A vida como ela não é!
19/09/2025
A vida como ela é é como ela é! Bom, é aquela coisa batida: a gente nasce, cresce,
tenta se reproduzir, paga uns boletos, reclama um pouco e depois morre. Não tem mistério. Lá
atrás, no comecinho, quando umas moléculas perdidas resolveram brincar de Lego, surgiu a
vida. Primeiro foi bicho no mar, depois bicho na terra, até virar gente com CPF. A vida como ela
era, era simples: comer, correr e dormir. Não tinha imposto, não tinha fila, não tinha internet
caindo.
Mas e a vida como ela não é? Aí mora o humor. Não é novela com final feliz, não é
comercial de margarina com família sorrindo, não é manual de instrução com garantia. A vida
não é como o folheto da academia promete, nem como a gente escreve nos planos de
Réveillon. E também não é justa, se fosse o trânsito estaria livre na segunda-feira de manhã e o
salário cairia antes do boleto vencer.
Cada um vive um tipo de vida. Uns têm vida de rico, outros de pobre, outros ainda de
pobre que sonha ser rico. Tem vida de político, sempre melhor que a do eleitor. Tem a vida do
otimista, que acha que amanhã melhora, e a do pessimista, que tem certeza de que não. Mas
no fundo, todo mundo vive o mesmo pacote: um conjunto de alegrias, dores e rugas.
E como está sendo a vida hoje? Cheia de artificialidades. A gente pede comida pelo
aplicativo, fala mais com gente no WhatsApp do que cara a cara, tira foto de prato em vez de
comer quente. A vida deveria ser mais leve, mas a gente vai enfiando senha, fila, reunião e
papelada no meio do caminho. A naturalidade ficou escondida atrás das telas.
No entanto, a vida tem uma definição básica que não falha: é aquilo que se alimenta,
se move e se reproduz. Só que o ser humano inventou moda. Alimenta-se de fast food, move-
se de Uber e reproduz-se no Instagram. É o que temos.
E a vida como ela não é? Essa aparece todo dia. Você espera que seja tranquila, mas
vem confusão. Planeja férias perfeitas, mas vem chuva. Imagina paz, mas chega o cunhado.
Grande parte da vida acontece fora do roteiro, é justamente aí que está a graça e também o
drama.
A vida muda a todo instante. Hoje você é funcionário, amanhã está desempregado,
depois abre o próprio negócio e acaba virando escravo de si mesmo. É uma ciranda que gira
todo dia, e a chance de mudar está sempre no intervalo de 24 horas.
E como poderia ser? Mais justa, menos burocrática, com mais abraços e menos
senhas. Mas a vida é cheia de regras, normas e vizinhos que não colaboram. A filosofia até
tenta: imaginar a vida como ela não é, é sonhar com um mundo melhor, mesmo sabendo que
não existe pizza sem engordar nem amor sem dor de cabeça.
Nelson Rodrigues já avisava: a vida como ela é já é tragédia e comédia o suficiente.
Não precisa inventar muito. Nós tentamos enfeitar com utopias democráticas, mas o resultado
às vezes parece série de TV que nunca acaba, e quando acaba ninguém entende o final.
Moral da história: a vida como ela é nunca vai ser perfeita, a vida como ela não é
sempre será nosso lamento, mas viver vale a pena. Enquanto houver risada, café passado na
hora e amigos pra dividir os tropeços, a vida do jeito que for, ainda compensa.
Como diz o Gonzaguinha:
Ah, meu Deus, eu sei, eu sei
Que a vida devia ser bem melhor e será
Mas isso não impede que eu repita
É bonita, é bonita e é bonita
Walter Naime
Arquiteto-urbanista
Empresário.