Marisa Morganti Ayrosa Falanghe é uma das protagonistas de um capítulo marcante da história de Piracicaba, nascida a 3 de agosto de 1936, filha de Alcides Ayrosa, médico e de Bice. Bice é o diminutivo de Beatrice, sua avó chamava-se Beatrice. O que impressiona em Marisa é a sua disposição física e mental. Veio de São Paulo A Piracicaba dirigindo seu carro, sozinha. Voltou no dia seguinte e embarcou para visitar netos e genro no México. Seus movimentos são rápidos, firmes, seguros.
Uma das mais ricas histórias de Piracicaba envolve a Família Morganti e a sua ascensão social e financeira, que projetou o nome de Piracicaba no cenário nacional e internacional. Inúmeras famílias trabalharam na Usina Monte Alegre onde iniciaram suas vidas, uma comunidade com características próprias. Viviam como uma única família e um só objetivo, produzir cada vez mais. Casas, cinema, clube social, clube esportivo, campo de futebol, escola, uma igreja com afrescos de Alfredo Volpi. Estrada de ferro própria, locomotivas fabricadas pelo gênio João Bottene. O que antes era apenas um canavial transformou-se em uma pequena cidade, o Bairro Monte Alegre. Inicialmente havia uma casa que servia como sede da fazenda. Com o passar do tempo foi construído um palacete que recebeu inúmeras personalidades, entre elas Edda Muzzolini (Mussolini) filha do ditador Benito Muzzolini Mussolini. Ou seja, esteve em Piracicaba a filha de Mussolini.
Marisa Morganti Ayrorsa Falanghe é personagem dessa história, foi batizada e casou-se nessa igreja. Extremamente emocionada visitou a mansão, percorrendo-a e contando o significado de cada detalhe. O quarto onde dormia, mostrou a piscina aonde nadava, que existe ainda, a casa de bonecas que foi construída para ela brincar, mas que pode até abrigar uma pequena família. Durante algumas horas Marisa comoveu-se e comoveu seus acompanhantes narrando tudo o que viu passar pela mansão da família Morganti.
CONDESSA EDDA MUSSOLINI FILHA DE BENITO MUSSOLINI EM PIRACICABA VISITANDO A USINA MONTE ALEGRE
CONDEESSA EDDA MUSSOLINI VISITANDO USINA MORGANTI EM PIRACICABA
Quem era Pedro Morganti?
Pedro Morganti ou Pietro Morganti, nasceu a 2 de abril de 1876 na cidade de Massaroza, na província de Luca, na Toscana, Itália. Filho de Tomaso Morganti e Beatrice Sargentine Morganti. Eram seus irmãos: Carlo, Biaggio, Antonieta e Paulo. Casou-se em 25 de julho de 1901 com Giannina Dal Pino, nascida em 24 de outubro de 1879 na cidade de Alexandria, no Cairo, ocasião em que seus pais, José Dal Pino e Tereza Mannini Dal Pino, originários de Lucca, na Toscana, Itália, se encontravam naquela região, em função do trabalho do pai. Escultor ebanista, que foi contratado para esculpir a porta principal do Palácio Real da Alexandria. Eram seus irmãos: Ernesto, Humberto, Argia e Augusto. Do casamento de Pedro Morganti com Giannina (Dona Joaninha) Dal Pino nasceram: Fulvio, Renato, Helio, Lino, Bice e Elza Morganti. Lino e Hélio eram gêmeos. O Pedro Fúlvio foi assassinado ao socorrer um amigo que estava sendo assaltado, nessa época já tinha sido vendido o Monte Alegre. Ele sempre dizia que queria ser enterrado na terra de Monte Alegre. O então novo proprietário, Silva Gordo, mandou terra e nós colocamos na urna mortuária do Fulvio.
Com que idade o seu avô Pedro Morganti chegou ao Brasil?
Ele veio para o Brasil com 14 anos, sozinho, para encontrar-se com o irmão Carlo que trabalhava em uma torrefação de café. Desembarcou no porto de Santos. Morava em um quartinho na própria torrefação. Trabalhou com o irmão até os 18 anos, quando retornou a Itália para cumprir o serviço militar. Na volta ao Brasil, juntamente com seu irmão, associou-se ao primo Gori e fundou a “Refinação de Assucar e Torração de Café, Gori e Morganti”. Nessa ocasião conheceu Giannina, com quem se casou aos 25 anos.
Como Pedro Morganti passou a ser o proprietário da Usina Monte Alegre?
Vendendo a sua parte na sociedade com o irmão e o primo, investiu parte do capital, em 1907, na compra do Engenho Colonial Monte Alegre, em Piracicaba, que havia sido propriedade do padre Joaquim Amaral Gurgel, um dos maiores proprietários de terra da região. Em 1910, junto com o Comendador José Pugliese, fundou a Cia. União dos Refinadores. Nessa ocasião o pequeno engenho na região de Piracicaba, se tornou a Usina Monte Alegre e em 1917 adquiriu o Engenho Fortaleza , na região de Araraquara, que mais tarde se tornou a Usina Tamoio. Os equipamentos da usina eram feitos pelo Mário Dedini. As locomotivas a vapor eram criações de João Bottene. Cada locomotiva tinha o nome de um neto, Eu tenho a “minha” locomotiva, a Marisa! Eu soube pelo Renato Ferro que essa locomotiva existe ainda, está em uma chácara em São Paulo. Dizem que o proprietário acrescentou o nome da filha dele também. O pessoal que trabalhava aqui era tão amigo que não havia a relação de empregado e patrão, era diferente. Lembro-me do Regitano que era chefe de uma seção, o Keller, chefe de outra seção. O João Bottene era chefe de outra seção. Tínhamos convivência com todos eles. Eu saia a tarde com a mamãe, pela colônia, tinha cafezinho aqui, bolinho ali. Era uma família! Isso que eu achava lindo! Quando eu completei sete anos mudamos para São Paulo, em Higienópolis, na Rua Maranhão, 690, em uma casa que tinha pertencido ao meu avô. No local hoje existe um prédio que tem entre seus moradores o artista Jô Soares. Foi nessa época que chegaram da Alemanha os tios Hélio e Lino. Meus pais tiveram duas filhas: eu e a minha irmã Maria Cristina.
A Usina Monte Alegre proporcionou uma grande mudança em seu entorno?
As velhas casas do engenho foram sendo substituídas por casas novas e formada as colônias, com água encanada, luz e esgoto, para uso dos funcionários e trabalhadores da Usina. Foram construídos também, o Grupo Escolar, o Ambulatório, o Posto de Puericultura, o Clube Social União Monte Alegre Futebol Clube, composto de salão de bailes, biblioteca e cinema, assim como, o açougue, o armazém e a linha de jardineiras, que fazia a ligação Monte Alegre a Piracicaba. A casa sede, após uma pequena reforma, permaneceu na sua forma original, com assoalhos de madeira e cercada por um grande terraço, com piso de ladrilho hidráulico e cujas janelas da casa, davam para esse terraço. Essa casa permaneceu assim até o falecimento de Pedro Morganti em 22 de agosto de 1941.
Dr. Jairo Ribeir de Mattos e Marisa Morganti Ayrosa Falanghe
Ao fundo afresco original descrevendo a usina Monte Alegre
A senhora foi batizada na Capela São Pedro?
A igreja foi inaugurada em 25 de dezembro de 1936 para o meu batizado. Construída em meados de 1930 para atender a necessidade da população de Monte Alegre, que na época era formada quase totalmente por operários de origem italiana e católicos fervorosos, a Capela de São Pedro carrega uma história cultural riquíssima. O projeto foi feito pelo engenheiro italiano Antonio Ambrote, que foi o mestre de obras do Teatro Municipal de São Paulo. A decoração interna constituiu-se de uma encomenda aceita por Alfredo Volpi, um pintor recém-chegado ao Brasil, ainda sem projeção, originário da cidade de Luca, região da Toscana, Itália., quando o pintor não havia ainda alcançado fama e fazia obras de arte nos intervalos das pinturas de paredes que realizava nos bairros do Ipiranga e do Cambuci, em São Paulo. A presença do talento de Volpi é notada assim que se entra na igreja. São aproximadamente 600 metros quadrados de pintura ocupando todos os espaços: paredes, tetos e colunas. Os afrescos estão longe de retratar o estilo moderno com o qual o artista ficou conhecido. Revelam um retrato do pintor quando jovem, o despertar de um grande talento. Para realizar o trabalho Volpi morou no local entre 1937 e 1938, e contou com a ajuda do pintor Mario Zanini. É réplica de uma igreja da Toscana. a igreja foi inaugurada em 25 de dezembro de 1936 para o meu batizado.
A família Morganti ganhou projeção nacional e internacional, a senhora lembra-se do nome de alguns dos hóspedes que se instalaram no palacete dos Morganti?
Foram recebidas personalidades da época como: Serafino Mazzolino, Vice Rei da Albânia, Cônsul da Itália, Edda Muzzolini (Mussolini) filha do ditador italiano Benito Muzzolini (Mussolini), Embaixador Macedo Soares, Giuseppe Castruccio, Cônsul Geral da Itália, Adhemar de Barros, Governador de São Paulo, Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados.
A família Morganti realizou uma reforma na sede da fazenda?
Após a morte de Pedro Morganti os filhos decidiram reformar a casa sede da fazenda e transforma-la em outra que pudesse abrigar, confortavelmente, todas as famílias dos irmãos e de personalidades em visita a Usina. Essa reforma foi feita de forma radical, onde foi contratado o serviço arquitetônico do ilustre professor Archimedes Dutra. Todos os trabalhos de confecção de portas, janelas e forros entalhados foram executados pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. São portas e janelas que possuem vidro de cristal bisotê, nos pisos da casa foi instalado mármore branco italiano. O terraço foi conservado na sua forma primitiva, na entrada central foi construída uma escada de dois lados, onde foi instalada uma fonte, de frente para o jardim principal. Nessa fonte está colocada uma escultura, em bronze, representando uma índia agachada, que segura um grande peixe de cuja boca jorra água sobre a fonte. O autor é o escultor Otone Zorlini. O mesmo que esculpiu as estátuas de Pedro Morganti e Giannina (Joaninha) Morganti, recentemente roubadas. Após a reforma, foram recebidas na nova sede: Ada Rogato, a primeira mulher a receber brevê de piloto de aviões, no Brasil, por ocasião da inauguração do Aeroporto Pedro Morganti. Foram hospedes ainda Juscelino Kubitschek, o governador Jânio Quadros, Don Domenico Rangoni, Monsenhor da cidade do Guarujá, que por ter vindo da Itália a convite do Dr. Renato Morganti, foi inicialmente capelão da Igreja da Usina Tamoio.
Como vocês jovens divertiam-se?
Quando comecei a namorar o Francisco Falanghe Neto (Quico) fazíamos festinhas nesse terraço, o Coriolano era um grande amigo. O Francisco e eu casamos, tivemos três filhos: Alcides, Fábio e Beatriz. Hoje tenho oito netos. Ficamos 52 anos casados. Aqui nessa igreja onde fui batizada, casamos a 25 de dezembro de 1957. O casamento foi celebrado pelo Bispo de Piracicaba, Dom Ernesto de Paula.
(Nesse momento adentramos ao palacete, conduzidos pelo Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, que está fazendo as suas expensas, a restauração do mesmo, visto que a família Silva Gordo doou o palacete ao Lar dos Velhinhos de Piracicaba). Marisa emociona-se muito. Imediatamente identifica o ambiente, inclusive o quarto em que dormia, havia três camas a de Marisa, da sua irrnã e uma terceira cama onde dormia uma amiga que vinha passar as férias com elas. Aponta o quarto aonde dormia seu tio Hélio.
No período em que você morava em São Paulo era nesse quarto que dormia quando estava de férias?
Quando estava de férias vinha com as amigas, era uma folia! O piso é o mesmo. Quero trazer minha amiga e minha irmã para relembrarmos. Íamos à Piracicaba nos bailes do Clube Coronel Barbosa, quando voltávamos, a noite, faziam serenata. Minha mãe queria saber quem estava fazendo serenata. Eram só festas.
Marisa dirigiu-se ao seu luxuoso e amplo banheiro, com louças importadas, maçanetas de porta em porcelana pintada, uma enorme banheira. Nos olhos a emoção das lembranças.
Essa minha amiga criava ratinho branco (hamsters) uma vez nasceram aqui, ela coloco-os nessa banheira. Amanhã irei encontrar-me com ela e relembrar.
Marisa emociona-se ao ver na enorme sala um afresco em perfeito estado de conservação, retratando a história da Usina Monte Alegre. Manifesta-se:
Vou tirar uma fotografia desse afresco!
Os lustres foram feitos por quem?
Dr. Jairo responde que foram feitos pelo Nardin, pai do Neno Nardin, são de cedro, mogno e sucupira.
Caminhamos em direção a piscina em que Marisa nadava. Sua expressão é de pura emoção. Ao ver a piscina intacta, enorme, de forma irregular, artisticamente desenhada sua expressão não se contém.
Ai que saudade!
PISCINA EM QUE MARISA NADOU QUANDO CRIANÇA
(ESTADO ATUAL)
No trajeto Marisa comenta que se lembra do seu “nono” recebendo a visita da filha de Benito Mussolini, Edda Mussolini, que ficou hospedada na casa. Marisa vê uma casa, próxima a piscina e lembra-se.
No tempo da minha avó, morava aqui um japonês, José Ieda, que tinha três filhos: o Togo, o Araque e o Sérgio. Eu tive uma carrocinha puxada por um bode, conservo a carrocinha até hoje.
Passamos por uma Casa de Boneca, que possivelmente tem o tamanho de algumas das atuais casas populares. Marisa lembra-se e diz.:
Eu adorava vir brincar nessa casinha! Tinha um fogãozinho e a pia de outro lado. Ligávamos para o Tio Lino e dizíamos: “-Quando você chegar passa na nossa casinha que vai ter um lanchinho!” Mamãe fazia alguma coisa, Tio Lino subia, éramos
pequenas.
O sepultamento de Pedro Morganti foi realizado em São Paulo?
O enterro percorreu a Avenida Paulista, em São Paulo, com um enorme numero de pessoas acompanhando, interditando o trânsito, ele foi sepultado no Cemitério São Paulo. A missa de sétimo dia foi na Igreja da Consolação.
CORTEJO FÚNEBRE DE PEDRO MORGANTI NA AVENIDA PAULISTA EM SÃO PAULO