faro, colonizada pelos mouros, depois subi para Lisboa e em seguida fui para Figueira da Foz. Era contrato com prazo determinado. Na época eu não tinha a cidadnia italiana, só tornei-me um cidadão italiano em 1994. Hoje tenho dupla cidania, brasileira e italiana. Na Inglaterra tenho o National Insurance Number. Equivale a receita e ao seguro social brasileiro.
De Portugal para qual pais você dirigiu-se?
Voltei ao Brasil, continuei com meus trabalhos de Jovem Pan, cobrindo estâncias, fazia projetos de inverno e verão com eles,.
Você é um agitador cultural?
Já fui! Até a Rua do Porto, em Piracicaba, em parte tem pouco do meu suor ali. Lembro-me que o Aldano Benneton era da COOTUR enquanto o Alceu Marozzi Righetto era da Ação Cultural. Eu dizia: “- Aldano, me dá um palanque , um som, eu vou lá fazer uns happiness (alegrar). Fazer um varal literário. Artes plásticas. Chamo umas bandas para tocar. Lembro-me que o Faganello ia. A Rua do Porrto era muito diferente do que é hoje, além do Arapuca tinha um ou outro barzinho. Eu fazia uma movimentação enorme já preconizando a idéia do calçadão, aquela movimentação toda, deslumbrando um complexo turístico. Sonho com a volta do bonde em Piracicaba, eu andei de bonde! Em 2004 fui para a TV Bandeirantes com o Cabrini, fiquei no Jornal da Band, só tenho a agradecer a família Saad, a Band é uma excelente empresa. Trabalhei com a Eleonora Paschoal no Jornal da Band, uma profissional fantástica. Aprendi muito, fui muito bem tratado. O Cabrini é um profissional excepcional. Grande companheiro, homem de uma generosidade muito grande. Só tenho boas lembranças da Rede Bandeirantes de Televisão. Permaneci lá por cinco anos. Dai o Cabrini foi para a Record, e eu fui para a Globo, ela já estava instalada na Avenida Doutor Chucri Zaidan, cubri as férias de uma colega que trabalhava no Jornal Hoje, com a Tereza Garcia. O Mariano Boni de Mathis hoje diretor executivo de jornalismo da Rede Globo de Televisão é para mim é um dos mais competentes homens da televisão brasileira. Está lá ha quase 30 anos já ocupou inumeros cargos.
Qual era a sua função na Globo?
Era editor de texto, Primeiro no Bom Dia São Paulo, depois fiz um pouco de Bom Dia Brasil, SPTV1, SPTV2, trabalhei com Sandra Annenberg, Evaristo Costa, Cesar Tralli, Carlos Tramontina. Ai fiquei locado no Jornal da Noite com William Waack e Christiane Pelajo. Permaneci por 3 anos na Globo. O meu contrato era um contrato de prazo determinado, eu pleiteava uma vaga, é muito dificil porque quem está não quer sair. A Rede Globo é indiscutivelmente uma das melhores empresas do mundo para se trabalhar. Não é o salário. É o conjunto da obra. É o trato humano, como o RH cuida de você, são os benefícios que você tem, é uma grande empresa. O Dr. Roberto Marinho ensinou uma coisa muito importante, e que fique esse legado, as empresas precisam de gente que sabe lidar com gente.
Após deixar a Globo qual foi seu próximo destino?
Fui para a Inglaterrra onde permaneci por dois anos. Aluguei um quarto, em uma casa de uma inglesa, fazia meus trabalhos como free-lancer (profissional autônomo) mandei uns artigos para a Tribuna. Foi um período de calma e reflexão. A essa altura da vida posso dizer que de rádio eu entendo, de TV eu entendo, de jornalismo eu entendo, de assessoria de imprensa eu entendo. Permeiei por campos que me deram condições de saber onde hoje eu ponho ordem na casa. Ergo o telhado, sei onde está a bagunça e rapidamente eu ponho ordem na casa. Sei lidar com as pessoas, gosto do ser humano, porque eu gosto de mim. Tive bons mestres, aqui o Evaldo Vicente, o Fernando Vieira de Mello na Jovem Pan, Augusto Mario Ferreira, já falecido, me ensinou tudo sobre assessoria de comunicação, um dos maiores reporteres que o Globo já teve, o glorioso JB Jornal do Brasil já teve, foi asessor de imprensa do Banco de Tokio, da COSIPA, um dos maiores textos que já vi. Trabalhei com Aureliano Biancarelli da Folha de São Paulo. Eu me sinto contemplado por Deus, agradeço muito, e isso não é um ato político, falo o que meu coração sente, o Ferrato é um homem sensivel, viu em mim um potencial, sabe que desde o dia 5 de janeiro de 2015 eu estou aqui das sete horas da manhã até as sete horas da noite. As coisas foram acontecendo naturalmente, sem atropelo sem ninguém forçar a natureza dos acontecimentos. Entendo muito bem como é a malha social piracicabana. A nossa área é muito dificil. O mercado é restrito. Eu sempre peço a Deus, não quero ocupar o lugar de ninguém, quero apenas o meu lugar. Acho que Deus me ouviu, o Ferrato foi sensível a isso, o Miromar também. Tenho o Evaldo como um irmão mais velho, nem sei dizer como ele me conduziu em muita coisa. Sou um piracicabano que voltei para casa literalmente. O Evaldo fala que foi por amor e pelo amor. Estou perto da minha mãe que está com 94 anos e muito feliz por eu estar aqui. O que peço à Deus? Que me dê saude para ter a maior aplicabilidade do conhecimento que trago lá de fora, técnico, humanístico, profissional à Piracicaba.
Ha quanto tempo você assumiu a direção da Rádio Educativa?
Estou aqui ha duas semanas, acho que já produzi sensíveis mudanças. Tenho o proposito de suprapartidariamente, apartidariamente de prestar o melhor serviço à comunidade piracicabana, aos piracicabanos, a cidade e região, para deixar esta rádio melhor ainda em todos os sentido: técnicamente, jornalisticamente, musicalmente, artisticamente, educacionalmente, a função dela é educativa, deixar essa rádio com uma grade de programação estratificada, junto ao publico de forma equanime, sutil, elegante, gostosa, contemplando as músicas de todas as nações, uma rádio além fronteiras. É uma rádio que vai respeitar muito produções locais, musicos locais, a Pá Moreno já está no ar, vamos tentar radiografar as necessidades com a equipe que temos, e em um curto espaço de tempo promover e despertar os profissionais que estão aqui dentro. É uma equipe maravilhosa, dedicada, temos aqui, Xilmar Ulisses que é um dos radialistas mais experientes que nós temos na cidade, com um programa estratificado que é o “Bom Dia Cidade”, das 7:30 as 9:30. Já estamos fazendo das 9:30 às 12:00 horas só MPB. “Educativa MPB – Os Clássicos da Música Popular Brasileira” Na hora do almoço, herança do Jamil , inteligenmtemente, o programa “A La Carte” vamos engordá-lo com musicas instrumentais que vão além de Ray Connif, com outros grandes maestros, musicos, Big Bands, anos 30,40. Buscar equilibrio entre música, informação, entretenimento, prestação de serviços. Tudo isso 24 horas no ar. Em breve vou conversar com a tecnologia de informática da prefeitura, logo estarei conversando com a secretária Angela que está voltando de férias, tenho estado diariamente com o Miromar, ele tem um dominio muito grande da comunicação como um todo, ele é o diretor do Centro de Comunicação Social da Prefeitura, um profissional muito experiente, sensível, está me dando toda retaguarda. Tiramos a programação do ar até o inicio de fevereiro, justamente para repaginar, revigorar, voltar com força, alguns programas realocados. Deixar uma grade equilibrada, desengessar. A Rádio Educativa não pode ser oficialesca. Por isso quero pegar o site dela e transformar em um portal com Podcast (nome dado ao arquivo de áudio digital). João Umberto Nassif deu uma entrevista boa para a rádio, pego uma foto sua, aspas, e ponho lá: “-Ouça a reportagem!”. Pego um depoimento seu, isso desdobra no facebook, nas outras mídias, videos com depoimentos, eu quero que o piracicabano se veja e se ouça através da Educativa.
O profissional de comunicação tem que estar sempre atento as minúcias?
Samuel Pfromm Netto dizia: “Infeliz é o jornalista que não sabe da importância de um telefone que está tocando!” Isso na época em que existia “furo”, hoje com o advento da internet muitas coisas mudaram.
Posso afirmar que estou diante de um “monstro sagrado da comunicação”.
De forma alguma! Apenas passei por inúmeras dificuldades e situações onde fui lapidando minhas dificuldades. Eu estava na Inglaterrra e por insistência de uma pessoa muito próxima decidi voltar para Piracicaba, minha terra natal. É a celebre frase de Leon Tolstoi : “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. É um aspecto curioso, algumas pessoas que conhecem a minha trajetória por veículos de expressão nacional, ficam intrigadas ao me verem aqui em Piracicaba, o que para alguns pode a principio aparentar um retrocesso, na verdade é uma opção de vida pessoal, de foro intimo, que eu escolhi, foi uma decisão minha.
Você tem uma passagem muito interessante logo no início da sua carreira.
No vigésimo quarto andar do prédio onde fica a Jovem Pan, você vê toda a zona sul de São Paulo. Estavamos em uma reunião de pauta, com o time de jornalistas completo. A Saldiva Associados Propaganda Ltda. Tinha feito uma campanha para descobrir a cara de São Paulo. A Folha de São Paulo ia noticiar na segunda feira. O Fernando Vieira de Mello ficou sabendo. Estavamos eu e o grande roteirista Valmir Salaro, que hoje é do programa Fantástico, de plantão naquele fim de semana. Seu Fernando ligou agitado na rádio Jovem Pan, pedindo que achasse o telefone da Rose Saldiva. O caipirão aqui foi como um cão perdigueiro procurando. Até que consegui convencer uma telefonista da Telesp a dar o número de telefone de algum Saldiva. A Rose Saldiva era “blindada”. Consegui o telefone de uma pessoa próxima a Rose Saldiva, após muito conversar, e sob a condição de não revelar a ninguém que tinha sido ela que tinha fornecido o número, consegui o número do telefone da Rose Saldiva. As duas e meia da tarde, olhei para o Claudio Mauricio, chefe de reportagem que estava logo atrás de mim. Liguei para a Rose Saldiva, identifiquei-me e a convenci a falar com o Fernando Vieira de Mello. Quando disse que a Rose Saldiva estava na linha, ninguém na redação acreditou. Era no tempo da máquina de escrever ainda, todos se levantaram, vieram próximos ao telefone. Gravamos com ela, “furamos” a Folha de São Paulo. Na segunda feira eu estava viajando de onibus de Piracicaba à São Paulo, a rádio pagava minha passagem. Fui tirar carteira de motorista aos 27 anos. Durante uma semana a Jovem Pan divulgou o trabalho da Saldiva , mostrando a cara de São Paulo. O Fernando Vieira de Mello um dia me chamou, no meio da reunião de pauta, tinha umas 20 pessoas mais ou menos, e disse: “Isso é lição para todos nós, moramos aqui, temos empregada, carro, vida estável, e esse menino está dando tanto quanto nós, conta do recado. Ele viaja de onibus todo dia daqui para lá e de lá para cá. São 170 quilometros de vinda e 170 quilômetros de volta, mais as estações de metrô. Esse menino é um exemplo de ética”. Na Rede Globo eu cobri as férias no Jornal Hoje, e a Teresa Garcia me ensinou um termo que eu nem conhecia. Quando cumpri aquelas férias e voltei para a Bandeirantes, antes de voltar a ser contratado pela Rede Globo, ela disse-me: “ Paulo, muito obrigado, sobretudo pelo seu trato humano com a minha equipe”. Eu estava trabalhando com pessoas traquejadas: Sandra Annenberg, editores de noticias internacionais, de alto nível, repórteres com muito tempo de vídeo, Ernesto Paglia, gente que passa noventa por cento da vida dele dentro da televisão. Posso afirmar que Pedro Bassan é um dos integrantes mais brilhantes da televisão brasileira. Trabalhei com ele na Jovem Pan, estive com ele em Lisboa quando ele foi correspondente lá.
A exigência de uma formação acadêmica para a profissão de jornalista está sempre criando polemica. Com toda sua experiência, qual é o seu ponto de vista a respeito?
Clovis Rossi faz uma reflexão magnifica: “Jornalismo é um exercício basicamente simples, que depende da boa execução de apenas quatro verbos: saber ler, ouvir, ver e contar. Se alguém acha que ao menos um desses verbos (o ideal seria que fossem todos) pode ser ensinado em uma faculdade de jornalismo, deve mesmo ser a favor do diploma específico. Quem, como eu, duvida dessa possibilidade só pode ser contra. Eu sou. Pegue-se o verbo ler, em ambos os sentidos, o mais primário, de alfabetização para compreender palavras escritas, e o mais nobre, o de gosto pela leitura. No primeiro caso, ou se aprende a ler na escola primária ou nunca mais, salvo raros casos de autodidatas. No segundo, tampouco a faculdade pode ensinar o gosto pela leitura. Ou vem do berço ou se adquire nos primeiros tempos pós-alfabetização. Como não creio que se possa escrever bem sem ler bastante, depender da faculdade de jornalismo para desenvolver esse gosto só fará o profissional chegar ao mercado de trabalho com um deficit talvez irreparável. Alguma faculdade pode ensinar a ver? Ou a ouvir? Duvido. Pode, sim, desenvolver o talento, de todo modo natural, para contar histórias. Mas qualquer faculdade pode fazê-lo, acho. Pulemos da teoria para os fatos concretos. Ricardo Kotscho não fez faculdade de jornalismo. Nem qualquer outra, a não ser depois que já estava solidamente instalado na profissão. Nada disso o impediu de se tornar um dos melhores repórteres de todos os tempos no jornalismo brasileiro. Se, quando eu lhe dei o primeiro emprego na chamada grande imprensa (no “Estadão”), já vigorasse a exigência do diploma, o jornalismo brasileiro teria perdido um imenso talento. Se a obrigatoriedade do diploma valesse nos anos 1960, o jornalismo brasileiro teria ficado sem o gênio de Cláudio Abramo (1923-1987), que foi co-responsável pelas reformas que tornaram o “Estadão”, primeiro, e a Folha, depois, os grandes jornais que são. Abramo não tinha diploma algum. Não obstante, foi convidado pela USP para ministrar curso de aperfeiçoamento para estudantes de pós-graduação. Irônico, não? Desconfio que boa parte das equipes com as quais Cláudio trabalhou tampouco tinha diploma de jornalista, o que não impediu que fizessem grandes jornais. Esclareço, antes que alguém suspeite que estou advogando em causa própria, que eu, ao contrário de Kotscho e Abramo, tenho, sim, diploma específico, aliás o único. Mas garanto que aprendi mais, na prática, com gente como Kotscho, Abramo e tantos outros sem diploma do que na faculdade. Um segundo ponto que me leva a ser contra o diploma específico é a evidência de que nem a mais perfeita faculdade de jornalismo do mundo pode ter um currículo que ensine a seus alunos todos os temas que, um dia ou outro, podem lhes cair sobre a cabeça. Não dá para ensinar agricultura e transportes, tênis e política, legislação e teatro e por aí vai. Não dá. Quem pensa em entrar para o jornalismo com um objetivo definido (jornalismo econômico, digamos) deve fazer economia e não jornalismo. Se tiver desenvolvido os quatro verbos-pilares (ver, ouvir, ler e contar), estará mais pronto para a profissão, na área específica, do que se fizer jornalismo. Último ponto: não entro na discussão sobre a diferença entre profissões (medicina, engenharia, por exemplo) que, mal exercidas, podem matar, e aquelas (jornalismo) que não podem e, portanto, não precisam de diploma específico. Jornalismo pode matar, sim, mesmo que seja moralmente. Mas é de uma presunção absurda supor que só faculdades de jornalismo ensinam ética.”
Em Assessoria de Imprensa cada detalhe passa a ter uma importância que pode fazer a diferença?
Em Assessoria de Imprensa eu atendi a um Cluster (concentração de empresas) de pousadas em uma praia catarinense. Lá tem a APA Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, são 130 quilômetros de Florianópoilis para baixo, onde de julho a novembro elas vão procriar e amamentar filhotes ali. Fiz muita coisa lá, cadernos de turismo, Estadão, Folha. Levei um grande número de jornalistas para lá, inclusive jornalistas de outros países. Fiz o Globo Ecologia lá.
Quantos idiomas você fala?
O inglês, o italiano mais em função da origem da minha família, como sou filho temporão meu bisavo Arcanjo Porrelli e minha bisavó Maria Lucafó, se radicaram e ajudaram a fundar Mombuca. Meu pai é natural de Mombuca. Minha mãe nasceu em Capivari. Minha avó materna, Angelina Perini e o pai da minha mãe Paschoal Moroni, falavam italiano. A minha mãe acabou falando o italiano abrasileirado. Meu pai sempre dizia: “- Uma única palavra pode custar vidas”. Mal sabia ele que eu iria fazer da palavra a minha ferramenta principal.