PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de fevereiro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 

                                                            Plínio e sua esposa Nazareth

ENTREVISTADO: PLINIO MONTAGNER

 

Plinio Montagner nasceu a 9 de novembro de 1937 na cidade de Porto Ferreira, filho de Pedro Montanheiro e Anunciata Muccillo  ambos naturais de Pirassununga. O casal teve ainda uma filha primogênita Hilda, que reside em São Paulo. Pedro Montanheiro ( Que mais tarde passou a se chamar Montagner) era desde os 21 anos de idade ferroviário da Companhia Paulista de Estradas de Ferro., trabalhava na via permanente, que era a manutenção da via férrea. A família sempre residiu em casas de propriedade da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, situadas ao lado das respectivas estações ferroviárias de cada localidade. A cada promoção que Pedro recebia mudava para outras localidades, residindo em casas sempre junto ao leito da ferrovia.

Residir por tantos anos convivendo com os trens deixou muitas lembranças?

Até hoje não consigo deixar de assistir a algum filme em que tenha algum episódio envolvendo um trem. Gosto muito de trem. É uma paixão. Na minha infância, adolescência sempre esteve presente a locomotiva a vapor, a chamada “Maria Fumaça”. Eu viajava das estações onde minha família residia até as cidades onde fiz o curso primário e ginasial.
Em que estabelecimento de ensino o senhor fez o curso primário?

Fiz no Instituto de Educação Pirassununga, minha primeira professora foi Dona Maria Antonia. em uma localidade próxima a Santa Cruz das Palmeiras, chamada de Santa Viridiana. Lá fiz o primeiro ano, depois fomos para um lugarejo chamado Baguaçu, foi onde passei a minha infância e adolescência, conservo fotografias da época, e sempre que posso visito esse local. A estação de trem ainda está lá, abandonada.
O pai do senhor trabalhava na conservação da via permanente, o que significa via permanente?       

É a conservação dos trilhos, dormentes, curvas, onde o trem balançava mais ele sinalizava, o trecho onde meu pai trabalhava as rodas pareciam deslizar por processo de magnetismo, de tão perfeito que era. Meu pai era perfeccionista.
Todos que trabalharam na Companhia Paulista de Estradas de Ferro sentiam um imenso orgulho da empresa?

Tinham sim. O salário era compensador, a alimentação e assistência médica eram feita por vagões apropriados que paravam em frente a casa dos ferroviários. Vinham quatro vagões, um com tecido, outro com perfumarias, material de limpeza, como se fosse um shopping dobre rodas. Por um período de duas a três horas as famílias faziam suas compras, era feita a nota fiscal e depois descontava no holerite.
Como era feita a assistência médica?

Quando alguém ficava doente o chefe da estação telegrafava à cidade mais próxima, vinha uma locomotiva com um vagão, trazendo um médico e um enfermeiro. Atendia no local ou levava o paciente à cidade para tratamento. A ferrovia Sorocabana também era assim. Em Santa Viridiana existia a Companhia Paulista e o tronco da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.
O ginásio o senhor estudou em Pirassununga?

Fiz o ginásio no Instituto de Educação de Pirassununga, lembro-me dos professores Osvaldo Fonseca, Orlando dos Santos, Arcídio Giacomelli, Maria Criado, Cenira Novaes Braga, José Romano, Antonio Lodi, Gaspar Fiori, Edirez Perez, isso foi de 1949 a 1954. Meu pai foi removido para Araras, fiz parte do curso científico, decidi optar em fazer o Curso Normal na Escola Dr. Cesário Coimbra, que era o curso de formação de professores primários. Tive aulas com Lourdes Chaibb, Professor Pimenta. Em 1956 me formei. Nesse ano também fiz o Tiro de Guerra no TG 187, tenho muitas saudades do sargento Odair Monteiro dos Santos, com quem mantenho contato por telefone regularmente.
Após a formatura onde o senhor foi trabalhar?

Meu primeiro emprego foi em Araras em um escritório de contabilidade de propriedade do Sr. Wilson Finardi. Em seguida fui trabalhar no escritório da Usina de Açúcar e Álcool Palmeiras, cujos proprietários na época era Francisco Graziano. Em seguida voltei à Pirassununga, para fazer um curso de aperfeiçoamento de professores de ensino primário. Uando eu estava residindo em Loreto, uma cidade próxima a Araras, um colega, Pedro Pessoto Filho, em uma aula de sociologia, ele perguntou-me se em Loreto havia curso de alfabetização de adultos? Por que você não abre um curso para dar aulas lá? Com isso você irá ganhar pontos. Foi o que fiz, meu pai e uns fazendeiros me ajudaram a preparar a escolinha, que era uma sala composta por duas janelas e uma porta. O prefeito ajudou a colocar energia elétrica. Durante três anos dei aulas lá. Das sete às nove horas da noite. Muitos japoneses tiveram aulas lá. Era um ano de curso. Lecionei dos 16 aos 18 anos. 
Quantos alunos existiam nessa escola?

De 25 a 30 alunos. Alfabetizei quase uma centena de pessoas, foi uma coisa boa da minha vida. Era trabalho voluntário, não remunerado. Acumulei um grande número de pontos, que me colocaram bem a frete de muitos concorrentes ao concurso de ingresso ao magistério primário. Escolhi uma escola na cidade de Tupi Paulista. Lá dei aula no Grupo Escolar do Bairro de São Bento, era na zona rural, íamos de bicicleta, alugávamos automóvel era terra de areia, distante uns oito quilômetros. Lá permaneci por quatro anos. Fui removido para a cidade de Tupi Paulista, para a Escola de Vila Camargo. Lá fui convidado por um supervisor de ensino, na época era denominado inspetor escolar, para trabalhar na Delegacia Elementar de Ensino que ficava em Adamantina. Permaneci por dois anos lá. Por concurso de remoção fui removido para São Paulo.
Em que local de São Paulo o senhor foi lecionar?

Fiquei dois anos e meio em São Paulo dando aulas em uma escola na Vila Nilo. Eu morava em Santana, na Rua Voluntários da Pátria, 120. Fiquei hospedado na casa da minha irmã. Ia lecionar de ônibus. Era na época em que ainda se distribuía leite na porta das casas. Uma colega que também lecionava na Vila Nilo me convidou para fazer um cursinho na USP, para prestar vestibular no curso de pedagogia. A USP já era na Cidade Universitária. O cursinho foi na Rua Albuquerque Lins. Fiz um semestre de cursinho. Não fui aprovado. Voltei para a casa da minha irmã, lá encontrei a filha de uns amigos de meus pais, lá de Porto Ferreira. Ela me disse que também não havia sido aprovada, mas que no dia seguinte seria encerrada em Rio Claro as inscrições para a segunda chamada de pedagogia. Fui até Rio Claro, fui aprovado, e lá que conheci minha esposa Nazareth.
Em que ano o senhor chegou em Rio Claro?

Foi em abril de 1964. Entrei na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro, mais tarde passou a pertencer a Unicamp e em seguida a Unesp. Passei a prestar serviço a universidade e ao mesmo tempo estudava, era o chamado comissionamento. Após quatro anos pedi exoneração do magistério primário. Comecei a dar aulas nas matérias pedagógicas em Pirassununga, onde voltei.
Como o senhor conheceu sua esposa?

Foi em uma brincadeirinha, em um teatrinho. Uma festinha promovida pelo Diretório Acadêmico. Era na época das famosas gincanas. Foi assim que conheci minha esposa Maria Nazareth Stolf Montagner que entre outros estabelecimentos de ensino lecionou na Escola de Engenharia de Piracicaba e na Unimep. Temos duas filhas, Renata e Ana Paula. Tres netos: Luiz Henrique, Rafael e Pedro.
O senhor continuou lecionando?

Dei aulas no Curso Normal em Pirassununga, formava professores. Dei aulas também no curso colegial em Pirassununga. Eu não era mais professor efetivo. Houve uma revolução no ensino, muitas mudanças, o ensino normal deixou de existir. Não havendo mais alunos ninguém se interessava em ser professor. O salário era muito baixo. Eu já era casado, vim a Piracicaba e observei que havia muita falta de professores na área de matemática, de letras. Comecei a estudar Letras na Unimep. Como eu tinha especialização, com registro no MEC em matemática e desenho, comecei a dar aulas nessas matérias na Escola Olivia Bianco onde permaneci por sete anos. A professora Janete Stolf assumiu a direção da escola, passei a ser assistente de direção. Houve uma época em que fiquei como diretor designado por cinco anos na Escola Olivia Bianco. Eu me formei em letras, fui dar aulas como professor efetivo de português na Usina Costa Pinto. O diretor era Valter Vitti. Depois me removi para as escolas Benedito Ferreira da Costa, Alcides Guidetti Zagatto, Moraes Barros e ultimamente me removi para a Escola Estadual Dr. Jorge Coury, onde me aposentei há uns 15 anos.
O senhor atuou em outra área além do ensino?

Nunca dei aula durante os três períodos, em um dos períodos eu não lecionava. Eu abri um escritório imobiliário para reforçar o orçamento. Nessa atividade no ramo imobiliário tive um bom aprendizado. Trabalhei por 25 anos nessa área. Montei um escritório na Rua Moraes Barros, passamos para a Rua Benjamin Constant fui para a Rua Ipiranga próximo ao SESC e depois na Rua Madre Cecília.
A expectativa de fechamento de uma transação imobiliária eleva o nível de tensão?

No inicio isso pode ocorrer. Com o passar do tempo passa a ser um fato rotineiro. Como corretor de imóveis sempre estive a disposição do cliente, em qualquer horário, inclusive fins de semanas. O corretor não pode perder o foco do seu negócio, é importante cuidar das condições em que o pretenso comprador irá ser recebido.
O senhor é formado em Direito também?

Sou formado em Pedagogia na Unesp em Rio Claro, Letras na Unimep, Direito na Unimep e faltou um mês para concluir o curso de Educação Física.
Qual é a visão do senhor sobre Piracicaba?

Acredito que é uma excelente cidade para se viver. Temos muitos recursos em todas as áreas. Temos muitas escolas, há muitos empregos disponíveis, só não trabalha quem não tem nenhuma qualificação.
O senhor tem noção de quantos artigos de sua autoria já foram publicados em jornais?

Creio que foram mais de seiscentos artigos. Publico inclusive toda semana em Araras.
O tópico dos seus artigos qual é?

Filosofia, o cotidiano. Um fato. Comportamento.
O senhor tem algum livro publicado?

O primeiro passo é mais do que a metade de todos os caminhos a serem percorridos.
O senhor pratica algum esporte?

Joguei futebol, como lateral direito. Joguei no Loreto Futebol Clube de Araras. Em Piracicaba só joguei no clube dos professores, o CPP.
Como o senhor vê a profissão de professor?

Professor universitário é uma coisa, professor de ensino público é outra.
Há uma diferenciação?

Claro! Quando me perguntam se sou professor logo querem saber se dou aula na Esalq, na Unicamp, na Unimep. Ninguém se lembra de perguntar se sou professor primário, em que escola dou aulas. Quando você diz que é professor primário, que ganha R$ 10,00 por aula. Minha cunhada mandou fazer um pequeno conserto na sua casa, coisa de minutos, pagou R$ 80,00.  Um professor precisa dar três aulas para ganhar o mesmo que uma manicure ganha em menos de uma hora. O professor que leciona hoje ou é por ser rico ou por necessidade, por não ter o que fazer. Há ainda uns poucos que lecionam por vocação, exercem um sacerdócio. As escolas privadas ainda dão mais suporte ao professor.
Como é a relação do aluno com o professor?

O professor tem que ser artista, meio gênio. Se você entrar em uma sala de aula sem competência, sem didática básica, o professor tem que saber muito bem a metodologia da disciplina que irá ensinar. Tem que ter paciência, calma, tolerância ao máximo. Ser divertido, brincar com os alunos.
O que o senhor acha do uso de telefone celular em sala de aula?

Isso é uma aberração! Se eu fosse lecionar nos dias atuais não posso medir as conseqüências diante de fatos como esse.
Muitos pais incentivam os filhos a usarem o celular, isso é fruto de uma geração que no passado foi muito reprimida, com a contracultura dos Beatniks, Woodstock, criou uma liberação sem limites?

Isso foi o maior desastre que ocorreu com a juventude. A anarquia passou a ser o correto. Isso reflete nas próprias casas, os filhos é que dão as ordens aos pais. Uma completa inversão de valores. Isso ocorre inclusive com crianças, elas são donas da situação. Exploram a fraqueza dos pais.
O consumismo gerou a necessidade de maior renda familiar, isso propicia a ausência dos pais, criando um vazio que é preenchido em troca de bens materiais?

Além de dar bens materiais para preencher a falta de carinho, cria-se um grave problema, propicia a possibilidade de que um filho se envolva em más companhias.
É o caso de ter um padrão de vida mais modesto, mas garantir um futuro melhor para os filhos?

Infelizmente há falta de educação na acepção da palavra.
Em 1970 o Brasil tinha 90 milhões de habitantes, em 2013 segundo o IBGE a população ultrapassa 200 milhões de habitantes. Houve uma explosão demográfica.

Sem acompanhamento educacional. Outros países também cresceram, os Estados Unidos cresceu só que a educação acompanhou o crescimento. O serviço público evoluiu conforme o crescimento da população. A mídia tem uma grande participação nesse processo.
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