Jornalista João Umberto Nassif
joaomassif@gmail.com

O Professor Doutor Luiz Antonio Rolim, é uma das personalidades marcantes na cidade de Piracicaba. Sua vasta cultura e seu carisma, envolvem desde um único interlocutor até uma plateia com centenas de pessoas. Carrega a simplicidade dos sábios. Nascido na cidade de Garça, a 1 de setembro de 1940, filho de Antonio Ferraz Rolim e Maria Alice Rolim que tiveram também os filhos: Célio Augusto Rolim, e José Carlos Rolim. Luiz Antonio Rolim é casado com Léia Maria Guimarães Rolim, Assistente Social, foi por vários anos coordenadora do SEAME- Serviço de Apoio ao Adolescente com Medida Socioeducativa. São pais de quatro filhos: Fernanda, inclusive ela é Promotora de Justiça em Piracicaba, Titular da 4ª Vara Criminal; Fábio Coordenador do Instituto de Patrimônio Histórico em Brasília Cláudia e Renata. Tem nove netos.

Qual era a atividade profissional do pai do senhor?

Ele era Funcionário Público Federal, era Exator da Receita Federal. Viemos para Piracicaba, onde o meu pai permaneceu por muitos anos na então Coletoria Federal, situada na Rua XV de Novembro entre a Rua Governador Pedro de Toledo e Rua Boa Morte. O Sr. Shirley Prado, a Srta. Joana Nischimura cujo pai, Oscar Nischimura era proprietário do Restaurante Alvorada, situado na Praça da Catedral. Outros funcionários trabalhavam também na Coletoria. Uma característica interessante é que havia uma sala cofre muito grande. Meu tio Deusdedith Ferraz Rolim era Delegado do Imposto de Renda de Piracicaba e região, isso foi por volta de 1950 aproximadamente.

Os irmãos do senhor seguiram quais carreiras?

O Célio formou-se em Pedagogia, e depois entrou no Banco do Brasil, na época trabalhar no Banco do Brasil era um cargo muito importante, o funcionário do Banco do Brasil descava-se na sociedade. O José Carlos cursou Agronomia. Tornou-se professor na Escola de Agronomia em Araras, aposentou-se e está por lá. O Célio está por aqui também. Aposentado. Minha mãe era o que na época denominavam “do lar”, portuguesa. Em decorrência disso estamos no final do processo para dupla nacionalidade, dos filhos e dos netos.

Qual é a origem do sobrenome Rolim?

A origem é francesa. Por volta de 1700 apareceu na França um tal de Nicolá Rollin. Ele foi chanceler se não me engano de Luiz XIV, era uma grande figura política, criou um hospital no sul da França. Existe um livro com a árvore genealógica da família do meu pai, não está comigo. O pai do meu pai, meu avô, Paulino Ferraz Rolim, foi professor durante muito tempo em Rio das Pedras. Tanto é que a cidade denominou uma rua com o seu nome.

Até que ano o senhor permaneceu em Garça?

Em Garça eu fiquei até 1952. A minha família continuou lá, eu fui para o Seminário de Lins. Onde permaneci por sete anos. Por isso que eu dava aula de latim! Grego, italiano. Estudava de tudo. Era a Ordem Secular. Eu era da Diocese de Marília e fui estudar na Diocese de Lins, a cerca de cento e poucos quilômetros de distância.

Como foi a adaptação, ainda um menino com 12 anos , sair de casa, para um ritmo de vida totalmente diferente, deixar a família, não deve ter sido muito fácil não.

Acaba adaptando-se! Na realidade era um regime feudal! A educação, a disciplina, naquela época não podia conversar tal dia, mas jogava futebol, brincava, eu agradeço porque realmente lá eu tive uma educação muito estruturada, recebi o ensino de grego, latim, foi bom. A disciplina era feudal!

É o que está faltando hoje?

Se não tanto pelo menos um pouco. Na época a Igreja muito respeitada. Eu vim para Piracicaba em 1957, na época havia cerimonias Cívicas, Militares e Eclesiásticas, eram celebradas pelas autoridades cívicas, militares e eclesiásticas!

O senhor deligou-se do Seminário?

Eu saí. Minha família já estava morando em Piracicaba, vim para esta cidade. Continuei meus estudos no Instituto Sud Mennucci, cursei o que na época era chamado de “Curso Científico”. Fiz o Clássico, que era voltado para línguas, ciências humanas. Tive aulas com o célebre Benedito de Andrade, Caixeta, Arquimedes Dutra, Demóstenes, Argino que lecionava matemática. No Seminário aprendi a tocar órgão, inclusive órgão de tubo. Ficamos uns quatro anos tocando em casamento, éramos eu e o Waldir Belluco tocando violino. Tocamos em muitos casamentos, ganhávamos um dinheirinho. O Sérgio Belluco irmão do Waldir, tocava violão. Fomos tocar na escola do Mahle, na Orquestra Sinfônica de Piracicaba. Fui tocar contrabaixo. Fiquei alguns anos tocando lá. Tempo em que a Cidinha Mahle. o Maestro Ernest Mahle. Fui tocar com o Maestro Germano Benencase ( Hoje é homenageado com o seu nome dado a uma escola de São Paulo). Ele tinha uma orquestra voltada mais para reuniões, saraus, lá estava também o Egídio Rizzi (Gildinho), Waldir Belluco, uma turma muito boa. Aí eu fui tocar na Pedrinho e Sua Orquestra, ensaiávamos no salão da Banda União Operária, na Rua Santo Antonio. Nessa orquestra ei tocava contrabaixo também. Tocávamos em bailes, festas de debutantes, éramos contratados para tocar aqui em Piracicaba, em outras cidades, era uma festa!

Nessa época o senhor estava com quantos anos?

Eu devia estar com 22 a 23 anos de idade. Por volta de 1961 fui trabalhar na “Folha de Piracicaba” de propriedade de Cecílio Elias Netto, na época havia também o “Jornal de Piracicaba”, o “Diário de Piracicaba”. Na Folha estávamos Antonio Messias Galdino, eu, João Maffei. A Folha foi vendida. Fomos trabalhar com o Sebastião Ferraz no Diário de Piracicaba, na Rua Prudente de Moraes entre a Rua Alferes José Caetano e Rua Santo Antonio. No prédio que foi propriedade de Terêncio Galesi. O prédio existe até hoje. O Geraldo Nunes trabalhava lá. O Ferraz estava querendo parar de trabalhar. No fim fizemos uma negociação o Cecílio assumiu. O Ferraz saiu e mudamos para “O Diário”.. Eu digo nós porque estávamos sempre um na casa do outro, eramos muito amigos. Fiquei um tempão lá!

Nesse meio tempo o senhor lecionava também?

Não dava aulas. Só advogava. Quando terminei o curso Clássico no Sud Mennucci, entrei em Direito em Bauru, ia de carona, com o carro de um ou de outro, ia com o Milton Rontano, pai do Edson Rontani. Na época, quase todos os advogados de Piracicaba se formaram lá. Da minha época estavam o Ovídio Sátolo, o Galdino, Antonio Orlando Ometto, Pedro Negri e outros, éramos um grupo grande de Piracicaba. Me formei em Bauru, Na época surgiu uma lei que autorizava as pessoas que tivessem trabalhado um período grande em jornais, poderiam obter o título de jornalista. Através dessa lei, sou Jornalista Profissional, registrado, Eu, Galdino, João Maffei. Comecei em “O Diário” em 1963. Chegou uma época em qie o Cecílio vendeu as ações, e eu fiquei diretor. Ficamos eu, Celsinho Elias, Gabriel Elias, não sei se o Adolho Queiroz estava nessa. Tempo do Luiz Forti, João Maffei, Cerinha, Mauricio Cardoso, Mário Terra, Carlinhos Gonçalves os linotipistas eram entre outros o Sérgio, o Toninho. O operador da sala de títulos era o Manoel Mattos Filho, que aos poucos estava passando a ensinar o revisor João Umberto Nassif a operar o então “sofisticado” equipamento”! Araken Martins, Jago. Eram diagramadores que faziam ilustrações marcantes. Grandes nomes foram colaboradores entre eles: Benedito de Andrade, João Chiarini, Caetano Ripoli, Roberto Antônio Cêra, o Cerinha. Marisa Bueloni, Alceu Righetto, Carlos Colonese. A seção “Recasos ocupava de uma a duas páginas, era um sucesso. Evaldo Vicente por um bom período foi o Editor-Chefe de “O Diário”.

Era uma época romântica?

Eu permanecia até fechar o jornal (concluir a edição). Depois saia e ia tomar chope com a turma. (Nessa época era praxe após o fechamento da edição do jornal, praticamente toda imprensa paulistana também tinha esse hábito, iam bater papo e relaxar tomando um chope, não havia internet, os grandes jornais tinham serviço de rádio escuta, o “furo” jornalístico era quase como um troféu). Ficamos um tempão em “O Diário”. O Cecílio queria ir para São Paulo, sua paixão era escrever livros. A T.Janer era a empresa que fornecia o papel para impressão do jornal. Nesse tempo entrou a Renata, irmã do Celso Elias. Filha do Toninho Elias e Inês Seghesi. Era uma luta muito grande, manter as finanças de “O Diário”. A M.D. Participações acabou adquirindo “O Diário”. O Dr. João Fleury veio trabalhar em “O Diário”. O Jornalista Nelson Bertolini também foi contratado. A essa altura eu já era vereador, tinha o meu escritório de advocacia.

Em que ano o senhor foi eleito como vereador?

Foi em 1973. Nessa época Adilson Maluf, Galdino, Jairo Mattos, também foram eleitos.

Na época vereador já tinha salário?

No início não. Os dois primeiros anos não recebemos nada.

O senhor colocava gasolina no seu veículo com dinheiro do seu bolso?

Exatamente! Não havia carro oficial, era o meu carro mesmo! Por volta de 1976 é que surgiu essa lei pagando o salário do vereador, era uma lei feita pelo governador Paulo Egydio Martins, para o Estado de São Paulo. Essa lei foi revogada. Acabamos não recebendo nada. Depois o Paulo Maluf foi eleito como Governador. Na época em que a Caterpillar veio para Piracicaba o prefeito era Adilsom Maluf, quem marcava as entrevistas com o governador era o deputado federal Athié Jorge Coury, da ARENA, jogou no Santos, foi seu presidente por muitos anos. O Adilsom p chamava de tio, o Adilson, eu, ficamos no apartamento dele em Brasília. Deixei de ser vereador e passei a ser assessor jurídico na Câmara dos Vereadores. Fui Vice-Presidente da OAB, Secretário da OAB, no tempo de Antonio Dumit Netto que foi presidente da OAB de 1976 a 1981. Foi quando conseguimos construir a nossa seção na Avenida Independência. Eu era muito amigo do Deputado Federal João Pacheco Caves e o Deputado Estadual Francisco Antonio Coelho, éramos filiados ao MDB. Reuníamos na Chácara do Pacheco Chaves. No dia em em que ele vinha ele me ligava, íamos, Adilson, Coelhinho e eu, passávamos madrugada adentro conversando. Saíamos as quatro ou cinco horas da manhã. O Adilson e eu íamos sempre à Brasília, de avião, para contatar Ulysses Guimarães. Nos reuníamos, uma ocasião em uma dessas reuniões, abordei determinados assuntos, Ulysses Guimarães, com sua sabedoria sisse: “ Rolim, não se esqueça que em política sinceridade é imprudência”. Se você é sincero na política, está brigando com ele agora, amanhã poderá precisar do voto dele em um projeto de lei!

Qual era a sua impressão sobre Ulysses Guimarães?

Gente séria, muito amigo. Ele era de Rio Claro, ele vinha sempre para Piracicaba. Eu era delegado do MDB, eu ia para São Paulo para votar nas indicações do partido para deputados, senador. Lembro-me de que em uma ocasião tinha que votar para escolher um candidato do partido para senador, havia dois candidatos: Franco Montoro e Orestes Quércia. Fomos almoçar: Coelho, Pacheco, Adilsom, Quércia. Chegou o radialista Nadir Roberto e perguntou-me: “Levando em consideração a honestidade em quem o senhor vai votar para ser candidato a senador: Franco Montoro ou Quércia? Ele gravou a minha resposta na hora ele falou muito rápido, somado ao barulho natural das pessoas falando, eu não percebi exatamente o que ele tinha dito, a não ser em quem eu iria votar, disse-lhe: “Vou votar no Franco Montoro! ”. Dali fomos para a casa do Coelhinho. O Quércia, Pacheco, fomos todos para lá. A seguir o Quércia foi embora, para Campinas, de carro, dali a uma meia hora tocou a campainha, era o Quércia,ele disse-me : “Você me chamou de desonesto! Você falou para o rásio, que entre o Montoro e eu, considerando a honestidade você preferia o Montoro”. Isso deu um rolo! Ao formular a pergunta o Nadir incluiu a palavra honesto no meio, eu não tinha percebido. Brigamos o Quércia e eu. Uns três anos depois, já era a indicação do João Hermann se não me engano, o Aprilante, o Jairo Mattos também eram candidatos a prefeito de Piracicaba, eu estava no banheiro, quando entrou o Quércia, Ele olhou feio para mim. Eu olhei feio para ele.

Eu estava lavando as mãos quando ele me perguntou “Você está bravo comigo ainda? ”. Disse-lhe que não. Voltamos as boas. Teve uma época em que o Mugão foi para São Paulo, como assessor do Quércia. Fepois ele foi candidato a vereador, e todo mun o conhecia como Mugão. Ele disse-me: “Rolim, o problema é que todo mundo vai votar no Mugão! Meu nome é José Inácio Sleimann. Como é que faz? Entrei com uma retificação de nome, incluindo no nome dele “Mugão”. Ficou José Inácio Mugão Sleimann.

O senhor começou a dar aulas na Universidade Metodista de Piracicaba a partir de quando?

Comecei a dar aulas na UNIMEP a partir do dia 1º de agosto de 1980. O Conselho se reunia para para aprovar os pretendentes. Na época éramos três: Hercílio Bigni, Victor Hugo Tejerina-Velazquez e eu. Fomos os três aprovados por unanimidade. Comecei a lecionar na Universidade em 1980 onde trabalhei por 37 anos lecionando. Quando entrei o reitor era Elias Boaventura.

Advogado militante, o Professor Rolim atuou em defesa de um cliente importante. O advogado da acusação fez um calhamaço de 50 páginas com os itens acusatórios, sendo que a primeira página estava com apenas uma frase: “Existem razões que a própria razão desconhece”. Parafraseando Blaise Pascal, filósofo, físico, inventor, teólogo, e matemático francês que afirmou “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. O Dr. Rolim elaborou a defesa, com todos os requisitos necessários, e na primeira página colocou apenas a frase: “Há algo de podre no Reino da Dinamarca”; William Shakespeare. A citação de Hamlet: “Há algo de podre no reino da Dinamarca” já indica ao leitor que não se trata somente de uma vingança, mas de algo ainda pior, algo que transgrede a natureza humana. O advogado da parte contraria telefonou, tinha gostado da citação! Ficaram amigos!

Outra passagem folclórica aconteceu quando Dr. Rolim era vereador. Toda vez que ocupava a tribuna era incessantemente interrompido por um determinado vereador que também era fiscal. O impertinente vereador não deixava Dr. Rolim falar. Sempre interrompendo. Isso foi ficando irritante. Em determinada sessão camarária, Dr. Rolim iniciou dizendo: “ Quero parabenizar o vereador (citou o nome do implicante colega), como sendo um vereador autuante! E discorreu fortes elogios utilizando a palavra autuante. O vereador não percebeu a sutileza entre as palavras atuante e autuante, uma referência a sua profissão de autuar infratores, na sua função como fiscal. Embevedo pelo “elogio”, o vereador ficou de peito estufado. Nunca mais interrompeu Dr. Rolim quando este ocupava a tribuna!

O senhor tem quantos livros lançados?

Lancei dois livros: um é de Direito Administrativo, nos últimos semestres eu dava aulas de Direito Administrativo. O título é: “ A Administração Indireta as Concessionárias e Permissionárias em Juízo” outro livro é voltado a Introdução do Direito Romano, que é o livro “Instituições do Direito Romano”, que está na 4ª Edição. Esgotada. Continuo recebendo citações referentes a essas obras, sendo que o livro Introduções de Direito Romano dos Estados Unidos, Portugal, Espanha, Argentina. Eu fiquei no seminário, estudando latim, quando acordávamos o chefe de disciplina ia ao dormitório e dizia: “Benedicamus Dominus” (Bendito seja o Senhor) nós falávamos “Deo Gratias” (Graças a Deus). O latim me ajudou muito e facilitou a fazer o livro. Com as mudanças de leis, um livro de Direito Administrativo por exemplo, tem que passar por revisões periódicas, e as vezes dá mais trabalho revisar um livro do que o escrever

Qual é o segredo para manter esse bom humor?

Tenho muitos amigos, antes da pandemia nos reuníamos semanalmente, para “jogar conversa fora”, hoje também usamos o meio digital para bater papo. Um grupo se reúne nas terças-feiras, outro grupo se reúne nas sextas-feiras, esse grupo tem uns vinte anos, fazemos um jantarzinho. Gosto muito de cozinhar. Infelizmente essas ocasiões ficaram raras, usamos o WhatsApp para as reuniões. Cozinho em casa para os netos! Também gosto de viajar, já andei por boa parte da Europa, de carro, fui para a Índia, Nepal.

O senhor é religioso?

Sou católico, cursilhista. As vezes dou uma palestra.

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