PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz A Tribuna Piracicabana
Sábado das 10 ás 11 Horas da Manhã Publicada ás Terças-Feiras

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
19 3433.8749 / 8146.0313 / 8171.5774
Rua do Rosário, 2561 Cep 13401.138 Piracicaba-SP
joaonassif@gmail.com

Entrevistada: MARIA BEATRIZ COURY

A arquiteta Maria Beatriz Coury é portadora de muitos conhecimentos culturais, e tem uma qualidade que anda em extinção: a humildade. Com sua simplicidade trata a todos com a mesma atenção independente do nível social, cultural ou econômico. Pode-se dizer que Bia, como é carinhosamente chamada pelos mais próximos, nasceu em um berço privilegiado a 25 de outubro de 1957. Talvez pela sua silhueta ou maneira simples de ser, sua idade cronológica é contrastante com a aparência física, mais próxima a de uma jovem entusiasta da sua profissão. Em entrevista com seu pai, Dr. Raul Coury, acreditávamos que se ainda estivéssemos no regime imperial, época em que se concediam títulos de nobreza, ele possivelmente seria o Barão de Nova Java. Por extensão sua filha Maria Beatriz receberia o título de Marquesa de Nova Java.
Maria Beatriz Coury, sua vocação profissional já se manifestou no colégio?
Em 1975 concluí o ensino médio especializado em Decoração Artística no Colégio Nossa Senhora da Assunção em Piracicaba. Em 1976 fiz o curso de Língua Francesa e Inglesa na Ecole de Roches em Bluche sur Sierre, na Suíça. Realizei o Curso de Língua e Civilização Francesa na Universidade Sorbonne em Paris e o Curso de Língua Inglesa na Language Tuition Center em Londres. Sou diplomada no Curso Superior de Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura de Urbanismo de Santos que realizei no período de 1978 a 1983. Fiz pós-graduação em 1983 na área de Arquitetura Solar em São Paulo. Voltei á Europa, e na Espanha, na Universidade de Barcelona estudei Arquitetura Moderna Espanhola (Gaudi, etc…), concluindo em 1988. Na Universidade de Artes de Florença fiz o curso de Graphic Designer em 1989. No Politécnico de Milão estudei Urbanística Técnica em 1990. De volta ao Brasil realizei o
Curso Negócios para executivos, MBA (Master of Business Administration) ministrado pela Fundação Getúlio Vargas concluído em 2004.
Quais são os idiomas de seu pleno domínio?
Tenho perfeito domínio dos idiomas: Inglês, Francês e Italiano.
Você tem um site na internet?
Tenho sim. É http://www.biacoury.com/ , ali tem um pouco do meu trabalho.
Da faculdade de Arquitetura venci um concurso em que o governo italiano estava oferecendo uma bolsa de estudo eu fui fazer um curso de Pós-Graduação na Politécnica de Milão. É o berço da arquitetura! Segundo consta foi lá que inventaram o tijolo, na época em que estavam construindo o Coliseu. Eles tinham que criar arcos com bastante resistência, e o tijolo foi uma forma encontrada para fazerem as abobadas, os arcos, que permanecem até hoje.
Por quanto tempo você residiu na Itália?
Fiquei na Itália por oito anos. Após ter feito o curso, passei a trabalhar, a me integrar com a arquitetura local, fiz outros cursos no próprio Politécnico. Realizei diversas obras entre elas: Projeto e Execução de um Prédio de apartamentos de 03 andares, lá a altura das construções são limitadas em doze metros e setenta centímetros por uma cultura que não admite arranha-céus, ficava próximo a Milão, em Pavia. É um condomínio bastante agradável. Fiz restaurações no estilo Liberty. É assim chamado na Itália o Art Noveau.(Arte Nova). Na Bélgica, o art nouveau encontrou sua mais alta expressão na arquitetura de Victor Horta, que influenciou outros países. É um estilo agradável, bastante desenhado, valoriza o trabalho artesanal No trabalho que realizei foram recuperadas estruturas, feitas adaptações internas.
Chegou a dirigir veículos na Itália?
Sim, dirigi! O povo italiano dirige da forma que fala, usando muito os braços! Põem o braço para fora da janela! No começo a gente estranha, depois acaba se acostumando. Em Roma o transito é mais agitado. Em Milão é mais tranqüilo. Fica mais ao norte da Europa, tem uma grande influência alemã.
Você esteve em Veneza?
Veneza é um show! É uma cidade para os apaixonados mesmo, como dizem! É um local de rara beleza, alegria.
Você anda em calçadas em Veneza?
Algumas ruas têm canais, outras não. É bem fácil perder-se nas ruas de Veneza. Não existem pontos de referencia, são ruas que não tem carros, só pessoas que caminham, nessas ruas existem lojas, restaurantes, de repente você encontra um canal e uma pontezinha.
Você andou naquelas gôndolas?
Andei sim. É só você falar “Por favor, cante!” E eles cantam mesmo, e cantam muito bem!
Da Suíça o que você pode dizer?
É um país muito organizado, muito bonito, com geografia muito atraente, tudo muito certinho. A arquitetura é um pouco variada, talvez por estar no centro da Europa. A começar pela língua: conforme a região os habitantes usam um dos idiomas: francês, italiano ou alemão! Essa cultura misturou-se também na arquitetura, adquirindo aspectos próprios de cada cultura. Os chalés são muito bem cuidados, em todos os seus detalhes, flores na janela! Isso é típico! (risos).
Em Paris, como são as calçadas?
São iguais ás de uma cidade européia. O piso é um tipo de parelepipedo cortado em chapas. É confortável. Nas juntas das placas a água da chuva penetra. Possuem uma rugosidade natural para não ficar escorregadio.
Arquiteta Beatriz, o que você achou do Arco do Triunfo em Paris?
É o triunfo mesmo! (risos). Estive lá diversas vezes. Subi nele, existe um local por onde você sobe e vê a Place de l’Étoile (do francês “praça da estrela”) em razão de seu formato de estrela, formada pelas primeiras cinco vias que chegam até ali. Foram adicionadas sete novas ruas às cinco que já iam ao encontro do arco como parte da renovação feita em Paris no século 19. Radiando do arco, 12 avenidas se espalham para todas as esquinas de Paris.
Além da Torre Eiffel você visitou o Museu do Louvre?
A Torre Eiffel é maravilhosa, uma obra incrível. Toda montada em ferro existe um mirante de onde se vê o Jardin de Tuilerie. Fui visitar por três dias o Museu do Louvre. Não consegui ver tudo!
Você escreveu algum livro?
Não. Mas é um projeto!
O título poderia ser “Memórias da Marquesa de Nova Java na Europa”?
Bia não responde, apenas ri muito!
Existe alguma forma diferenciada de amenizarmos o calor do nosso clima?
O importante é criar um micro clima interno bastante agradável. Usando muita ventilação, aberturas com ventilação á vontade. Em Holambra existe um sistema que utiliza um cano sobre o telhado. Esse cano é todo perfurado em sua extensão, formando quase um chuveiro contínuo sobre as telhas. A água é recolhida e volta novamente movida por um motor de pequena potência e consumo. A circulação da água já a refrigera.
Nas casas mais antigas eram construídas porões. Qual é sua opinião profissional á respeito? (Curiosamente servia só para acumular um bolsão de ar quente)
O porão antigamente era feito porque a parte de impermeabilização não era muito evoluída, não existia química que faziam impermeabilizações como temos hoje. Era feito para impedir que a umidade atingisse o interior da casa. É uma técnica que era usada por não existir tecnologia de impermeabilização eficaz.
Quando um cliente a procura para realizar uma obra como é o processo?
O primeiro passo é o anteprojeto. Conversamos detalhadamente para conhecer os anseios do cliente. Tamanho, divisões se haverá jardim interno, é uma interpretação daquilo que ele quer. A obra tem que ser do jeito dele, da forma que ele gosta. Penso bastante em satisfazer quem irá ocupar esse imóvel. No caso de ser um cliente com preocupações específicas como uso de energia solar, ou eólica (obtida pelo vento), já existe empresas que fornecem material para essas aplicações.
Até pouco tempo no Brasil era contratado um engenheiro que cuidava da obra e um familiar (geralmente a esposa) é quem cuidava do projeto de “decoração” muitas vezes ocorrendo desastres estéticos e funcionais.
A função do arquiteto é estudar o espaço. Ele irá fazer o espaço de acordo com o uso do cliente, com um fluxograma de utilização. O dia a dia da família é analisado. O arquiteto ajuda a economizar, ele sabe como e de que forma fazer, sem errar. O arquiteto se utiliza de desenhos, maquete eletrônica, que ajuda bem a visualização do resultado final. Ela pode ser girada, vista de todos os ângulos, externa e internamente. Pode ser feito o trajeto do habitante caminhando pela sua futura casa! Hoje a tecnologia ajuda muito. O trabalho do arquiteto não encarece a obra, no final o proprietário irá perceber que o arquiteto foi direto ao ponto, sem a ocorrência de erros. Na fase do projeto é explicado os fatores prós e contras a cada decisão dele. Assim ele terá os meios necessários para tomar a decisão que achar mais conveniente. Construir uma casa não é uma obra barata. Para ter a absoluta certeza de que vai gostar e viver dentro dela de forma confortável, a atuação do arquiteto é imprescindível.
Existem alguns cuidados para que a casa seja construída conforme o percurso do sol?
A primeira observação realizada em um terreno é o percurso do sol. Com isso localizamos os ambientes da melhor forma.
Existem algumas casas que a partir de determinado horário é simplesmente impossível permanecer dentro em função do calor, por que ocorre isso?
Por estarem na orientação errada. As janelas não estão no lado correto. A maioria das janelas deve ser colocada á leste, que é onde recebe o sol da manhã. Se houver a necessidade de construir uma janela que receba sol da tarde, uma vegetação externa pode amenizar a temperatura.
Qual é a construção mais exótica que você conheceu até hoje?
As de Gaudi são maravilhosas! (Arquiteto espanhol Antoni Plàcid Guillem Gaudí Cornet, ou Antoni Gaudí 1852-1926). Ele tinha uma maneira peculiar de projetar. Ele desenhava, mas o projeto mesmo era feito todo em maquetes. E ele fazia as maquetes de ponta-cabeça, porque assim ele poderia saber como a força da gravidade agiria sobre a estrutura, e assim ele sabia como teria que criar ou reforçar essa estrutura.
Recentemente você concluiu um trabalho que exigiu grandes esforços, conhecimento técnico, e empenho?
Foi um trabalho com muitos detalhes a serem resolvidos. Foi usado muito critério técnico para executar as obras. Foi um trabalho bastante meticuloso.
Existe uma curiosidade peculiar dentro dessa casa que poucos devem ter visto?
Trata-se de um pilar de madeira, que já existia, trata-se de um pilar esculpido em um tronco de árvore, sendo que em sua base foi preservado o tronco original de madeira bruta! Uma coisa típica da época, que era esculpir o pilar em troncos. Nós deixamos á mostra por trata-se de um aspecto muito interessante. As raízes e a casca tinham sido tiradas na ocasião em que foi feito originalmente. Percebe-se nitidamente que se tratava de uma árvore grande e forte.
Essa casa que você restaurou é de que época?
A casa é de 1860 aproximadamente. A fazenda Nova Java tem 148 anos. Surgiu de terras pertencentes à Marquesa de Santos, Maria Domitila de Castro Canto e Melo. Essa fazenda foi formada por volta de 1860 e pertenceu a João Tobias de Aguiar e Castro, formado em Direito em 1858, filho da marquesa com o brigadeiro Tobias. O Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar (1793-1857) foi por duas vezes presidente (equivalente a Governador de Estado) da Província (1831-1835 e 1840-1841), fundou a Polícia Militar no dia 15 de dezembro de 1831. O nome Fazenda Nova Java foi dado pelo meu avô Massud Coury, em homenagem a Ilha de Java que tem terras muito férteis, assim como são as terras daqui. O Estádio de Futebol Massud Coury. Situa-se em terras doadas por ele. Domitília de Castro do Canto e Mello, Marquesa de Santos casou-se com o alferes Felício Pinto Coelho de Mendonça com quem teve 3 filhos e de quem separou-se em 1815. Em 1822 conheceu o Imperador D. Pedro I com quem teve 5 filhos. A ligação entre eles foi definitivamente rompida em 1829. Se casou em 1842 em Sorocaba com Rafael Tobias de Aguiar um dos homens mais abastados da Província, com quem teve 4 filhos: Rafael Tobias de Aguiar Jr, João Tobias de Aguiar e Castro, Antonio Francisco de Aguiar e Castro e Brasílico de Aguiar e Castro.

Free Counter

Share.

Deixe um comentário