O entrevistado do jornalista João Umberto Nassif de hoje é o professor Francisco de Assis Ferraz de Mello, que conta um pouco sobre sua memória na Esalq e da Piracicaba antiga.


Foto: Daniel Damasceno – Professor Francisco de Assis Ferraz de Mello: “Sou normalmente chamado por Chico”

WALDEMAR ROMANO

25 DE MAIO 2024

O Cirurgião Dentista Dr. Waldemar Romano é um dos pilares do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba. Transmite serenidade e simpatia, é uma pessoa dinâmica, discreta e participativa. Meticuloso, é associado ao IHGP há algumas décadas, onde ocupou cargos de diretoria. Até hoje, seus préstimos são importantes para essa entidade e para a comunidade piracicabana.

Waldemar possui uma memória invejável, um grande interesse pela História, conserva consigo uma razoável bagagem de fatos, pessoas e lugares que muitos não conhecem ou não se lembram mais. Cita datas e nomes de décadas passadas com uma precisão absoluta.

Nasci em Piracicaba, em 27 de julho de 1940, nasci na casa dos meus pais, situada na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com a Rua Treze de Maio, onde hoje é o Edifício Luciano Guidotti. Naquele tempo quase não se usava maternidade. Meu pai é Américo Romani e a minha mãe Irene Augustti Romano.

Meu pai cursou a Escola de Contabilidade Cristovão Colombo, popularmente conhecida como Escola do Zanin, em 1939. Ele se formou como técnico de contabilidade, naquele tempo, chamado de guarda-livros. Ele trabalhou pouco tempo no Jornal de Piracicaba, já como Técnico de Contabilidade. A seguir foi trabalhar com Nicolau Marino e família, em Rio das Pedras. Eles tinham áreas com plantações, uma máquina de descaroçar algodão em um barracão grande, com um escritório. Essas instalações ficavam próximas à Igreja Matriz de Rio das Pedras. A família Marino tinha algumas fazendas.

Éramos em cinco filhos, hoje somos em quatro: Regina Maria, Nair, Américo Junior, que faleceu, Maria Irene e Waldemar.

Morei lá por 5 anos quando era menino. Fui com 3 anos e fiquei até meus 8 anos de idade.

Meu pai ia voltar para Piracicaba, para trabalhar como Contador com o meu tio Antônio Romano, na Retífica de Motores. Seis meses antes, ele me trouxe para morar com minha avó, Maria Azzini Romano, que morava na casa onde nasci. Foi a forma que encontraram para que o meu aproveitamento escolar evitasse mudança de escola no meio do ano. Meu primeiro ano foi em 1948, no Grupo Escolar Prudente de Moraes, que antes tinha sido, até a década de 30, a Escola de Farmácia e Odontologia Washington Luiz onde hoje é o Museu Prudente de Moraes. A partir do segundo ano em diante fiz no Grupo Escolar Dr. Moraes Barros. Minha primeira professora foi Josephina Domenico Pinheiro, do segundo ao quarto ano fiz com a professora Maria Emília Cardinali Piedade.

Sentimos algumas mudanças nesse período. Refletiu em toda a população. Eu não acompanhava, em função da minha idade, tinha apenas 5 anos. A guerra acabou em 1945.

Bem, na verdade, eu não queria estudar! Eu queria trabalhar na retífica de motores da família, a Retífica Romano S/A, sediada à Rua São José, 1122.

Era meu tio!

Sem dúvida nenhuma! Ele atuou em diversas áreas. Inclusive ele fez diversas obras civis, em um tempo em que Piracicaba era bem menor, ou seja, o impacto das construções era maior. Construiu em um quarteirão quadrado, quarenta sobrados confortáveis. Ele construiu umas sessenta casas, adquiriu outras. Até 1945, quando eles estavam com a oficina mecânica e ia passar para a retífica, a minha família era muito pobre. Ninguém tinha casa própria, todo mundo pagava aluguel.

Quando ele instalou a retífica, comprou um maquinário muito completo, até encerrar as atividades, que foram encerradas de forma espontânea. Foi uma atividade muito rentável.

O Edifício Antonio Romano foi um empreendimento ousado para a realidade na época. Apartamentos com acomodações amplas, não deixando nada a desejar perto dos existentes nas principais cidades do Brasil. Em sociedade com a família Checolli, eles constituíram uma construtora, construíram o prédio na Rua Prudente de Moraes, esquina com a Avenida Armando Salles, construíram o prédio da esquina da Rua Prudente de Moraes esquina com a Rua São João, que depois recebeu o nome dele. Construíram o prédio em frente à Loja CEM, o Edifício Pedro Ometto.

Meu pai insistiu, até que resolvi estudar, fiz um curso preparatório para entrar no ginásio.

Foi em uma escola particular, das professoras Adelina e Amália Tarsa. Situava-se na Rua Rangel Pestana, 781, se não me engano. Isso para entrar no ginásio do Sud Mennucci.  

Eu e a minha irmã Regina fizemos o exame, eu me classifiquei em segundo lugar e a minha irmã em terceiro. Quem foi classificado em primeiro lugar foi Pedro Almeida de Negri, irmão do Dr. Cássio Almeida de Negri.

O Sud Mennucci, assim como outras escolas públicas, tinha uma seleção rigorosa tanto de alunos como de professores. Isso possibilitava que o ensino público, mesmo sendo gratuito, fosse de alto padrão. O Sud Mennucci tinha um conceito muito elevado em Piracicaba. Tínhamos aulas de português com o Professor Benedito de Andrade, poliglota, o Professor Argino da Silva Leite lecionava matemática, Professora Zelinda, que era esposa do professor Argino, lecionava português. Com o professor Benedito de Andrade tive aula um ano, tive aulas de Francês com o professor Manassés.

Era o professor Arlindo Ruffato depois foi Adolfo Basile.

O diretor Arlindo era linha dura? Era meio quieto, mas era feroz de vez em quando! ( Risos). Tive aulas de desenho com o professor Arquimedes Dutra. Aulas de química tive com o professor Demóstenes Santos Correa. As aulas de física eram com o professor Abelardo Cicarelli. Tive aulas também com o professor Frederico Alberto Blaauw e Mauro Gonçalves foi meu professor também. Foi minha professora a historiadora-mor, Maria Celestina Teixeira Mendes, a Mariinha. Eram professores muito bem-conceituados.

Fiz o curso colegial com dedicação aos estudos, à noite, e ao mesmo tempo fazia também o Tiro de Guerra. Isso foi em 1959.

Era o Sargento Valdemy Gomes Barbosa. O Sargento Jovelino Guatura dos Santos já era também comandante, mas de uma outra companhia. Naquele tempo fazíamos de fevereiro até novembro. No ano em que fiz o serviço militar, tínhamos 400 atiradores. Hoje parece que são em torno de 200 a 250. Muitos jovens são dispensados do serviço militar.

O único mal do Tiro de Guerra é que a mãe faz junto!  Temos que deixar tudo limpinho todos os dias: coturno limpinho, farda limpinha! E de vez em quando voltávamos para casa enlameado! Principalmente quando tinhamos que rastejar! Quando comecei a fazer não tinha sede, o Tiro de Guerra era situado no Largo da Estação da Estrada de Ferro Sorocabana, onde hoje é o terminal do ônibus urbano, Havia um salão alugado que era utilizado como uma sede provisória. Depois, por volta de junho ou julho, mudou para a escadaria embaixo do Ginásio Municipal. A concentração era feita lá, depois seguíamos em marcha pela Avenida Independência, pela zona rural. Como estava sendo iniciado o Estádio Municipal, era a primeira gestão do prefeito Luciano Guidotti, o local onde estava sendo construído o estádio era um barreiro tremendo, o sargento nos fazia rastejar por lá. Voltávamos para casa com uns dois quilos de barro cada um.

Na Rua Governador Pedro de Toledo, 701, meu pai derrubou a casa antiga e construiu uma nova casa. Isso foi por volta de 1965 a 1966 , o número passou a ser 705. Fica entre a Rua Treze de Maio e a Rua Prudente de Moraes.

Normalmente ia a pé. Às vezes, pegava o carro do vizinho.

Acho que valeu a pena! O único mal é que a mãe faz junto! A mãe que sofre também! No Tiro de Guerra a gente aprende hierarquia, disciplina, coisas que hoje fazem muita falta para a sociedade, para os jovens que vem vindo aí. Sinto quando falam: “Quero ser dispensado! Não quero fazer!”. Se tiver saúde, faça! Talvez falte noção dos benefícios que podem ter essa convivência, principalmente nessa faixa etária.

Quando entra nessa faixa de idade a maioria fica vendido!  Eu fiz odontologia.

Na região em que eu morava tinha uns amigos que eram dentistas, eles comentavam comigo alguma coisa, contavam a respeito da profissão, mas na minha família não tinha nenhum dentista. Prestei exame na Faculdade de Odontologia de Piracicaba, que hoje é UNICAMP, naquele tempo não era. Passei em primeiro lugar no exame vestibular. Naquele tempo a faculdade tinha 40 vagas. Ela começou em 1957 a Faculdade de Odontologia que hoje é UNICAMP. Até 1970, mais ou menos, não preenchia as vagas. A minha turma tinha 32 alunos. Quem tomou frente à faculdade foi Carlos Henrique Robertson Liberalli, doutor em farmácia pela Universidade de São Paulo em 1946. Foi eleito membro da Academia Nacional de Medicina em 1964. Ele era uma pessoa extremamente culta, inteligente e empreendedora.

Eu tinha facilidade em assimilar os ensinamentos.

Vou contar um caso notável. A Professora Zelinda, de português, era extremamente rigorosa no ensino e no dar notas. Ela era fora do comum sob esse aspecto. A primeira nota que tive com ela foi 0,7! Ela dava notas como -0,2; -0,3.

Ficava devendo!

Pensei: “Eu vou pegar essa professora!”.  Ela tinha uma biblioteca que era da área dela, de português. Autores clássicos como Machado de Assis, Eça de Queiroz, escritores da época passada. Os clássicos. Passei a pegar um livro por semana, nem sempre lia inteiro, lia um pedaço, lia outro pedaço, devolvia o livro. Com isso cativei a professora, e ela passou a me dar a nota que eu merecia.

Fiquei amigo dela. Alguns alunos nem a cumprimentavam.

Hoje eu agradeço a muitos professores, hoje sinto os frutos bem importantes. Infelizmente a pedagogia utilizada por essa professora era de difícil compreensão, as aulas do Professor Benedito de Andrade eram magníficas. Ele era um verdadeiro artista. Para dar aulas, ele cativava todo mundo, ninguém dava um pio na aula dele. Outra professora que foi muito severa, a quem agradeço, foi a professora Mariinha, Maria Teixeira Mendes, ela faleceu há poucos anos, com quase 100 anos de idade. Ela era bem severa. Com isso aprendi a escrever, embora não seja muito afeito a colocar textos em jornal, mas tenho condições de analisar textos escritos, concordância gramatical, o uso correto da linguagem. Sou bastante detalhista nisso. Outra área que passei a gostar muito é a de História! Tanto que acabei ficando associado do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba.

Foi em 2003.

Temos a Dra. Marly Therezinha Germano Perecin e o Dr. Antonio Messias Galdino. O Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba foi fundado em 1967. Parece-me que o professor Frederico Alberto Blaauw também foi fundador, mas não faz mais parte, eu falo que parece-me porque estive vendo as composições de diretorias, na primeira e segunda diretoria ele fazia parte. Portanto ele deve ter feito parte e depois se afastou.

Funcionava na Rua D.Pedro II, 627, esquina com a Rua Alferes José Caetano. A FOP tinha convênio com o Panamá, na minha época tinha uns cinco ou seis panamenhos fazendo o curso. Naquela calçada tinha só a faculdade, um barracão grande que era usado como estacionamento de caminhão pelo posto de gasolina que ficava na esquina, de propriedade do João Rocha. O posto de gasolina lá, tinha o desenho que é o mesmo do único posto remanescente daquela época, antes de 1950, que fica na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Prudente de Moraes. Antes, mesmo desse tipo de posto de gasolina, eram instaladas bombas de combustível na calçada. Tem uma bomba de combustível, que era do Adamoli, passou pelo IHGP  que fez a doação para o Museu Luiz de Queiroz. Era manual. Onde hoje é o prédio Mimi Fagundes, havia um posto de combustível. Era Posto São Paulo, se não me engano. Agora só ficou aquele posto da Prudente de Moraes, inclusive é onde abasteço.

Eram quatro anos. Participei muito do Centro Acadêmico. No primeiro ano fiquei Diretor de Assistência Social aos Acadêmicos. Conseguia remédios de graça,  algumas coisas para eles utilizarem. Depois fui Presidente da Associação Atlética, Presidente do Centro Acadêmico. No último ano de faculdade, fui Presidente do Conselho Fiscal do Centro Acadêmico. Quando estava no quarto ano da Faculdade de Odontologia, fui eleito vereador.

Dentro do Centro Acadêmico só participei um pouco do Atletismo, em especial de corridas. Corrida de 1.500 metros. Eu não treinava, então não podia ter uma performance para conseguir medalha.

Fui eleito por algumas forças, por exemplo a minha família, acadêmicos, tive 561 votos, fui o mais votado na época, fui o mais votado do Partido Republicano, na época também tinha muitos partidos políticos, a Câmara era composta por 21 vereadores. Sem remuneração nenhuma, na verdade a gente acabava pagando, como você estava em uma condição de mais evidência, recebia mais convites para festas, mais convites para casamentos, na época vereador não recebia nada.

Era em um anexo da própria Prefeitura Municipal, mas tinha entrada independente. Com o mesmo número de hoje. Creio que em 1975, o prefeito era Adilson Benedito Maluf e o presidente da Câmara era Antonio Messias Galdino. Fizeram aquele prédio que está sendo utilizado até hoje, na Rua Alferes José Caetano e não o anexo da Rua São José esquina com a Rua do Rosário. Um fato curioso é que embora a Câmara anteriormente ficava no meio do quarteirão, número 834, junto a um jardim da Prefeitura, o prédio novo foi construído na esquina, mantendo o número 834. Ou seja, a Câmara Municipal mudou cerca de 50 metros sem alterar o número do seu prédio. (Possivelmente para economizar tempo e dinheiro, pois uma série de modificações teriam que ser feitas, em documentos, endereço de postagem, etc.)

Não sei quem destruiu o prédio da Prefeitura antiga, que era um palacete onde morou Francisco José da Conceição  nascido em Piracicaba, em  1822 , faleceu em Rio das Pedras, no dia 2 de outubro de 1900. Fazendeiro, político e cafeicultor. Foi agraciado como primeiro e único Barão de Serra Negra em 1871.

Francisco José da Conceição
 Barão de Serra Negra

                                                                           Rudyard Kipling

Quando esteve em Piracicaba, esteve hospedado no Palacete Miranda construído por Luiz de Queiroz, e visitou o Barão de Serra Negra em seu palacete. Eu me lembro de que quando João Hermann era prefeito, ele mudou o seu gabinete para aquela esquina onde hoje é um cartório, na Rua São José esquina com a Rua do Rosário. Ali já funcionou o SAMDU – Serviço de Atendimento Médico Domiciliar de Urgência, depois foi a sede da UNIODONTO e agora é um Cartório. É um casarão!

Waldemar afirma: A sua casa foi demolida! Ficava na esquina da Rua Boa Morte com a Rua Ipiranga! Na Rua Ipiranga havia a única Sinagoga da cidade, que funcionou até o início da década de 60. Foi diminuindo a colônia de judeus aqui na cidade. Cerca de 80, 100 anos atrás eram mais numerosos. O prédio foi vendido. O comprador tinha planos de construir no local, demoliu a casa que tinha sido uma sinagoga.

Eu morava ali perto, na Rua Governador Pedro de Toledo, desde novembro de 1953, ele foi demolido em 1954 ou 1955.Eu nunca entrei naquele Teatro. Visto pelo lado de fora, era uma construção sem grandes desenhos, não tinha as características de arte que são normais em algumas construções antigas. Podemos até dizer que no lado externo era uma construção simples. Mas deveria ser conservado, pelo seu valor cultural.

No meu entendimento, perto de uma igreja, não se constrói ao lado dela, um prédio que seja mais alto do que ela. Quando a igreja é mais alta do que os seus vizinhos, você está pondo o espírito acima da matéria. O prédio que ocupou o local onde era o Hotel Central, coloca a matéria acima do espírito. Não sei de quem é aquele prédio. Infelizmente as construções tombadas são conservadas de pé, porém a maioria não os conserva bem. Na Rua do Rosário, onde era antigamente a Sociedade Portuguesa, o dono daquele prédio é um amigo meu, um engenheiroele conserva tudo perfeitamente.  

Pelo que eu vi, os tombamentos em Piracicaba começaram na década de 80, salvo engano, foi na gestão de Adilson Benedito Maluf. Esses procedimentos são novos, então perdeu-se muita coisa.

Na esquina das Ruas Voluntários de Piracicaba e Alferes José Caetano tinha um casarão onde funcionou a Biblioteca Municipal.

Entrei lá muitas vezes para estudar.

A prefeitura alugava aquela casa.

Na esquina da Rua Treze de Maio com a Rua São José havia uma casa muito vistosa, antiga, com classe. Foi demolida para ser construído um prédio comercial. Nas proximidades, tinha um outro imóvel que foi demolido e que também tinha características próprias de épocas passadas. Já faz uns 10 anos que se tornou apenas um terreno para vender ou alugar.

Passei em primeiro lugar no vestibular, depois fui um aluno médio, dentro do padrão, na parte prática eu fui bem, tinha habilidade. Desde o tempo de ginásio eu tinha habilidade com detalhes, o meu professor de trabalhos manuais foi o professor Lino Sansigolo, ele trabalhava muito os alunos, era bem dedicado. Fiz muitos trabalhos manuais, delicados, com serra tico-tico. Eu tinha uma espécie de moinho holandês, cheio de detalhes, fiz uns sete ou oito daqueles moinhos. Fazia em casa, serrando a madeira. Posso dizer que já tinha preparado os meus dedos para trabalhos delicados. Tive facilidade em aprender. Em 1964 instalei meu consultório, na Rua Alferes José Caetano, juntamente com o meu colega Francisco Braga, alugamos uma casa e instalamos lá, no número 902. Depois mudei para a Rua Moraes Barros, 1.127, onde fiquei até junho de 1978. De julho de 1978 até encerrar a minha atividade, trabalhei na Rua Bom Jesus, 811, já era imóvel de minha propriedade. Encerrei a minha atividade relativamente cedo, embora gostasse muito de trabalhar na profissão. Minha esposa teve um AVC hemorrágico muito forte em julho de 1998, precisando da minha ajuda para tudo. Ela ficou dependente de mim por quase 10 anos, vindo a falecer em 15 de março de 2008.

Tivemos duas filhas: Aline e Claudia: Aline que tem um filho chamado Nicolas. Outra é a Cláudia, que tem uma filha chamada Amanda e um filho chamado Igor. A Amanda está fazendo medicina em Jundiaí e o Igor, seu irmão, está fazendo curso de Informática na UNICAMP. O Nicolas, está fazendo cursinho para entrar em escola superior.

Maria Ignês de Mattos Romano, ela foi funcionária da Câmara Municipal, onde a conheci, em 1963. Quando eu era estudante, frequentava a Câmara para assistir as sessões anteriores ao meu ingresso, eleito como vereador. Quando entrei lá já conhecia um pouco do funcionamento. Eu gostava de ver os debates, naquele tempo só havia microfone local, a transmissão por rádio começou através da Rádio Difusora PRD-6. Hoje a Câmara tem muitos recursos na área de comunicação. Na época, a Câmara inteira tinha 4 funcionários! Eram: Lino Vitti, Rubens Vitti, José Gomes que fazia serviço de rua e a Maria Ignês, minha futura esposa. Nesse tempo acho que o Guilherme Vitti estava trabalhando no gabinete do prefeito. Hoje são quatro ou cinco funcionários para cada vereador. O Guilherme Vitti acredito que foi para a Câmara dos Vereadores depois da construção do prédio novo. Ele então foi para a Seção de Arquivo Histórico. Hoje há um departamento com diversos funcionários. Aliás, eles publicam na imprensa local, diversos fatos da Câmara de tempos atrás. Eu tenho lido o trabalho deles.

Pessoalmente não o conheci. Só a fama. Foi um dos primeiros banqueiros de Piracicaba, milionário, construiu o prédio que existe até hoje na Rua Prudente de Moraes, com um segundo andar, usando material importado da Inglaterra. 

O Mario Stolf, que era vereador também, era uma pessoa muito boa.  Excelente, se alguém falar que ele ganhou dinheiro na política, eu falo que ele perdeu.  

Todos perderam!

Todo mundo que trabalhou de graça, perdeu.

Ele teve em Piracicaba a Agência Citroen, na esquina da Rua Moraes Barros com a atual Avenida Armando de Sales Oliveira, na época não existia essa avenida, o córrego do Ribeirão Itapeva era a céu aberto, hoje corre sob a avenida. Um dia o Mário me disse: “Terenzio Galesi era muito audacioso, até mesmo esnobe, ele, às vezes, fumava cigarro de palha, só que no lugar da palha ele pegava a cédula de dinheiro de valor mais alto que circulava, e fumava!” Uma demonstração no mínimo exótica.

Infelizmente o Terenzio perdeu muito dinheiro em suas atividades comerciais e bancárias. Na parte inferior do prédio, que existe parcialmente até hoje, havia trilhos para um vagonete transportar mercadorias. Sua propriedade ia da Rua Prudente de Moraes até a Rua São José. Mais tarde, no térreo, funcionou o jornal “O Diário”, de propriedade de Sebastião Ferraz, depois adquirido pelo jornalista Cecílio Elias Netto, tendo entre seus colaboradores , Galdino e  Rolim.

No meu tempo, o conceito já estava mudando! Aqueles que se formaram na Faculdade de Odontologia antiga que existiu em Piracicaba de 1914 a 1932, era transmitido o conceito de destruir. O paciente chegava com uma porção de problemas nos dentes, isso em 6,7,8 dentes! O conceito era “-Vamos limpar tudo!”. O conceito de dentadura, popularmente denominada também de chapa, quando me formei já estava mudando. Tinha material mais avançado, já estava mudando a conscientização da população, foi um processo lento para mudar, a geração que nasce com um conceito dificilmente muda. Não sei mexer direito com computador, não sei mexer direito com celular, porque não tenho estímulo para isso.

Quando passamos pela Câmara, aprovamos uma lei para fluoretação das águas de Piracicaba, foi uma das primeiras cidades do Estado de São Paulo a fluoretar as águas. Só não fluoretou logo após a lei, por volta de 1964, quando era prefeito o Luciano Guidotti . Ele escutava alguns outros assessores, que achavam que iam colocar o produto na água para depois lavar calçada, lavar carro; Aí veio o Nélio Ferraz de Arruda, que como prefeito ia colocar, depois não colocou, mais tarde veio o Salgot, que não deu nem tempo de esquentar a cadeira, foi cassado. A seguir veio o Cassio Paschoal Padovani, uma porção de colegas nossos, entre eles, Antonio Oswaldo Storel, Antonio Durval DortaMilton Nascimento, Edson Furlan. Eles faziam parte da nossa associação. Quando o Cássio entrou, logo na primeira vez, ele entendeu perfeitamente. O Cássio tinha uma forma de pensar muito lógica. Ele chamou o Paulo Geraldo Serra que era o diretor do SEMAE. O SEMAE foi fundado nessa pequena gestão do Salgot, em 1969. Dizem que o Cássio disse ao Serra e a mais alguém, eu não estava lá no momento: “- “Quanto tempo vocês levam para pôr isso em prática?”. O Serra respondeu: “- Uns três meses!”. O Cássio determinou: “- Três meses é muito, vocês vão colocar em 20 dias!”. Essa fluoretação de águas é o melhor método para águas de abastecimento público, é o melhor método para se aproveitar a ação do flúor na prevenção do dente, para proteger o esmalte do dente. Por isso que hoje aqui em Piracicaba, não sei em outras cidades, nunca trabalhei fora de Piracicaba, dificilmente se encontra uma criança com dente cariado. Outros fatores concorreram, a educação da saúde, hoje as mães na época da gestação, recebem orientação, inclusive da importância da higiene bucal, sobre o valor dos dentes, quando as crianças nascem as mães cuidam melhor. No tempo em que eu era menino, ainda estudante, abusava-se de balas, de açúcar, abusava-se de qualquer coisa que provocava cárie nos dentes.

Na verdade, os recursos materiais naquela época eram limitados.

Eu quando era menino, meus pais eram pobres, levava pão com açúcar na escola. Não tinha orientação. Hoje está muito melhor. Dá gosto de ver!   

Conheci! Era uma clínica popular. Ele trabalhava naquele estilo bem antigo, tinha muita gente que ia lá. Ele almoçava lá, jantava lá, ia para casa às 10 horas da noite. Ele trabalhava muito, punha como empregados dele uns dois ou três, depois dele vieram outros, entre eles, Vasco Altafin.

Não. O Dimas era formado em Alfenas. No tempo em que não tinha faculdade aqui, alguns alunos foram estudar em Alfenas: Jonas Vaz de Arruda, Rene Gerdes, Dimas de Almeida, Alberto Nobre Ferraz. E de Campinas, antes de instalar a nossa faculdade aqui, foram contemporâneos nossos, alunos e professores vindos da PUC, entre eles,  Krunislave Nóbilo, o pai dele  era iugoslavo, José Rensi, Said Dumit. Da Escola de Ribeirão Preto, que naquele tempo era particular, depois a USP assumiu, vieram Aparecido Nascimento, Lourenço Bozzo, Walter Daruge, irmão do Eduardo Daruge, este último foi meu professor, Angélica que era casada com o Walter, Neimar dos Santos que não ficou na faculdade, Roberto Domingos dos Santos, esses vieram de Ribeirão Preto. O Professor Eduardo Daruge me ensinou Odontologia Legal, depois mudou para Deontologia. Ele se especializou em pesquisa com cadáver, identificação humana. Ele tem trabalho sobre os que eram inconfidentes mineiros, o Eduardo, filho dele, ajudou nisso aí. A Clotildes Fernandes é minha colega de turma, eu a conheci desde criança, quando eles vieram de São Pedro. Eles moravam na Avenida Saldanha Marinho, tinha ela, a irmã dela, a Natália, o irmão, Jorge, já falecido, eu morava na Rua do Rosário, 122, eu vim de Rio das Pedras, morei nessa casa até novembro de 1953.

Tenho ido pouco para lá. Agora está bem diferente. Geralmente eu vinha de trem de Rio das Pedras para Piracicaba. O trem parava no Pinheirinho, parava no Chicó.

Conheci! Era um rancho aberto, na época não existia a Avenida 31 de Março. Íamos pela hoje Avenida Bairro Verde, na época não era avenida e o chão era de terra.  

Ele formou-se um ano antes de mim. Tinha consultório na Rua XV de Novembro, 444, no Edifício Domus. Quando jogava futebol era determinado, geralmente jogava como lateral direito.

Quando fui admitido, o presidente era Haldumont Nobre Ferraz, o Tiquinho, ele foi presidente por duas gestões, na segunda gestão dele eu entrei na diretoria dele, pelo estatuto ele não poderia mais ser reeleito, ficou o Paulo Celso Bassetti, depois do Bassetti voltou o Tiquinho mais uma vez, nessa ocasião fui Tesoureiro ou Segundo Tesoureiro, depois veio o Pedro Caldari, eu fiquei Secretário, fiquei fora em duas gestões, depois voltei ocupando alguns cargos. Atualmente sou Segundo Tesoureiro.

Acho muito importante! Infelizmente, pelo Código Civil, tem que ser administrado de forma gratuita por todos os diretores. Está cada vez mais difícil encontrar quem participe como diretor ou associado. Posso afirmar que isso acontece na maioria das instituições de cunho Cultural ou filantrópico. Fiz parte do Rotary Club – Paulista de 1978 a1982. Naquele tempo, só participavam os homens, tinha cerca de 40 a 50 membros. Hoje podem participar os homens e as mulheres e têm de 20 a 25 membros, se conseguir. Hoje a gente vê, foi criado mais um Rotary, foi criado mais um Lions, eu não sou favorável a ficar repartindo em pequenos grupos. Isso porque não consegue unir um número suficiente para dar impacto. Não adianta ficar 6 ou 7 se reunindo. Você tem que ter uma equipe para trabalhar.

Quero deixar bem claro que sou favorável ao Rotary e ao Lions Clube. Sou favorável a todas as entidades com fins filantrópicos, culturais como é o IHGP, como é a Academia de Letras, só está cada dia mais difícil, e os jovens não têm muito entusiasmo por isso!

Leitura de livros mesmo, não gostam! Gostam de ler no computador, no celular, e vão ler aquilo que é obrigatório para fazer provas e passar! Com raras exceções!

Acho muito importante o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Marly, Ivana, Leda, Carmem e outras pessoas, junto a escolas, estimulando crianças a ler, livros infantis. Algum fruto vai dar!

Tenho a impressão de que no futuro as pessoas voltarão a valorizar a leitura convencional. Você pode fazer uma defesa de tese, dando alguns parâmetros e o computador irá, em pouco tempo, oferecer uma maravilhosa tese. Quem for analisar pode usar um programa para identificar como foi feita essa tese. Irá constatar que ocorreu a ajuda de um computador. Foi então criado um programa para despistar que essa tese é de um meio eletrônico! É uma disputa de gato e rato!  

Atualmente, nós humanos, já estamos escravizados pela tecnologia! Agora quando vamos ao supermercado a máquina registradora marca tudo: preço, desconto, etc… Quando eu era menino, marcava-se em uma caderneta, o proprietário, ou balconista, tinha sempre um lápis preso entre a orelha e a cabeça. Isso tudo escrito com lápis. Levávamos a caderneta para casa e ninguém punha a mão! No dia certo, somavam-se todas as contas para pagar. O faturamento era manual. Na base da confiança mútua. Quantas vezes eu fui comprar com caderneta! Existia uma honestidade muito grande. Hoje nós temos praticamente tudo embalado. Ou é lata, ou é plástico. Naquele tempo, pegava-se com o pegador, arroz, feijão, milho, tudo a granel!

Meu hobby é ler. Livros, revistas, leio muito jornal, tenho muitos livros, em casa tenho duas estantes grandes de livros. Principalmente livros de História. De Piracicaba, tenho algumas coisas raras. Tivemos uma revista chamada Mirante, que funcionou de 1957 até 1962, tenho 54 volumes encadernados. Na época eu era estudante. Todo livro da História de Piracicaba que eu encontro eu compro. Essa revista tinha muita coisa, era dirigida pelo Arlindo Romani, Roberto Wagner (Hoje é nome de avenida que margeia o Rio Piracicaba), no começo estava o Joaquim do Marco, Edson Rontani. Depois foi extinta. Voltou a ser editada, mas não na mesma categoria. Em 1980 saíram umas 10 edições. A outra era melhor em termos de apresentação, conteúdo. Tenho muitos almanaques de Piracicaba, aqueles almanaques, só o de 1914 eu tenho xerocado. O almanaque de 1900, um amigo meu, deu para mim, logo depois ele faleceu. Era original, encadernado. Algum tempo depois, alguém da família me procurou, perguntando sobre o almanaque que o falecido tinha emprestado para mim. Como não tinha como provar que ele tinha feito uma doação para mim, devolvi, para não passar por proprietário de coisa alheia. Consegui tirar cópia de alguma coisa. Se eu encontrar um hoje, em condições de xerocar eu faço a cópia. Depois apareceram diversos almanaques pequenos, eu os comprava. Tenho almanaque de 1956, está encadernado também, foi editado pelo Krähenbühl, está encadernado também. Esses outros que vieram depois 1965, 70 e 80, eu tenho todos, espero que sejam todos. São muitos. Eu gosto de História.

Nunca fui fanático. Alguns filmes melhores eu ia assistir.

Naquele tempo tínhamos vários cinemas: Politeama,  Broadway, Palácio, Colonial, São José, depois apareceu o Paulistinha. No Paulistinha, acho que entrei uma vez só.

Os filmes passavam primeiro no centro, depois ia para lá. O ingresso custava metade do que era cobrado no centro. Em frente ao cinema havia uma intensa troca de gibis antes do horário do filme.

Era uma época mais ingênua! Mais sincera.

Quando eu morava na Rua Governador, com os amigos, fui diversas vezes no Bar e Sorveteria Paris, ficava onde hoje é o Banco Safra. Os donos eram japoneses ou descendentes, lá conheci um deles: Tuneharo Anraku ,ele foi mais amigo meu. Tinha mais alguns que não me lembro o nome, tinha o Milton, ele era mais novo do que eu. Milton era uma parada! Sossegado! Para conversar com ele precisava diminuir muito o seu ritmo. Um dia, eu já devia estar com os meus 40 anos, trabalhava lá no Bom Jesus, passei na Rua Santa Cruz, ele tinha aberto um bar, para servir lanches, bebidas. Parei lá para comprar um sanduiche de carne. Perguntei: “-Milton, que carne você usa para fazer esse sanduiche?”. Ele em seu ritmo muito calmo, disse-me meio sossegadamente: “É coooontraaaa”, ou seja, era contrafilé.         

Ele formou-se em engenharia, mas acho que nunca trabalhou na área. Piracicaba, com a queda do Comurba, criou um receio da população em morar em edifícios. Nessa época, a empresa do Comendador Antonio Romano e companhia, estava construindo o Edifício Pedro Ometto, ao passar por lá procure ver a espessura dos pilares que existem lá, eles iam começar a construir quando caiu o Comurba, puseram excesso de concreto naquilo! Já faz 30 anos que eu moro em apartamento. Quando eu era jovem, era favorável a construção de prédios. Hoje sou contra. O que vem ocorrendo ultimamente é o correto: condomínio horizontal. Edifício com 18,20,30 andares são sujeitos a problema de trânsito, esgoto, abastecimento de água, problemas elétricos às vezes, elevador que não funciona, estou lá, então permaneço, mas se fosse para entrar hoje eu não iria. Eu achava bonito os edifícios altos. Assim como quando era menino achava bonitas as chaminés das indústrias soltando aquele rolo de fumaça!

João Chiarini tinha a Livraria Pilão, comprei muito livro dele lá. Ele foi eleito vereador  entre 1951 e 1955.

Andei bastante!

Saltei umas duas ou três vezes, com cuidado para não encontrar um poste na frente!

O bonde que ia para a Escola de Agronomia, ESALQ ,saía do ponto inicial, o abrigo atrás da Catedral, esse abrigo existe até hoje, ia pela Rua XV de Novembro até a Rua José Pinto de Almeida, virava para a esquerda seguia até Rua Marechal Deodoro, subia duas quadras, virava na Rua São João e chegava até dentro da Agronomia, na esquina do restaurante. Lá virava os encostos dos bancos, e estava pronto para voltar.

O bonde que ia para a Vila Resende passava na Rua do Rosário, em frente onde eu morava. Ia até o ponto final, na Vila Rezende, pela Avenida Rui Barbosa. Ele saía do lado da Catedral, virava na Rua Moraes Barros, virava na Rua Alferes José Caetano, ia até a Rua Prudente de Moraes, vira ali, seguia pela Rua do Rosário, em frente a atual ACIPI tinha um desvio, era onde o bonde que vinha no sentido contrário passava, mais adiante, na Rua Campos Salles havia outro desvio.

Próximo à ponte Irmão Rebouças tinha um moinho de fubá?

Tinha! Era o Moinho de Fubá do Luiz Carlos Pitta, ficava próximo ao atual Hotel Beira Rio.

Ali, onde era a Praça Barão de Serra Negra, que era uma praça linda, maravilhosa, foi construído o Hotel. Na minha opinião, uma das coisas que o Guidotti fez errado. Eu conheci aquela praça. São raras as fotografias daquela praça. Era linda! Tinha as ruas em diagonal, no meio tinha um coreto, tinha um arvoredo maravilhoso. Foi o Barão de Serra Negra que construiu aquela praça. Vejo hoje o mundo materializado demais. Às vezes eu falo brincando que o mundo perdeu a alma.

Foto tirada em 28 de maio de 1967, ocasião em que se casavam Waldemar Romano (cirurgião-dentista e vereador) e Maria Ignês de Mattos Romano (funcionária da Câmara Municipal). Os convidados foram recepcionados na casa da família, situada no centro de Piracicaba. Na foto, a família Romano: Maria Azzini (ao centro) e os filhos Américo, Elza, Henrique, Pedro (Bene), Antonio, Elisa e Hélio. Atualmente, Hélio reside no bairro Cidade Alta. Henrique em Artemis. Os demais são falecidos.
A família, sob coordenação e liderança de Antonio Romano (comendador pela Santa Sé), foi proprietária da Retífica Romano S/A, instalada à rua São José, 1122, encerrando suas atividades em 1980. Pedro Romano foi proprietário da Funilaria Bene, situada à rua Bom Jesus, 735, ainda em atividade e sendo seus proprietários aqueles que, até 1997, foram seus empregados. Elza Romano, formada pelo Instituto Educacional Sud Menucci, foi professora primária em Penápolis, Pirambóis, Distrito de Tupi (Piracicaba) e aposentou-se no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. (Fonte: Edson Rontani Jr.)

De fato! E a minha mãe hoje, com 100 anos de idade, completados no dia 25 de abril de 2024, assiste televisão, enxerga bem, escuta bem.

Onde o meu tio Comendador Antonio Romano, construiu quarenta sobrados, tem várias travessas, uma delas é em homenagem ao meu avô Caetano Romano. Isso na época em que construiu, uma das travessas recebeu o nome do meu avô Caetano Romano, por iniciativa do vereador Jorge Moysés, o Gito, que exerceu mandato de 1960 a 1963. Meu avô era muito pobre, trabalhou com diversas coisas. No fim, ele faleceu com pouca idade, ele era sapateiro.

É aí que entra o detalhe, todos os meus bisavós eram italianos! Do lado da minha mãe é Augustti, tinha Foltran, Bortoletto, do lado do meu pai minha avó que era Azzini, em São Pedro tem uma família Azzini, talvez seja parente, os meus bisavós possivelmente passaram pela Casa do Imigrante, hoje Museu do Imigrante. Fui até lá, mas na época estava fechado para reforma.

Vieram do Norte da Itália, minha bisavó falava do Vale do Pó, que é no Norte. Uma das maiores planícies da Itália, situa-se entre os Alpes e Apeninos. É percorrida pelo Rio Pó.

A minha bisavó chamava-se Alexandrina Romani, meu avô foi registrado como Romano, disse: “Agora todos os meus filhos terão o sobrenome Romano. Os Romaní que moram em Santa Bárbara D`Oeste são todos meus primos! Américo Emílio Romani, que foi prefeito em Santa Barbara D`Oeste é nosso primo em segundo grau.

Como a sua família escolheu a localidade para morar inicialmente?

Quando os meus bisavós vieram para cá, foram trabalhar nas terras dos Moraes Barros, naquele tempo prevalecia o cultivo do café. Eles mudaram-se para Recreio, de lá foram para Mombuca, em seguida vieram para Piracicaba. Minha mãe nasceu no Campestre. Augustti, Foltran, que são da família da minha mãe, quando vieram para cá, acho que foram direto para o Campestre pelo jeito, tinham a plantação de café, mas também o que usavam em casa: milho, batata, galinhas, porcos. A casa em que a minha mãe nasceu, não sei se demoliram, a cerca de 10 anos eu fotografei aquela casa. O Campestre na época era bem rústico, estrada de terra, uma irmã do meu avô era conserveiro daquela estrada! Trabalhava com enxada! Com enxada puxando pedra para cobrir os buracos, vinha a chuva e tinha que fazer tudo de novo. Meu pai nasceu em 1918, ele contou uma vez para mim, que os italianos quando chegaram no Brasil, sofreram muito, quando ele me falou, já fazia uns 30 anos que estavam no Brasil, e segundo ele, essa fase difícil ele não vivenciou com a mesma rigidez. Ele disse-me: “-Comer pão com sardinha, sabe como é que era? Dependurava a sardinha em um arame ou em um barbante, batia o pão na sardinha, outro batia o seu pedaço de pão no sentido contrário e a sardinha balançava de um lado para outro! Você comia pão com gosto de sardinha!”. Hoje em Santos você compra sardinha por R$ 10,00 o quilo!

As coisas mudaram muito, em escala mundial. O que observamos em fotografias antigas, e mesmo há uns 50 anos atrás, era a ausência de obesos. Piracicaba teve um obeso de 120 quilos que era muito famoso, pelo seu peso, a ponto de fazer propaganda. Gordura era sinal de saúde!

Tínhamos dois tipos de materiais que eram predominantes: para os dentes posteriores aquele escuro, é o melhor material que existia. Antes de eu me formar, usava-se muito ouro, ouro batido. Quando me formei aparecia um ou outro que dizia: “Quero por um dente de ouro!”. Eu aconselhava a pessoa não colocar dente de ouro. Usei ouro em alguns casos, mas usava amalgama de prata, é um excelente material, só que depois começou o conceito de que o mercúrio prejudicava a saúde da pessoa. Acho que não prejudicava, desde que você trabalhasse com ele corretamente, você espremia tudo que sobrava de mercúrio. Espremer em uma camurça. Se não estremece o excesso de mercúrio aquele trabalho iria cair a qualquer hora, se tivesse excesso de mercúrio, talvez sim, prejudicasse a saúde. Aquele que foi espremido o mercúrio fazia parte do amálgama. Não ia sobrar na boca! Depois veio o conceito de que por estética nos dentes de trás, começou a ser usada resina especial nos dentes posteriores. Nos dentes da frente, quando me formei não tinha essas resinas, usava-se material pior. Gastava-se mais na escovação. Chamava-se silicato. Usava uma matriz de celuloide, prendia no lugar, que segurasse bem o celuloide, ele ficava perfeito. Só que ele gastava mais depressa. Às vezes manchava. Naquele tempo fumavam muito. Era charme. Não era proibido fumar dentro de casa, os ônibus que iam para São Paulo tinham até cinzeiros nos braços das poltronas.

Há 100 anos atrás existia! Hoje quando percebem que alguém foi enterrado e tem ouro nos dentes, roubam. O ouro como material é excelente, mas não se usa mais.  Essa resina que se usa para o dente posterior hoje está mais aperfeiçoada.  Há 20 anos, a resina não tinha a qualidade do amalgama. Hoje melhorou bem. Infelizmente o preço é muito elevado.

Tinha, inclusive tinha protético que fazia dentaduras tratando diretamente com o paciente.

Conforme a boca! Tinha boca que era difícil, outras eram mais fáceis.

Tive um caso de uma paciente, ela era de Tupi, existe a ponte móvel, é um serviço antigo, hoje está sendo substituída pelo implante. Se for fazer uma ponte de um dente ou dois dentes, é melhor fazer implante. É mais caro, mas é melhor. Ela tinha uma ponte móvel parcial, que outro profissional tinha feito, ela apareceu com a ponte em meu consultório, e eu disse a ela que aquela ponte não era muito conveniente fazer. Melhor fazer outro tipo de trabalho. Você pode engolir isso aí. E não é que ela engoliu mesmo! Um sábado à tarde ela chegou na porta da minha casa e disse-me: “–Engoli a ponte!”. Eu disse-lhe, que a ponte estava em uma área que não é a minha. Estava no estomago! Disse-lhe para comer bastante coisa seca, comer paçoca, comer isso ou aquilo, depois você tem que ir ao hospital e ver onde está essa ponte. Tirar uma radiografia. Ela foi, tirou a radiografia, estava no estomago.

Ela acabou eliminando pelas vias naturais. A ponte tem umas garras, parece um caranguejo, pode rasgar. O médico falou a mesma coisa para ela, procurar fazer uma comida bem seca, para poder rodear a ponte e proteger o intestino.

Pode ocorrer por diversos motivos: excesso de dente estragado, existem medicamentos que secam a boca e produzem mau hálito, quando seca a boca pode também cair a dentadura, a aderência dela é pela umidade. Os medicamentos destinados ao tratamento psiquiátrico, geralmente secam a boca. Outro fator que causa mau hálito é ficar muito tempo sem se alimentar. De madrugada por exemplo, é comum ter um pouco de mau hálito por ter ficado muito tempo sem comer nada.

Acho que é o método de abrir a boca, usar a língua, dá para corrigir, ensinar a pessoa a falar diferente, mais baixo. A pessoa que tem a língua presa também pode ser que tenha esse problema.

A pessoa terá que se educar.

Existem certas intervenções que são facultadas, o cirurgião buco-maxilo-facial é um especialista que poderá fazer intervenções cirúrgicas em ambiente controlado, geralmente um hospital, onde terá o suporte de outros profissionais da saúde.

Waldemar Romano dedicou-se muito a APCD- Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas. como membro muito ativo, sendo que declinou de ocupar cargos nessa gestão, visto que desde 1965 ocupou os mais diversos cargos. Foi presidente por um mandato, declinou aceitar ser presidente outras vezes. Nem por isso deixou de trabalhar com empenho pela entidade. Em São Paulo frequentei muito, implantei Conselhos Regionais de São Paulo, abrangendo todos os Conselhos do Interior e da Capital. Na época eram 50 a 60 regionais, agora são cerca de 80 regionais, inclusive da Capital.

É o CRO – Conselho Regional de Odontologia, onde por duas gestões fui Conselheiro. Existe ainda o CFO- Conselho Federal de Odontologia. No Sindicato dos Odontologistas de São Paulo também fiquei Diretor um tempo. Agora temos Sindicato em Piracicaba também. E tem uma Delegacia Regional dentro da APCD.

Hoje temos uma área de 6.000 metros quadrados com 2.000 metros quadrados de construção.  

O Museu Odontológico de Piracicaba ao completar 25 anos comemorou com o lançamento do livro: “Museu Odontológico – 25 anos”, de autoria dos cirurgiões-dentistas Drs. Reinaldo José Ferraz Salvego e Waldemar Romano.

Na verdade, quem criou o Museu foi a falecida Dra. Grace Harriet Clark Alvarez, ela construiu o Museu em 1980, ficou até 1988 quando ela faleceu. Daí eu fiquei Diretor por uns tempos, depois ficou Erasto da Fonseca, Ciro Delábio Silveira, ultimamente era o Reinaldo José Salvego, ele faleceu. A UNICAMP assumiu o Museu da FOP.

Se considerarmos todos, passam de 1.000. Na ativa, trabalhando, acredito que há cerca de 300.  

300. O serviço diminuiu muito, o que aumentou foi o implante e a estética.  

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