PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 09 de maço de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: BRAHMA KUMARIS – JOANA D’ARC FILETTO

A Organização Brahma Kumaris desde o seu princípio trabalha na restauração dos valores humanos individuais e coletivos. Atualmente conta com 7000 escolas em 130 países. A sede principal fica na Índia, a sede em Londres representa o Ocidente, há uma sede em Nova Iorque para as Américas. No Brasil desenvolve suas atividades desde 1979, sendo a sede nacional em São Paulo. Em Piracicaba a coordenadora de um grupo de professores é Joana D`Arc Filetto, natural de Franca, onde nasceu a 25 de outubro de 1960. Seus pais são Plácido Filetto e Antonia de Oliveira Filetto, professores, tiveram os filhos: Joana, Isabel Cristina, Sandra e Plácido Henrique. Joana estudou até a oitava série no Colégio Jesus Maria José em Franca. A seguir fez o Curso Técnico em Enfermagem. Em 1980 iniciou o curso de Psicologia na PUC em Campinas, formando-se em 1984. Nesse período morou em um pensionato.
A senhora iniciou suas atividades como psicóloga em que localidade?
Foi em Campinas mesmo, atuando sempre na área clínica e educacional. Tinha meu consultório e trabalhava em uma instituição infantil na vizinha cidade de Valinhos. Permaneci trabalhando em Campinas até 2005. Hoje trabalho em Piracicaba em uma instituição infantil que abriga crianças em situação de risco e tenho meu consultório.

Como a senhora conheceu a Brahma Kumaris?


Foi algo bastante interessante, no início do ano de 1990 eu estava nessa busca para o entendimento mais profundo de quem eu sou, pesquisando, lendo, entrei em contato com o nome Raja Yoga. Em agosto de 1991 iniciei o curso de Meditação Raja Yoga em Campinas onde existe uma escola como a que hoje temos em Piracicaba.

O que é a Brahma Kumaris?

É uma organização não-governamental cuja sede mundial fica na Índia, no Estado do Rajastão, em um vilarejo chamado Monte Abu. A Brahma Kumaris iniciou os trabalhos no aspecto de resgatar os valores humanos em 1936. Na Índia ela é conhecida como Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris, seu fundador é Prajapita Brahma por isso o nome Brahma Kumaris, no início havia muitas mulheres que participavam das atividades eram conhecidas como Filhas de Brahma. A palavra Kumaris significa filhas. Desde 1937 a Brahma Kumaris desenvolve projetos, atividades, com o intuito de despertar essa consciência para os valores humanos que atualmente estão invertidos. A encontrar a paz, a felicidade, o amor. O curso que nós temos de meditação Raja Yoga visa essa consciência, o entendimento de quem eu sou como funciono, qual é a minha dinâmica interna, para resgatar esses aspectos positivos do ser. A meditação é a ferramenta que nós usamos para fortalecer esses aspectos, esses valores e qualidades do ser humano.

Qual era a formação do fundador Prajapita Brahma ?


Ele era um joalheiro. Na Índia quando as pessoas atingem a idade de 60 anos aposentam-se, vão viver em ashram, locais onde se dedicam à espiritualidade. Foi o que aconteceu com Prajapita Brahma, ele passou a visualizar um mundo melhor, uma visão de uma grande transformação que estaria acontecendo no mundo. Ele aprofundou-se querendo saber o que era isso. Faz parte da cultura indiana, ter alguém que representa essa espiritualidade, que são os gurus.

É uma religião?

A Brama Kumaris não é considerada uma religião, mas se eu pegar o sentido da palavra religião da mesma forma que digo “faço isso religiosamente”, ou seja, com uma regularidade, uma freqüência, ai poderá ser assim chamada. Temos aulas todos os dias, praticamos a meditação todos os dias em horários específicos. Não é considerada uma entidade religiosa no sentido de religiosidade praticada por templos e igrejas. O fundador não é um religioso, não é guru, é alguém que passou seus ensinamentos, nós desenvolvemos essa consciência, a palavra yoga significa lembrança, então é “eu me lembrar de quem eu sou para poder me conectar com uma fonte maior que podemos chamar de “Sol Espiritual”, “Ser Supremo”, “Deus”. Temos um quadro com um ponto de luz que é essa representação. Eu sou esse ponto de luz, esse ser consciente, e Deus, essa alma suprema também é. Só que nós somos seres separados, individuais.

A Instituição acredita em Deus?

Sim. O que nós entendemos é que eu, você, enquanto esse ser espiritual, esse ser é uma energia metafísica, que não conseguimos ver, mas podemos sentir, perceber. É essa energia que pensa, sente. Eu sou eterna. A alma, esse ser consciente que pode ser chamado de “self” (si mesmo), pode ser chamado de “eu interior”, é uma energia.

Qual é a diferença entre alma e espírito?

Não colocamos como diferentes, mas sim como sinônimos. Cada um de nós é essa energia viva, um ser espiritual, um ser consciente. Se não existisse esse ser em meu corpo não estaríamos conversando agora. O corpo é simplesmente um veículo através do qual posso me expressar, eu como sendo esse ser. Então vejo através dos olhos, ouço através dos ouvidos, uso minhas mãos para realizar alguma tarefa. Essa energia fora do corpo o torna sem vida.

Qual é a importância do olhar?


Os olhos são como a janela da alma. O que estou sentindo, experimentando internamente eu expresso através do olhar. Se tenho a consciência de que sou esse ser pacífico, amoroso, esse sentimento é transmitido principalmente através dos olhos. A meditação que fazemos é com os olhos abertos.

Há um fundamento científico?


Todo esse conhecimento e experiência que nós temos hoje são percebidos que há avanços na ciência e no estudo dessa questão do pensamento, do aspecto dessa energia, a física quântica está bem avançada nesse processo. No inicio, quando se começou a falar que não sou o corpo, mas esse ser espiritual foi muito pela fé. Mesmo quando entrei em contato com o Raja Yoga senti que foi muito mais pela fé. Eu queria entender quem eu era não conseguia aceitar que o ser humano é ao mesmo tempo bom e ruim, ao mesmo tempo positivo e negativo. A essência é positiva.

Isso significa que o indivíduo desenvolve seu lado ruim?

Pelo fato dele se distanciar dessa consciência, de quem ele é, esse individuo esquece que é paz, amor, verdade. Ele passa a buscar isso fora dele, desenvolvendo o que é chamado de negatividade. Pelo fato da paz ter sido enfraquecida é desenvolvida a raiva. Não é a raiva, o medo que existem. É a falta de base, do amor, que o leva a experimentar essas negatividades, mas ele não é essa fraqueza, essa negatividade. A ausência de luz é a escuridão. Ao acender a luz ela é dissipada. Se a essência de cada um for resgatada deixa-se de experimentar a violência, a tristeza. A essência é positiva, se eu for ao encontro do meu estado original as negatividades enfraquecem. Eu não estou a busca de tristeza, raiva, pelo contrário. E por que fazemos isso? Porque essa é a nossa natureza.

Em todas as camadas sociais a humanidade passa por muitas infelicidades, onde está a raiz da questão?

A palavra espiritualidade está vinculada ao espiritual, eu sou o espírito, sou a alma. Tudo que se refere a esse ser a alma é espiritual, ele é eterno, imortal, amoroso. A alma é eterna, é uma energia. Não é criada e nem destruída, sempre irá existir.

E quando ocorre o óbito de um ser humano?


O Ser espiritual deixa aquele corpo, aquele veículo, irá dar vida em outro corpo. Sempre na forma humana, pode dar vida à um corpo masculino ou feminino.

Nesse aspecto há alguma semelhança com o espiritismo?

Os espíritas também falam disso, essa questão de nascer e renascer.

Vocês têm algum embasamento para crer nesses fatos?

Entendemos que existe uma lei espiritual, que é a lei do karma. Às vezes pessoas ou crianças trazem uma bagagem, a pergunta é porque isso? Entendemos que vem de experiências e vivências anteriores que essa alma teve e que nesse nascimento expressa com mais facilidade. Pode ser facilidade com línguas, música, dança.

Um espírito que realiza o mal ao renascer irá sofrer as conseqüências da sua vida anterior?

A palavra karma significa ação. De acordo com a Lei de Newton A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade. As ações positivas que pratico trarão retorno positivo. As ações negativas trarão retorno negativo. Em sua essência toda alma é positiva. O entendimento dessa lei faz com que possamos entender os porquês. Por que estou aqui? Nada acontece por acaso e eu sou responsável. Não é o outro que é responsável pelo que estou sentindo. Essa lei nos coloca na situação: “Eu sou responsável pelo que estou experimentando hoje”. O que estou experimentando hoje é fruto do meu passado recente, passado mais remoto, passado de outras vidas. O que experimento hoje é fruto do nascimento atual assim como de nascimentos anteriores.

Isso explica a empatia ou antipatia imediata ao conhecer alguma pessoa?

Em algum momento da minha existência eu já tive contato com essa alma, em outro papel, outro corpo, isso ocorre também com lugares.

Quando foi fundada a Brahma Kumaris em Piracicaba?


Este ano está completando 32 anos, quem trouxe para Piracicaba foi Ida Meirelles, ela conheceu a Brahma Kumaris em São Paulo, iniciou em sua casa, formando grupos de pessoas interessadas.

O ciclo de nascimento e renascimento é infinito?


É eterno.

Qual é o objetivo?

Como ser eterno a alma originalmente não residia aqui no mundo físico, residia no que chamamos de mundo das almas que pode ser chamado de céu, nirvana, é o local de residência das almas, esses minúsculos pontos de luz. É um lugar de silêncio e paz. Não existe matéria para que o som aconteça. Ali a alma permanece em estado de latência, como uma semente que precisa ser plantada na terra para surgir a árvore e possa colher o fruto que você deseja. A alma, esse ser vivo, vem para o mundo físico e entra em um corpo. O mundo físico que conhecemos a Terra, todos os planetas, a natureza, é como se fosse um imenso palco onde cada um de nós somos os atores. Saímos desse lar e viemos para esse grande palco para desempenhar os nossos papéis. Estamos desempenhando-os nascimento após nascimento. Vamos criando contas positivas e negativas. Para voltar tenho que retornar da forma que vim, sem nenhuma negatividade. Imagine crianças brincando na rua, o pai está para chegar a mãe diz: “-Vamos tomar banho rápido, o pai está chegando e está na hora do jantar!”. As almas saíram do mundo das almas, saíram da companhia do pai e da mãe, que é a alma suprema, e vieram para cá. Tanto que a população cresce e as almas não retornam para o lar, permanecem no plano físico. Vai ter o momento da transformação no universo, no planeta e nos próprios seres humanos, já está ocorrendo essa transformação. As almas irão retornar para o mundo das almas. Se eu promover essa transformação interna de uma maneira consciente retorno sem experimentar sofrimento, estou consciente e me empenhando para me transformar. Sei que não sou um ser triste, irei me empenhar para resgatar a felicidade em mim. Esse é o nosso objetivo aqui, promover a autotransformação através do autoconhecimento.

Como é vista a afirmação de que nascemos com pecado original?

Entendemos que pecado são as nossas fraquezas, nossas negatividades. O nosso estado original são os aspectos positivos. O açúcar é doce, e será assim sempre. Se você fizer uma limonada ele irá agregar a doçura, o açúcar sempre será doce. O sal sempre é salgado. A alma é eternamente esse ser bom, generoso, pacífico, cooperativo. Isso é natural. A alma vem plena do mundo das almas, no contato com a matéria ela vai usando a sua energia, como uma bateria irá gastando energia, chega um momento em que ela enfraquece, é quando surgem as negatividades, as fraquezas. Fui usando a minha energia ao longo da minha existência desde quando estou no mundo físico, eu já existia como ponto de luz. À medida que a consciência de alma é enfraquecida passo a desenvolver a consciência corpórea. Identifico-me com os papéis que represento com o que faço o que tenho. Aí começo a desenvolver as negatividades como apego, ganância, arrogância, isso que nós entendemos como sendo pecado. Se experimento tristeza é um pecado. Se eu dou tristeza também é um pecado. A alma originalmente não é assim.

Nós temos que nos dar alegrias?

A minha natureza é essa, assim como o açúcar é doce, eu alma sou pacifica, amorosa, feliz, sou a verdade, sou humilde, pura. As negatividades foram adquiridas com o passar do tempo, nesse nosso processo de nascer e renascer. Imagine um diamante, com sua crosta que tem que ser removida para conhecer o diamante e seu valor. Esse ser espiritual, a alma, é o diamante, só que em volta dele tem toda essa crosta de negatividade. Com a ajuda do Pai Supremo é preciso remover essa crosta para o diamante aparecer, esse Ser de luz, essa consciência de que eu sou essa essência e não o que está ao meu redor, que fui acumulando, eu não sou aquela negatividade. Posso estar triste, estar com raiva, mas não sou isso.

No momento a depressão parecer acometer um número significativo de pessoas, como a senhora vê essa situação?


Entendo que a depressão vem de muitas perdas: de pessoas queridas, trabalho, da própria identidade. A primeira perda que a alma sofre é a identidade.

A senhora já esteve na Índia?


Já fui por várias vezes, geralmente permaneço de 20 a 25 dias. Lá temos uma rotina diária: pela manhã a meditação inicial, em seguida aulas. Participamos de workshops relacionados a aspectos do conhecimento espiritual. Participamos de reuniões relacionadas a aspectos da própria organização, principalmente por fazer parte do papel que tenho aqui em Piracicaba. Também participamos de atividades recreativas, programas culturais.

Qual é o idioma usado nessas ocasiões?

É o híndi, que é traduzido para o inglês e do inglês traduzido para outras nacionalidades das pessoas presentes.

Os homens ou as mulheres são predominantes no Brahma Kumaris?


Existem mais mulheres. Famílias, crianças, também freqüentam só que estas tem uma programação especial voltada para elas. A partir de seis a sete anos, se tiver uma noção de leitura a criança pode fazer o curso, idêntico ao dos adultos só que com outra didática.

Qual é a duração das atividades?

Pela manhã de uma hora e quinze minutos a uma hora e trinta minutos, a parir das seis horas da manhã. Para freqüentar essas aulas matinais é necessário fazer o curso introdutório, a meditação Raja Yoga, com duração de oito aulas. São duas aulas por semana à noite, ou então três sábados. Se a pessoa quiser continuar tem as aulas de espiritualidade prática, que tem o objetivo da pessoa ter a experiência da meditação. A meditação Raja Yoga significa criar pensamentos positivos, elevados, relacionados ao ser para conectar com a Alma Suprema. As aulas de espiritualidade prática são duas vezes por semana á noite na quarta feira, a partir das 19 horas e no sábado a tarde, às 16 horas com duração de uma hora e meia cada aula. Se a pessoa quiser continuar se aprofundando existe um curso intermediário que irá preparar o aluno para as aulas matinais ministradas todos os dias.

Esses cursos são pagos?

Não. A Brahma Kumaris é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos. As atividades são mantidas através das contribuições espontâneas dos alunos que a freqüentam.

São muitos os freqüentadores da Brahma Kumaris em Piracicaba?

Entendemos que não é todo mundo que talvez esteja em um processo de mudança. Posso gostar achar bom, experimentar o benefício de vir às palestras. Freqüentar um workshop, traz um conhecimento, um refrescamento. Empenhar em uma mudança profunda são poucos que o fazem. Implicam em mudanças de hábitos, padrões, pensamentos, crenças, é despojar de tudo que você acreditou que era e que de fato você não é. Envolve a questão de basear sua identidade em nome, status, cultura, nacionalidade. Estou desempenhando um papel, sou o ator, não sou o papel e nem dono do teatro. Terminou a peça volto para casa. É essa consciência que precisa não só ser experimentada, mas desenvolvida. Apesar da Brahma Kumaris estar em Piracicaba há mais de trinta anos muitas pessoas não a conhecem. No dia 30 de abril de 2013 iremos receber a visita de uma indiana que atualmente reside na África, será no período da noite, a entrada é franca. Quando foi a celebração dos 30 anos recebemos a visita da coordenadora da Brahma Kumaris na América com a presença de umas 1.300 pessoas.

A organização tem participação ativa junto a comunidade?

Além das atividades regulares, temos trabalhos feitos em presídio feminino e trabalhos na Fundação Casa. No ano passado iniciamos a campanha “Escolha a Calma”, eu faço as escolhas, posso escolher ficar irritado ou ser calmo, temos que usar a nossa capacidade de racionar para fazer as escolhas corretas com base nesse entendimento do meu estado original, só sabendo disso é que posso fazer a minha escolha. Houve uma participação muito grande em conjunto com outras entidades.

É interessante salientar que não é uma postura passiva ou amorfa.

Você não reprime nada. Se eu ficar com raiva não irei reprimi-la e sim ter o entendimento de quem eu sou. A doença não é natural, todo ser é saudável, poderá tornar-se doente por descuido, por uma questão karmica, o retorno de alguma coisa que não cuidei. O estado original do nosso corpo não é a doença, seu funcionamento é para ser saudável.

A senhora é vegetariana?

A dieta vegetariana é o principio da não violência, se eu entendo esse princípio não consumo nenhum tipo de carne animal.


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