PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de fevereiro de 2018

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADOS:JOSÉ CARLOS GONZALEZ E
CARLOS ALEXANDRE HENRIQUE
               Esporte Clube Vera Cruz

 

José Carlos Gonzalez nasceu em Piracicaba a 22 de novembro de 1951, filho de Armando Gonzalez e Maria de Lourdes Sampaio de Lima Gonzalez que tiveram os filhos: José Carlos, Rosangela e Alexandre, seu pai era cunhado de João Marchiori, que tinha empresa de ônibus. Aos 16 anos seu pai fazia a linha de ônibus de Piracicaba a Tietê, era estrada de terra, isso por volta de 1945 a 1948. Carlos Alexandre Henrique é piracicabano, nascido a 2 de outubro de 1978, casado com Elisabeth Afonso Carvalho,  pai de quatro filhos: André, Felipe, Carlos e Caio.

José Carlos Gonzalez, em que bairro a sua família morava?

Morávamos na Rua Tiradentes, 106, nasci ali, de onde sai com 26 anos de idade para casar com Maria da Conceição, tivemos dois filhos: Marcelo e Rafael. Fiz os meus primeiros estudos no Grupo Moraes Barros, até o quarto ano, no Grupo Escolar José Romão fiz o quinto ano, fui para o Colégio Imaculada Conceição, depois fiz a Faculdade de Comunicação na UNIMEP. O E.C. Vera Cruz ficava na Rua Tiradentes 180. Meu era vendedor de caminhão, assim como eu e meu irmão também somos vendedores de caminhões. Meu pai vendeu caminhões de todas as marcas, até passar a vender caminhões Mercedes-Benz. Meu pai trabalhou com o Pedrinho Fidélis da agência Ford, com Geni Totti, Zé Tietê. Eu mesmo tenho a assinatura na minha carteira profissional de Geneci Totti e de José Guirardo Fustaino (Zé Tietê). Fui vendedor do caminhão FNM (Fábrica Nacional de Motores), a revenda COMDASA ficava na Rua Governador Pedro de Toledo, em Campinas. O Geni Totti e o Zé venderam a COMDASA para o Grupo Comolatti, nessa época a IVECO comprou a FNM. Eu vim para Piracicaba onde eles abriram a Auto GT, passei a vender caminhões IVECO. Eu visitava todas as cidades ao longo Rodovia Washington Luiz inteira.


Você chegou a dirigir o caminhão FNM?

Dirigi. As marchas não eram sincronizadas (câmbio seco), tinha 4 marchas à frente e a ré. Para engatar a marcha com as “caixas secas” o processo era realmente bem difícil, porque você tinha que conhecer o motor. Para trocar a marcha, você tinha que acertar o tempo certo. Nesse “tempo certo” era o momento que a caixa ficava leve e aceitava qualquer tipo de marcha, se você errar esse tempo, e forçar a entrada da marcha, você poderia arrebentar a caixa de marchas ou o diferencial. Eram tempos de estradas de terra, um caminhão andava a 60 quilômetros por hora. Hoje temos caminhões Mercedes-Bens que ao aproximar-se 100 metros do veículo da frente ele já corta o fornecimento de óleo diesel, se pisar no acelerador ele não acelera. A 60 metros ele começa a frear aos 20 metros de distância do veículo da frente ele trava no freio, sozinho. Já está no mercado brasileiro. Eu vendia caminhões novos até 1988, ai fui trabalhar com o Chico Tietê, irmão do Zé Tietê e aprendi sobre caminhões usados. Hoje faz 22 anos que administro três grandes lojas de revenda de caminhões usados. Já cheguei a ir a Brasília e comprar 22 caminhões Mercedes-Benz, cavalo e carreta, em um único dia, viemos em 22 motoristas até a Pirasa.


Qual é a sua percepção do futuro?

Tenho muita confiança no futuro, mais do que tinha no passado, hoje temos como conhecer de forma mais realista o que no passado passava-se de forma oculta ou despercebida.

Em que área o senhor trabalha Carlos Alexandre Henrique?

Sou metalúrgico, trabalho na área de usinagem.

José Carlos Gonzalez qual é a sua paixão?

Tenho duas paixões: caminhão e o Esporte Clube Vera Cruz. Sábado a tarde vou viajar a trabalho. Domingo pela manhã estarei no Vera Cruz. O meu pai já era dirigente do Vera Cruz.

Onde fica a sede do Vera Cruz?

A sede do Vera Cruz era na Rua Tiradentes, em um bar, esse bar foi vendido, o novo proprietário disse ser torcedor do MAF, pintou a parede, descaracterizando ser Vera Cruz, e mandou tirar os troféus. Tivemos uma grande diretoria que voltou ao Vera Cruz por 12 anos, infelizmente 8 diretores já faleceram. O Esporte |Clube Vera Cruz foi fundado em 1950, filiado a Federação Paulista de Futebol em 2 de fevereiro de 1954. Em 1955,1956 e 1957 disputou a terceira divisão, sendo que no final de 1957 ia decidir o título contra o Lampianinho de Osasco. O Vera Cruz voltou para o amador por questões financeiras. Naquele tempo os jogadores iam jogar de taxi: Simca; Aero-Willys.


Tem algum nome que se projetou a partir do Vera Cruz?

Nos anos 50 o Wilson Bauru que foi para o Noroeste de Bauru, Fluminense e para o Olympique Lyonnais, conhecido como Lyon, na França. Ele vinha de tempos em tempos para a Rua Tiradentes, sempre acompanhado de francesa. Devido a ele fizemos por cinco anos seguidos excursões para o Paraná e Santa Catarina. Outros nomes que se projetaram no Vera foram Gatãozinho, Tatau, Armando Mala, Milu, são muitos.


E sempre qual o campo que vocês utilizavam em Piracicaba?

Nunca tivemos campo! Sempre a reunião era na Rua Tiradentes com a Rua Cristiano  Cleopath. No inicio era na esquina, depois veio para o bar que ficava no meio da quadra, na Rua Tiradentes a 50 metros da Rua Cristiano  Cleopath. Jogamos com o MAF, Palmeirinhas, Jaraguá, Costa Pinto, São Francisco, Lusitano, Santa Terezinha, São João da Montanha, jogamos amistosos com o time da Agronomia, o “A” encarnado, são tantos times. Conquistamos muitos troféus, cinco vezes troféu amador, quatro vezes campeões da taça Cidade de Piracicaba, duas vezes da Copa dos Campeões, que só teve duas edições, a terceira irá começar em março, e duas vêzes campeão varzeano.Vice temos muitos. Isso de 12 nos para cá.

Qual é a idade mínima necessária para ingressar no Vera Cruz?

A partir de oito anos, na categoria Dente de Leite.

Qual é a importância do futebol para a criança, para o adolescente?

Hoje estamos baseados no Bairro Algodoal, eles não tem outra diversão. Esse campo tem história. O Vera Cruz e a escola de samba ao que parece foi a Zoom-Zoom, se uniram e entregamos uma carta aberta em cada casa de Piracicaba, fizemos a campanha do prefeito eleito Adilson Benedito Maluf. Tudo foi feito de forma muito organizada, com mapa da cidade, cada veículo levando quatro a cinco pessoas. Até então jogávamos no campo da Vila Boyes. O Adilson cedeu em comodato por 51 anos um terreno de 39.000 metros na Rua Emilio Bertozzi, 1616, paralela a Rodovia Piracicaba a São Pedro, quilometro 1. Tem uma arquibancada de madeira para umas 200 pessoas. Mario Scarpari, Antonio Scarpari, Antonio Cera, João Pavan, Rubens Spolidoro, João Sturion, me incentivaram a assumir a presidência que eles ajudariam. Montamos uma diretora. Pagamos os impostos atrasados, e começamos a jogar. Hoje o presidente é Adriano Cardoso Figueiredo, o vice-presidente é Carlos Alexandre Henrique, O diretor de esportes é Germano Lacerda. Estou passando aos poucos o Vera Cruz para o comando dos moradores do Algodoal. Da “cidade” (outro lado do Rio Piracicaba) só tem eu mesmo. Sei que tem muitos torcedores para o lado de cá, mas dirigentes não tem nenhum.

O uniforme manteve sempre as mesmas cores?

Branco, preto e vermelho. O uniforme que esta sendo usado é fornecido pela Selam (Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras)

Quantos clubes amadores de futebol têm em Piracicaba?

No ano passado foram 30. Ficamos em quarto lugar. O futebol corre pela periferia. Não é tão divulgado como deveria ser. Se incluirmos o futebol varzeano passa de noventa times. O grande incentivador do esporte Dinival Tibério tem mais uns 60 times cadastrados. Hoje temos mais de 40 jogadores profissionais disputando campeonatos. Nunca passaram pelo XV de Novembro! Não posso afirmar com certeza, mas o lateral esquerdo que fez o gol no São Paulo Futebol Clube em 17 de janeiro deste ano é do bairro Tanquinho! Já disse ao Secretário Municipal Pedro Mello: fazemos 20 times da periferia, de 15 a 17 anos, de 17 a 19, abrangendo os bairros Novo Horizonte, Vila Real, Vila Fátima, a SELAM fornecendo pelo menos o juiz que é caro, montamos o time do XV de Novembro em 5 anos.

O que falta ao XV de Novembro?

Como não estou lá dentro eu não sei. No inicio coloquei quatro garotos jogando no XV, um lateral direito, um meia direita, um ponta esquerda, e mais um , o XV veio me pedir para pagar a passagem de ônibus para eles irem treinar e voltarem do treino. Por um tempo eu paguei. Faltam incentivos ao futebol amador de Piracicaba. Para o futebol das categorias menores. Em 2016 o sub-9 nosso ficou em terceiro lugar, junto com o Clube de Campo, Atlético, Sindicado dos Metalúrgicos, Cristóvão Colombo, Educando Pelo Esporte. Em 2016 ficamos campeões da Liga Piracicabana sub-15.

Carlos Alexandre Henrique em que posição você joga?

Eu jogava como ponta esquerda, mas parei! Estou pensando em voltar a jogar pelos Veteranos. Nossa intenção é integrar as gerações, que os jogadores façam novas amizades. Com uma disputa leal.


José Carlos Gonzalez, a diretoria influencia na conduta do time?

Não resta dúvida! O Bosque do Lenheiro jogou os seus três primeiros jogo com o nosso uniforme, emprestado! Temos sempre quatro a cinco jogadores do Bosque do Lenheiro na nossa equipe. Nos últimos três anos eles têm um time.

Há uma tendência, quase natural, de se colocar rótulos. Quem mora em bairro “X” age de certa forma. Quem mora em bairro “Y” age de outra forma, isso dificulta a integração?

Hoje o melhor jogador nosso é do Jardim Gilda. Hoje ele trabalha em uma grande empresa multinacional, há um empresário que está convidando-o para seguir carreira no futebol. Nessa hora tenho que ajudar esse jovem a tomar a melhor decisão para o seu futuro. Com muita serenidade e sem que sonhos abstratos tomem o lugar da realidade. 

Em especial, certas redes de televisão vendem uma enorme ilusão aos jovens?

As televisões estão focadas em vender propaganda. Cria ilusionismos, fantasias. Há um ou dois jogadores que ganham somas milionárias, os demais ganham o suficiente para manter um padrão de vida que pode ser atingido em qualquer profissão qualificada. Há muitos jovens iludidos com essas perspectivas de ascensão fácil. Quando o Pianelli tinha 14 anos fui técnico dele, a sensação de ver ele jogando no XV de Novembro, no São Paulo, é enorme.

O que um jogador sente em um gramado, com o estádio cheio?

Uma emoção muito grande, indescritível!

Carlos Alexandre Henrique concorda?

É uma sensação muito boa! Lembrando que o campeonato amador teve um bom público. O Estádio Barão de Serra Negra ficou lotado.

Ou seja, o piracicabano gosta de futebol?

Gosta! O que falta é incentivo, principalmente para as categorias de base.

José Carlos Gonzalez como é a segurança para o público?

Há uma conscientização de que a disputa deve ser com a bola, dentro de campo. Conseguimos desmistificar a prática de violência em campo. Há penalidades severas para quem transgride as regras. Com relação ao público, são vibrantes, mas há muito respeito. A Guarda Municipal está presente, nos ajuda muito. Em jogos maiores a Polícia Militar dá a cobertura necessária. 

Carlos Alexandre Henrique vocês estão fazendo escolinha para as crianças menores?

Uma boa pergunta! Temos que tornar público que o Vera Cruz tem uma consciência social. A escolinha é gratuita, feita para os moradores do Algodoal, há atletas de outros bairros que vem treinar conosco. Não importa se é bom jogador ou não, mas aprendem a ter disciplina, a respeitarem uns aos outros.

Vocês fornecem algum tipo de lanche?

Atualmente os recursos que vem é pessoal do presidente. Temos sonhos de fazer algo mais, poder proporcionar um reforço alimentar. Pela área que dispomos podemos proporcionar outras atividades, como um curso de computação. Se quisermos mudar o país temos que educar as crianças. O bairro está rotulado, com isso foi relegado ao abandono. Esse é o grande erro! Lá é o lugar onde o investimento tem que ser maior para que mude. Nossa luta atual é com relação a iluminação, a noite é um local muito escuro. Precisamos de ajuda para prevenir, educar. A repressão se dá pela falta de orientação, é traumatizante, cara e dificilmente recupera o individuo.

José Carlos Gonzalez vocês mencionaram o trabalho com os jovens, e as meninas, há algm projeto?

Pensamos muito nisso. Inclusive em futebol feminino. A pessoa ideal para levar esse projeto adiante era o Zé do Gás, só que ele faleceu de infarto fulminante. Estamos necessitando de voluntários, podem ser estagiários, temos muitas possibilidades de aproveitamento e transmissão de experiências para área de educação física, informática, assistente social. Temos o imóvel para ceder, fazemos de tudo para ajudar na segurança. Quem quiser pode nos procurar na Rua Emílio Bertozzi, 1616. Telefone 9 9221 9980 (José Carlos) ou 9 7412 0522 (Carlos Alexandre).

José Carlos Gonzalez refere-se a Tribuna Piracicabana e um fato determinante.

Tenho uma história que ocorreu há uns 12 ou 13 anos, eu fazia o “peneirão”. Fazia o anuncio em todos os jornais, em todas as rádios, que o Vera Cruz ia promover a peneira, isso significa que iam 200 garotos e os melhores eram escolhidos. Quando cheguei a diretora da Tribuna, Dona Astir, entreguei o texto e pedi se ela poderia fazer o anuncio, nós íamos fazer peneira. Ela perguntou-me: “ Quem não passar na peneira não joga?”  Respondi-lhe que não jogaria. Ela disse-me: “Então não anuncio!”. Gravei esse fato, hoje todos os garotos que vão ao Vera Cruz treinam, participam do coletivo, dos fundamentos, e lá vemos quais são os melhores para disputar os campeonatos. Durante a semana, devido a Dona Astir, esses garotos que não são bons de bola ficam treinando no Vera Cruz.
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