PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de março de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO:  DENISAR LUIZ GUIDOLIN

 

Denisar Luiz Guidolin nasceu a 9 de abril de 1950, na cidade de Rio das Pedras, são seus pais Luiz Antonio Guidolin e Odete Rubinato Guidolin que tiveram os filhos: Denisar, Luiz Antonio, Ivan e Salete. 

Qual era a profissão do seu pai?

Quando se casou trabalhava na Prefeitura Municipal de Rio das Pedras, meu avô era sapateiro, meu pai entrou para o ramo de couro e montou um curtume chamava-se Curtume Riopedrense, ficava na Rua Trajano Alves de Moura, no Bairro Bela Vista. Acredito que fomos os primeiros moradores do bairro. Permanecemos com o curtume até 1994.

Os seus estudos foram feitos em quais escolas?

Estudei no Grupo Escolar Barão de Serra Negra, em Rio das Pedras, onde meu pai e meus avós estudaram também. Após concluir o primário fui estudar no Ginásio Manoel Costa Neves, continuei meus estudos no Colégio Dom Bosco, em Piracicaba, isso foi por volta de 1966 a 1967, tempo em que o Padre Girotto estava naquele colégio. O Mestre Dick ensaiava a famosa fanfarra do Colégio Dom Bosco. Devo muita coisa relativa a música ao Dick. Quando tínhamos fanfarra em Rio das Pedras fomos tocar em São Pedro, nós fomos de ônibus e o Maestro Dick foi de carro. Durante o percurso, o carro em que o Dick estava sofreu uma pane, teve que parar para consertar. Lá o professor Juciê Siqueira, que foi um grande incentivador da fanfarra perguntou se eu não sabia começar a fazer o desfile com a fanfarra. Respondi-lhe que sabia, ele então mandou que eu iniciasse. Quando estava no meio do desfile o Mestre Dick chegou retornei ao meu lugar ele disse-me: “ Fica na frente que eu tomo o lugar que voce ocupa normalmente.”. Fiquei no comando até o final do desfile. Dai nunca mais parei de comandar fanfarra. Isso foi por volta de 1962, eu tinha doze anos, comecei a tocar trompete aos nove anos, é o intrumento que toco até hoje.

Você toca outros instrumentos também?

Tenho noção de quase todos eles.

Além da música, suas atividades profissionais eram voltadas ao curtume?

Dediquei-me sempre a musica, fiz dois anos de faculdade de Ciencias Economicas, não conclui, tinha que me dedicar ao curtume também.

Você chegou a tocar como profissional?

Trabalhei um pouco como músico profissional, tocava em conjunto, orquestra. Formamos conjuntos. O primeiro conjunto que participei chamava-se “Os Bárbaros”. Isso foi por volta de 1966, eu tinha que ter a autorização do meu pai, por escrito, para poder fazer o baile. Toquei no famoso Jequibau, ficava ao lado do Clube Treze de Maio. Por sinal também toquei no Clube Treze de Maio que considero um dos melhores lugares para tocar. Montávamos o conjunto e os casais já estavam em posição de dança. Sempre gostei dali. Toquei em várias orquestras.

O senhor casou-se?

Casei em 13 de janeiro de 1974, em Torrinha, com a filha do maestro da banda de lá, Eliane Silva Guidolin. A família da minha esposa é toda formada por músicos, tem escola de música em Bauru. Tivemos duas filhas: Sabrina e Samanta. Uma toca saxofone e violão e a outra toca clarineta. E as duas cantam também. Já tiveram um conjunto em Piracicaba, chamava-se “Porcelana Brasileira”.

Quando a família se reúne é uma verdadeira festa?

Como todos estão ligados a música, de fato fica uma reunião muito animada, a noite não tem término.

Qual é o ritmo que vocês mais executam?

Tocamos todos, mas o que mais é executado são músicas do ritmo MPB.

Quando a música começou em sua vida?

Ainda no ginásio, tive um professor, José Pompeu, mais conhecido como Seu Zico, morava em Rio das Pedras, comecei a ter aulas com ele, por causa da banda, que tinha uns 20 músicos. Eu admirava muito o Antenor Cortelazzi tocando trompete. Todos eles foram meus professores. Eu tinha nove anos, tocava lendo as pautas da música. Tinha que conhecer música, fazer aulas de solfejo.

Você teve contato com a Escola de Música Dr. Ernst Mahle?

Fizemos apresentações lá. Tivemos alunos que freqüentavam a Escola de Música em Piracicaba. Toquei com Olenio Veiga. Os irmãos Gobett e eu estudamos juntos no Colégio Dom Bosco. Tenho muita amizade com Marco Abreu.

Em Rio das Pedras quando se fala em Maestro Denisar imediatamente ouve-se elogios ao seu trabalho para o desenvolvimento da música.

Em 1982 um repórter de Tatui considerou a nossa banda de Rio das Pedras, como a maior banda da América Latina. Tinha 450 componentes.


Pode-se dizer que a maior parte das famílias tinha um representante na banda?

Já passaram pela banda 5.000 crianças, a partir de 7, 8 anos até 12 anos, hoje os próprios pais participam da banda. Atualmente o musico mais jovem tem 6 anos e o com idade mais avançada tem menos de 50 anos. Há também os chamados veteranos, uns 100 que iniciaram muito jovens e tocam até hoje, estão na faixa entre trinta a quarenta anos.


Vocês tocam em que local?

A banda tem aula todas às noites, na sua sede, próxima a Prefeitura Municipal. A banda tem a sede própria situada a Rua Dr. Mário Tavares, 313. Esse terreno foi doado por Vitório Castelani quando foi prefeito de Rio das Pedras, ele foi um grande incentivador da banda.


A banda foi fundada em que ano?

Consta que essa banda nossa chamava-se Corporação Musical Santa Cecília, e que existe desde 1907. A atual banda, de nome Antenor Cortelazzi fez a sua primeira apresentação em 1982. Da Corporação Musical Santa Cecília não temos nada além do que a história oral que um músico foi passando para outro.


Para uma cidade do porte de Rio das Pedras é bastante significativo ter uma banda com esse tamanho.

Eu acho que sim. Toquei tempo na Corporação Musical União Operária, que tinha como maestro João Petermann. Fui muito seresteiro também, tocava com o Coimbra, Cobrinha, Bolão, lá na Rua do Porto. São esses valores que motivam a gente. Sempre considerei Antenor Cortelazzi um pai musical para mim. Quando ele adoeceu, eu ia visitá-lo diariamente. Às vezes quando eu viajava a trabalho, telefonava para ele, todos os dias. Um dia fui visitá-lo, ele disse-me: “-Feche a porta. Precisamos conversar hoje.”. Ele disse-me: “-Acho que está chegando o meu fim, quero pedir-lhe uma coisa!”. Ele continuou dizendo: “-Estou ensinando música para o meu neto Rogério, quero que você continue a ensiná-lo”. Disse-me ainda, entregando uma partitura e disse-me como queria que fosse seu sepultamento. “-Quero ser velado na sede da banda, compre refrigerantes, cervejas, para quem quiser, quando for ser enterrado você vai tocar a música “Silêncio” e quando estiverem cimentando o túmulo você toca esta música, “Sempre no Meu Coração”, eu tenho a partitura até hoje! E foi feito assim como ele pediu. Antenor está vivo conosco até hoje.

No seu ponto de vista, se tivéssemos mais músicas de bom nível, teríamos mais saúde, menos violência?

Sem dúvida!  Dizem que: “Um povo sem banda é um povo sem alma!” O falecido Avelino Martins, que sempre foi muito participativo e interessado na história de Rio das Pedras, dizia que: “A música faz com que se formem pessoas com personalidade voltada para o bem”. Embora não fosse músico, tinha grande participação na organização da banda, foi secretário da banda. Hoje o presidente é Rafael Severino, por sinal é o primeiro trompetista da banda.

O stress é uma palavra muito comum, o senhor acredita que tocar em uma banda pode reduzir o stress?

Já está provado que sim. A medicina já afirmou que a música é altamente relaxante. Inclusive pode ser uma prevenção ao Mal de Alzheimer. Não tem como ensaiar na banda pensando em outra coisa. Quem está tocando tem que concentrar-se em sua participação.

A banda apresenta-se em ocasiões especiais, solenes, datas cívicas?

Já nos apresentamos em muitas cidades, vários estados. Temos um projeto de apresentarmo-nos uma vez por mês na praça central de Rio das Pedras.

O que é uma banda marcial?

Ela torna-se marcial quando sai em desfiles pelas ruas. Temos nossos uniformes.

O senhor conheceu o Professor Danilo Sancinetti que por muitos anos comandou a garbosa banda do Colégio Industrial de Piracicaba?

Conheci por intermédio do Mestre Dick. Toquei na fanfarra do Industrial, participei de vários concursos que disputamos. Apresentamo-nos em São Paulo, no Vale do Anhangabaú, quando havia as célebres disputas de fanfarras. Da fanfarra do Industrial nasceu muitos bons bateristas. Quando a fanfarra do Colégio Dom Bosco descia a Rua XV de Novembro em Piracicaba era muito emocionante. Havia uma rivalidade sadia entre diversas fanfarras que existiam em Piracicaba. A fanfarra da Escola Estadual Monsenhor Jeronymo Gallo também era muito expressiva. O Colégio Estadual Dr. Jorge Coury montou uma fanfarra bem organizada.

E de carnaval vocês participavam?

Eu realizei 36 carnavais. Em Rio das Pedras, Piracicaba, Capivari. O conjunto de carnaval era muito bom, todo orquestrado.

Músico tem boa remuneração?

Raramente um músico que executa músicas com qualidade tem boa remuneração. Toca por amor a arte. Temos excelentes músicos sem incentivo algum.

A banda aceita convites para inaugurações, festas, eventos?

Aceitamos sim, só pedimos o transporte e alimentação, não cobramos para tocar.

Um aniversariante pode pedir para a banda ir tocar em sua casa?

Iremos com prazer! O pedido tem que ser feito com antecedência para podermos organizar em função dos horários. Já fizemos muitas apresentações em São Paulo, Ouro Preto, Franca. As crianças vão acompanhadas dos seus pais. E está ocorrendo um fenômeno, os filhos acabam trazendo os pais para tocarem na banda. Hoje temos músicos que passaram pela banda e tocam na OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Um deles é Alex Tartalha. Leopoldo Arthuso que tem o conjunto em Tatui. Fiz um curso no Conservatório de Tatui.

Nas datas cívicas a banda se apresenta?

Se formos convidados com certeza nos apresentaremos.

O que é uma alvorada?

É quando a banda sai para tocar de madrugada, umas cinco horas da manhã. Acordamos a todos com dobrados, geralmente fazemos isso no dia do aniversário da cidade, em uma data cívica. A própria cidade já ficava esperando esse dia.

O senhor acredita que as fanfarras voltem às escolas?

Nosso projeto é que cada escola tenha uma fanfarra, por menor que seja, centralizar os melhores em uma grande banda. Fiquei muito contente em saber que no Norte do país ainda dão valor às bandinhas.

Uma banda em uma escola pode trazer progressos para o aluno em outras áreas?

Sem duvida! Eu tive um conhecido Vitor Neves Lobo, que tocava muito bem trombone. Ele era ex-presidiário.

A sua esposa canta?

Ela canta muitas músicas, de todos os generos, o nome artistico dela é Eliane Vidal, na internet tem várias musicas que ela canta. “Sonhando Acordada” é uma delas, está no You Tube. Lá você encontrará videos da Banda Antenor Cortelazzi. Inclusive o video “A Cidade Faz o Show” onde estou tocando trompete. Fizemos várias apresentações da banda em televisão.
 
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