ENTREVISTA REALIZADA NO DIA 24 DE DEZEMBRO DE 2014 ESTÁDIO BARÃO DE SERRA NEGRA 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 janeiro de 2015.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ADILSON BATISTA DE OLIVEIRA

Adilson Batista de Oliveira é advogado. Também é formado no ano de 1986 em educação física pela Unimep Universidade Metodista de Piracicaba. Como advogado atua em diversas especialidades da área. Nascido em Piracicaba a 22 de outubro de 1968. Filho de Mário Batista de Oliveira e Malvina Jorge de Oliveira que ainda tiveram os filhos Jurandir, Maria Julia, Jacira e Joseane. Adilson é casado com Geisiane Patricia Costa de Oliveira, pai de três filhos.
Qual era a atividade principal do seu pai?

Meu pai foi encarregado de montagem da Dedini, onde trabalhou por 35 anos. Ele chegou a trabalhar diretamente com O Comendador Mário Dedini nos anos 50. Minha mãe era do lar, mas tinha como atividade secundária a costura. Fazia toalhas, vestidos, roupas.
Em que escola você iniciou seus primeiros estudos?

Inicialmente estudei no SESI 165, no Jardim Primavera, localizava-se em frente a minha casa. O curso colegial eu estudei no COTIP – Colégio Técnico de Piracicaba, na época fiz o curso colegial técnico em metalurgia. A Faculdade de Direito fiz em São Carlos, tendo concluído em 1991.
O que o motivou a fazer dois cursos tão distintos entre si?

Eu já estava inserido na área de esportes, já havia jogado futebol em algumas equipes, percebi a necessidade de ter um curso superior nessa área, para ter maior estabilidade no futuro. Com o passar do tempo, por influência do meu tio Pedro, advogado, acabei ingressando na área de direito, onde tive a oportunidade de me destacar.
Isso significa que você era até então um atleta?

Joguei futebol em algumas categorias de base, no Rio Claro, na Ferroviária de Araraquara, com o Bazani, maior ídolo da Ferroviária. Na ocasião Bazani estava como treinador, supervisor e coordenador das categorias de base. Treinava lá no campinho da Fonte Luminosa, no campinho de areia. Joguei no Independente Futebol Clube, o Galo de Limeira, disputei o Paulista de Junior para eles. Disputei o Campeonato Paulista para a Ferroviária. No Rio Claro participei de algumas partidas no time profissional. Depois fui jogar em um time que hoje não existe mais, Estrela da Bela Vista Esporte Clube conhecido como Estrela da Bela Vista ou Estrela de São Carlos, o fundador foi João Ratti.

Você jogava em que posição?

Minha posição sempre foi quarto zagueiro e volante. Cheguei a jogar de lateral direito com o Bazani. Tive também uma passagem pela Portuguesa de Desportos com o Ivair Ferreira, o “Príncipe do Parque”, ex-ponta-de-lança da Portuguesa. Joguei no Paulista Infantil  na Portuguesa.

Quanto tempo você ficou no futebol?

Como jogador foi pouco, uns dez anos. Como dirigente faz uns trinta anos.
A seu ver, o atleta torna-se “estrela” por quais razões?

Hoje, um atleta de futebol já nasce com as condições de ser um grande jogador. O que ele necessita é de incentivo. Quantos jogadores de Piracicaba que o Dinival Tibério conheceu e que acompanha há anos os jogadores de várzea, presenciou isso. O menino tem todos os pré-requisitos, mas não tem incentivo, ele tem que trabalhar para ajudar no orçamento familiar. É necessário incentivo financeiro, apoio, orientação. Quantos meninos apareceram na várzea como talentos, mas não tiveram como dar seqüência porque no cotidiano não tinham condições na família ou um patrocinador sustentar esse atleta.
Como advogado militante, esportista, a seu ver o esporte em todas as suas modalidades pode ser uma das formas mais eficazes e ao menor tempo possível, diminuir a criminalidade?
Acredito que sim. Se a pessoa tiver o incentivo para se dedicar ao esporte e sentir-se apoiado, com certeza ela não desviará sua atenção para outras atitudes.
O que está faltando para isso aconteça?       

Mais incentivo! Sinto que no passado recente tínhamos mais campos na várzea, mais situações em que o atleta podia praticar o esporte. Hoje há carência de atletas! Infelizmente caiu muito a prática de esportes. Nos anos 60,70 e 80 dava para formar três times de futebol amador para disputar o Campeonato Paulista. Hoje está difícil encontrar dois ou três jogadores de nível semelhante aos que existiam. Se for procurar na várzea quem é bom, conseguiremos até uns cinco jogadores há uns 15 ou 20 anos com certa facilidade encontrávamos até trinta bons jogadores na várzea.
O que mudou? Hoje o esportista bem sucedido tem uma receita financeira muito além do que a maioria das profissões. Antigamente jogava-se apenas pelo amor a camisa.

Um dos incentivos que faltam, principalmente no primeiro semestre, em Piracicaba, são as ligas soltarem os campeonatos que existiam antes: dentinho, dente de leite, infantil, juvenil. Hoje só tem o “Rocha Neto” que é de agosto a dezembro. Isso diminuiu as competições que existiam. A nossa cidade tem que ter mais iniciativas. Todos os campeonatos que estamos disputando, que estou vendo, as outras cidades estão sobressaindo mais. Inclusive o XV de Novembro as suas duas categorias perderam para Americana e Santa Bárbara D`Oeste no final da Copa Graal. Isso porque nessas localidades é bem maior o numero de atletas e também de times. 
De quem é a responsabilidade por ser criada essa situação em nossa cidade?

Sob o meu ponto de vista a própria comunidade, isso incluí as grandes empresas, indústrias, apóiam de forma muito tímida, inclusive a própria Liga deveria incentivar mais campeonatos no primeiro semestre isso em todas as categorias.
Infelizmente temos atletas de outros esportes que são campões muitas vezes até disputando em nome de cidades de outros estados que os patrocinam. Deixando bem claro que isso acontece já há décadas. Isso é deixar de olhar a educação como um todo para concentrar-se apenas na educação formal, de bancos escolares?

Concordo plenamente, a cidade deve investir. O que tem ocorrido hoje é que tendo como objetivo máximo fortalecer a categoria, com isso algumas cidades vão buscar atletas em outras localidades. Piracicaba ficou em segundo lugar nos Jogos Abertos, mas temos procurado investir nos valores locais.
Profissionalmente hoje o senhor exerce quais atividades?

Sou advogado, tenho escritório ao lado do Fórum local, sou diretor do Jardim Primavera Esporte Clube, sou diretor Esporte Clube XV de Novembro, onde sou diretor adjunto das categorias de base.
Qual é a função do Diretor das Categorias de Base que o senhor exerce?

É coordenar as categorias menores, no sentido de coordenar jogos, trazer patrocínio, trazer jogadores. Coordenar os técnicos, os preparadores, sempre acompanhando os trabalhos para ver se está fluindo, se está rendendo.
Quantas vezes por semana o senhor vem até o XV de Novembro?

Venho todos os dias, acompanho os jogos de categoria de base, ontem teve um jogo do Sub-20 em Hortolândia, eu estava lá.
A Categoria de Base abrange quais idades?

O Sub-20 é a categoria com idade máxima das categorias que disputam o Campeonato Paulista e a Copa São Paulo, é para atletas nascidos nos anos 1995,1996 e 1997. O Sub-17 é outra categoria de base para atletas nascidos em 1998 e 1999 e o Sub-15 que é para atletas nascidos em 2000 e 2001. São essas três categorias que o XV de Novembro tem atualmente. Futuramente vão fazer o Sub-13 e Sub-11.
Esses jogadores têm alguma remuneração?

No XV os juniores todos ganham uma ajuda de custo na faixa de R$ 200,00 a R$ 300,00. A grande meta é ir para o time profissional. Caso eu não esteja enganado este ano seis atletas saíram da categoria de base e foram para o quadro principal.
Há quanto tempo você participa do XV de Novembro?

Faz dois meses que retornei. No passado, tempo em que a TAM era parceira do XV fiquei por quatro anos, de 1993 a 1997 na gestão do time.
Porque a TAM deixou o XV de Novembro?

Foi uma parceria que deixou a desejar, por parte de ambos os lados.
O XV de Novembro de Piracicaba é um dos times mais antigos do Brasil, em sua opinião, não passou da hora dele estar ao lado dos times tidos como grandes?

Concordo, pela própria tradição do time, em minha opinião está caminhando para isso. O XV deve participar do Campeonato Brasileiro da série D. É o primeiro degrau para ele futuramente disputar o Campeonato Brasileiro da Série A. São quatro divisões: A,B,C e D. Com essa subida há um ganho, uma projeção,  em que ele consegue manter um elenco durante todo o ano. É importante para o XV e para Piracicaba que o clube esteja na série D.
Sob sua visão o XV de Novembro tem condições para ir para a série A, que é a principal?

O XV de Novembro já disputou as séries D, C, B e a série A também. Nossa cidade hoje tem em torno de 380.000 habitantes, tem estrutura para isso. É uma cidade que participa, vai ao estádio, e a partir do momento em que o XV começa a colher bons resultados, já temos visto isso, o campo fica cheio de torcedores.
Está sendo feita uma campanha bastante motivadora para que o torcedor associe-se ao XV de Piracicaba?  

A pessoa pode associar-se pagando os valores de R$ 25,00, R$ 40,00 e R$ 70,00 além de poder freqüentar aos jogos o associado tem uma série de benefícios diretos, como descontos em estabelecimentos comerciais, agora além dos descontos nos ingressos há também os descontos de todos os conveniados do XV. O associado que paga R$ 25,00 paga meio ingresso na geral, o associado que contribui com R$ 40,00 pagará meio ingresso no Campeonato Paulista em Piracicaba e o contribuinte com R$ 70,00 entra de graça em qualquer parte do campo. A Ponte Preta tem 8.000 associados. O Guarani tem 4.000 associados. O XV de Novembro tem 736. Se Campinas tem 1.900.000 habitantes, em contrapartida tem dois times rivais entre si. Piracicaba tem só o XV de Novembro.
Ninguém pode negar o carisma que o XV de Novembro exerce em qualquer parte do Brasil. Basta o piracicabano ser reconhecido como tal, uma das primeiras perguntas que lhe é feita é: Como está o XV de Novembro?

Dinival Tibério presente a entrevista dá seu testemunho: “Fui a praia, estava com minha neta, brincando na praia, com a camisa do XV, duas moças pararam e ficaram olhando minha neta e eu brincando na praia, até que uma delas aproximou-se e disse-me que morava no Rio de Janeiro, onde há uma torcida organizada do XV de Novembro no Rio de Janeiro, já tinham estado no Estádio Barão de Serra Negra em Piracicaba, assistindo ao jogo do XV de Novembro, queriam a todo custo adquirir a camisa do XV que eu estava usando, sorteei entre as duas e dei a uma delas”. Quando transmitimos jogos do XV de Novembro recebemos e-mail de muitos países querendo adquirir a camisa do XV de Novembro.  É possível associar-se ao XV pela internet, basta entrar no site www.nacaoxv.com.br, você recebe a sua carteirinha de associado em casa, pode pagar as mensalidades pela internet ou por boleto. Quem ficar sócio do XV ganha o livro dos 100 anos do XV.
Em que local o piracicabano pode adquirir a camisa do XV de Novembro?

Um dos locais é a própria loja do XV, sendo que o associado tem desconto.
Qual é a visão da imprensa piracicabana com relação ao XV de Novembro?

A imprensa dá muito apoio.
Quantos diretores integram a direção do XV?

Hoje eu, Adilson, e o Ivan Oriani fazemos parte da diretoria do XV na categoria amador. O presidente do XV é o Rodrigo Boaventura e o Vice-presidente de futebol é o Renato Bonfiglio.
O uniforme do time amador e do quadro principal são iguais?

São idênticos.
Qual é o tempo de treinamento que o atleta tem que se dedicar ao XV?

No Sub-20 o tempo de treinamento é o período integral.
O candidato acha que reúne condições ideais para ser um bom jogador, qual é o procedimento que ele deve ter para ingressar no time?

Primeiro passo é passar por uma avaliação médica. A seguir procurar o supervisor da base, que atualmente é o ex-jogador Carlos Quirino, o Carlão, ele fica no próprio XV, no Departamento Amador. Será preenchida uma ficha, o candidato passará a fazer um treinamento.
Como são vistos os campos de propriedade particular que existem na cidade?

São campos que preservam o gramado, não são cedidos com facilidade. Os times de base já usou muito os campos da Esalq, da Usina Costa Pinto, hoje o que está sendo mais utilizado é o da Usina Modelo e o Monte Alegre, o campo do Tiro de Guerra, e o campo da Área de Lazer. Estamos para fazer uma parceria com o Clube Atlético Piracicabano para o Sub-15, Sub-17 e alguns jogos do Sub-20. Possivelmente no final de janeiro de 2015 deveremos passar a usar esse campo também.
Uma interação com cidades vizinhas pode dar uma dinâmica maior aos treinamentos das categorias de base?

Sem dúvida alguma! Hoje posso salientar que estamos trabalhando exclusivamente com jogadores da cidade. Acho que podemos através do poder público oferecer um lanchinho frugal, composto por uma fruta e algum alimento energético, como pão, suco. Coisas simples. Vejo como necessidade durante as partidas a disponibilidade de uma ambulância que possa atender a necessidade em qualquer partida que esteja em andamento, não há a  necessidade de uma ambulância em cada campo. Isso nos jogos de categoria de base, algumas cidades da região disponibilizam esses recursos.
Há uma imagem de que quando o time de base descobre algum valor expressivo, ele transfere esse jogador a algum time interessado, o motivo principal é angariar fundos para subsistência do time. Isso é fato?

Sem duvida. É o caso do Paulinho, se ele vingar no Flamengo financeiramente para o XV será muito bom o retorno. Principalmente os quatro times grandes, em especial o Santos, trabalham muito as categorias de base. O Santos atualmente está recebendo bons dividendos das categorias de base, ele está revelando grandes atletas.
Piracicaba tem como fazer isso?

Estamos voltados para isso. Estou com essa função dentro do XV. Evitar a evasão de valores em potencial. Valorizar outros da região e trazê-los para o XV.
O atleta permanece no XV ou em suas casas?

Tem alguns juniores que são de outras localidades, uns quatro ou cinco jogadores, que tem o próprio alojamento.
Como é a alimentação dos atletas?

Muito boa. Eu estranhei quando vim ao XV. Tem nutricionista acompanhando. Uma estrutura excelente.
A camisa que neste momento você está usando tem uma história?

É da Seleção Brasileira de Futebol. Ganhei do Gabriel Silva que jogou comigo, fui técnico dele. Ele jogou no Sub-15 e deu a camisa para mim na época. Hoje ele está no Palmeiras e foi para o Lazio (Società Sportiva Lazio) em Roma

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