Em fevereiro de 1922 nasceu a Revista Reader’s Digest, posteriormente batizada no Brasil como Seleções. Foi um sucesso imediato e a fórmula de venda de assinaturas por mala direta permitiu que em poucos anos a circulação ultrapassasse um milhão de exemplares mensais. A expansão internacional da revista começou pela Inglaterra, em 1938. Dois anos depois foi lançada a edição em espanhol, intitulada Selecciones e, em fevereiro de 1942, a Revista Seleções chegou ao Brasil. A sua receptividade excedeu todas as expectativas e, em menos de seis meses, a circulação atingiu os 150 mil exemplares. Seleções tornava-se uma das publicações mais populares do Brasil. No início dos anos 70, a circulação mensal era de aproximadamente 500 mil exemplares. Um dos artigos de uma de suas edições, trazia o título “Correndo para viver”. Foi publicado em uma das primeiras edições brasileiras.Hoje temos muitas pessoas de todas as idades, praticando a corrida como esporte. Para manter o condicionamento físico ou, até mesmo, a saúde. Na época em que foi publicado o artigo, várias décadas passadas, parecia algo exótico. No Brasil, a prática desse esporte era restrita a atletas e treinamentos específicos.
Rosanea Maria de Lima Pereira Bonamin, é natural de Fortaleza, Ceará, onde nasceu a 21 de maio de 1971. Filha de José Miguel Pereira que era comerciante e Maria Adelaide Lima Pereira , do lar. Tiveram 11 filhos, sendo Rosanea a filha mais nova. Estudou em Fortaleza até o segundo grau completo. O primeiro grau estudou na Escola do Ensino Fundamental I Almerinda de Albuquerque, o segundo grau na Escola Nossa Senhora Aparecida. Fez o curso de graduação em Fisioterapia, no Estado de São Paulo.
Você é religiosa?
Já fui muito religiosa, participei dos 14 aos 27 anos do coral de igreja, já fiz parte da Renovação Carismática Católica, era a Comunidade Shalom (Paz) de Fortaleza.
Você tinha a vontade de seguir a vida religiosa?
Não. A minha mãe desejava que eu seguisse a ordem religiosa, ela era muito católica. Ela pertencia ao Grupo de Maria, iam rezar o terço, naquela época elas usavam um véu.
No coral qual era a sua participação?
Eu era contralto! (É a voz mais grave do coral). Eu tenho a voz muito alta, eles adoravam porque eu sustentava bastante! Às vezes eu ia para o mezzo-soprano. (voz de média para forte sendo ampla e poderosa). Eu era muito tímida, cantava sempre com o coral, não fazia voz solo sem o coral. O coral era conhecido como Coral da Igreja São João do Tauape, de Fortaleza. Era a igreja que o meu pai frequentava. Recebíamos orientações musicais das freiras, lembro-me da Irmã Iracema.
Com quantos anos de idade você veio para Piracicaba?
Com 28 anos cheguei aqui. Eu tinha uma irmã, a Alexandra e um irmão, o João Batista que já moravam em Piracicaba. Na verdade, em Fortaleza não havia muita oportunidade. Eu perdi a minha mãe quando eu tinha 22 anos. Meu pai me apoiou muito para que eu viesse para cã. A minha irmã me apoiou muito quando cheguei em Piracicaba. No início fui trabalhando no que aparecia, para me manter, trabalhei no Restaurante Zero Grau, Armarinho Dandy, que ficava na Rua Benjamin Constant. Em Fortaleza eu trabalhei como vendedora em uma franquia dos Colchões Ortobon, por quatro anos. Eu era muito tímida, aos poucos fui me soltando, eles investiam muito em cursos de autoestima, atendimento, neurolinguística. A empresa oferecia muitos cursos. Foi muito bom. Fazíamos visitas a fábrica que fica em Maracanaú, distrito de Fortaleza. Em Piracicaba a minha irmã me contratou como secretária da sua clínica de podologia, a funcionária tinha saído. Trabalhei por cinco meses como secretária, fiz o curso de podologia e comecei a atender na clínica.
Você sente saudade de Fortaleza?
Não. Eu me adaptei em Piracicaba, gosto da tranquilidade da cidade, às vezes me perguntam se eu não sinto falta do mar, da praia, respondo que não sinto falta, lá a gente trabalha, sabemos que tem o mar ali, só que não ficava todos os dias na praia, nem todos os fins de semana. A rotina de quem mora na praia é diferente das pessoas que estão lá como turistas.
Quais lugares de Piracicaba atraem você?
Eu adoro essas opções de verde, como a ESALQ por exemplo, amo a Rua do Porto, aquela área da Nova Piracicaba, a Avenida Cruzeiro do Sul eu adoro correr lá, acho um local maravilhoso. Correr ali na ESALQ é uma energia fantástica, lá eu corro no meio da pista, as laterais são com declive, pode provocar lesão de quadril. Tenho muitas amizades em Piracicaba, familiares, muitos sobrinhos.
O que eles acham da sua atividade como atleta?
Meus sobrinhos me admiram muito, elogiam toda a minha força.
Atualmente você cuida da saúde das pessoas, sendo uma profissional bastante requisitada.
Há quantos anos você exerce sua profissão?
Neste ano estou completando 24 anos de profissão.
Você é casada?
Sou, meu marido chama-se Antônio Carlos Bonamin. É engenheiro Agrônomo.
Você conheceu o seu marido aonde?
Aqui em Piracicaba, ele era cliente da minha irmã e eu era secretária.
Além da sua atuação na área da saúde, você tem um hobby?
Tenho! É um hobby que eu amo muito! É a corrida!
Quando despertou o seu interesse por pedestrianismo?
Foi aqui em Piracicaba! Eu estava com 41 anos de idade!
Na verdade, quando eu estudava na quinta ou sexta série, tinha aqueles campeonatos de escola, , eu participei uma vez no de atletismo, com aquelas corridinhas curtas. Mas depois, não continuei. O tempo passou, há uns 14 anos atrás, eu iniciei a corrida.
Você iniciou de que forma? Recebeu um convite ou foi lá e se inscreveu?
Na verdade, foi mais pela saúde, eu tinha saído da faculdade, estava acima do meu peso, já com início de colesterol, acendeu aquele alerta, pensei: “Tenho que fazer alguma coisa!”.
Mas você era ainda jovem para ter taxa de colesterol alta!
Trabalhando durante o dia e estudando a noite, a correria era muito grande, e não dava para fazer uma alimentação correta. Não tinha tempo para fazer atividade física!
Aqui em Piracicaba, no início dividia com outras meninas um apartamento na Rua Moraes Barros, depois comecei a trabalhar com a minha irmã e fui morar sozinha em uma quitinete. Comecei a trabalhar como secretária e depois iniciei minha carreira solo, abrindo o meu próprio espaço.
Precisa ter uma boa dose de coragem! Além da responsabilidade para com o cliente, você tem a responsabilidade de uma empresa. Bateu um medinho…
Você pertence a algum Conselho de Classe?
A podologia tinha se associado ao Conselho de Biomedicina. Por diversos motivos, ela se desvinculou dele e hoje só temos uma Associação, mas está em fase de tramite judicial para que a Podologia volte a associar-se ao Conselho de Biomedicina. Atualmente o Governo Federal não está abrindo Conselhos. É um pouquinho da dificuldade da regulamentação federal. Junto ao Governo Estadual já está regulamentada.
Além do conhecimento técnico, do rigoroso controle de assepsia, o que mais é necessário para o exercício dessa atividade?
Tem que ter amor pelo que está fazendo! Na verdade, não cuidamos só dos pés da pessoa, cuidamos do ser humano como um todo.
Qual é a faixa etária que procura os seus trabalhos?
Atendo desde crianças, adolescentes, até idosos. Bebês já manifestaram problemas de unha encravada. Às vezes, no próprio ventre da mãe, não tem espaço, então os pés ficam em atrito. Como a pele e a unha são muito fininhas a criança já nasce com a unha encravada. O primeiro bebê que eu atendi tinha 20 dias de vida! Ele vem até hoje para ser atendido.
O instrumental que você usa exige muita habilidade?
Tem que ter o completo domínio dos instrumentos. Em especial , o bisturi, exige muita destreza de movimentos.
Tem que ser um artesão, quase um artista?
Meus clientes falam isso! Dizem que o que faço é quase uma obra de arte, todo o trabalho é minucioso. Às vezes, eles saem com os pés totalmente diferentes de quando chegaram.
Tem aquelas pessoas que buscam o podólogo por estética?
Tem. Embora eu não passe esmalte na unha. Na realidade, eu trabalho com o bisturi. Não retiro a cutícula, tiro apenas os excessos de queratose, que são aqueles tecidos mais endurecidos, tipo calosidade, que se formam no círculo da unha, sem tirar a cutícula, isto porque a cutícula é a proteção da unha contra a entrada de bactérias, fungos.
Qual é a importância da podologia para a saúde da pessoa?
Os pés são a base, porta de entrada de bactérias, a infecção fúngica ou por bactéria pode entrar na corrente sanguínea. Uma bolha que leva a uma lesão exposta, um pé machucado, pode vir a ocorrer uma erisipela.
Nós temos uma personalidade bastante conhecida no Brasil que recentemente teve erisipela. Isso pode também ter origem cardíaca?
Sim, pode também ter origem em problemas circulatórios. Tem mais suscetibilidade a esse tipo de problema, os indivíduos diabéticos. Os locais mais comuns de comprometimentos de portadores de diabetes, são os rins, os olhos e os membros inferiores. A pessoa pode ter perda de sensibilidade se o índice de glicemia tiver muita oscilação. Tem a isquemia, que é problema de circulação, a perda de sensibilidade, vai machucar a planta do pé, irá abrir uma feridinha e a pessoa não irá sentir dor, não sentirá nada. E a isquemia que iria levar a oxigenação para cicatrizar, já tem uma certa dificuldade também. Pode levar a uma úlcera, ai vem os casos de amputações. As dificuldades na cicatrização são mais demoradas.
Voltando ao seu hobby como atleta, como você é chamada no círculo íntimo?
Me chamam muito de “Rô”!
O seu nome não é muito comum, você já conheceu alguém com nome igual ao seu?
Já! São poucas pessoas. Aqui mesmo em Piracicaba conheci uma moça com mesmo nome. Na verdade, o meu nome era para ser Osana. Só que o meu irmão mais velho disse para a minha mãe: “Põe o nome de uma amiga minha que é Rosanea!” Eu acho que foi acertado, eu iria sofrer muito na escola com gracejos sobre o nome Osana.
Ao saber que o seu índice de colesterol estava elevado, você decidiu começar a correr?
Logo que cheguei em Piracicaba, uma amiga, que hoje é minha cliente também, ela me chamou e disse-me: “Rô, vamos fazer o corta-mato?”. É uma corrida que existe há 39 anos, acontece todo primeiro domingo do mês. Mesmo que chova ou faça sol. Era um percurso de 5 quilômetros, só que eu não corria! Fui de bicicleta até o ginásio da ESALQ, participamos da corrida minha amiga e eu fomos as últimas a chegar! Ganhei até um troféuzinho…. de participação! Eu tenho um cunhado que corria com o pessoal do SESC. Eu disse a ele que iria tentar correr com ele. Ia com o pessoal do SESC. Mas eu corria, andava, corria, andava! Lembro-me da primeira vez em que dei uma volta inteira no Parque da Rua do Porto, são dois quilômetros, liguei para o meu cunhado e disse-lhe: “Hoje consegui correr os dois quilômetros direto!” No início o mais importante era parar de caminhar e correr. Fui para a academia, lá tinha um grupo de corrida, falei para o instrutor que eu gostaria de correr, fui fazendo as planilhas, ele viu que eu tinha aptidão para corrida. Na ocasião ele disse-me: “Se você tivesse começado mais cedo, seria uma atleta de ponta, você tem tanto resistência, como velocidade”. Eu adoro percurso de longa distância, de curta distância.
Você participou de quantas corridas até hoje?
Perdi a conta!
Mais de 100?
Muito mais!
Corri em Fortaleza, minha cidade, foi a minha primeira meia maratona.
O que é uma maratona?
É uma corrida com 42 quilômetros e 195 metros! Esses 195 metros são uma eternidade!
A meia maratona são 21 quilômetros. Temos também as corridas de rua, que são de 5,10,15, 20,30 quilômetros.
As corridas de rua não são perigosas?
São desafiadoras, por causa do piso irregular, já caí correndo. Quando tem prova de rua, corremos no asfalto, então é mais confortável.
Os buracos já são maiores! Dá para ver de longe. (Risos).
A primeira vez que você chegou em primeiro lugar foi aonde?
Foi uma corrida em quarteto, de São Pedro até Brotas, foi uma ultramaratona, o percurso é maior do que a maratona, em quarteto, por dois anos fomos classificados em primeiro lugar. É um percurso com aclive acentuado, de serra. Em segundo lugar devo ter chegado por volta de uma dezena de vezes. É muito competitivo! Subir no pódio em primeiro ou quinto lugar, para mim, já é sempre o primeiro lugar, só pelo fato de estar no pódio.
Você a princípio só queria cuidar da sua saúde e de repente está entre os melhores atletas!
Na verdade, isso veio como lucro! É fruto de esforço, disciplina e muita vontade. Treino três vezes por semana a corrida e duas vezes por semana faço musculação.
Você treina correndo quantos quilômetros por semana?
Quando estou treinando para a maratona, vai dos 40 até 50 quilômetros por semana. É bem puxado! Essa distância é dividida em três dias da semana. No final de semana eu corro entre 45, 52, até 60 quilômetros.
É comum vermos em corridas oferecerem água aos atletas, como funciona isso?
Ao fazer a inscrição pagamos uma taxa para a infraestrutura. Inclui água, Gatorade, frutas como banana, maçã. É uma reposição de carboidrato.
Como é a sua alimentação?
Eu como de tudo! Mas com equilíbrio. Comida de verdade, nada de muito especial.
Você come pizza?
Como! Como massas, pão. Não como sempre. Dou preferência para carboidratos mais saudáveis, como a mandioca, a batata doce. Em termos de caloria são semelhantes, só que a massa refinada está presente no pão, na pizza, nas massas.
Agora o seu índice de colesterol deve ser bastante baixo?
Em agosto do ano passado eu fiz uma maratona. Depois da maratona a gente dá aquela relaxada. Diminuí os treinos de corrida, abusei na alimentação, no dia 3 de janeiro fiz exame, o meu colesterol estava alto! Fui no meu endocrinologista, ele disse que não iria passar remédio pelo fato de eu ser atleta, e deveríamos ver como o esporte poderia abaixar. Fui no meu cardiologista, ele já viu diferente, porque ele sabe que sou atleta, já tenho 52 anos, e o meu colesterol estava em 154. Só que ele pediu para repetir o exame. Ai eu dei início aos treinos da maratona, e um plano alimentar já mais adequado. Três meses depois o meu colesterol de 154 baixou para 100! Olha a importância da alimentação e da atividade física!
Você toma algum suplemento?
Tomo creatina que é para a recuperação muscular, tem que ser na quantidade certa, e tem que ter a orientação da nutricionista.
Você tem uma nutricionista que a orienta?
Eu tenho! Faço o acompanhamento certinho. À, treino s vezes a gente perde muito peso em um treino de corrida. Só que não posso perder massa muscular. Tem que ter força nas pernas, ter resistência.
A sua disposição para o trabalho, o cotidiano, deve ser muito boa.
Sim. Eu acordo cedinho, treino e ainda venho trabalhar.
Como o seu marido sente-se sendo casado com uma atleta?
Ele tem orgulho! Ele me dá muita força. Ele até corria comigo! Quando fui fazer a maratona em Punta del Este ele correu 5 quilômetros comigo! Eu nem esperava aquele troféu. Fiquei em terceiro lugar na minha categoria de idade. Maratona! Eu baixei o meu tempo nessa prova, íamos embora. O meu marido Antônio Carlos disse-me: “-Vamos esperar para ver a premiação, vai que você ganha alguma coisa! Eu nem imaginava que iria ter premiação em categoria de idade. Quando o meu nome foi chamado, foi emoção! Uma maratona Internacional, ser premiada!
Você como profissional inspira confiança, ética. Como atleta inspira determinação, disciplina.
Hoje eu escuto bastante pessoas dizendo que sou inspiração para elas. Eu fico muito feliz. A gente está divulgando saúde, para a pessoa se movimentar. Isso é muito bom. Se as pessoas me veem fazendo deduzem; “Eu também consigo!”.
Você tem patrocínio?
Não. A gente corre, viaja, por amor, lazer, é um hobby! Infelizmente temos tantos atletas em Piracicaba, que correm muito, muito! Mas não tem um incentivo! Tem atleta bom aqui em Piracicaba! O que falta é um apoio. O esporte de massa dá mais visibilidade. Isso restringe a diversidade da prática de esportes. Grandes valores em diversas áreas esportivas ficam sem o mínimo apoio, e podem ser exemplos e incentivos para as novas gerações. O meu objetivo é me movimentar e aproveitar cada momento durante a prova, conviver com a natureza, com o lugar.
Ao que consta, Abilio Diniz, que além de ser um magnata dos negócios, foi um atleta dedicado, chegou a ter 3% de gordura no corpo. Qual foi o seu mínimo?
Cheguei a ter 18% de gordura, esse foi o meu mínimo. Entre 20 e 25 é o índice recomendável.
A prática do esporte dará uma melhor qualidade de vida, com mais saúde, na medida em que a pessoa aumenta a sua idade.
Você acha que os pais incentivam seus filhos na prática de esporte?
Pelo que observo, acho que sim. Mas limitam-se a esportes tradicionais: futebol, vôlei, natação. Em corrida é raro.
Você acha que esse leque de opções de prática de esportes deve ser maior? Às vezes há uma imposição familiar para a prática de determinado esporte e a vocação da criança ou adolescente é para outro tipo de esporte?
A corrida me ensinou muito. Inclusive na socialização, eu era muito tímida. A corrida me ajudou a ver que consigo ir muito além dos limites que eu criava para mim mesma. Se você quiser, você consegue romper barreiras internas, impostas pela própria pessoa.
Nesse momento, passamos a ver uma imensidão de medalhas conquistadas por Rô. Ela mostra a medalha que ganhou no circuito Rio do Rastro, um percurso de 42 quilômetros subindo a Serra do Rio do Rastro em Santa Catarina.
Quem completa o percurso passa a ser denominado “Ninja” tal é o nível de dificuldade. Foi a prova mais difícil que eu participei. Mas sou “Ninja”! Tem tempo de corte, você tem que estar em tal quilometro em tanto tempo! São vários tempos de corte e a serra parece uma serpente, toda cheia de curvas. Tem que concluir a prova no máximo em 6 horas!
A seguir Rosanea mostra e explica cada medalha que conquistou, pedi a ela que trouxesse suas medalhas. Ela mostrou algumas dezenas, e disse ser parte das medalhas conquistadas. Tanto no Brasil como no exterior. Inclusive três medalhas conquistadas na famosa corrida em São Paulo, a São Silvestre, um circuito disputado por atletas profissionais.
Qual é a sensação que você sente ao atingir o objetivo de cruzar a linha de chegada?
É indescritível! Impossível traduzir em palavras!
Em seu trabalho, durante o atendimento, alguns clientes confidenciam seus problemas pessoais?
Às vezes me veem como uma psicóloga!
Sim, tem vários casos.
Você acaba tratando dos pés até a cabeça!
Quem trabalha com o público sempre tem que ter um pouco de psicologia. Muitas vezes a gente nem precisa falar nada, só o fato de estar ouvindo é o que a pessoa quer. Tenho muitos clientes que falam o tempo todo em que estão aqui. Deixo-os falar. Tem muita senhorinha que vem aqui e na hora de sair me abençoam. Sempre li muito, só que tenho uma mania, de ler primeiro o final do livro! Eu me envolvo muito na história narrada no livro.
A seu ver, muitas doenças têm origem emocional?
Sim! Às vezes, quando o paciente vem já temeroso, faço alguns testes, nem estou tocando em seus pés e eles já reclamam que estão sentindo dor de uma intervenção não realizada! Às vezes uso placebo para testar o grau de tensão do paciente, coloco água em lugar de algum produto, o paciente reclama que está ardendo! Um fato totalmente impossível diante do caso. O fator psicológico é tão forte que induz o paciente a sentir um fato irreal. Ou seja, seu grau de pavor é tão grande que mentalmente dispara a imaginação de dor. Quando vou tratar de uma unha infeccionada, faço um teste para ver se é medo ou está doendo realmente. Tenho bastante paciente que tem um limiar de dor mais baixo. A maioria das unhas encravadas ocorrem por corte incorreto. O calçado deforma muito o formato dos pés. Se for um calçado muito apertado o pé sofre uma deformação nos pés. Outros fatores de deformação são idade, sobrecarga de peso, a maneira que você pisa, a biomecânica. Às vezes é interessante fazer um teste de marcha. A pisada neutra é a normal, você vai distribuir o peso em todos os pontos do pé. As palmilhas geralmente dão um bom resultado quando houver alguma correção de distribuição de peso e marcha.
O uso de tênis é recomendado?
Existem vários tipos de tênis. Tem pés que não podem usar um tênis muito macio.
A partir de que idade a pessoa deve observar os cuidados com os pés e calçados?
Desde criança. Os pais devem observar a marcha, ou seja, a forma de andar do bebê.
É bom andar descalço?
Na verdade, não deveríamos usar calçado, ele deforma os pés. Nós usamos como forma de proteção nas mais diversas situações. Deveríamos andar descalços como os indígenas.
O fato é que além da proteção a estética também requer o uso de calçado?
Por esse motivo, atualmente as empresas fabricantes de calçados estão se empenhando em oferecer mais conforto aos pés, colocando a parte estética em segundo plano. Temos um pé quadrado e queremos colocar em um calçado que é um triangulo!
O que você diz dos saltos altos?
O salto é importante para distribuir o peso na planta do pé, mas até 3 centímetros. O salto 15 por exemplo, sobrecarrega muito a articulação do ante pé. Temos muito bom relacionamento com ortopedistas, e eles afirmam, se a pessoa usar um salto alto esporadicamente, não haverá problemas, mas se utilizar constantemente irá prejudicar, vai ter deformidade. Quem usa muito o salto alto não consegue usar rasteirinha, ela já terá encurtamento dos tendões.
Dentro de nossa realidade econômica nem todos podem procurar um podólogo. Existe algum tipo de serviço acessível a população de baixa renda?
A Associação está buscando junto ao setor público, a possibilidade da podologia entrar no SUS. Em São Paulo já tem vários hospitais que tem em sua equipe multidisciplinar vários podólogos, principalmente para pacientes diabéticos. Tem o paciente diabético e o paciente com o pé diabético, que pode causar um dano maior.
Aqui em Piracicaba já tem essa ação social?
Ainda não. Tem uma podóloga que é professora no SENAC e ela está tentando incluir essa especialidade lá no AME.
Você acha que falta as autoridades voltarem os olhos para a prevenção?
Na verdade, a podologia é prevenção. Para o poder Público fica mais barato prevenir do que atender após a evolução da doença.
Como os médicos vem a atuação do podólogo?
No passado, aqui em Piracicaba tínhamos uma visão muito fechada, o que percebemos é que está havendo uma evolução, muitos médicos já encaminham para o podólogo. No Hospital das Clínicas em São Paulo, os médicos fizeram um curso voltado aos podólogos. Passei um período só com profissionais renomados.