PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de fevereiro de 2017.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ANA ELISA PIEDADE SODERO MARTINS

Ana Elisa Sodero Martins nasceu em Piracicaba a 4 de janeiro de 1977, filha de Paulo Sodero Martis e Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins.
Você realizou seus estudos em Piracicaba?

Estudei até a época do colegial no Colégio CLQ, situado a Rua Hide Maluf, lembro-me muito dos professores entre eles Newman Ribeiro Simões. Shunhiti Torigoi, José Arthur de Andrade, e outros professores que foram muito importantes para a minha formação.
Qual era a profissão do seu pai?

Professor universitário, tendo tornado-se um cientista na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ. Minha mãe é pedagoga e professora. Agora, aposentada, é poetisa. Na realidade ela sempre gostou muito de poesia, mas os afazeres do cotidiano impediam que ela se dedicasse integralmente a poesia. Eu sou bisneta, neta, filha de professores. Teve um período em que pensei muito sobre a profissão, se de fato era isso que eu gostaria de fazer.
Você teve a oportunidade de viajar bastante ainda muito jovem?

Meu pai nos levou para os Estados Unidos, na Califórnia, onde permanecemos por um ano. Lá tive a oportunidade de freqüentar a High School (Ensino Médio). A partir desse momento decidi viajar, fazer intercambio. Na época eu estava com 12 a 13 anos. Os intercâmbios são a partir dos 18 anos. Nesse período meu pai dizia: “Estude muito, se tudo der certo, você estudar, fizer tudo direitinho, você vai!”. Foi assim que começou a questão de viajar, de conhecer o mundo.

Você foi para que país?

Fui para a Índia! Os caminhos são traçados, há coisas que vem porque tem que ser. Eu queria fazer intercambio, independente de para onde iria, queria conhecer novos lugares, novas pessoas, línguas, eu fui através do Rotary. Comecei a fazer as seleções, as avaliações, Na época eu estava com 16 anos. Aos 17 anos, já concluindo o terceiro colegial, havia três opções: Alasca, o México e a Índia. Na época meu pai ficou muito temeroso, uma menina com 18 anos em um país tão diferente, como será? O Rotary é muito organizado, há muitos anos fazem o intercambio para que a juventude se una queremos um mundo unido. Que tenhamos essa amizade.  O modelo padrão de amizade consiste em compartilhar interesses e fazer coisas juntos, desfrutando de companhia e cuidando uns dos outros e fornecendo apoio o friendship interchange. Para que se conhecçam as culturas, os jovens façam esse intercâmbio e construam um mundo melhor.

Você foi para a India e ficou na casa de uma família?

Fiquei na casa de várias famílias. A cada três meses no ano eu mudava. Tanto que nas férias de lá eu já tinha feito um ano de faculdade, eu já falava inglês, foi um ano excelente.

Você foi para que local da Índia?

Fiz escala em Londres, desci em Calcutá.
Qual foi o primeiro impacto que você teve quando chegou à Índia?

Duas coisas que ficaram gravadas: o som, o barulho, música, muita gente, muitas buzinas, outra coisa os odores, de especiarias, perfume, esgoto.
Como eles a viam? Com curiosidade?

Eles me olhavam com muita curiosidade, percebi que me destacava como estrangeira, a questão da cor da pele, As pessoas olhavam mesmo. Eu nunca saia sozinha, não era autorizada a sair só. O pessoal do Rotary, as famílias tinham muito cuidado com isso. Se fosse sair ou era com as moças que cuidavam da casa, mesmo para ir para a escola nunca ia sozinha. E mesmo assim eu andava e as pessoas olhavam. Ficavam paradas olhando. Na época na Índia toda havia só quatro intercambistas do Rotary. Uma argentina, que ficou mais uma semana e estava terminando o intercambio e voltando, ai chegaram mais dois argentinos e um americano que chegou uns meses depois. Poucos jovens iam para a Índia, pelo menos os brasileiros queriam ir para a Europa.
Como é a casa de uma família indiana, tem padrões semelhantes aos nossos?

Como fiquei na casa de famílias rotarianas, que já são pessoas aculturadas, uma das famílias já tinha morado nos Estados Unidos, em duas casas em que morei, mesmo sendo famílias de posses, o banheiro era diferente, eram latrinas. O que eu achava interessante foi com a família mais tradicional com quem morei lá, era a hora de servir o almoço e o jantar, tinha o cozinheiro, mas quem servia era a minha mãe (a família que recepciona o intercambista o trata como membro da família). Meu pai sentava-se a cabeceira da mesa, depois o filho,que era o caçula, mas por ser o homem, sentava-se ao lado do pai, sentavam-se as filhas. A mãe não, só ficava servindo, cobria a cabeça para servir, servia o pai, o menino, depois me servia e por fim as meninas, era um ritual diário. Ela não se sentava a mesa conosco. Ela comia depois. Era uma pessoa culta, Tinha colegas da faculdade, indianas, estudando se formando, já estavam com os casamentos arranjados em andamento, as famílias já negociando, elas não tinham a mesma visão que eu tinha a respeito daquilo. Quem está de fora julga os modelos ou padrões de uma cultura. Elas diziam: “-Minha família me ama, eles querem o melhor para mim, vão encontrar um marido que esteja a minha altura!”. Como as famílias com quem fiquei eram famílias de posses, estudadas, por exemplo, a menina que ia se casar era engenheira. Elas tinham a chance de dizer que não iriam se casar. Poderiam. Elas não podiam definir com quem iriam se casar, os pais arranjavam um encontro, sempre com a família presente.
E na faculdade como era?

Na hora do lanche eram separados, meninos e meninas. Mesmo nas salas de aulas as meninas ficavam de um lado e os meninos de outro, separados.
Você foi ao cinema na Índia?

Ia muito ao cinema! Por conta de Bollywood. O nome Bollywood surge da fusão de Bombaim onde se concentra esta indústria e de Hollywoodnome dado à indústria cinematográfica americana. Os filmes são muito alegres, dançam, cantam, coloridoss e sempre de amor. Os que eu assisti ou eram romances ou eram de lutas. Os romances são casamentos arranjados também, mantendo essa questão cultural. Isso foi em 1995, pode ser que hoje esteja mudado. Cinema era um lugar que gostávamos de irmos.

Como é a reação deles diante dos animais?

Nas ruas as vacas são livres, bem tratadas, os carros desviam, as pessoas param. Os cães também são bem tratados. As vezes eu pensava: “As vacas são melhores tratadas do que seres humanos!”. Tem muita gente nas ruas, muitos mendigos, muitas crianças, principalmente em Calcutá. Por isso que pensamos quando lemos a história de Madre Teresa de Calcutá, realmente ela fez um trabalho necessário.

Você conheceu a Madre Teresa de Calcutá?

Quando cheguei a Calcutá, o coordenador do Rotary veio para me receber junto com essa argentina, a Samanta, ela é muito cristã, de fazer trabalho voluntário, participativa, ela estava voltando para a Argentina e no dia seguinte iria chegar um argrntino. Dormimos, pela manhã, antes de ir até ao aeroporto buscxar o Juan. Entendi que estavamos indo para o aeroporto, só que o carro entrou por umas ruelas, até chegarmos a um determinado local, descemos, havia uma parede cheia de portas, era uma casa de três andares, vi várias irmãs, abrimos uma porta, era uma casa com muitos assentos, cheia de pessoas, foi quando vi que a minha frente estava a Madre Teresa de Calcutá! Eu não conseguia acreditar! A Samanta tinha pedido e o Rotary faz muito trabalho junto com as irmãs da caridade ela nos recebeu.


Ao ver a Madre Teresa de Calcutá qual foi seu sentimento?

Foi muito comovente! Ela era miúda, pequenininha. Ela nos deu a mão, nos abraçou. Agradeceu. Deu a sua benção. Senti uma paz muito grande. O olhar dela era de caridade mesmo. Ela já estava com uma idade bem avançada. E o local cheio de pessoas, conforme nos informou o nosso coordenador isso ocorria diariamente. Ela nunca se negava a atender ninguém.
Há uma diversidade religiosa na Índia, como você sentiu isso?

Há uma minoria católica. Há os muçulmanos, não cheguei a ficar em casa de muçulmanos, eles não recebiam estrangeiros. Tinha contato com mulçumanos na escola, Como nosso intercâmbio era cultural, cada um ficou em uma cidade, quando havia congresso do Rotary ou encontro dos jovens nos reuníamos. Incluindo os jovens do Rotary indiano formávamos grupos de 30, 50 jovens. Íamos aos clubes fazer palestras do que era o intercâmbio, cada um falarmos um pouco do seu país, da nossa cultura. Falávamos em inglês.
De Calcutá você para alguma outra cidade?

Ainda no Estado de Bengala cuja capital é Calcutá, fui para Ranchi, como era intercâmbio de estudos não podia faltar as  aulas, por isso não viajávamos muito. Antes de ir para a Índia recebi uma carta desse coordenador, dizendo que eu não esperasse viajar, por ser mulher, pelo fato de ser um intercambio de estudo e não de turismo. Teria freqüência na escola, faria os congressos, junto havia uma lista da forma adequada de como me vestir, até mesmo para minha proteção. Deveria levar roupas de mangas longas, saias longas, calças compridas não eram recomendadas. Fui com a minha mãe até uma costureira que fez várias saias longas. Chegando lá, na primeira semana de aula eu estava usando essas roupas longas, bem fechadas. A minha “mãe” de lá me disse: “-Vamos vestir você com roupas indianas!”. Têm dois tipos os sari, que é um pouco desconfortável para ficar vestindo, principalmente eu que não tinha prática.  O Salwar Suit como eles chamam, é uma calça bem folgada, e um vestido em cima. E ainda um pano com o qual pode-se cobrir a cabeça.

Você andou com a cabeça coberta?

Quando entrava em algum templo era necessário.

Aprendeu a dançar as danças típicas?

Um pouco. Nesse ínterim chegou o jornal “Estadão” com o meu nome, eu tinha sido aprovada no vestibular que havia feito para entrar na Universidade do Estado de São Paulo – USP. Meu pai fez a minha matrícula, embora estivesse sendo reprovada por falta, uma vez que estava na Índia! Quando voltei já estava inscrita.

O que você achou da alimentação indiana?

No começo eu achei dificil ! Picante, os gostos diferentes. Tudo muito temperado. Depois me acostumei. Vai se desenvolvendo o gosto, tanto que agora gosto muito de pimenta. Era uma comida linda de se ver, quando a minha mãe indiana cozinhava os pratos eram muito coloridos. Comem bastante frituras.



                                                       SOM PROMORDIAL

È comida vegetariana basicamente?

Sim. Na maioria das famílias com quem vivi eram estritamente vegetarianas. Não eram veganas, comiam queijos, bebiam leite. Durante as minhas férias escolares, eu e um argentino fomos para o nordeste da India, em Hassan. Que é uma região bem mais asiática, próxima do Butão, país que faz fronteira com a Índia Até os traços da fisiononomia dos habitantes são diferentes, a pele mais clara, olhos mais puxados. Lá eles já comiam frango, carneiro. Visitimaos umas cahoeiras, que dizem que são eternas porque naquela região chove muito.Visitamos um templo, muito antigo, era um senhor que cuidava. Era um professor universitário, que depois que se aposentou, abandonou tudo, para viver esse voto de pobreza e cuidar do templo. Eu tenho a tatuagem do OM,  , é um mantra.


E o Rio Ganges ?

Nós nos banhamos no Rio Ganges!

Não é um rio poluído?

Só que é um rio sagrado ! Não tivemos nenhum problema, é um rio abençoado. É uma quetão de fé, tem que acreditar. Vimos os crematórios a margem do rio, as cinzas eles jogam no Rio Ganges. Todo lugar tem suas belezas, na Índia eu vivi com famílias muito abastadas. Às vezes até sentia-me constrangida. Ia para a escola com o motorista dirigindo o carro e me levando. Uma das casas em que fiquei era uma mansão com três andares. Eu saia de lá com o motorista que me levava de carro até a escola, em contraste havia nas ruas muitas pessoas pobres. Esse contraste muito grande sempre me causou questionamento. Na Índia andei muito de Tuc Tuc, bicicleta.



O período de intercâmbio terminou e voce voltou ao Brasil, já tinha sido aprovada na USP, qual curso voce fez?

Fui fazer História. Só que decidi trancar a matrícula e voltei para Piracicaba. Acabei prestando vestibular de Hotelaria em Águas de São Pedro. Era um curso rápido, dois anos, e daria a chance de viajar mais. Tive a oportunidade de estar mais perto do meu pai nesses meses que voltei de São Paulo e permaneci em Piracicaba.,Ele faleceu no dia em que eu estava prestando vestibular para Hotelaria.

Isso também proporciona uma excelente chefe de cozinha em sua casa?

Eu era mais da área de governança do que da área de cozinha, mas gosto muito de cozinhar, sempre faço comidas diferentes: mexicana, indiana. O arroz e feijão deixo para o meu marido fazer. Sou casada com Gabriel Mantoni Salvador, professor de História.

Ao terminar o curso de Hotelaria qual foi o seu próximo passo?

Fui fazer estágio nos Estados Unidos, em Dallas, onde fiquei por quatro anos. Dois anos fazendo estágio no hotel francês Le Meridien Dallas Hotel, bem no centro de Dallas. Fiz mais dois anos de College, um curso superior de tecnologia. Nos Estados Unidos é pré-universidade.  Dependendo das suas notas você pode escolher alguma universidade para fazer.


Em Dallas você percebeu que os seus moradores são conservadores?

São muito conservadores! Tive muita sorte, mesmo sendo latina, o fato de ser branquinha de olhos claros, raramente tinha problemas. Quando viajava com uma amiga brasileira, de ascendência negra, eu passava e ela passava por uma maratona, exigiam uma série de documentos, quando viam o nome diferente e o sotaque ambas éramos examinadas com mais rigor. Usávamos normalmente a carteira de motorista para nos identificarmos. Eu estava dentro da sala de aula quando as Torres Gêmeas foram atingidas, ai ficou mais difícil ainda. Foi uma das razões pelas quais eu voltei ao Brasil. Como eu fazia faculdade e tinha o visto de estudante, começou uma pressão muito grande. No Texas houve vários casos de retaliações a comerciantes indianos, que não tinham nada a ver com a tragédia que aconteceu.
Com relação ao porte da arma de fogo pelo americano o que você teve a oportunidade de observar?

Em uma época eu trabalhei em uma pizzaria, o meu chefe tinha arma de fogo, ele sempre dizia que desde criança sempre fez tiro ao alvo. Dizia: “Nós temos que nos protegermos!”.; Esse é o lema: “Defender a Pátria, a Família e a Propriedade”. Da época da hotelaria tem uma história engraçada, eu era assistente de gerente, na parte de governança, tinha uma equipe de umas 30 camareiras. Um dia recebi uma mensagem no rádio: “-Ana venha aqui no quarto número tal”, era a camareira chamando. Tinham deixado no quarto uma pistola. Não coloquei a mão, chamei a segurança, que chamou a polícia. O hospede foi localizado, chamaram-no para entregar a arma, ao mesmo tempo verificar se tinha toda a documentação em ordem, referente a arma. Era uma senhora de setenta anos! Com porte de arma e tudo! A polícia entregou-lhe a arma de forma muito natural. Tive a oportunidade de viajar bastante dentro dos Estados Unidos, minha irmã mudou-se para Indiana, um ano antes da minha volta. Todo ano eu ia esquiar no Colorado. È interessante ver tudo que é bom das culturas, o ser humano é capaz de criar coisas maravilhosas. Os norte-americanos têm uma vocação muito forte para descobrir, produzir. Muitas vezes são pequenas utilidades, mas a idéia criativa foi aplicada.Há a contra partida, eles de uma forma geral, julgam-se superiores, ou seja, os melhores.
Dos Estados Unidos você mudou-se para que país?

Vim para o Brasil. Fui cursar pedagogia na UNESP em Rio Claro. Conclui o curso e comecei a dar aulas de inglês em Piracicaba.
Você passou a trabalhar como pedagoga em que localidade?

A primeira escola regular mesmo foi no Acre.
E como surgiu essa mudança para o Acre?

Foi meu esposo, por amor. De todos os lugares do mundo em que sonhei ou desejei ir o Acre nunca esteve na lista. Ele terminou o curso de História uns três anos antes que eu terminasse o curso de pedagogia. Ele trabalhava aqui como professor substituto, ele tinha um amigo que he disse que tinha aberto um concurso em Rio Branco para professor e o convidou para irem juntos. Na brincadeira foram, pegaram um ônibus, viajaram 60 horas, isso foi em agosto de 2007. Esse amigo foi trabalhar em um projeto chamado “Asas da Florestania” que é um projeto para levar o professor para escolas de difícil acesso. Viajava de barco, mais 40 quilômetros de “ramal” que é estrada de terra mesmo. Ele ficava o mês todo em uma casa cedida por dos habitantes do local. Ali ele tinha o quarto dele. E dava aulas em outra sala.

                                                             ASAS DA FLORESTANIA

Como fazia com alimentação?

Ele tinha muita ajuda das pessoas da localidade, comia carne de caça, macaxeira.
E o seu esposo?

Ele ficou em Rio Branco, em um projeto do governo chamado “Poronga”. É um projeto de aceleração de ensino. Ele acabou sendo chamado para trabalhar em uma escola de freiras, a Imaculada Conceição, em Rio Branco, foi até uma Irmã, a Madre Elisa, uma italiana que deu o inicio a educação no Acre.

                                                    
                                                    PROJETO PORONGA

Atualmente você é professora no Acre?

Sou professora do Estado, dou aulas em uma escola rural chamada Santa Maria II. Fica a 700 metros da minha casa. Nós moramos na zona rural. Eu e meu esposo decidimos, já que estamos na floresta vamos ver um pouquinho como é.
Como é viver na floresta no Acre?

Ainda tem muita gente isolada. Rio Branco tem cerca de 400.000 habitantes. Boa parte utiliza água de poço, que é bombeada para uma caixa de água e distribuída pelas torneiras e chuveiros. Há ainda muitas fossas sépticas. Quando meu marido chegou a Rio Branco, há 10 anos, estava aquele processo de urbanização. O Governo Federal investiu no Acre. Os acreanos têm um senso de comunidade muito grande, tem senso de família. Eu as vezes até brinco que mantenho hábitos de paulista, minha casa é uma das poucas das casas cercadas.
Como o acreano vê o paulista?

Muito acelerado! Eles têm outro conceito de tempo. Eu e meu esposo somos bem felizes, todos os dias almoçamos juntos, vou para o meu trabalho de bicicleta, e agora está asfaltado! A pé levo sete minutos para chegar até a escola que leciono. Nós temos uma filha, a Agnes, em homenagem a Madre Teresa de Calcutá, ela tem a infância que eu tive em Piracicaba. Hoje aqui eu não vejo mais criança na rua, não há mais ninguém na rua, todos se fecham em suas casas. Lá ela com 4 para 5 anos brinca na rua, vai para a casa da vizinha, ela está tendo uma infância de criança.
A seu ver quais são as perspectivas de evolução para o Acre?

Eu espero que seja uma evolução que não afete a qualidade de vida. Qualidade de vida está diretamente ligada a floresta, o pessoal reclama: “-O clima está mudando”. Constatamos a olhos vistos. Principalmente quando faço trabalho com os meus alunos, entrevistamos os mais antigos, pessoal que veio do Ceará, muitos têm avós que estão bem velhinhos, foram os migrantes que vieram, “Os Soldados da Borracha”. Na década de 40.
Tem muitos “Soldados da Borracha” no Acre?

Tem! Eles já estão bem velhinhos, muitos já morreram. Eu faço questão de todos os anos entrevista-los. Oriento as crianças para que elas façam essas entrevistas.


                                                     SOLDADOS DA BORRACHA

Você faz um jornal em conjunto com seus alunos?

Eu faço jornal em folha de papel sulfite.
E recursos materiais?

É difícil! Para a escola é muito difícil, depende muito de ser amigo das escolas, das professoras, nós fazemos muita coisa com recursos pessoais, as professoras arcam com muitas despesas do próprio bolso. Como coordenadora da escola eu tenho a sorte de ter um gestor que é um ótimo administrador. Com o mínimo do mínimo “per capita” por criança temos uma escola que tem Wi-Fi do ano passado para cá, com acesso a internet usamos vídeos, temos trabalhado muito com as professoras. É difícil o acesso delas a museu? Mas na internet tem museu! Vamos visitá-los! Usar a tecnologia, mas para que se mantenha muita coisa da cultura. Eu brinco com as crianças: continuem se alimentando de macaxeira, abóbora arroz, Nada de tomar refrigerantes, o quintal de vocês tem cupuaçu, tem acerola, vamos fazer sucos. Eles não têm acesso a comida industrializada pelo alto custo, nisso eles tem sorte. A falta de recursos nesse sentido é positiva. Eles comem o que plantam.
O índice de doenças pode ser comparado às crianças de regiões mais ricas?

Eu os vejo mais saudáveis pela qualidade de vida que tem. Pela alimentação, atividade física, as pessoas caminham muito. Ou é de bicicleta ou é de “pés” como eles falam!
Aqui nós temos um mal chamado “stress” que já está sendo diagnosticado entre jovens, ou até mesmo com adolescentes, isso acontece também no Acre?

Bem pouco! Eu que às vezes falo quando vou ser acreana a chegar nesse ponto, de ficar tranqüila, de conseguir deitar na rede, de vez em quando, depois do almoço. Aquela meia horinha na rede. Eles descansam, estão sempre reunidos em família. Aquelas famílias grandes.
Tem alguma data festiva onde ocorrem grandes comemorações?

A questão religiosa está mudando muito. Há a Festa de São Sebastião, por conta dos rios, A cidade de Xapuri que é a cidade de nascença de Chico Mendes tem uma festa muito grande que é a Festa de São Sebastião. Tem a Festa de Tarauacá e uma que temos visto pouco que é a Marujada. O meio de locomoção no Acre são os rios. Agora tem uma quarta ponte, até recentemente eram poucas as pontes. Em vez das pessoas caminharem, pega um barquinho que cruza o rio, do Primeiro Distrito para o Segundo Distrito, o barquinho, chamado catraia, vai e vem atravessando o rio, essas catraias tem os condutores. 

                                                               MARUJADA
Além de você e seu marido tem mais algum piracicabano em Rio Branco?

Piracicabano não. Tem muitos paranaenses, alguns gaúchos,
E exploração de madeiras nobres, queimadas tem ocorrido?

Havia diminuído muito, infelizmente nesse último ano a população percebeu que começou de novo. As pessoas mais antigas contam que na década de 70 ficavam embaixo de uma fumaça que causavam muitos problemas respiratórios. Não há como descrever, só vivenciando como foi. Às vezes eu prefiro que não se desenvolva na área material, sempre falo para meus alunos estudem engenharia florestal, biologia, química, para vocês aproveitarem, daqui a alguns anos as riquezas do mundo serão a água e as plantas.
Há algum coral que você tenha montado com os alunos? 

Quando fui professora da Fundação Bradesco consegui montar um coral com os alunos. Eu gostava muito, era uma fundação de excelência. A gente sente o que é o ideal de uma escola. De quem acredita na educação e tem recursos para investir,
O Ensino Profissionalizante em Rio Branco como está?    

Tem o Instituto Federal do Acre – IFAC, o SENAC, o SESI. O número de indústrias é pequeno, concentra-se mais na fabricação de móveis. Houve tentativas em outras áreas, mas a distância encarece os produtos.

Há algumas negociações entre o Brasil e o Peru para que se estabeleça uma saída do Acre para o Oceano Pacífico?

Há uma relação amistosa, o governador do Estado do Acre tenta abrir um corredor entre o Acre e o Pacífico, só que há muitos entraves políticos e comerciais. Há dois anos houve uma grande enchente no Rio Madeira, não chegava nada daqui de São Paulo. Ou os grandes supermercados mandavam por avião os produtos. O único lado positivo é que abriu temporariamente o comércio livre entre Peru e Acre, recebíamos batatas peruanas, cenouras. Essa saída para o Pacífico se limitasse a trazer produtos alimentícios já seria de grande impulso para o Acre.

Vocês pensam em voltarem para São Paulo?

As vezes a gente pensa. Eu me sinto muito segura na cidade. Quanto mais tempo eu passo lá, mais futilidades, materialidades, eu vejo quando venho para cá, Até me assusto.

Pode-se dizer que nas grandes “cidades civilizadas” vivemos um mundo artificial?       

Complemente de ilusões! Tenho alunos de 6 a 10 anos, você vê que determinada criança tem um enorme potencial, apesar de todo esforço a escola não tem um laboratório de informática, não tem uma biblioteca. Rio Branco tem uma biblioteca de excelência, só que a criança tem que pagar seis reais por dia, ela não tem!

Há uma disseminação de religiões nunca vista antes, esse fenomeno ocorre também no Acre?

Muito! A ponto de fazer com que festas religiosas tradicionais sejam ameaçadas por preconceitos gerados por novas crenças. Até mesmo o folclore riquissimo em sua essência está ameaçado de extinção por influencias e visões distorcidas. O que fica evidente é que a visão individual sobrepoem-se ao credo, duas pessoas de uma mesma crença podem agirem de formas opostas.

Um dos pontos que está massificando o povo são os recursos eletrônicos. Em particular os celulares, autenticos caça-níqueis com jogos e outros atrativos cada dia mais sofisticados e que exigem pouco ou nenhum raciocínio. Esse modernismo já chegou no Acre ?


As crianças com quem trabalho não tem acesso por falta de recursos principalmente. Os poucos que tem me fizeram pensar: “-Até aqui!”Já vou dizendo: “- Vai brincar, vai bater bola menino!” O meu marido que leciona em uma escola cujo padrão dos alunos em média é elevado, ele tem problemas . Há crianças que chegam com três celulares! Crianças de sete anos com celular. Nessas horas penso que a falta de dinheiro ajuda! As crianças lá brincam, tem que ter criatividade. Sobem em árvores, estão juntos, não estão isolados como uma pedra. Se reunem, um quer conversar com o outro. Andam muito de bicicleta.  


NOTAS
O Alasca (em inglês Alaska e em russo Аляска) é um dos 50 estados dos Estados Unidos e o maior em extensão territorial, sendo maior do que os estados americanos de Texas, Califórnia e Montana juntos (respectivamente o segundo, o terceiro e o quarto mais extensos). É também o estado mais escassamente povoado dos Estados Unidos, com uma densidade populacional de 0,42 hab/km², a menor entre todos os 50. Tem menos habitantes do que qualquer estado americano com exceção de Wyoming, Dakota do Norte e Vermont. Se fosse um país independente, o Alasca seria o 17° maior país do mundo em extensão territorial. Relativamente isolado do restante do país, é considerado parte dos Estados do Pacífico. Nos dias atuais, a discussão sobre a sua independência tem ganhado força. É certo também que algumas ameaças de mísseis do extremo oriente só podem atingir os Estados Unidos pelo Alasca.
O Alasca é o estado mais setentrional e ocidental dos Estados Unidos. É também considerado por alguns como o estado mais oriental do país, uma vez que duas das ilhas do Arquipélago dos Aleutas estão localizadas no Hemisfério Oriental. A maior parte da população do Alasca vive na região sul e sudeste do estado. Muito do Alasca é escassamente povoado. Por causa disso, o seu cognome oficial é The Last Frontier (“A Última Fronteira”). O Alasca é uma península e faz fronteira somente com o Canadá, através do território de Yukon e da província de Colúmbia Britânica. É um dos dois estados americanos que não fazem parte da área contínua dos Estados Unidos, os 48 estados localizados entre o Canadá e o México. O segundo estado é o Havaí.[5]
O nome Alasca provém da palavra Alakshak, que significa “grande terra”[6] ou “grande península” em aleúte, um idioma esquimo-aleutiano falado em partes do seu território; essa palavra foi depois traduzido em russo Аляска para acabar na língua inglesa.[7] O Alasca foi comprado do Império Russo em 1867, graças à insistência do então Secretário de Estado americano William Henry Seward, por 7,2 milhões de dólares. À época, Seward foi criticado por outros políticos e ridicularizado pela maioria da população americana pela sua decisão, uma vez que boa parte da população americana acreditava então que o Alasca não passava de uma região coberta de gelo imprestável e que só servia para morada de ursos. Porém, descobertas de grandes reservas de recursos naturais desde então atraíram milhares de pessoas à região. Em 3 de Janeiro de 1959, o território do Alasca foi elevado à categoria de Estado, tornando-se o 49º estado americano
Bandeira do Alasca durante o domínio Russo

                                                       
                                                         Bandeira atual do Alasca 

Madre Teresa de Calcutá

Madre Teresa de Calcutá (1910-1997) foi uma missionária católica albanesa.Logo cedo descobriu sua vocação religiosa. Com dezoito anos entrou para a Casa das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto. Criou a Congregação Missionárias da Caridade. Dedicou toda sua vida aos pobres. Em 1979 recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Foi Beatificada pela igreja católica em 2003 e canonizada em 2016.
Agnes Gonxha Bojaxhiu (1910-1997) nasceu no dia 26 de agosto na Albânia. Foi educada numa escola pública da atual Croácia. Ingressou na Congregação Mariana. Com o consentimento dos pais, entrou no dia 29 de Setembro de 1928 para a Casa das Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, em Dublin, Irlanda. O seu sonho era a Índia, onde faria um trabalho missionário com os pobres. Em 24 de maio de 1931, fez votos de pobreza, castidade e obediência, recebendo o nome de Teresa.

Da Irlanda, partiu para Índia. Foi enviada para Darjeeling, local onde as Irmãs de Loreto possuíam um colégio. De Darjeeling a Irmã Teresa foi para Calcutá onde passa a ensinar História e Geografia no Colégio de Santa Maria, da Congregação de Nossa Senhora do Loreto, em Calcutá. Mais tarde foi nomeada Diretora.
Em setembro de 1946 durante uma viagem de trem, ouviu um chamado interior que a fez decidir abandonar o noviciado e se dedicar aos necessitados. Depois de apresentar seu plano, recebeu a autorização do Papa Pio XII, no dia 12 de Abril de 1948. Embora deixando a congregação de Nossa Senhora de Loreto, a Irmã Teresa continuava religiosa sob a obediência do arcebispo de Calcutá. Só em 08 de Agosto de 1948 ela deixou o colégio de Santa Maria.
Madre Teresa dirigiu-se para Patna, para fazer um breve curso de enfermagem. Em 21 de dezembro obtém a nacionalidade indiana. Data que reuniu um grupo de cinco crianças, num bairro pobre e começou a dar aula. Pouco a pouco, o grupo foi aumentando. Dez dias depois eram cerca de cinquenta crianças. Tendo abandonado o hábito da Congregação de Loreto, a Irmã Teresa usava um sari branco, debruado de azul e colocou-lhe no ombro uma pequena cruz. Ia de abrigo em abrigo levando, mais que donativos, palavras amigas e as mãos sempre prestáveis para qualquer trabalho.
Em 19 de março de 1949, as vocações começaram a surgir entre as suas antigas alunas do colégio. A primeira foi Shubashini. Filha de uma rica família, disposta a colocar sua vida ao serviço dos pobres. Outras voluntárias foram se juntando ao trabalho missionário. Mais tarde chamadas de “Missionárias da Caridade”. Em 1949, a constituição da irmandade, começou a ser redigida.
A Congregação de Madre Teresa, foi aprovada pela Santa Sé em 07 de outubro de 1950. Em agosto de 1952, é aberto o lar infantil Sishi Bavan (Casa da Esperança) e inaugurado o “Lar para Moribundos”, em Kalighat, auxiliando pobres, doentes e famintos. A partir dessa data, a sua Congregação começa a expandir-se pela Índia e por várias partes do mundo.
Madre Teresa de Calcutá recebe o Prêmio Nobel da Paz, em outubro de 1979. Nesse mesmo ano, João Paulo II recebe a Madre, em audiência privada e a nomeia “embaixadora” do Papa em todas as nações. Muitas universidades lhe conferiram o título “Honoris Causa”. E em 1980, recebe a ordem “Distinguished Public Service Award” nos EUA. Em 1983, estando em Roma, sofre o primeiro grave ataque do coração. Tinha 73 anos.
Em setembro de 1985, é reeleita Superiora das Missionárias da Caridade. Nesse mesmo ano, recebe do Presidente Reagan, na Casa Branca, a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta condecoração do país. Em agosto de 1987, vai à União Soviética e é condecorada com a Medalha de ouro do Comitê Soviético da Paz. Em agosto de 1989, realiza um dos seus sonhos, abrir uma casa na sua Albânia, sua terra natal. Em setembro de 1989, sofre o seu segundo ataque do coração e recebe um marca-passo. Em 1990, pede ao Papa para ser substituída no seu cargo, mas volta a ser reeleita por mais seis anos, até 1996.
Madre Teresa de Calcutá morre no dia 05 de setembro de 1997, depois de sofrer uma parada cardíaca. Seu corpo foi transladado ao Estádio Netaji, onde o cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado do Vaticano, celebrou a Missa de corpo presente. O mesmo veículo que, em 1948, transportara o corpo do Mahatma Gandhi foi utilizado para realizar o cortejo fúnebre da “Mãe dos pobres”. Em 19 de outubro de 2003 Madre Teresa de Calcutá é beatificada pelo Papa João Paulo II. No dia 4 de setembro de 2016 foi canonizada pelo Papa Francisco.


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