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PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de dezembro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
ENTREVISTADO:EUGENIO MORATO DE JESUS MESTRE GENINHO
Eugenio Morato de Jesus nasceu em Piracicaba a 14 de fevereiro de 1959, filho único de Benedito Osvaldo Morato de Jesus e Sebastiana Candido Morato de Jesus. Mestre Geninho é Educador de Capoeira, iniciou o estudo da capoeira em 1977, isso há 39 anos, formado por Claudival da Costa, o Mestre Cosmo. É sobrinho, pelo lado materno, de uma das mais expressivas figuras da cultura popular piracicabana: Antonio Candido, o lendário Parafuso, cantador de cururu, cujos feitos levaram a designar uma praça em seu nome, a Praça Parafuso. Geninho tem a veia cultural da família: toca cavaquinho, violão, berimbau (o qual afina com uma precisão fantástica). Canta Musicas de Capoeira, Maculelê, Samba de Roda. É um entusiasta e um estudioso da nossa cultura. É diretor vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Piracicaba, Limeira e Região, membro do Conselho Fiscal da Federação dos Gráficos, filiado a Força Sindical. Filiado ao CONESPI de Piracicaba – Conselho Sindical de Piracicaba. Eugenio Morato de Jesus é mestre de capoeira, conhecido no meio como Mestre Geninho.
Você nasceu em que local?
Nasci na Vila Rezende, na casa onde moro até hoje. Com o passar do tempo fomos ampliando-a, no início era uma casa de três cômodos, em frente havia uma valeta onde quando era criança brincávamos. Mais abaixo havia um campo de futebol, onde jogávamos. Naquele tempo era muito comum, as crianças procurarem em terrenos, ruas, locais públicos, pedaços de ferro, que vendíamos aos depósitos de ferro velho. Os pequenos pedaços de ferro eram descartados, não eram valorizados, só que juntávamos e com isso conseguíamos alguns trocados. Não é como hoje que há reciclagem de forma seletiva.
Em que escola você estudou?
Estudei no Grupo Escolar José Romão, até o quarto ano. Era comum naquela época, ao completar o quarto ano primário, parar de estudar e ir trabalhar.
Em que local você foi trabalhar?
Fui trabalhar na fábrica Modesto Filho, que fazia pés de cadeira, ficava onde é hoje o bairro Nova Piracicaba, ali só havia aquela empresa, o resto era praticamente só mato. A Praça Parafuso era só mato, depois fizeram um campo de futebol. Ali moravam muitos tiroleses. Há uma série de casas de etilo semelhantes, foram construídas bem depois. Aqui, onde hoje é a Avenida Manoel Conceição, era tudo mato. Nós chamávamos de “roizá”, era um mato alto que ia até a beira do Rio Piracicaba. Aonde hoje é a loja Nhô Quim Pneus havia um pasto com muitos cavalos. Nós íamos soltar pipa no pasto. No quarteirão onde moro havia a casa do Seu Mingo Durante aonde vinha muitos boiadeiros que negociavam cavalos, eles se encontravam muito aqui.
Qual era a atividade do seu pai?
Meu pai trabalhou na Usina Costa Pinto, no Engenho Central, com a movimentação de sacaria de açúcar. Trabalhava como “saqueiro”com sacos de 70 quilos. Tinha dias em que eu levava almoço pra ele dentro de uma cestinha de bambu aqui no Engenho Central. Eu não podia entrar no Engenho, chegava na porteira e entregava. Lembro-me do trenzinho que havia lá, meu padrinho, Caio Prado, foi maquinista. Na Avenida Rui Barbosa tinha o bonde. Aqui onde morávamos quando chovia a água descia com violência.
E a famosa “Bimboca” fica em que local?
Ficava mais acima, de seis a sete quarteirões, em direção a pista que liga Piracicaba a Águas de São Pedro. Lá pelos lados do Areião ficava a casa do meu tio Parafuso. Este ano ela foi derrubada, era uma casa antiga de telhado muito alto.
Você guarda lembranças do seu tio famoso?
Antonio Cândido, conhecido pelo nome artístico de Parafuso, era filho de Felício Candido e Lázara Cândido. Nasceu a 19 de fevereiro de 1920 no Distrito de Recreio, município de Piracicaba, começou a cantar cururu aos 18 anos. Casou-se por três vezes e teve 22 filhos. Trabalhou no Engenho Central de Piracicaba onde aposentou-se. Além de cantor de cururu Parafuso tinha grande capacidade de comunicação, conseguia manter o publico atento aos seus trejeitos e comicidades. Calcula-se que apresentou-se mas de 1.000 vezes. Cantou em toda a região do Médio Tietê e também fez apresentações no Rio de Janeiro e Minas Gerais. Parafuso faleceu a 2 de dezembro de 1973, aos 56 anos. No auge da fama entre as décadas de 60 e 70, Parafuso participou de gravação de LPs, cantando com Horácio Neto e Nhô Chico, dois grandes parceiros de cantoria.
PARAFUSO
Mestre Geninho, como começou a trabalhar em que local?
Fui trabalhar na empresa Modesto Filho, fazia pés de cadeiras a seguir fui trabalhar na Coopersucar, como ajudante geral. Permaneci lá por uns cinco anos, quando estava já com três anos de trabalho, o gerente colocou-me para trabalhar no moinho, onde eu ligava e desligava de dezoito a vinte chaves. Era um pessoal muito bom onde fiz muitas amizades. Havia muitas pessoas do bairro rural de Santana que trabalhavam na Coopersucar. Quando sai da Coopersucar fui trabalhar como metalúrgico na Trevelin, comecei como ajudante, passei a soldador, fazia caçambas de caminhões. Permaneci lá por uns cinco anos. A seguir fui trabalhar como gráfico.
Como você entrou para o setor gráfico?
Lembro-me que uma vez fizemos uma apresentação de capoeira, no Bairro Cidade Jardim. Fui convidado pelo proprietário da Gráfica Kelly situada na Rua Treze de Maio, para ir trabalhar lá. Colocaram-me para fazer pacotinhos, fazer entregas com a bicicleta, com o passar do tempo colocaram-me para fazer as composições das letras, cada palavra era montada letra por letra, havia o tipo que dava o espaço, pontuação. Era uma verdadeira arte. Conforme o tamanho da letra usava o que era chamado de corpo. O texto era montado em uma caixa de madeira, uma espécie de gaveta de laterais mais baixas. O trabalho de montagem das chapas era dos tipógrafos. Tinha um esquadro de ferro que apertava os tipos para permanecerem firmes. Colocava os tipos com texto na máquina Minerva, descia o rolo com tinta na chapa, tirava a prova, era feita a leitura, o tipógrafo fazia alguma correção que fosse necessária, depois fazíamos a impressão.
Imprimia-se uma cor apenas?
Podíamos imprimir em várias cores. Por exemplo, imprimia em preto, depois limpava o rolo da máquina com thinner ou gasolina, limpava o tinteiro para colocar outra cor.
Nessa época você já era casado?
Casei com 27 anos, na Igreja Matriz Imaculada Conceição, o celebrante foi o Padre Jorge. Casei-me no dia do meu aniversário, 14 de fevereiro de 1987. A minha esposa é mineira, de Poços de Caldas chama-se Ana Maria Siqueira Morato de Jesus, temos dois filhos: Marcelo e Marília.
Naquela época gráfica era um bom emprego?
Havia uma disputa por bons funcionários. Trabalhei uns quatro anos com Avary Perches em sua gráfica. Era um serviço seleto, não era qualquer pessoa que se tornava gráfico. Geralmente os gráficos tinham um bom salário. Eu trabalhei em gráfica até 1998, eu trabalhava na Copel, a gráfica do Seu Carlos. Por volta do ano 2000 fui chamado para trabalhar no Sindicato dos Gráficos, situado a Rua Antonio Bacchi, 1820. Por coincidência o pai da minha esposa, foi o fundador do sindicato como Associação dos Gráficos e que hoje é denominado Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Piracicaba, Limeira e Região. Fui presidente, atualmente sou diretor.
Quando você começou a “jogar” capoeira?
Eu tinha uns 12 a 14 anos aqui na Vila Rezende havia um negro que nós o chamávamos de “Prefeito”. Não havia academia, mas eles brincavam de capoeira. Na rua sem uniforme, sem nada. Eu ia ao Club de Regatas de Piracicaba. Ali tinha uma pessoa a quem chamávamos “Mestre João do Regatas Capoeira”, era branco com tez bronzeada, ou como dizíamos, “um branco moreno”. Ele dava aula no Club Regatas. Lembro-me que na camisa estava escrito: “Capoeira Oxossi”. Isso foi por volta de 1974,1975, o Seu João mantinha a cultura e educava através da capoeira.
INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA “JOGAR” CAPOEIRA
Capoeira – Instruments – Berimbau
O que o seduziu na capoeira?
Os movimentos, o som do berimbau.
Algum dia você utilizou a capoeira para defesa pessoal?
Graças a Deus não! Estudamos o exercício da capoeira, os toques do berimbau, as cantigas.
Capoeira é uma dança?
É uma dança, um esporte, um elemento faz uma armada outro faz uma tesoura, tem muitas composições de movimentos. A capoeira pode também ser uma prática mortal, uma das suas variáveis é o capoerista que prende uma navalha entre os dedos dos pés e desfecha golpes fatais. O Mestre Cosmo nos orientava sobre essa prática, sem, contudo que ela fosse utilizada. Cosmo era o cognome de Claudival da Costa, ele morava no São Dimas, depois adquiriu uma casa no CECAP. Trabalhou na Prefeitura, no Teatro Municipal, após o Club Regatas de Piracicaba, do Mestre João, de quem Cosmo era aluno, veio o Grupo Cativeiro, foi evoluindo e nós começamos com o Cosmo, por volta de 1976 tinha academia no CALQ – Centro Acadêmico Luiz de Queiroz a Rua Voluntários da Pátria entre a Rua do Rosário e Rua Tiradentes. O Cosmo tinha uma grande coordenação de movimentos.
Há uma hierarquia, conforme o grau de aperfeiçoamento do capoerista, ela é simbolizada por cordões, qual é essa ordem do principiante até o grau máximo?
Não ha necessariamente um padrão nacional para os cordões, eles variam de grupos para grupos, cada grupo faz da maneira que concebe. Quando fundamos o nosso grupo de capoeira pegamos um padrão de graduação igual ao da Confederação Paulista de Capoeira. A graduação infantil, de 13 a 14 anos segue verde e laranja, amarelo e laranja, azul e laranja, marrom e laranja, amarelo, azul e laranja, laranja. A criança dos 13 aos 14 anos não irá alcançar aquele que tem 15 anos. Essa criança ficará formada muito jovem. Ela tem que passar por um processo de amadurecimento natural. Após os 15 anos irá começar o verde, o amarelo, o azul, o verde e amarelo, o verde e azul, o amarelo e azul, o verde, amarelo e azul, quando ele atingir os 18 anos ele estará alcançando o monitor, verde e branco, depois ele com 23 anos irá alcançar amarelo e branco, como professor, com mais de 32 anos de idade será contra-mestre, usando o cordão azul e branco, mestre que é o cordão branco ele irá recebe com 40 anos ou mais, o cordão branco com lacre bronze irá receber com 45 anos de idade, o branco lacre prata com 50 anos de idade, o branco com lacre ouro aos 55 anos de idade. Eu tenho 57 anos, sou branco com lacre ouro. Essa graduação foi feita para que o desenvolvimento do esporte acompanhe o amadurecimento da personalidade do jovem. Se não existir uma regra nesse formato, pode ocorrer de um jovem de 18 anos queira ser um mestre de capoeira, só que o amadurecimento pessoal dele ainda não estará preparado para exercer a função de mestre. A capoeira é sábia ao conceder os graus conforme ocorre a maturidade do praticante.
Qual é o limite de idade para praticar a capoeira?
O Celso Alexandre Máximo, Celsinho, tem 5 anos, o Cauã Mathias tem 9 anos, o Adrian 10 anos, o Vitor 9 anos, o David 15 anos, o Daniel 13 anos, o Natan 7 anos, o Rafael 11 anos, fora os meuá alunos formados que tem mais de 30, 40 anos de idade. O Gabriel deve ter uns 63 anos. Com 65 anos temos o Pereira, ambos ainda jogando capoeira, isso aqui em Piracicaba. Temos um grupo, a Associação de Capoeira Engenho Central. No meu entender, o melhor capoerista é aquele que tem sabedoria para entender e mostrar por exemplos a sua razão. Não é o que usa da violência para se impor.
Uma pessoa, com algumas décadas de vida, que não tenha tido uma existência voltada ao esporte, ele pode praticar capoeira?
Nesse cão iremos agir de forma diferenciada, será praticada a capoterapia! Eu fiz um curso com o Mestre Giovan, aonde foi abordado o tema. Nós, com mais idade já não jogamos capoeira. Nós dançamos a capoeira. Isso não significa que muitos mestres já praticantes não continuem a jogar capoeira com extrema habilidade. Se iniciarmos com uma pessoa mais idosa, vamos ensinar os movimentos quase dançando, para não forçar o organismo. Passa a ser quase uma dança, para o organismo fazer movimentos.
Atualmente, o seu trabalho na capoeira é como um educador?
Exatamente! Eu ensino o exercício da capoeira, as cantigas, com escala musical, berimbau.
Mestre Geninho, entre suas habilidades uma delas é a composição de cantigas de capoeira, além de tocar e afinar todos os instrumentos, já há algumas músicas de sua autoria a serem lançadas?
Tenho as musicas que apresentei a você, são inéditas, compostas por mim. Do meu tio Parafuso devo ter herdado o improviso, que foi o que fizemos logo no inicio da nossa entrevista, onde em sua homenagem fiz uma musica de improviso. Considero-me com diversas habilidades, todas conquistadas com estudo e dedicação. Posso afinar o berimbau de forma tradicional ou através de um aparelho eletrônico. (Nesse instante Mestre Geninho faz a demonstração de como se afina um berimbau das duas formas).
Como era o seu tio Parafuso?
Ele vinha aqui na cozinha, minha mãe alisava o cabelo dele. Conheci Pedro Chiquito, cresci os vendo cantarem. Assim como Nhô Serra, Zico Moreira, Horácio Neto, Jonata Neto.
Você tem algum projeto para a Praça Parafuso?
Tenho vontade de fazer pelo menos uma vez por ano uma homenagem ao Parafuso, montar na praça que leva o seu nome, trazer cururu, sertanejo, capoeira, samba de roda, fazer um evento cultural, dinamizar essa praça. Nossas crianças necessitam conhecer essa cultura antes que ela se vá sem deixar nenhuma lembrança. Existe muita coisa que infelizmente a internet não tem.
Quando será feito esse evento?
Tenho que montar e obter a aprovação da Ação Cultural Municipal.
A CAPOEIRA A Capoeira, é uma das manifestações culturais mais importantes do Brasil. Surgida do encontro, em terras brasileiras, principalmente das culturas do índio, do negro e do português, tornou-se um dos mais importantes símbolos do Brasil. Trata-se de uma das manifestações culturais da corporeidade humana, a qual é baseada em um diálogo corporal, no qual terá maior destaque o jogador que fizer mais perguntar corporais do que as respostas corporais obtidas, ou então aquele capaz de apresentar mais argumentos corporais do que as perguntas corporais que lhe foram feitas. Neste diálogo entrarão em jogo os braços, as pernas, a cabeça e os jeitos corpo. A primeira citação do vocábulo foi feita pelo Padre Fernão Cardim em 1577. Tende-se a acreditar que o vocábulo, de origem indígena Tupi, tenha servido para designar negros quilombolas como “negros das capoeiras”, posteriormente, como “negros capoeiras” e finalmente apenas como “capoeiras”. Cabe ressaltar, que nunca houve nenhum registro da Capoeira em qualquer quilombo. Dizem também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento,motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por 4 ou 5 homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando-os e desdobrando-os em outros dando a cada um o seu nome próprio. Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo defendiam-se por meio da ‘capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores. Em 1.808 chega ao Brasil D. João VI e sua corte, fugidos das tropas
napoleônicas que então dominavam a Europa. Temendo ser liquidado por espiões estrangeiros ou por alguma represália por parte dos escravos ou provocada por capoeiristas, ou ainda temendo que intrigas feitas por descontentes que o levassem a uma situação desfavorável, procurou o imperador dar uma nova estrutura a polícia aumentando sua segurança e a da Cidade do Rio de Janeiro, na época Capital do Brasil, o que se deu através do Alvará de 10 de maio de 1.808, criando a Intendência Geral de Polícia, que foi baseada nos mesmos moldes da organizada pelo Marques de Pombal em Portugal, sendo nomeado primeiro intendente o desembargador Paulo Fernandes Viana, que tratou logo de organizar uma secretaria de polícia, para facilitar a expansão de seu programa de realizações. Fruto deste trabalho foi criada a Guarda Real de Polícia, que foi originada pelo Decreto de 13 de maio de 1.809 e cuja direção foi confiada ao Major Miguel Nunes Vidigal, que se tornou um célebre combatente dos capoeiristas, causando-lhes um verdadeiro terror, mesmo porque também era uma capoeirista. Segundo nos afirmam Barreto Filho e Lima “era um homem alto, gordo,do calibre de um granadeiro, moleirão, de fala abemolada, mas um capoeira habilidoso, de sangue frio, e de uma agilidade a toda prova, respeitado pelos mais temíveis capangas de sua época. Jogava maravilhosamente o pau, a faca, o murro e a navalha, sendo que nos golpes de cabeça e pés, era um todo inexcedível”8. Esta riquíssima narrativa nos aponta para o fato de que a capoeiragem, já fazia parte da sociedade branca e era utilizada em iguais condições para reprimir aqueles que não se enquadravam no modelo social dominante. “Parecia estar em toda parte, com seus granadeiros, armados de longos chicotes. Protegidos pela distância que mantinham dos capoeiras, podiam atingi-los a salvo. Chegava, inesperadamente,aos quilombos, rodas de samba e candomblés, arrebentando tudo e todos que encontrava. Aos capoeiras, que foram sua mira principal, reservava um tratamento especial, uma espécie de surras e torturas a que chamava de ‘ceia dos camarões’” .
A arma comum dos capoeiras, na época, era a temível navalha, a qual manejavam com a mais absoluta destreza, e em virtude disto, usavam um lenço de seda pura em torno do pescoço como precaução para se defenderem, sabido que a mesma embota o fio da navalha. Com a Guerra do Paraguai, o Império viu-se na contingência de formar batalhões específicos de negros, em sua grande maioria, capoeiristas. Sendo assim, entre 1865 e 1886, os governos provinciais fizeram seguir para a frente de batalha, grande número de capoeiristas, em batalhões específicos denominados Zuavos. Se por um lado o objetivo era reduzir sensivelmente o número de capoeiristas, por outro conseguiram tornar a modalidade uma Arte Marcial, posto ser este um título que usualmente é conquistado por alguma forma de luta que tenha passado por uma experiência de guerra. Alguns capoeiras chegaram a ser oficiais do Exército e da Marinha, por seus atos de bravura, e recebendo a comenda da Ordem do Cruzeiro, como foi o caso do Capitão Cezário Álvaro da Costa do 7º Batalhão de Caçadores. Outro exemplo também é o do Alferes Francisco de Melo do 9º Batalhão de Caçadores que com bravura se destacou na Batalha do Riachuelo, juntamente com outros companheiros, como foi o caso do “Príncipe Oba II, Cândido Fonseca Galvão, um negro que se tornou Alferes do Batalhão de Zuavos e depois encarnou o papel de monarca dos negros e negras da Corte, exibindo seus conhecimentos de figuras deproa da vida do Império, se identificando com o Partido Conservador, e chegando adesfrutar da amizade do próprio Imperador Pedro II.