Os “pulos da Gata” 20/06/2025
Piracicaba – Feliz aos 258º aniversário
Decorridos os 258 anos, Piracicaba marca no dia 1º de Agosto o seu aniversário.
Com o Rio ainda murmurando a história. Não é à toa que ele canta, pois viu nascer, crescer,
tropeçar e reinventar essa cidade, que não para de se perguntar onde estamos? Para onde
vamos?
Formar uma cidade é mais do que abrir ruas e fincar casas. É sobre plantar gente,
sonhos e teimosias no mesmo chão. É sobre enxergar além do mato, da pedra e do curso
natural das águas. Piracicaba nasceu assim, no encontro da necessidade com a oportunidade.
Na beira do rio, o povoado cresceu porque havia pesca, madeira, fertilidade, e sobretudo um
chão que dizia “fique”!
Uma cidade se forma pela soma do solo, dos recursos naturais, das gentes que
precisam, e que ousam. O empreendedorismo, antes mesmo de ter nome, era gesto. Era a
dona de casa que cozinhava para os tropeiros, o fazendeiro que via no engenho mais que
açúcar, o líder que via futuro onde outros só viam capim.
Os patamares de uma cidade se medem no tempo e na transformação. Não só no
número de habitantes, mas no modo como esses habitantes vivem. Piracicaba, entre 1767 e
2025, pode ser dividida em capítulos não por exatidão matemática, mas por pulsação histórica.
No começo, o comércio era sobrevivência, troca de farinha por ferramenta, de peixe
por tecido. Depois, virou vocação. Vendia-se o que a terra dava. Da agricultura ao açúcar, da
cana ao álcool. A cidade soube se reconfigurar, sempre com uma pitada de fé, outra de
trabalho, e uma colherada de política.
Os patamares políticos e sociais se alternaram da vila rural ao centro agroindustrial, do
domínio religioso à secularização do saber, da prefeitura ao campus universitário. Saúde
pública, transporte, educação, tudo veio aos poucos, como tijolos em uma edificação que
nunca termina. As fases de alinhamento entre o local, o estadual e o federal moldaram
avanços e atrasos da República Velha à era Vargas, do milagre econômico aos dias de incerteza
digital.
Ao todo, Piracicaba viveu talvez cinco grandes patamares: fundação e povoamento,
estruturação agrícola, modernização urbana e industrial, expansão institucional, e a era da
complexidade urbana. Cada um com suas dores e brilhos.
Mas todo patamar, por mais sólido, é só base para o próximo. A diferença está nos
fatores humanos. Sem entusiasmo, ninguém sonha com o que ainda não existe. O
planejamento entra aí como domador das forças e ansiedades. Saber crescer é tão importante
quanto saber parar. Porque crescimento sem controle vira caos, e entusiasmo sem direção vira
desperdício.
Piracicaba precisa pensar agora qual será o “pulo da Gata” no próximo patamar? Vai se
reinventar pela tecnologia, pela cultura, pela sustentabilidade, ou continuará à reboque de
velhos modelos? Pode parecer que o futuro acontece naturalmente, mas é ilusão. O que
acontece por inércia é o desgaste, não o avanço.
O desafio está em limitar o crescimento onde ele machuca. Planejar com consciência.
Não é crescer por crescer. É crescer com identidade. E que o Rio, sempre atento, nos lembre: o
fluxo muda, mas o leito permanece. Que a cidade saiba mudar sem perder o seu rumo!
Feliz aniversário, Piracicaba!
Walter Naime
Arquiteto-urbanista
Empresário.