PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de abril de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

http://www.teleresponde.com.br/







ENTREVISTADO: MARCELO COSTA PIACENTINI


 

Em 26 de novembro de 1958, moradores da Vila Rezende, preocupados com os problemas do bairro, formaram a Sociedade Amigos de Vila Rezende, (SAVIRE) para reivindicar soluções junto aos poderes públicos e atender famílias necessitadas com cestas básicas. A Prefeitura Municipal que na época tinha como Prefeito o Comendador Luciano Guidotti, sempre os atendeu prontamente. Percebeu-se então a necessidade da criação de uma creche e berçário para que as mães, com filhos menores e de baixo poder aquisitivo, pudessem trabalhar e melhorar suas condições de vida ajudando, assim, no orçamento familiar. Depois de muita luta junto às autoridades, conseguiu-se da Prefeitura Municipal a doação de um terreno localizado próximo ao Hospital dos Fornecedores de Cana, com uma área de 4.480 m² , para a construção da sede própria da Savire, que provisoriamente funcionava no Instituto Baronesa de Rezende. Assim que se concretizou tal doação iniciaram os trabalhos preliminares da obra e elaborou-se uma planta para a construção de área de 700 m², onde seria construída a creche cuja capacidade inicial era para atender 100 crianças. Realizaram-se campanhas junto a população, indústrias e comércio do bairro para angariar fundos. Em 1º de agosto de 1977, foi inaugurada a Creche e Berçário “Ada Dedini Ometto” que atua até hoje com crianças na faixa etária de 04 meses à 12/13 anos, com atendimento assistencial e educacional em período integral.

Marcelo Costa Piacentini nasceu a 25 de setembro de 1981, em Piracicaba, filho de Antonio Francisco Piacentini e Vanda Helena Costa Piacentini, que tiveram os filhos: Rodrigo, Elaine e Marcelo. Marcelo é sócio-proprietário em uma empresa situada no centro de Piracicaba tem uma atividade intensa como voluntário na assistência social.

Em quais entidades você presta serviço voluntário?

Sou vice-presidente da Creche Ada Dedini Ometto que abriga 140 crianças na faixa de 04 meses a 13 anos. O presidente é Waldir Mutti. São 12 diretores, todos voluntários, cada um tem sua ocupação profissional fora da creche. As mães deixam essas crianças pela manhã, vão trabalhar e ao final da tarde buscam-nas. Lá essas crianças recebem o café da manhã, almoço e café da tarde. É uma entidade que depende do voluntariado, da colaboração das empresas, é mantida apenas com esses recursos. Estamos implantando algumas atividades como judô para os meninos e ballet para as meninas, aulas de inglês, horta comunitária. Temos uma sala de informática. Temos dois salões que são alugados para festas de casamentos, formaturas.

As crianças têm ensino regular?

As crianças recebem aulas de pedagogos, temos o suporte de psicólogas, assistentes sociais, ao todo são cerca de 35 profissionais que trabalham na creche.

Como vocês conseguem arrecadar recursos para manter essa estrutura?

Além das empresas que colaboram há anos com a creche, dependemos de eventos. Há algum tempo fizemos um jantar italiano, trouxemos Tony Angeli que é considerado hoje o maior interprete da música italiana no Brasil. Foi um sucesso. Ainda recentemente fizemos um chá beneficente, com galinhada, tivemos a presença de cerca de 450 pessoas em nosso salão.

A creche estará representando um país na tradicional Festa das Nações? 

 Estaremos representando a Itália na 31ª Festa das Nações que irá acontecer no período de 14 a 18 de maio no Engenho Central Nesses cinco dias deverão passar pela nossa barraca cerca de 8.000 pessoas. Servimos massas, pratos típicos da Itália, a famosa caçarola italiana, servimos vinho nacional, assim como vinho italiano. Na quarta e quinta feira são festas fechadas, recebemos por noite 400 pessoas que adquirem seus convites antecipadamente, serve-se a vontade, com bebidas a parte. Na sexta, sábado e domingo são festas abertas, a comida é servida por quilo. Todas as noites das sete horas até a uma hora da manhã temos musica italiana ao vivo. Nas sextas, sábados e domingos o público permanece até as duas ou três horas da manhã. Todos os voluntários vestem roupas com as cores da bandeira da Itália. A barraca é decorada com motivos alusivos à Itália. Neste ano com o apoio de alguns empresários, investimos na decoração, acredito que temos algumas surpresas para oferecer ao público. Temos profissionais de todas as áreas que trabalham como voluntários nessas cinco noites.

Você participa de outras ações sociais?

Participo do Projeto Viva Feliz na Terceira Idade, junto com profissionais da saúde, do direito, realizamos palestras sobre prevenções, sobre legislação, é um projeto que envolve cerca de 50 pessoas. O objetivo principal é esclarecer, prevenir eventos que possam afetar a saúde e qualidade de vida do idoso. Visitamos grupos que se reúnem em centros comunitários, salões de igrejas. Na Estação Idoso “José Nassif”, na Paulista fazemos reuniões com seis grupos.

Nesses chás de idosos algumas vezes ocorre jogos, brincadeiras, e um deles, é o bingo, que na região também é conhecido como “tômbola”, com prêmios não em dinheiro, mas em objetos. Como você passou a “cantar” bingo nessas entidades?

Foi em uma dessas visitas a um grupo de idosos, pediram que eu narrasse o bingo. Nunca tinha feito, mas acabei narrando. Logo outro grupo me pediu e assim sem perceber eu passei a ser procurado pelos grupos de terceira idade para narrar bingos beneficentes. Hoje chego a cantar a de 15 a 20 bingos por mês.

Você ganha alguma coisa com isso?

Não ganho nada. Nunca ganhei um centavo com esse trabalho. Em quatro anos que comecei a ser convidado a cantar bingos em entidades assistenciais, já cheguei a ir a um a tarde e outro a noite. São aproximadamente oito horas em pé. São muitas entidades que necessitam de recursos, tem dificuldade em conseguir prendas para o sorteio, todos que trabalham são voluntários. Já cantei bingo para 1200 pessoas no salão ao lado da Igreja São Pedro, na Vila Rezende, toda a arrecadação foi em benefício do Ceacan Centro de Apoio a Prevenção Ao Câncer, Doenças Degenerativas e Deficiências Socias Multiníveis e já cantei bingo para cinco pessoas. Não sei falar de valores que uma entidade arrecada, nunca tive essa preocupação. Fiquei muito emocionado quando fui cantar um bingo no Lar dos Velhinhos e quase 600 pessoas me aplaudiram em pé.

Existe alguma técnica para cantar bingo?

Acho que a única técnica é fazer com amor. Quando subo no palco penso no que estou fazendo e para quem estou fazendo. Observo a faixa etária, se for mais de idosos preciso fazer de forma mais pausada, se for composta por jovens, dou uma acelerada. Quando chego, não importa a quantidade de pessoas, cumprimento cada pessoa, individualmente. Não cheguei a cumprimentar os 1200 presentes naquele bingo. Chego de três a quatro horas antes de começar o bingo e cumprimento a todos, no ultimo foram 400 pessoas. Faço isso com carinho, de coração, muitas vezes deixo a minha família sábado á tarde, a noite, aos domingos, algumas vezes a minha família me acompanha.

Quantas pessoas participam da organização do bingo?

Hoje são aproximadamente 20 pessoas. Todos como voluntários. Todo resultado apurado em valores é destinado à entidade. Isso ocorre também na Festa das Nações, onde hoje temos perto de 120 voluntários, só na nossa barraca.

Esse projeto “Viva Feliz na Terceira Idade” foi criado por quem?

Juntos, a Eliana Pacheco e eu criamos esse projeto. Temos o “Espaço Saúde”, que é um dia em um bairro pré-determinado em que reunimos profissionais da área da saúde e fazemos um dia voltado à população daquele bairro. Esse trabalho ajudou muitos idosos a sair da depressão, conduzindo-os a participar de grupos da terceira idade. Criamos grupos de terceira idade em bairros. O objetivo é reunir pessoas da terceira idade e que estão sem nenhuma perspectiva a se juntarem a um grupo. Mostrar que a vida ainda é interessante para eles. Mostrar que a vida vale a pena.

Você já pensou em participar de alguma atividade política?

Já recebi convites, mas acho que se entrasse na área política minhas limitações seriam maiores, as cobranças seriam maiores. Hoje é muito mais fácil encarar uma pessoa e dizer-lhe: “-Olha, eu infelizmente não consigo lhe ajudar neste momento”, ela irá entender, eu ajudo sem nenhuma obrigação.  A partir do momento em que eu ocupar um cargo político a pressão é enorme para que atenda a necessidade daquela pessoa. Eu me sinto feliz em realizar esse trabalho social, faz bem até para minha saúde. Muitas vezes chego cansado em casa, de madrugada, para no dia seguinte estar trabalhando normalmente. Parece que no dia seguinte minha energia volta ao normal. Sinto-me feliz em ver uma criança feliz, em poder auxiliar um idoso. O que me gratifica é um elogio, um abraço, um “muito obrigado”.

Como empresário como você vê a iniciativa social de uma empresa?

Há muitos empresários que assumem essa responsabilidade social, abraçam uma causa. Assim como tem empresas que não tem o mínimo interesse em olhar o lado social. Não é só uma questão financeira, às vezes a simples presença da pessoa nos auxiliando na nossa barraca, visitando nossa entidade, isso nos fortalece. O voluntário não tem que ser convocado, ele tem que se oferecer. Trabalhei ensinando idosos a usarem celulares, a entrar na internet. Fazia isso como voluntário.

Qual é a imagem que os idosos fazem de você e do seu trabalho junto a eles?

Eles brincam dizendo que sou “um jovem na terceira idade”. Eu participo das viagens que eles fazem, de almoços, jantares que realizam. Vou aos bailes, danço. Meu divertimento é entre os idosos. E junto a eles me sinto cada dia mais jovem, a energia que eles têm a sabedoria, eu não consigo acompanhar. Eu me inspiro nos meus pais, eles que me deram essa educação. É uma satisfação ouvir dos meus pais quando dizem que têm orgulho de ter um filho como eu. Isso me enriquece. O projeto “Viva Feliz” com o apoio da Ótica Piacentini está fazendo uma mega campanha de doação de armação. É voltado para as pessoas que tem óculos antigos guardado em casa, não usa mais, incentivamos a doarem na Rua Governador Pedro de Toledo, 896. Temos uma parceria com os laboratórios que fazem a doação das lentes. Reformamos as armações, colocamos as lentes adequadas conforme receita médica e doamos as pessoas que necessitam e não tem condições de adquirir. Em 2013 doamos cerca de 230 óculos. Nosso objetivo em 2014 é atingir 500 óculos doados. Vemos na periferia, crianças, idosos, que passaram por uma consulta, uns até com sete graus de miopia, e não tem como adquirir óculos. A própria prefeitura tem um projeto que todo ano realiza um mutirão. Só que é muita gente para ser atendida. Um caso que marcou muito foi uma menina, cadeirante, mora em situação de risco, doamos óculos que necessitava. Em paralelo conseguimos uma pessoa que ministrasse um curso de informática para ela, conseguimos reformar a casa dela. Envolvemos-nos completamente, não ficamos apenas na doação dos óculos. Achamos importante que outras óticas participem também desse projeto.

De que forma os jovens podem participar dessas atitudes solidárias?

Existem muitas formas de participação, uma delas, que podemos fazer é o trote solidário, onde o calouro ao receber o trote quando ingressa no ensino superior, ele faça desse trote uma ação social. Algumas cidades já realizaram esse tipo de trabalho. Independente de profissão, religião, classe social, é gostoso poder ajudar outras pessoas, afinal somos todos iguais. Tempo existe, se a pessoa puder fazer um pouco que seja, para alguém mais próximo, da própria família, um amigo, teremos um mundo totalmente diferente. Hoje cuido de idosos, de crianças, da minha família, da minha casa, da minha empresa. Minha família ajuda, participa de alguns eventos. Temos que ter o apoio da família para continuar fazendo esse trabalho.
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