O Prof. Rubens Leite do Canto Braga tem presença marcante na vida esportiva de Piracicaba. Conviveu e trabalhou com verdadeiras lendas do esporte como Maria Helena, Heleninha, Delcy, Zilá, Angelina, Magic Paula, Branca, Pecente, Vlamir. O seu desempenho na política o tornou protagonista de uma série de fatos relevantes da história recente da Noiva da Colina. Rubens Braga juntamente com o prefeito eleito, mas ainda não empossado, Dr. Adilson Benedito Maluf, voaram juntos com o presidente mundial da Caterpillar na ocasião em que ele veio até a nossa cidade para escolher o local aonde seria implantada a unidade de Piracicaba. Como vereador atuou por treze anos na Câmara Municipal, sendo por duas vezes o seu presidente. É autor de inúmeros projetos, entre eles da criação da Guarda Mirim, uma instituição que tem formado muitos jovens, que passaram por ela e hoje são pessoas de grande destaque na sociedade em que convivem. Propôs projeto de lei que autoriza o município a dar incentivos fiscais para a atração de novas indústrias, proporcionando o aparecimento do Primeiro Distrito Industrial de Piracicaba. Por sua iniciativa foi criado o COMEDI- Conselho Municipal de Desenvolvimento Industrial, do qual foi vice-presidente, e que foi um órgão responsável pela vinda de grandes indústrias para Piracicaba. Foram atitudes corajosas, na época havia a predominância de empresas locais que não viam com muita simpatia a vinda de novos postos de trabalho. Nos anos 70, o Prof. Rubens Braga apresentou o projeto que deu a origem a leis que criaram, por exemplo, o Corpo de Vigilantes do Meio Ambiente, onde através da criança levava aos adultos a compreensão da preservação da natureza cuidando dos rios, fontes e lagos, dos animais, do hoje tão decantado verde. Isso em uma época em que nem se falava em ecologia! É de sua autoria o projeto que aprovou o plano de implantação do Sistema de Áreas Verdes do Município, bem como o que dispõe sobre a Industrialização do Lixo. O Velório Municipal surgiu de projeto de sua autoria, assim como outros projetos: o uso do taxímetro nos chamados de “carros de praça”, hoje conhecidos como taxi; a criação da Drogaria Municipal; dos Centros de Recreação Populares, construídos em grande número pela atual administração; a lei de Auxílio aos Clubes Esportivos Amadores da Cidade, que vigora desde 1966; o decreto lei que estabeleceu o “Dia do Médico” no âmbito municipal, e organizando o concurso literário alusivo a data. No exercício do seu cargo recepcionou o então presidente da república Emílio G. Médicci, os governadores Abreu Sodré, Laudo Natel (de quem é amigo próximo). Rubens Braga pratica até hoje o basquetebol, em sua categoria, participando de campeonatos que são realizados pelo Brasil afora. Atualmente ele está elaborando um livro sobre o basquetebol em Piracicaba. Meticuloso, ele procura preservar a história do esporte com sua coleção de selos temáticos. Possui uma das mais representativas coleções de pequenos botons de lapela, chamados de pin, e que foram feitos por times de futebol, políticos, indústrias automobilísticas. Foi locutor e comentarista esportivo na Rádio Educadora de Piracicaba, com o programa “A Opinião de Rubens Braga” e por um breve período na então Rádio “A Voz Agrícola”. Foi um dos fundadores da Associação dos Cronistas Esportivos de Piracicaba. Recebeu um grande número de títulos e homenagens concedidos pelo seu trabalho. Rubens Braga tem uma vida dinâmica e participativa, com grande e representativa folha serviços prestados á Piracicaba.

APÓS TER VOADO PELA CIDADE PARA ESCOLHER A ÁREA ONDE FOI INSTALADA A CATERPILLAR EM PIRACICABA, FORAM TOMAR UMA REFEIÇÃO.

Da esquerda para a direita: Rubens Leite do Canto Braga, o então Presidente Mundial da Caterpillar Mack Vehriden, o prefeito eleito Adilson Benedito Maluf, o famoso fotografo piracicabano Idálio Filetti, na extremidade direita Quartim Barbosa.

O senhor é piracicabano?

Nasci em Piracicaba, no dia 23 de novembro de 1929. Sou filho de Ernani Leite do Canto Braga, farmacêutico, professor da antiga Faculdade de Odontologia e Farmácia “Washington Luiz” que funcionava no prédio onde hoje é o Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes. Ele atuou como jornalista, sendo redator chefe do “Diário da Manhã”, foi colaborador do Jornal de Piracicaba e “O Estado de São Paulo”. Minha mãe, Maria Ferraz de Toledo Braga, conhecida pelo cognome de dona Mariquinha Mó, foi uma das primeiras piracicabanas a formarem-se pela conceituada escola Caetano de Campos localizada em São Paulo. Foi professora na Escola Normal de Piracicaba, hoje denominada Sud Mennucci. Lecionou também em um dos mais eficientes cursos preparatórios, o Curso de Admissão ao Ginásio. Meu avô materno era conhecido como Nho-Nhô Mor, isso em decorrência da origem da minha família que descende de capitães mor. Sou descendente do primeiro presidente da câmara municipal da Vila Nova da Constituição, como era então conhecida a cidade de Piracicaba. Ele era capitão mor e seu filho que foi o segundo presidente também era capitão mor. Com o tempo a letra erre do “mor” deixou de ser pronunciada e passou a ser apenas “mó”.

Quantos filhos os seus pais tiveram?

Éramos três filhos, dois homens e uma mulher. Meu irmão Arnaldo Braga é um ano mais velho do que eu, é dentista e ainda trabalha! Parece-me que seus clientes são contemporâneos que se acostumaram com seu atendimento! Minha irmã, Iolanda Braga Rodrigues Coelho já é falecida.

Como farmacêutico Ernani Leite do Canto Braga manipulava fórmulas?

Entre os medicamentos que ele produzia havia um tônico muito conhecido na época, chamava-se Biogol. Para cefaléia tinha a Sorbelina. Conheci esses remédios porque sobraram em minha casa, cheguei até a tomar o fortificante Biogol. Meu pai faleceu quando eu tinha apenas 1 ano de idade. Minha mãe era professora na Escola Normal, onde lecionava em todas as disciplinas. Quando houve a necessidade de fazer a opção por uma matéria a ser ensinada, por influência do professor Francisco Godoy, que chegou a ser secretário da educação do município de Piracicaba, ela fez a opção de lecionar educação física. Francisco Godoy incentivou-me a estudar educação física, jogou como meia-esquerda do XV de Novembro, ele foi campeão do interior de futebol em 1936. Desde criança eu já tinha uma forte tendência para praticar atividades lúdicas e competitivas, desde a bolinha de gude, futebol com bola de meia, jogo de futebol de botão. No curso ginasial participei da organização desportiva, ajudando na formação de campeonatos internos, organização da equipe juvenil para representar a Escola de Agronomia, o famoso “A” encarnado, no campeonato da Liga Piracicabana de Futebol.

Como foi ingressar na Faculdade de Educação Física da USP?

O curso de Educação Física só existia nessa escola, que era ainda a Faculdade de Educação Física do Estado de São Paulo, que funcionou inicialmente no Pacaembu e mais tarde foi para o Espéria, um local onde havia infra-estrutura para prática de atletismo, natação. Na ocasião éramos quatro estudantes de Piracicaba, e constituímos uma república onde moramos, um desses estudantes é o Francisco de Assis Carvalho Ferraz, conhecido como Chiquinho ou ainda Rosquinha. Outros dois estudantes piracicabanos eram o Gad Aguiar e Francisco Mezzacappa. Ainda criança eu recebi o apelido de Bolacha, foi adotado por mim para poder jogar futebol contrariando a opinião da minha mãe que não queria que eu praticasse esse esporte. Eu jogava no melhor juvenil da cidade, a equipe formada pelo médico Dr. Manoel Gomes Tróia, o Juvenil Horizonte. Quando fui estudar em São Paulo, jogava no Juvenil da Agronomia. O XV de Novembro de Piracicaba ao entrar para a divisão profissional, a federação exigiu que os clubes tivessem um quadro de juvenil. Havia a necessidade de compor um time de futebol no mesmo nível para disputar as partidas de futebol, a Liga Piracicabana de Futebol, cujo presidente era Vicente Marino, criou o campeonato juvenil da cidade, todos os clubes amadores da cidade montaram o seu quadro de futebol juvenil. A ESALQ, rival do XV de Novembro, não tinha como compor um time de futebol juvenil, os jogadores do quadro principal eram os estudantes de agronomia. Através do Grêmio Normalista da Escola Normal comecei a administra esporte, fazendo o Juvenil da Agronomia. Eu jogava como ponta direita ou ponta esquerda e era o dirigente do time. A camisa era emprestada da Agronomia.

A república dos quatro estudantes de Piracicaba ficava em que bairro de São Paulo?

Situava-se no bairro Santa Ifigênia. Para ir até a faculdade que funcionava no Espéria eu apanhava o bonde, ia pela Rua Turiassu, até a Ponte Grande hoje Ponte das Bandeiras. Joguei muito voleibol no Espéria e no Tietê. Eu gostava mais de futebol e futebol de salão. Um dos alunos que jogava no Espéria achou que eu tinha toque de bola muito bom, me convidou para jogar na Associação Atlética Floresta, nome adotado pelo Espéria no período da guerra. Participei de diversas modalidades esportivas como futebol, basquete, vôlei, hand e atletismo. No voleibol defendi as equipes do Floresta, do C. A. Paulistano, Tietê, São Paulo F.C.

Onde foi seu aprendizado de natação?

Para poder fazer a faculdade de educação física eu fui obrigado a aprender a nadar na piscina do Colégio Piracicabano, era uma piscina com 22 metros comprimento, ao lado havia um rinque de patinação, uma quadra de tênis, quadra de basquete. Era uma área enorme, situada á Rua do Rosário.

De quanto tempo foi a sua permanência em São Paulo?

Permaneci morando lá por 10 anos. Após terminar meu curso de graduação permaneci por mais quatro anos na USP, especializando-me em Técnicas Esportivas, nas modalidades de Futebol, Atletismo, Basquetebol e Voleibol, ao mesmo tempo em que apitava jogos colegiais, universitários como Pauli-Poli, Mack-Medi, tornando-me Secretário Geral da Federação Paulista de Voleibol. Os dirigentes do Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo o DEFE, tiveram sua atenção despertada para o trabalho que eu vinha realizando. O Major Sylvio de Magalhães Padilha foi convidado a trabalhar no DEFE como responsável pela organização do esporte amador no Estado de São Paulo, foi Presidente do Comitê Olímpico. Ele me viu apitando jogos, arrumando quadras para as partidas, marcar pistas para atletismo na ocasião do Troféu Brasil, foi quando me convidou para trabalhar no DEFE.

Após o casamento da Iolanda, sua irmã, ocorreu a sua mudança de domicilio?

Ela casou-se com um paulistano, eu passei a morar com eles, em seguida meu irmão foi cursar odontologia, minha mãe aposentou-se e foi morar em São Paulo, passamos a morar no Tucuruvi. O Mendonça Falcão nomeou-me professor de educação física no colégio Albino Cezar, no Tucuruvi. Foi o primeiro colégio em que dei aulas.

Quando funcionário do DEFE foi organizado jogos?

A Secretaria tinha uns 15 funcionários técnicos desportivos, nós organizávamos os campeonatos colegiais do Estado de São Paulo, Jogos Abertos do Interior. O Major Padilha mandava os técnicos para cidades do interior com o objetivo de orientar os técnicos da localidade visitada. Nós chamávamos aqueles que iam nessa missão de “Bandeirantes da Nova Geração”. Os técnicos que eram casados não gostavam de viajar, como eu era bem jovem, solteiro, acabava viajando muito para o interior do Estado. O meio de locomoção mais utilizado era o trem, o governo fornecia os passes para as viagens.

Como era o basquetebol de Piracicaba?

Sempre foi bom! Talvez o fato da Escola de Agronomia Luiz de Queiroz atrair estudantes de outras cidades, vinha pessoas com conhecimentos em diversas modalidades de esportes. O Clube Regatas funcionava muito bem. Naihim Coury de Mello professor de educação física do Mackenzie veio á Piracicaba, isso em 1942, quando fomos campões dos Jogos Abertos, graças a presença de um técnico competente. Piracicaba sempre foi muito expressiva no futebol e no basquete.

Como foi defender a camisa do São Paulo Futebol Clube?

Eu treinava futebol diariamente no DEFE, fui jogar no São Paulo, que na época tinha o Estádio do Canindé, hoje pertencente á Portuguesa. Ocorreu um fato interessante nessa época, no dia da colocação da pedra fundamental do Estádio do Morumbi, o Major Padilha, como o ma maior autoridade do esporte no estado deveria estar lá representando o DEFE. Uma forte gripe o impediu de ir, ele me pediu que fosse em seu lugar. Como sãopaulino eu fui muito orgulhoso da missão. Tive a felicidade de ver ser colocada a pedra fundamental do Estádio do Morumbi, um local que ficava a quilômetros do centro da cidade, na época era só mato! Pensei o que será que vão fazer nesse mato? Monsenhor Passos, Porfírio da Paz, Cícero Pompeu de Toledo, Laudo Natel, eram alguns dos presentes. Hoje além do Estádio do Morumbi, esta lá o Palácio do Governo, e é um dos locais onde os imóveis têm valor expressivo. Cabe ressaltar que o Major Padilha foi atleta, um dos primeiros brasileiros a se classificar para uma olimpíada, correndo 400 metros com barreira.

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