PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23 de fevereiro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: MARIA RUTH BELLANGA DE OLIVEIRA

Mombuca limita-se com os municípios de Rafard, Capivari, Rio das Pedras e Tietê, uma localização estratégica com relação a vias de acesso. Para administrar a cidade foi eleita a prefeita Maria Ruth Bellanga de Oliveira. Muito popular a prefeita Ruth como é conhecida no município, terá quatro anos de desafios pela frente. Seja uma metrópole ou uma cidade de pequeno porte os problemas existem em qualquer localidade. Mombuca tem aspectos históricos interessantes, pontos turísticos a serem explorados. Crescer com qualidade de vida para seus habitantes ou trazer para o município empresas que possam gerar renda e também muitos problemas, são decisões que determinam o futuro de uma cidade. Cidades menores têm procurado atrair indústrias consideradas “limpas”, geralmente desenvolvendo tecnologia de ponta, no setor de informática, eletrônica. Para isso criam escolas, formam mão de obra qualificada, “importam” profissionais de alto nível. A placidez da cidade é favorável a esse tipo de iniciativa.
Prefeita Maria Ruth em que cidade a senhora nasceu?
Sou mombucana, nasci a 22 de agosto de 1958, filha do lavrador Rubens Bellanga e da dona de casa Iracema Doriguello Bellanga, que sempre ajudei meu pai na lavoura. Somos cinco filhos: Claudio, Solange, Ruth, Clarice e Rubens. Meus pais eram “meieiros” plantavam em terras de terceiros, mais tarde adquiriram um terreninho onde moram até hoje, na casinha construída por eles. Estudei o primário no Grupo Escolar Bispo Dom Mateus em Mombuca, até a oitava série estudei em Rio das Pedras no ginásio Barão de Serra Negra. Ia para lá de ônibus, perua, a condução que estivesse a disposição.
Com que idade a senhora começou a trabalhar?
Aos 11 anos comecei a trabalhar como empregada doméstica, foi um serviço onde aprendi muito, valeu a pena. Aos 15 anos fui trabalhar na lavoura ajudando o meu pai, plantava pimentão, feijão. Trabalhamos muito com pimentão na época. Era um trabalho difícil. Consegui um serviço em uma fábrica de costura, confecção de jeans, na cidade de Capivari onde permaneci por cinco anos, levantava às cinco horas da manhã, levava cerca de 20 minutos até chegar a Capivari. Entrei sem conhecer nada, quando saí trabalhava em qualquer uma das máquinas: reta, overloque, fechadeira, travete. Gosto muito de trabalhar, a vida tem mais sentido quando a pessoa trabalha. Prestei um concurso em Piracicaba, no Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes, entrei como faxineira. Houve a falta de inspetor de alunos, passei a exercer essa função. Permaneci por um ano, quando me casei.
Hoje a senhora é a prefeita de Mombuca, o fato de vir de origem humilde é motivo de satisfação?
Com absoluta certeza, embora nunca tenha esquecido minhas raízes. Mantenho amizade com todas as pessoas que conheço. Faço questão de receber a todos em minha casa.
Quando a senhora era jovem quais eram as formas de lazer em Mombuca?
Havia poucas opções. O meu pai sempre foi muito rígido em nossa educação, freqüentávamos festas religiosas como de São Pedro, Santo Antônio. Baile praticamente não freqüentava.
A senhora conheceu Dona Emília Benvenuto Ortolani?
Conheci muito a Dona Emília, era uma mulher que só praticava o bem. Quando ela sabia da necessidade de alguém, caso ela não tivesse como ajudar procurava alguém que pudesse fazê-lo. Um exemplo que permanece na memória da cidade.
A vocação de participação política tem origem familiar?
O meu pai foi vereador de 1993 a 1996. Quando conheci meu marido, Enio Niceas de Oliveira, eu tinha 14 anos e ele 24. Após 8 anos, em 3 de janeiro de 1981, nos casamos na Igreja Matriz de São Pedro, em Mombuca. Temos três filhos: Eugênio, Danilo e Miguel.
Como foi o ingresso do seu marido na política?
Ele é advogado, foi convidado por um amigo para ser candidato a vereador. Não foi eleito. Na eleição seguinte meu sogro Eugênio de Oliveira estava fazendo campanha política para ser eleito vereador, as eleições seriam no dia 15 de novembro, no dia 13 do mesmo mês meu sogro faleceu. Eu me envolvi na campanha eleitoral do meu marido, gostei desse contato com as pessoas, conhecer melhor suas necessidades. Meu marido foi o vereador mais votado, tornando-se presidente da câmara municipal., isso foi no final da década de 80. Assim que me casei tornei-me voluntária da Assistência Social. Fazia um pouco de tudo. A esposa do prefeito Antonio Guari, Clarice Guari me ensinou muito, tive uma grande participação na Assistência Social, gostava de ir lá, ajudar: pregar um botão, fazer um agasalho para uma criança. Até hoje cozinho na Festa de São Pedro, ajudo o pessoal.
Enio Niceas de Oliveira, seu marido, foi candidato a prefeito?
Foi uma disputa bem acirrada, o prefeito em exercício apoiaria o candidato indicado pelo PMDB. Houve uma convenção para ver quem saía nesse partido, nessa convenção quase o município todo se filiou e votou. Foi quase uma eleição total. Meu marido ganhou e tornou-se candidato com o apoio do prefeito. Isso foi em 1992, em 1993 ele assumiu como prefeito. Com isso passei a trabalhar muito mais, com gosto, participação. Fui muito ativa, a Assistência Social cresceu, desenvolvemos trabalhos com as pessoas carentes. Tivemos aulas de pintura, crochê, tricô, culinária. Quando uma mulher engravidava as mães vinham aprender a lidar com a criança, a fazer o próprio enxoval. Em 1996 meu marido terminou o mandato, a oposição ganhou as eleições. Permaneci trabalhando da mesma forma. A política passa, as amizades ficam. Temos que conservar as amizades conquistadas.
Há um mastro com a estampa de um santo em frente a matriz.
É alusivo a São Pedro, padroeiro da festa máxima de Mombuca. Permanece por um ano quando é substituído por outro semelhante.
Qual é a população de Mombuca?
Aproximadamente quatro mil habitantes.
A senhora assumiu a prefeitura em que dia?
Dia primeiro de janeiro foi a posse, dia 2 de janeiro de 2013 assumi a prefeitura. A responsabilidade é muito grande.
Como foi a reunião com a Presidente Dilma Roussef em Brasília?
Reuniram-se com a presidente 5.000 prefeitos, estou com muita fé de que teremos bons frutos desse encontro.
Qual é principal fonte de renda de Mombuca?
É a cana de açúcar, temos ainda pequenas empresas de prestação de serviços. No ano passado a Branyl Comercio e Indústria Textil Ltda. instalou-se em Mombuca. Pretendo incentivar a instalação de novas empresas inclusive com incentivos fiscais. Atualmente a oferta de emprego é muito baixa. Vamos dar total apoio às empresas que queiram se instalar em Mombuca. Pegamos a prefeitura com muitas dívidas, dia 2 de janeiro mal acabei de me instalar no gabinete quando recebi a visita do gerente da CPFL para fazer uma cobrança de fornecimento de energia, iam cortar a energia de todos os prédios públicos. Fizemos uma negociação, pagamos uma parcela e faremos o pagamento da dívida de forma planejada para não haver o desligamento de energia. Estou com uma equipe muito boa, estão me ajudando, tenho muita fé de que iremos sair dessa situação se Deus quiser.
Um dos grandes problemas que as administrações encontram é na área da saúde. Como a senhora vê a situação em Mombuca?
Estamos estudando uma parceria com uma cooperativa médica, com funcionamento das 7 horas da manhã as 7 horas da noite.
No caso de atendimento de alta complexidade há ambulâncias para a remoção para hospitais de referência?
Estamos sem nenhuma ambulância, as que existem estão sucateadas. Acredito que já conseguimos com o governo federal uma ambulância que deverá em breve estar servindo a população. A Guarda Municipal que tinha sido desativada deverá ser reativada, ganhamos três motocicletas para esse fim.
Mombuca é vinculada a qual comarca?
A Capivari.
A senhora têm a preocupação em trazer para Mombuca mão de obra com qualificação profissional?
Com certeza. Tenho essa preocupação.
Há mendigos em Mombuca?
Graças a Deus não.
A cidade tem potencial para explorar algum tipo de turismo?
Temos cachoeiras maravilhosas, são quatro ou cinco muito bonitas. O ideal seria o poder público fazer uma parceria com a iniciativa privada. Estamos trabalhando junto a Secretaria de Turismo Estadual para que nos ajude a divulgar essas riquezas naturais da nossa cidade. Poucos sabem que elas existem.
O Caminho do Sol passa por Mombuca?
Passa em dois locais no nosso município, no centro e no bairro rural Arapongas onde era uma escola que foi reformada e transformada em uma pousada para os caminhantes.
A Câmara Municipal é composta por quantos vereadores?
São nove vereadores. Pretendo ser prefeita do nosso município, as solicitações populares feitas através de seus representantes na Câmara Municipal, espero na medida do possível atender a todos.
Como está a educação básica na cidade?
A escola funciona no Sistema Anglo, pago pela prefeitura, temos em torno de 940 alunos matriculados na faixa etária de 4 até 15 anos. A prefeitura disponibiliza transporte para os alunos. Os estudantes que cursam faculdade fora do município, a prefeitura arca com 60 por cento das despesas de transportes aos que se dirigem à Piracicaba, Itu. A partir do mês que vem estamos iniciando a implantação de ensino superior em Mombuca: Administração de Empresas, Pedagogia e Ciências Contábeis em parceria com a Faculdade Uniararas. Será a primeira faculdade na cidade de Mombuca.
Qual é a sensação da senhora como mulher em conduzir os destinos de uma cidade?
Pretendo realizar uma administração participativa, quando se decide em conjunto a tendência é de errar menos. Temos um gabinete itinerante, é uma inovação que implantamos. É feito um agendamento, é feita a divulgação pública através da imprensa. Isso facilita o contato entre a prefeitura e a população, quando se faz com amor qualquer empreitada vai em frente.
Quantos afilhados a senhora têm?
São dezessete. Às vezes em que fui madrinha de casamento já perdi a conta. Lembro-me dos afilhados porque no Natal ou aniversário de cada um eu costumo cumprimentá-los.
A senhora mantêm contato com políticos de outras localidades, deputados?
Sim, com o deputado Roberto de Moraes, gosto muito dele, deputado Chico Sardelli, deputado André do Prado.
A captação de água em Mombuca como funciona?
É feita pela SABESP através de dois poços artesianos localizados no município, o tratamento de esgoto é feito pela mesma empresa. Consumimos a água encanada, no município não há a necessidade de se adquirir água em galões para beber, nem mesmo existe esse tipo de fornecimento na cidade.
Uma lenda diz que a porta da cadeia de Mombuca tem as dobradiças enferrujadas por falta de uso.
Não há cela em Mombuca, a que existia foi desativada. As pessoas se conhecem, há um cuidado de um cidadão para com o outro. Veículos, pessoas de fora da cidade assim que param na cidade são notados, por curiosidade, por cuidado. Em Mombuca todos se conhecem, é uma grande família. Se falecer alguém a cidade comparece ao velório. Casamentos também atraem um grande número de pessoas. É muito comum as pessoas terem um apelido. O vice-prefeito é conhecido como Palito, ninguém o chama pelo nome, Valdemir. Seu filho é conhecido como Palitinho.


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