PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz
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A Tribuna Piracicabana
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Entrevista 1: Publicada: Ás Terças-Feiras na Tribuna Piracicabana

Entrevista 2: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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Entrevistado: Luiz da Silva

DATA: (12 agosto 2008)

São vários atributos que formam uma pessoa de sucesso. Escolher o que vai fazer da sua vida, amar essa função e nunca, jamais, desistir dela. Muita dedicação e humildade. Uma determinante para chegar cada vez mais longe é procurar se superar cada vez mais. Traçar uma meta baseando-se em ultrapassar os próprios limites. Dessa maneira, quando menos esperar, chegará mais alto. Luiz da Silva é um exemplo de fé, persistência, humildade, e determinação. Muitas pessoas têm com a mãe de Luiz, Dona. Emília uma dívida impagável. Só aqueles que freqüentaram o seio dessa família podem avaliar a importância anônima e avessa á qualquer tipo de divulgação sobre as inúmeras pessoas e famílias que foram beneficiados pela Dona Emília, mãe de Luiz, Nilza e José. Essa educação sólida, embasada em valores morais e espirituais é que ainda faz com que o ser humano acredite ser dono de qualidades, fraternidade, solidariedade, que muitos consideram ultrapassados, em nome de um materialismo avassalador. Luiz da Silva nasceu em 31 de março de 1934, na cidade de Piracicaba. Filho de Emília Vieira e Silva e João Silva. São seus irmãos Nilza Silva e José Maria da Silva.
Luiz o senhor nasceu em uma casa construída pelo seu pai e seu avô?
Eles eram construtores, e no período de 1932 a mão de obra era paga em material. Foi assim que construíram a casa. Meu pai era carpinteiro. Minha mãe nasceu em 4 de julho de 1908, meus vós, seus pais, vieram de Portugal. Somos primos dos videntes de Fátima: Lucia, Jacinta e Francisco. Meu avô veio de Portugal, ele tinha um primo que o aguardava em Batatais. Quando ele chegou á Santos, o encarregado dos imigrantes e falou com meu avô que ele iria trabalhar em uma fazenda de café em São Pedro. Foi muito difícil para ele.
Como ele mudou-se para Piracicaba?
Depois de um tempo, com o auxílio dos frades capuchinhos, eles moraram em uma casa em frente á Igreja dos Frades. Ele então pediu que vendessem propriedades que ele tinha em Portugal. Foi quando ele adquiriu a casa onde passaram a residir. Na época onde é a garagem da Prefeitura na Avenida Dr. Paulo de Moraes era tudo pasto! Aonde hoje é o Toninho Lubrificantes funcionava uma empresa de descaroçamento de algodão. Nós brincávamos na esquina da Rua Joaquim André com José Pinto de Almeida, onde era um terreno descampado. Havia uma casinha, naquele quarteirão, onde morava Dona Carula e Seu Francisco, eles tinham cinco ou seis filhos. Houve uma época em que houve uma febre muito violenta, morreram quatro filhos deles em uma semana! Tod dia saía um caixão da casa deles, com um filho morto. O único que não morreu era um dos filhos que na ocasião encontrava-se na casas dos tios em São Paulo. Depois desa situação minha mãe presenciou uma fumaceira danada naquela casa. Ela foi até lá ver o que estava acontecendo. Tinham aconselhado o casal a queimarem tudo que eles tinham para não transmitir a doença. E eles estavam queimando tudo! Tudo que existia dentro da casa! Foi nessa época em que a minha mãe acolheu o casal. Eles permaneceram morando e uma dependência que tínhamos anexa á nossa casa.
A Dona Emília estava sempre pronta para ajudar a quem necessitasse?
Ela acudiu “meio-mundo” aqui em Piracicaba! Parentes e não parentes! Quanta gente morou em casa!
Seus primeiros estudos foram feitos onde?
Foram feitos no Externato São José, no prédio aonde depois veio a funcionar a Escola de Odontologia, na rua D.Pedro I. Era uma escola excelente! Nesse período, em 1940, faleceu o meu pai. As freiras fizeram questão que nós três continuássemos alunos do externato, oferecendo uma bolsa de estudos integral para nós três, que até então éramos alunos que regulares, inclusive pagando regularmente as mensalidades. Assim completamos o quarto ano primário no Externato São José. Nessa ocasião mudamos para o Bairro Monte Alegre. Eu vinha a pé do Monte Alegre até o Externato São José. O Dr. Lino Morganti e Dona Odila quando me viam na estrada me colocava no carro deles. Eu ia de carro! Quando tinha ônibus, o Dr. Lino deu-me passagens para utilizar os ônibus todos os dias. Ele deu ordem aos motoristas, para quando me vissem dessem carona, tanto para ir como para vir. Teve uma ocasião em que peguei carona na garupa de um burrico, foi difícil agüentar as gozações que meus parentes e amigos fizeram! (risos). Para vir á escola saía de lá ás 10 horas da manhã, para chegar á escola ás 12 horas. As aulas acabava ás 16 horas e 30 minutos, conforme a disposição física chegava ao Monte Alegre ás 18 ou 18 horas e trinta minutos.
De lá o senhor foi estudar onde?
Fui estudar na Escola de Comércio do Professor Zanin, meu irmão já estava estudando lá, onde se formou. Eu permaneci por dois anos lá. Eu era coroinha na Igreja dos Frades e tinha um colega coroinha também o Mário Perin, que se tornou sacerdote. Eu fui para o seminário onde permaneci até o primeiro ano de teologia. Fui para Rio Claro, de Rio Claro para o seminário de Ribeirão Preto, onde permaneci por muito tempo. Quando saí do seminário me senti sem opção de trabalho. Meu irmão conhecia a oficina radio técnica do Lillo, que era mariano, na Igreja dos Frades, e estava estabelecido na Rua Benjamin Constant. Carregava baterias para os rádios de sítio. Ele saiu para atender clientes e me deixou lá. Havia rádios ás pencas para consertar. Eu substituí a válvula de um deles e deixei funcionando. Quando ele voltou disse-lhe: “-Lillo, não sei podia fazer isso, esse rádio aqui tinha a válvula queimada e eu troquei.” Ele me olhou espantado e perguntou se eu entendia de rádio. Eu contei á ele porque era rádio técnico. No seminário, quando mudamos para Ribeirão Preto, todas as noites queimavam os fusíveis e ficava aquela escuridão danada. Eu disse ao Padre Modesto: “-Posso examinar o que está acontecendo?”. Ele disse-me “-Está á sua disposição!”. Comecei a olhar o que acontecia: Queimavam-se os fusíveis. Mas por quê? Subi no forro. Estava tudo em ordem, não tinha nada de especial. Eu estava no quarto ano de ginásio, estava estudando ciências, passei a freqüentar a biblioteca, á procurar causas. A biblioteca do seminário tinha coisas á beça. Tudo que dizia respeito á eletricidade eu devorei! Subi novamente no forro para examinar qual era a causa. Disse ao Padre Modesto: “-Quando fizeram a parte nova do seminário, alguém ligou os fios da parte nova na parte já existente!”. Ele disse-me: “-O que vamos fazer? ” Disse-lhe: “Se o senhor comprar os fios eu coloco-o lá!”. Ele comprou, acho que 600 metros de fio. Era um seminário imenso. Tive que esticar aqueles fios. Toda quarta-feira á tarde os seminaristas iam jogar futebol, era quando eu subia no forro para trabalhar, colocar roldanas, chaves, esticar os fios. Como o serviço era feito só as quartas-feiras á tarde, demorou meses para que eu concluísse. Pus as chaves, os fusíveis, separei a fiação da parte nova com relação á parte velha. Nunca mais deu pane!
Qual foi a reação dos padres?
O Padre Modesto como prêmio me deu o curso do Instituto Monitor. Em prazo de três tempos eu dei conta daquele material, e eu estava formado por correspondência como técnico. Quando fui trabalhar com o Lillo eu já era formado!
Quais eram os maiores problema que aconteciam com os rádios na época?
Queima de válvula, transformador, bobinas, receptores, o grande problema eram as baratas que entravam nos rádios e causavam esses danos. A primeira providencia era remover a barata. Limpar tudo e trocar o componente danificado.
Na casa do senhor tinha rádio?
Um dos primeiros rádios que apareceu em Piracicaba, foi na minha casa. Nós morávamos na Rua Ipiranga, e eu me lembro como vinha gente para ouvir rádio em casa! A tardezinha vinha muita gente para ouvir a Rádio Nacional, Tupy, novelas, programa de auditório, noticiário, Hebe Camargo, ficavam lá até as dez ou onze horas da noite. Meu pai era músico, tocava qualquer tipo de instrumento. Eu não toco nenhum instrumento. Mas participei de muitos corais, aprendi a cantar!
Quanto tempo o senhor permaneceu com o Lillo?
Alguns meses apenas. Eu estava querendo entrar em uma empresa de maior porte.
Quantos idiomas o senhor fala?
Latim, grego, espanhol, inglês, italiano, francês. Já falei correntemente, hoje por falta de uso já não falo com a mesma habilidade. Sempre tive uma memória bastante eficiente. Sempre escrevia tudo que o professor falava. O pessoal percebeu que eu escrevia tudo que o professor falava, queriam meu caderno! Acabava a aula, na hora de estudo, meu caderno passeava. Na hora de escrever eu dominava a matéria. Bastava escrever para gravar a matéria.
O senhor chegou a fazer taquigrafia?
Tentei! Mas descobri que escrevia mais rápido se usasse a minha forma natural de escrever.
O senhor foi trabalhar na Romi?
Entrei na Romi á 16 outubro de 1958. Permaneci lá por quarenta anos.
O senhor participou do projeto da Romi-Isetta?
Não participei! Eu trabalhava na divisão de fabricação de tornos. (N.J. Fabricado durante cinco anos em Santa Bárbara d`Oeste pelas Indústrias Romi S.A., o primeiro automóvel fabricado em série no Brasil teve seu lançamento oficial em 5 de setembro de 1956.)
O senhor foi trabalhar na fábrica da Romi em Santo André?
Eu já estava no topo da faixa salarial em Santa Bárbara d`Oeste. Meu salário não progredia. Vi no jornal o anuncio de Curso de Controle de Qualidade que estava sendo ministrado em São Paulo pelo período de um mês. Era um curso caro. Falei com a minha esposa, concordamos em investir as nossas economias nesse curso. Ao chegar a Romi, falei com o meu chefe, Amauri, comuniquei que iria fazer o curso em São Paulo. Ficaria um mês fora de empresa e depois retornaria. Logo depois ele anunciou que eu iria fazer o curso e que a Romi iria pagar o curso! O curso era á noite, eu estava em São Paulo, passava durante o dia na fábrica de Santo André. A principio eu ficava apenas disponível na fábrica, logo tomei a iniciativa de participar das atividades da empresa, por minha própria vontade. Ao terminar o mês, eles simplesmente não permitiram que eu retornasse á Santa Bárbara. Arrumaram uma casa para que eu morasse com a minha família. Passei a fazer um curso de engenharia que existia na época. Passava dia e noite na fábrica, inclusive aos sábados e domingos. Teve uma ocasião em que tínhamos o compromisso de entregar se não me engano 50 tornos para o México. Passamos dia e noite trabalhando. Lembro-me que teve um dia em que dormi por uma hora deitado em cima de uma mesa! Conseguimos cumprir o nosso compromisso! Eu tive alguns dias de folga depois!
Luiz, o senhor tinha um computador de sua propriedade, lembra-se da marca?
Era um TK-75. Com fita cassete, utilizava um gravador de som comum, era ligado em uma televisão normal. Isso foi em Santo André. Olhando o computador, pensei que poderia ser útil na fábrica. Em Santa Bárbara d`Oeste havia os equipamentos IBM. Levei para a fábrica de Santo André. Tínhamos que mandar informações para Santa Bárbara. Comecei a realizar os registros no TK-75. Após 500 registros acabava a capacidade! Fui dar treinamento na nossa unidade de Joinville. Á noite ia para a biblioteca que tinha um material fabuloso sobre informática. Eu estava preocupado com o limite do TK-75. Eu mexi no cerne do programa, usando a linguagem assembler, foram mudados alguns trechos do programa. De 500 registros passamos a ter uma capacidade muito maior. Ele abriu, expandiu. Quando chegou aos cinco mil registros aquilo era lento! Estudei á valer o equipamento. Para entrar quarenta itens a coitada da máquina ficava perdida. Calculei em quanto tempo a moça levava para digitar com cada registro. Era cerca de dois minutos. Usei esse tempo para aliviar o computador. No dia seguinte ao terminar de digitar, a moça ao terminar de digitar me chamou dizendo: “-Luiz, aconteceu alguma coisa errada aqui!”. A informação estava pronta! O engenheiro Enzo quando chegou, viu aquilo, na semana seguinte recebi um computador IBM completinho, com impressora e tudo! Era o que havia de melhor na época, um XT.
O senhor teve uma moto, com a qual ia até o seu trabalho em Santa Bárbara?
Era uma Jawa-Monark de 125cc. Não havia capacete, nem blusão de proteção.
O senhor treinou muitos profissionais na área técnica?
Eu tive a satisfação de formar mais de 3.500 alunos dentro da fábrica. Chegou aos ouvidos do Senai, que passou a oferecer certificados a esses alunos, isso dentro da fábrica. Saiam mecânicos abalizados!

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