O Brasil está situado na parte mais oriental da América do Sul e compreende 1/15 da superfície terrestre do globo, 1/5 do novo mundo e mais de 3/7 da América Nacional. A sua costa tem a extensão de 1,200 legoas, 7.920 kil. Segundo a estimativa do barão de Humboldt, é calculada a sua area em 2.311.974 milhas quadradas de 60 ao grau, 7.952.344 kil. quadrados. A area de S. Paulo é de 10.120 legoas quadradas, 440.827 kil. quadrados.Estatísticas
Em Dezembro de 1879 existiam na penitenciaria de S. Paulo 166 criminosos, sendo 153 homens e 13 mulheres.
Injustiça
Justiça brasileira erra e condena inocente à quarenta e dois anos de prisão
As injustiças fazem parte do dia-a-dia judiciário do nosso país desde os primórdios do descobrimento, não são uma realidade recente, fruto da capitalização. Que o diga o honrado Thomaz Pires de Almeida, vítima de um erro irreparável da justiça que roubou preciosos sete anos de sua vida. Veja abaixo:
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Thomazinho
UM ERRO JUDICIARIO
PRUDENTE DE MORAES
Os annaes judiciarios do nosso paiz já registram um numero avultado de causas criminaes verdadeiramente celebres, – umas pela enormidade dos crimes, cuja natureza e circumstancias revelam a perversidade descomunal de seus autores, outras pela enormidade das injustiças commettidas por juizes e tribunaes condemnando accusados, cuja innocencia verifica-se mais tarde, e, às vezes, tão tarde que toda a reparação é impossivel.
A causa de que vamos occupar-nos pertence à segunda classe: – é celebre pela injustiça que envolveu.
O nome que nos serve de epigraphe era aquelle porque vulgarmente se designava Thomaz Pires de Almeida, a infeliz victima dessa causa: Thomazinho foi victima de um erro funesto e irreparavel, como são, em geral, os erros judiciarios em materia criminal.
Para servir de subsidio á collecção das causas celebres brasileiras, damos em seguida um extracto fiel do processo que terminou pela condemnação de Thomazinho por crime de homicidio, que não commetteu.
A injustiça, o erro judiciario foi reconhecído, porém o mal, o grande mal que importou não foi reparado e nem podia se-lo.
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Em noute de 27 de Janeiro de 1831, em sua casa, sita á rua da Palha da cidade de Porto-Feliz, foi assassinado, com um tiro de arma de fogo, o prussiano João Bérner. O seu cadaver foi encontrado sobre a esteira, deitado de costas, tendo sobre as ultimas costellas do lado esquerdo diversas pequenas feridas produzidas por chumbo grosso e uma maior produzida por bala. A bala penetrou na caixa do peito e offendeu o pulmão esquerdo, conforme verificaram os peritos.
João Bérner morava só e estava só na ocasião do assassinato.
Quem foi o autor desse crime?
As primeiras suspeitas recahiram sobre o preto Floriano, escravo de d. Maria Angelica, o qual foi logo preso e contra elle instaurado processo ex-officio.
Nesse processo foram inquiridas onze testemunhas, cujos depoimentos extractamos:
1ª. – Thomaz Pires de Almeida -, de 48 annos de edade, casado, natural de Porto-Feliz, negociante, conhecido por Thomazinho (o mesmo que afinal foi condemnado como autor do assassinato).
Disse que na noute do assassinato, o indiciado Floriano, com seu irmão Feliciano e Elizeu, escravo de José de Toledo, estiveram em seu negocio, onde beberam agoardente; sahiram e logo depois voltou Feliciano só, ignorando o destino que tomaram o indiciado e o escravo Elizeu. No dia seguinte teve noticia do tiro que matou o prussiano Bérner, mas não soube da hora em que se deu. Benedicto, escravo de Francisco Vieira, contou á mulher delle depoente, que o assassinado dera uns tapas no escravo Elizeu e que este promettêra vingar-se.
2ª. – José Pires de Almeida -, filho de Thomazinho: Disse que, no dia seguinte ao assassinato, o indiciado Floriano appareceu na chacara delle depoente, na sahida para Sorocaba, e pediu-lhe que dissesse a seu irmão Feliciano que ia espera-lo na venda do capitão-mór Moraes, recommendando que desse o recado a Feliciano quando este estivesse só, visto que estavam imputando a elle Floriano a morte do prussiano. Elle depoente deu o recado a Feliciano, mas este respondeu que não se importava e que não ia ao logar indicado por seu irmão.
3ª. – Antonio José Camargo: – ouviu dizer-se que suppunha-se que o indiciado Floriano praticára a morte por mandado de pessoa da casa de Thomaz Pires de Almeida (Thomazinho) por haver intrigas entre este e o prussiano.
5ª. – Luiz Antonio de Almeida – Disse que tendo trocado com o indiciado Floriano um trabuco por uma pistola, o indiciado fôra receber o trabuco no dia 27 do corrente mez.
Fallando-se em presença de JOAQUIM BERBARDO que não se podia descobrir do assassinato, visto o assassinado não ter inimizade alguma, respondeu Joaquim Bernardo que tinha visto o prussiano dar uns pescoções em um escravo de José de Toledo e atirar-lhe uma trempe de ferro.
6ª. – José Antonio Lopes: – Estando á porta de sua casa, na noute do crime, viu passar um vulto alto e magro, que dirigiu-se para o lado da casa do prussiano; meio quarto de hora depois, ouviu um grande tiro. Gertrudes gonçalves (a 10ª testemunha), visinha do prussiano, contou a elle depoente, no dia seguinte, que tinha visto um vulto abrir a cerca do quintal do prussiano e sahir para a rua, logo depois que ouviu o tiro. Entende em sua consciencia que não foi o indiciado Floriano o autor do crime por ser baixo e gordo e o vulto que elle depoente vira era alto e magro.
8ª. – Maria Francisca de Arruda -, casada com Ignácio, escravo de Thomaz Pires de Almeida: Disse que sabe que quem assassinou o prussiano foi o marido della depoente Ignacio, escravo de Thomazinho, por mandado deste, que, como recompensa, prometteu liberta-lo. Que Thomazinho e eu escravo Ignacio foram juntos á casa do prussiano, armados ambos de trabuco; que o prussiano estava deitado sobre uma esteira, lendo um livro e com uma garrafa de vinho ao pé de si; que Thomazinho mandou Ignacio atirar, o que este fez por um buraco da porta; que Thomazinho, em vez de libertar o marido della depoente, como havia promettido, alguns dias depois da morte do prussiano levou-o para Campinas e lá vendeu-o. Disse mais que tudo quanto depoz ouviu do proprio assassino, seu marido, antes de ser levado para Campinas.
40ª. – Gertrudes Gonçalves: – Logo que ouviu o tiro sahiu á porta da rua de sua casa, ouviu bulha de quem abria a cerca do quintal do prussiano e viu sahir um vulto, que não pôde conhecer. Tem ouvido dizer-se que fora Thomazinho o autor da morte do prussiano.
41ª. – Testemunha: – Respondeu que Anna Rosa contou-lhe que ouviu de Ignacio e Sebastião, escravos de Thomazinho, que este foi quem mandou matar o prussiano por seu escravo Ignacio, com a promessa de dar-lhe liberdade, mas que, alguns dias depois do crime, levou-o para Campinas e lá vendeu-o, e que o comprador sabendo que o escravo era criminoso veio entrega-lo a Thomazinho, que o metteu em castigo, ignorando o destino que teve depois. Soube de Maria Francisca que o escravo Ignacio, seu marido, esteve com effeito em castigo e que Thomazinho promettia mata-lo.
A 4ª, 6ª e 9ª testemunhas apenas referem ter ouvido dizer que fora Thomazinho quem mandára assassinas o prussiano Bérner, sem ao menos mencionar o motivo dessa vaga imputação.
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Com a data de 18 de Junho de 1831, o juiz do summario pronunciou Thomaz Pires de Almeida e seu escravo Ignacio como incursos nas penas do art. 193 do cod. crim. pela morte do prussiano João Bérner e mandou relaxar da prisão Floriano, escravo de d. Maria Angelica, por não haver resultado provas contra elle.
Thomazinho, que havia se ausentado de Porto-Feliz ao saber que era provavel a sua pronuncia, logo que foi convocada a primeira sessão do jury, apresentou-se espontaneamente para ser julgado, levado pela consciencia de sua innocencia e pela confiança que lhe inspirava o jury de Porto-Feliz, então reputado um dos melhores da provincia pela illustração do seu pessoal e pelo espirito de justiça, que sempre havia dictado as suas decisões.
Mas, infelizmente para Thomazinho e para a causa da justiça, aquelle tribunal, em quem tanto confiava, não correspondeu á sua confiança, e, deixando-se influenciar por uma falsa opinião publica e por apparencias de provas, suppondo punir em grande criminoso, com a espada que a justiça poz em suas mãos feriu um innocente, de quem fez um desgraçado!
Em sessão do jury, presidida pelo juiz de direito dr. Joaquim Octavio Nebias, foi submettido a julgamento Thomazinho, no dia 4º de Dezembro de 1851.
Ao longo e minucioso interrogatorio que lhe dirigiu o presidente do tribunal, respondeu o accusado, em resumo o seguinte:
Que não assassinou e nem mandou assassinar o prussiano João Bérner, de quem não era inimigo; que a imputação que se lhe fazia era uma calumnia, que dava a egreja e os santos por testemunhas e que as pessoas que juraram contra elle no processo eram uns cacos; que nenhum dos seus escravos teve parte no crime, o qual, entretanto, sem motivo algum, foi attribuido, a principio ao seu escravo João e depois ao seu escravo Ignacio; que era falso que houvesse castigado a este escravo e que, se o vendeu em Campinas depois da morte do prussiano, foi porque comprava e vendia escravos, tanto que, na mesma occasião, além desse, vendeu outros naquella povoação; que, ao tempo em que o prussiano era seu visinho, tivera com elle uma rixa sem importancia por causa de creanças delle interrogado; que o prussiano foi assassinado na casa da rua da Palha, para onde se havia mudado da visinhança delle interrogado, tres mezes antes; que depois da morte do prussiano esteva a maior parte do tempo em Campinas e andou recuado da justiça com medo que o prendessem, não porque tivesse culpa, mas porque haviam formado processo contra elle; que não foi preso e que elle mesmo se apresentou para ser julgado; que não trouxera comsigo o escravo Ignacio, que estava em Campinas, porque disseram-lhe não ser necessario; finalmente que na noute do assassinato esteve dormindo em sua casa.
A accusação contra Thomazinho foi sustentada pelo promotor publico dr. Indalecio R. Figueira de Aguiar e sua defesa foi produzida pelo finado Tristão de Abreu Rangel, que residia em Ytú, onde gozava de estima e consideração como advogado notavel.
O jury, por 7 votos, affirmou que o accusado mandára matar o prussiano João Bérner por um seu escravo; reconheceu as aggravantes da noute, superioridade de armas e surpreza, e, (ao que parece, só pelo desejo de diminuir a pena, porque não existe no processo outra explicação) por decisão unanime, reconheceu em seu favor as circumstancias attenuantes da falta de pleno conhecimento do mal e de desaffronta de injuria.
Em conformidade com suas decisões, foi Thomazinho condemnado a soffrer a pena de 42 annos de prisão com trabalho, como incurso no gráu médio do art. 493 do cod. criminal.
Dessa sentença, de cuja injustiça ninguem estava mais convencido do que elle, Thomazinho appellou para o Tribunal da Relação, mas este limitou-se a negar provimento ao recurso. E assim tornou-se irrevogavel essa condemnação, cuja grave e clamorosa injustiça devia mais tarde manifestar-se de modo irrecusavel. Para motivo de remorso pungente ás consciências dos julgadores.
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Seis mezes depois da condemnação de Thomazinho, na seguinte sessão periodica do jury de Porto-Feliz, que teve logar em Maio de 1852, entrou em julgamento o escravo Ignacio, accusado como executor do assassinato do prussiano João Bérner por mandado de seu senhor.
Presidiu a sessão o mesmo juiz de direito e exerceu a promotoria o mesmo dr. Indalecio; o accusado teve por defensor o intelligente paulista Candido José Motta.
Em seu interrogatorio declarou que era innocente, pois que não havia matado e ninguem o mandára matar o prussiano João Bérner; que seu senhor Thomazinho, desgostoso com elle interrogado por sahir á noute ás suas peraltagens, já o havia ameaçado de vende-lo, e, dias depois da morte do prussiano, vendeu-o a Bento Theodoro, residente em Campinas, onde soube que estava processado pela morte do referido prussiano, mas que não se incommodou com isso porque tinha certeza de que a sua innocencia havia de triumphar de tão falsa accusação, e com effeito, sentiu satisfação quando dói prezo e conduzido para aqui por vêr que vinha defender-se e mostrar a sua innocencia. Declarou mais que não tinha inimizade com pessoa alguma e que ao finado prussiano apenas conhecia de vista, nunca tendo conversado com elle.
O julgamento terminou pela absolvição do accusado por 11 votos; essa decisão passou em julgado.
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A absolvição do escravo Ignacio, fazendo contraste com a condemnação de seu senhor Thomazinho, importava o reconhecimento por parte do jury da grande injustiça dessa condemnação.
Com o mesmo processo, com as mesmas provas, com os mesmos elementos de convicção apenas com o intervallo de seis mezes, o jury proferiu ecisões manifestamente contradictorias: condemnou Thomazinho por haver mandado matar o prussiano João Bérner por um seu escravo; entretanto, julgando Ignacio, o escravo accusado de haver feito essa morte por mandado de seu senhor; absolveu-o por decisão quasi unanime!
O escravo foi absolvido porque não commetteu o crime e nem recebeu ordem de seu senhor para commette-lo; entretanto, Thomazinho, o senhor, já cumpria a pena que lhe fôra imposta – por haver mandado esse escravo commetter esse crime! O mandante condemnado, o mandatario absolvido por não haver executado o mandato, isto é, o crime punido sem que fosse praticado! Eis o resultado produzido pelas conradictorias decisões do jury.
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A decisão que, por maioria de um voto, condemnou Thomazinho como mandante do assassinato do prussiano João Bérner, não assentava em provas que satisfizessem a juizes, mesmo pouco exigentes.
De facto, no processo, além do boato vago, que, sem razão plausivel, indigitava Thomazinho como mandante desse assassinato; além de referencias vagas, não confirmadas pelas testemunhas referidas, que não foram ouvidas; além da levissima suspeita, que resultava da venda do escravo, supposto executor, effectuada depois do crime, nada mais se encontra a não ser o depoimento da 8ª testemunha, a liberta Maria Francisca de Arruda, a qual, depondo circumstanciadamente, mas por ouvir, affirmou que o prussiano fôra assassinado por seu marido, o escravo Ignacio, por mandado de Thomazinho, seu senhor, que promettêra liberta-lo.
Se a prevenção não dominasse o espirito dos juizes, elles teriam reconhecido facilmente o nenhum valor desse depoimento, já por consistir todo elle em uma referencia não confirmada e ao contrario mais tarde constestada formalmente por Ignacio, já porque a testemunha nenhum credito merecia por ser habituada ao vicio da embriaguez, como provou o defensor de Thomazinho perante o jury, já finalmente porque esse depoimento encontrava explicação natural no despeito e desejo de vingança que devia ter a testemunha contra Thomazinho por separa-la de seu marido, o escravo Ignacio, vendendo-o em Campinas.
Mas, infelizmente, a prevenção cegou os juizes e iludiu-os a ponto de obriga-los a praticar uma gravissima injustiça, que teria de feri-los tambem sob a fórma de cruciantes remorsos, que deviam soffrer por have-la praticado.
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A contradicção entre a condemnação de Thomazinho e a absolvição do seu escravo Ignacio, accusados pelo mesmo crime em um só processo, produziu, dous annos depois, o decreto de 20 de Dezembro de 1853. que commutou a pena de 12 annos de prisão com trabalho, em que foi condemnado aquelle, na de sete annos de degredo para a povoação de Guarapuava.
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Alguns annos depois, quando Thomazinho cumpria a pena de degredo, Joaquim Bernardo, morador em Porto-Feliz, achando-se doente e sentindo que ia morrer, em confissão extrema, revelou ao vigario que fôra elle o autor do assassinato do prussiano João Bérner, cujo motivo e circumstancias referiu, e que Thomazinho nenhuma parte tinha tido nesse crime. Aconselhado pelo confessor, o moribundo repetiu sua revelação em presença de testemunhas qualificadas, que depuzeram posteriormente em uma justificação, que instruiu um recurso de graça em favor do innocente condemnado.
No processo houve uma referencia ao autor do assassinato, em que se figura insinuando motivos de suspeitas contra outros. Em referencia foi feita pela 5ª testemunha Luiz Antonio de Almeida, nos termos seguintes:
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Esta referencia foi desprezada. Se não fôra a prevenção contra Thomazinho, seria chamado Joaquim Bernardo a depôr como testemunha referida, e quem sabe se trahindo-se em juízo, já então ficaria conhecido o verdadeiro assassino e assim ter-se-hia evitado a consummação de uma gravissima injustiça!?
Quando já estava a terminar o prazo da pena, o decreto de 6 de Abril de 1860, em vista da confissão de Joaquim Bernardo, perdoou a Thomazinho o resto do tempo que lhe faltava (alguns mezes) para cumprir a pena de 7 annos de degredo em Garapuava, em que havia sido commutada a de 12 annos de prisão com trabalho imposta pelo jury!
Thomazinho foi perdoado. Se se tratasse de algum bispo ou fidalgo, provavelmente seria amnistiado, embora criminoso convicto; mas, como tratava-se de um homem do povo, Thomazinho foi simplesmente perdoado, não obstante estar verificada a sua completa innocencia!
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Para completar a exposição desta causa, tristemente celebre, só nos resta accrescentar que o desgraçado Thomazinho nem ao menos pôde reconhecer os effeitos desse tardio perdão; era já então insensivel ao soffrimento da pena, o cruel martyrio que supportára durante longos annos havia extinguido lentamente a luz de sua razão! Condemnaram a um innocente; perdoaram a um louco!
A infeliz victima que a injustiça dos homens fizera enlouquecer, pouco sobreviveu a esse perdão inutil!
Piracicaba, 18 de Agosto de 1880.
Almanak Litterario de S. Paulo
Memórias
SOBRE A
Faculdade de Direito da Cidade de São Paulo
M. E. A. Marques
O glorioso acontecimento que teve lugar nos Campos do Ypiranga, a 7 de Setembro de 1822, derrocando os alicerces sobre que assentava o dominio portuguez no Brasil, e aniquilando para sempre o privilegio que Portugal havia se arrogado sobre a pessoa e propriedade dos seus colonos americanos, não podia deixar de repercutir na metrópole estimulando, embora passageiramente, o rancor e o despeito de seus naturaes.
Esta repercussão deu-se ; e como resultado appareceram as manifestações hostis contra os brasileiros que n’essa época, achavam-se em Portugal ; nem della escaparam os estudantes da Universidade de Coimbra, que pressurosos appellaram para a mãe patria, queixando-se de seus sofrimentos.
Foi assim que a primeira idéia da creação de um curso de sciencias sociaes e jurídicas na cidade de São Paulo manifestou-se, e della tornou-se orgam o finado paulista, de jamais esquecida memoria, dr. José Feliciano Fernandes Pinheiro, depois Barão e Visconde de S. Leopoldo, o qual na Assembléa Constituinte, em sessão do dia 24 de Junho de 1823, fundamentou indicação para a creação de uma Universidade, nos termos seguintes :
<>(a) não deixam duvidar de que essa base sólida de um Governo Constitucional já de ser lançada em o nosso codigo sagrado de uma maneira digna das luzes do tempo e da sabedoria de seus collaboradores.
Todavia, esta convicção, e ao longe as melhores esperanças, nem por isso me devem acanhar de submetter já á consideração desta Assembléa, uma indicação de alta monta, e que parece urgir. Uma porção escolhida da grande família brasileira, a quem um nobre estimulo levou á Universidade de Coimbra, geme ali debaixo dos mais duros tratamentos e oppressões, não se decidindo apezar de tudo a interromper e a abandonar sua carreira, já incertos de como será semelhante conducta avaliada por seus paes, já desanimados por não haver ainda no Brasil institutos onde prosigam e rematem seus encetados estudos. Nessa amarga conjunctura, voltados sempre para a patria por quem suspiram, lembraram-se de constituir-me com a carta que aqui apresento. Correspondendo, pois, o quanto em mim cabe a tão lisongeira confiança e usando ao mesmo tempo das faculdades que me permite o cap. 6º do nosso Regimento interno, offereço a seguinte
INDICAÇÃO
Proponho que no Imperio do Brasil se crie quanto antes uma Universidade pelo menos, para assento da qual parece dever ser preferida a cidade de S. Paulo, pelas vantagens naturaes e razões de conveniencias geraes. Que na Faculdade de Direito Civil, que será sem duvida uma das que comporá a nova Universidade, em vez de multiplicadas cadeiras de Direito Romano, se substituam duas, uma de Direito Publico Constitucional, outra de Economia Politica.
Paço da Assembléa, 12 de Junho de 1823. – Fernandes Pinheiro. >
Esta indicação foi remetida á commissão de instrucção publica, e na sessão de 19 de Agosto do mesmo anno o deputado Martim Francisco Ribeiro de Andrada, como relator da mesma commissão, apresentou o seguinte projecto :
<1º style="mso-bidi-font-style: normal">
Este projecto, tendo passado por longo debate, foi approvado na sessão de 4 de Novembro daquelle anno.
Fallaram pró os deputados José Feliciano Fernandes Pinheiro, Antonio Gonçalves Gomide, Pedro de Araújo Lima, depois Márquez de Olinda, Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, José Arouche de Toledo Rendon, Candido José de Araújo Vianna, depois Marquez de Sapucahy, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, Venâncio Henriques de Rezende e Miguel Calmon du Pin e Almeida, depois Márquez de Abrantes.
Fallaram a favor da idéa da creação de Universidade e de Curso de Sciencias jurídicas, porém contra o estabelecimento delles em S. Paulo, os deputados Luiz José de Carvalho e Mello, depois Visconde da Caxoeira, Manoel Jacintho Nogueira da gama, depois Márquez de Baependy, Antonio Ferreira França, José Martiniano de Alencar, Francisco José Acayava de Montezuma, depois Visconde de Jequitinhonha, Antonio Luiz Pereira da Cunha, depois Marquez de Inhambupe, Pedro José da Costa Barros, José da Silva Lisboa, depois Visconde de Cayrú, Lucio Soares Teixeira de Gouvêa e Joaquim Manoel Carneiro da Cunha : os quatro primeiros era de opinião que a Universidade fosse estabelecida na Côrte ; os quatro seguintes queriam na Bahia ; o deputado Teixeira de Gouvêa queria na Provincia de Minas Gerais, e o deputado Carneiro da Cunha indicava a provincia da Parahyba.
O deputado José da Silva Lisboa, na enumeração dos motivos contra o estabelecimento da Universidade em S. Paulo, disse entre outras cousas que – <>
Não foram, porém, realisados os votos daquelles patriotas, que desejavam dotar o seu paiz com estabelecimentos de instrucção superior, a qual, si em todos os tempos se constitue necessidade imperiosa das sociedades civilisadas, era para o Brasil daquella epoca a condição vital de um Estado que acabava de emancipar-se ; a dissolução, pois, da assembléa constituinte, a 12 de Novembro daquelle mesmo anno, veio deixar sem sancção o projecto da creação de Universidade de Curso Jurídico.
A segunda tentativa teve lugar no anno de 1825, sendo Ministro do Imperio Antonio Luiz Pereira da Cunha, que pretendia a creação de um curso de Sciencias socias e juridicas na Côrte do Rio de Janeiro ; este projecto teve começo de execução n’esse mesmo anno, sendo convidado de Portugal o dr. José Maria de Avelar Brotero, que d’ali veio contractado para o Rio de Janeiro.
Melhor aviso porém, andou o governo de sua pretenção até que por decreto de 11 de Agosto de 1827 creou duas academias de Sciencias Sociaes e Juridicas, uma ao Norte e outra ao Sul do Brazil ; aquella na cidade de Olinda e esta na de S. Paulo, attendendo assim a uma das mais palpitantes necessidades do nascente Imperio. Era então Ministro da pasta respectiva o dr. José Feliciano Fernandes Pinheiro, que soube arrostar com todos os embaraços oppostos pelo espirito de bairrismo, fazendo prevalecer o pensamento que quetro annos antes concebido e procurado realisar como deputado.
Como principio de execução appareceu o Decreto de 13 de Agosto do mesmo ano de 1827 pelo qual foram nomeados o tenente-general dr. José Arouche de Toledo Rendon para director, e o dr. José Maria de Avelar Brotero para lente da cadeira do 1º anno da Academia de S. Paulo, e a 1º de Março de 1828 foi celebrada com toda pompa compatível com os recursos da epoca, a solemne abertuda e installação da mesma Academia, em presença do então presidente da Provincia conselheiro Thomaz Garcia Xavier da Veiga, bispo Diocesano, d. Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade, funccionarios civis, militares e ecclesiasticos, e grande concurso de pessoas gradas.
Em sua Memoria sobre a fundação das Faculdades de Direito do Brazil, tiveram logar na sala que foi preparada para este fim, na antiga sachristia do Convento dos Religiosos Franciscanos, que a cederam, e que afinal largaram todo o convento, voluntariamente cedido pelo Provincial, a 8 de Novembro de 1828.
O visconde de Caxoeira, Luiz José de Carvalho e Mello, havia formulado os estatutos para a projectada Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, a cuja installação obstou o Conselho de Estado, e esses estatutos regeram os dois cursos jurídicos até 30 de Março de 1832, em que foram postos em execução os de 7 de Novembro de 1831 organisados pelos lentes, drs.: Brotero, Fagundes Varella, Carneiro de Campos, Fernandes Torres e Pinto Cerqueira. >
Assim continou o curso de sciencias sociaes e juridicas da cidade de S. Paulo até que o governo imperial, usando da autoctorisação que lhe fôra dada pelo Decreto nº 608 de 18 de Agosto de 1851, reformou os estatutos, e deu melhor distribuição ás matérias de ensino pelos Decretos nº 1,134 de 30 de Março de 1853, 1,386 de 28 de Abril de 1854 e 1,568 de 30 de Março de 1855, mudando a antiga denominação de Academia de Sciencias Sociaes e Juridicas pela de – Faculdade de Direito.
Sua bibliotheca, que é composta em grande parte com a livraria que pertenceu ao finado bispo d. Matheus de Abreu Pereira, e a mesma que foi creada em 1825 com o titulo de – Bibliotheca Publica pelo primeiro presidente da Provincia, Lucas Antonio Monteiro de Barros, depois visconde de Congonhas do Campo. Posteriormente tem feito a mesma bibliotheca acquisição de diversas obras, porém não conta ainda hoje mais de 10.000 volumes.
Não cansaremos a attenção do leitor com a exposição das materias de ensino, suas divisões e numero de cadeiras, por suppormos sabidas de todos. Daremos portanto, em seguida, noticia circumstanciada do pessoal que tem servido os cargos de director e lentes, por sua ordem chronologica.
DIRECTORES
1º Tenente general dr. José Arouche de Toledo Rendon, serviu desde a creação em 1827, até 23 de Agosto de 1833.
2º Dr. Carlos Carneiro de Campos, hoje visconde de Caravellas, de 1833 até 5 de Novembro de 1835.
3º Dr. José da Costa Carvalhoi, depois marquez de Monte Alegre, de 1835 até 24 de Junho de 1836.
4º Senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, de 8 de Março de 1837 até 4 de Fevereiro de 1842.
5º Visconde de Goyana, não tomou posse.
6º Conselheiro dr. Manuel Joaquim do Amaral Gurgel, de 1º de Novembro de 1857 até seu fallecimento a 15 de Novembro de 1864.
7º Conselheiro dr. Vicente Pires da Motta, nomeado por Decreto de 30 de Janeiro de 1865 : acha-se em exercicio até o presente.
Nos impedimentos temporarios tem servido o cargo de director o lente mais antigo, ou aquelles que obtiveram nomeação especial para este fim.
LENTES
As cadeiras de lentes têm sido occupadas pelos que seguem, segundo a ordem da collocação :
1º José Maria de Avelar Brotero * nomeado a 13 de Outubro de 1827, jubilado em 1872, fallecido em 1873.
2º Balthazar da Silva Lisboa, nomeado a 22 de Junho de 1828, demitiu-se em 1830, falecido.
3º Nicolau Fagundes Varella, nomeado a 22 de Julho de 1828, fallecido em 1831.
4º Thomaz José Pinto Cerqueira, nomeado a 22 de Julho de 1828, demitiu-se a 24 de Abril de 1834.
5º Antonio Maria de Moura * padre, nomeado a 11 de Agosto de 1828, fallecido a 12 de Março de 1842.
6º Carlos Carneiro de Campos, * hoje visconde de Caravellas, nomeado a 9 de Fevereiro de 1829, jubilado a 29 de Janeiro, de 1858.
7º José Joaquim Fernandes Torres, nomeado a 21 de Fevereiro de 1820, demitiu-se a 22 de Agosto de 1833, fallecido em Dezembro de 1869.
8º Prudêncio Giraldes Tavares da Veiga Cabral * nomeado a 8 de Abril de 1829, jubilado a 22 de Janeiro de 1861, fallecido em 1862.
9º João Candido de Deus e Silva, nomeado a 30 de Outubro de 1830, não tomou posse ; fallecido.
10. Clemente Falcão de Souza, nomeado a 5 de Novembro de 1830, jubilado a 17 de Setembro de 1864, fallecido a 28 de Abril de 1868.
11. Manuel Joaquim do Amaral Gurgel, padre, nomeado a 12 de Outubro de 1833, jubilado a 18 de Março de 1858, fallecido a 18 de Novembro de 1864.
12. Vicente Pires da Motta, padre, nomeado a 22 de Maio de 1834, jubilado a 7 de Agosto de 1860.
13. Manuel Dias de Toledo, nomeado a 22 de Maio de 1834, jubilado a 26 de Outubro de 1870, fallecido em 1874.
14. Anacleto José Ribeiro Coutinho, nomeado a 20 de Junho de 1834, jubilado a 1 de Janeiro de 1859.
15. José Ignacio Silveira da Motta, nomeado a 20 de Junho de 1834, jubilado a 31 de Maio de 1856.
16. Francisco José Ferreira Baptista, nomeado a 3 de Setembro de 1834, demitiu-se a 31 de Março de 1837,
17. Francisco Bernadino Ribeiro, nomeado a 22 de Dezembro de 1835, fallecido em 1837.
18. João Chrispiniano Soares, nomeado a 23 de Abril de 1836, jubilado a 22 de Novembro de 1871, fallecido em 1876.
19. Joaquim Ignacio Ramalho, nomeado a 23 de Abril de 1836, é presentemente o lente mais antigo em exercicio.
20. Luiz Pedreira do Couto Ferraz, hoje visconde do Bom Retiro, nomeado a 25 de Outubro de 1839, demitiu-se em 1868.
21. Francisco Maria de Souza Furtado de Mendonça, nomeado a 26 de Outubro de 1839.
22. João da Silva Garrão, nomeado a 10 de Junho de 1845.
23. Martim Francisco Ribeiro de Andrada, nomeado a 1º de Julho de 1854.
24. Antonio Joaquim Ribas, nomeado a 1º de Julho de 1854, jubilado a 23 de Fevereiro de 1870.
25. Gabriel José Rodrigues dos Santos, nomeados a 1º de Julho de 1854, fallecido a 23 de Maio de 1858.
26. João Dabney de Avelar Brotero, nomeado para a Faculdade de Pernambuco a 1º de Julho de 1854m removido para S. Paulo a 3 de Maio de 1856, fallecido a 1º de Setembro de 1859.
27. José Bonifácio de Andrada e Silva, nomeado para Faculdade de Pernambuco a 1º de Julho de 1854, removido para a de S. Paulo a 5 de Maio de 1858.
28. Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, nomeado a 3 de Agosto de 1859.
29. Francisco Justino Gonçalves de Andrade, nomeado a 17 de Setembro de 1859.
30. Clemente Falcão de Souza Filho, nomeado a 16 de Maio de 1860.
31. João Theodoro Xavier, nomeado a 6 de Novembro de 1860.
32. Ernesto Ferreira França, nomeado a 20 de Julho de 1861.
33. Manoel Antonio Duarte de Azevedo, nomeado a 30 de Julho de 1862.
34. José Maria Corrêa de Sá Benevides, nomeado a 8 de Julho de 1865.
35. João Jacintho Gonçalves de Andrade, padre, nomeado a 6 de Março de 1869.
36. Carlos Leôncio da Silva Carvalho, nomeado a 4 de Janeiro de 1871.
37. José Joaquim de Almeida Reis, nomeado a 27 de Setembro de 1871, fallecido a 18 de Agosto de 1874.
38. Francisco Antonio Dutra Rodrigues, nomeado a 9 de Outubro de 1872.
39. Joaquim José Vieira Carvalho, nomeado a 17 de Junho de 1874.
40. Joaquim Augusto de Camargo, nomeado a 4 de Dezembro de 1875.
_______
Tem sido formados desde 1831, em que obtiveram o gráo os primeiros estudantes da Faculdade de S. Paulo, até o anno de 1875, 1,776 bachareis, a saber :
Da Côrte e provincia do Rio de Janeiro
578
De S. Paulo
462
De Minas Geraes
332
De S. Pedro do Sul
102
Da Bahia
100
Do Paraná
25
Do Maranhão
19
De Goyaz
19
De Mato Grosso
15
De Santa Catarina
14
De Pernambuco
13
Do Ceará
11
De Alagoas
10
Do Espirito Santo
9
De Piauhy
8
De Sergipe
8
Do Pará
6
Do Espirito Santo
1
Nascidos fora do Imperio
34
1:776
Destes tomaram o grão de Doutores 87, que em seguida vão designados por ordem de antiguidade :
1º Manoel Dias de Toledo
1833
2º Manoel Joaquim do Amaral Gurgel
>>
3º Vicente Pires da Motta
>>
4º Anacleto José Ribeiro Coutinho
1834
5º Francisco José Ferreira Baptista
1834
6º Francisco de Assim Monte Carmelo
>>
7º Manuel Libanio Pereira de Castro
>>
8º Miguel Archanjo Ribeiro de Castro Camargo
>>
10 Francisco Antonio de Araújo
>>
11 Rafael de Araujo Ribeiro
>>
12 Joaquim José Pacheco
>>
13 Marcellino José da Ribeira Silva Bueno
>>
14 Francisco Bernadino Ribeiro
1835
15 Joaquim Ignacio Ramalho
>>
16 João Chrispiniano Soares
>>
17 José Joaquim da Siqueira
>>
18 Cypriano José Lisboa
>>
20 Gabriel José Rodrigues dos Santos
1838
21 Ildefonso Xavier Ferreira
>>
22 Joaquim José Ribeiro Guimarães
>>
23 João da Silva Carrão
>>
24 Luiz Pereira do Couto Ferraz
1839
25 Francisco Maria de Souza Furtado Mendonça
>>
26 Joaquim Antonio Pinto Junior
1840
28 José Antonio Pimenta Bueno
1843
29 Eduardo Olympio Machado
1846
30 Agostinho Marques Perdigão Malheiros
1849
31 Olegario Herculano de Aquino e Castro
>>
32 Francisco Maria Velho da Veiga
>>
33 Francisco Justino Gonçalves de Andrade
1851
34 João Dabney de Avelar Brotero
>>
35 Martim Francisco Ribeiro de Andrada
1852
36 João Theodoro Xavier
1856
37 Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva
>>
38 Antonio Ferreira Vianna
>>
39 Domingos de Andrade Figueira
1857
40 Clemente Falcão de Souza Filho
>>
41 João Baptista Pereira
1858
42 José Maria Corrêa de Sá Benevides
>>
43 José Maria da Camara Leal
>>
44 Tito Auguso Pereira de Mattos
>>
45 Mamede José Gomes da Silva
1858
46 Hygino Alves de Abreu e Silva
1859
47 Aureliano C. Tavares Bastos
>>
48 Vicente Mamede de Freitas
>>
49 Balthazar da Silva Carneiro
>>
50 Manoel Antonio Duarte de Azevedo
>>
51 José Carlos de Oliva Maia
>>
52 Luiz Joaquim Duque Estrada Teixeira
>>
53 Paulo Antonio do Valle
1860
54 José Vieira Couto de Magalhães
>>
55 Americo Braziliense de Almeida Mello
>>
56 Joaquim de Almeida Leite Moraes
>>
57 Emilio Valentim Barrios
1862
58 Rodrigo Octavio de Oliveira Menezes
>>
59 Francisco Gomes dos Santos Lopes
>>
60 José Joaquim de Almeida Reis
>>
61 Joaquim José Vieira de Carvalho
1863
62 José da Silva Costa
>>
63 Egydio Barboza de Oliveira Itaqui
>>
64 João Jacintho Gonçalves de Andrade
1865
65 Joaquim Augusto de Camargo
1866
66 Francisco Antonio Dutra Rodrigues
>>
67 Emygdio Joaquim dos Santos
>>
68 Ezequiel de Paula Ramos
1867
69 Delfino Pinheiro de Ulhôa Cintra
>>
70 Carlos Leoncio da Silva Carvalho
1869
71 Antonio Candido da Cunha Leitão
>>
72 José Rubino de Oliveira
>>
73 Antonio Ferreira França
>>
74 José Júlio de Albuquerque Barroa
1870
75 Affonso Augusto Moreira Penna
1871
76 José Pereira Terra Junior
1872
77 Victorino Caetano de Brito
>>
78 Benedicto Cordeiro de Campos Valladares
1873
79 Genuino Firmino Vidal Capistrano
1874
80 João Pereira Monteiro
>>
81 José Luiz de Almeida Nogueira
>>
82 Julio César de Moraes Carneiro
1875
83 Brazilio Augusto Machado de Oliveira
>>
84 Romualdo de Andrade Baena
>>
85 João Evangelista de Bulhões Carvalho
>>
86 Antonio Augusto de Bulhões Jardim
1876
87 Antonio Dino da Costa Bueno
>>
S. Paulo – Outubro de 1876.____________(a) Alludia á um programma ou Memoria, para a creação de estabelecimentos de instrucção primaria, secundaria e scientifica, apresentado pelo deputado José Bonifacio de Andrada e Silva.
(*) Aos que levam este signal (*) mandou o governo por Decreto de 16 de Setembro de 1834 conferir o gráo de Doutor.
– O que é uma eleição no Brazil”Ninguém ousará negar que uma eleição entre nós importa sempre uma calamidade ao paiz. Quem não tem visto, quem não tem experimentado essa febre ardente com seus delirios e tresvarios, com suas noites de insomnia, com seus dias de constante preoccupação ?!… essa febre que similha a hydrophobia em seus periodo mais impetuoso, o mais horripilante e o mais medonho ? ! Quem – espectador ou actor – não tem visto essa luta, luta universal de um povo de irmãos encanzinados, luta da immoralidade contra os sãos principios, em que o pobre e o fraco são comprados e corrompidos pelo rico e o forte, em que o ladrão das cidades saltêa as consciencias, em que o venal infame vende o mais sagrado dos direitos, em que o capanga vende o braço mercenario – luta em que cada irmão, como Caim, arma o braço contra o irmão – luta de intrigas, de odios, de paixões desencadeadas, similhando o furor dos elementos em procella – luta em que os combustíveis se amontoam aos mil, e a explosão a mais terrivel póde a todo momento ser operada pela centelha a mais despresivel – luta de desgraças, de desolações, de lagrimas, e, não poucas vezes, de sangue ? ! Guaratinguetá – 1859.” C. de Macedo
Informe
Dr. Antonio Carlos – advogado – São Paulo – Campinas – F. Quirino dos Santos – advogado – Campos Salles – advogado – Campinas – Drs. Americo Brasiliense e José Rubino de Oliveira – advogados – São Paulo – F. Paula Leme – advogado – Bethlem de Jundiahy – Bernardino de Campos – advogado – Amparo – Dr. Leite Moraes – advogado – Araraquara
Os primeiros bacharéis
Em 21 de Outubro de 1831 deu-se a formatura dos primeiros seis bacharéis, que tomaram gráo pelo curso jurídico de S. Paulo. Foram elles:
Antonio de Cerqueira Carvalho da Cunha Pinto Junior, da Bahia.Antonio Joaquim de Siqueira, do Rio de Janeiro.Antonio Simões da Silva, da Bahia.Francisco Alves de Brito, idem.Manoel Vieira Tosta, idem.Paulino José Soares de Souza, nascido em França.
Em 1832 o numero dos formados elevou-se a 35, entre os quaes contavam-se 12 paulistas.
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Informe
S. Paulo – Loja do bom gosto – Rua de Palacio (Largo do Mercado novo) n. 65 – de Caetano José Fernandes – Tem sempre um variado sortimento de fazendas finas e modas, sedas, roupas brancas – para homens e senhoras – Encontra-se sempre um variado sortimento de luvas de pellica brancas e de cores – Recebe constantemente novidades em modas
Migalhas de peso
Rangel Prestana faz sua mesura “hoje” ao “Dr. Americo Brasiliense”. Faça a gentileza de clicar aqui para imediato caminho à prazerosa leitura.
A traços largos
Paulo Eiró – Em Maio de 1871 morria no hospicio de alienados em São Paulo, aquelle desditoso moço. Cursou durante algum tempo as aulas do Seminario Episcopal, conseguindo pouco depois, matricular-se no primeiro ano da Faculdade de Direito. Não chegou ao fim da carreira ; deu os primeiros passos, e encontrou a loucura. Param esparsas muitas producções desse infeliz poeta, que de bôa nota, e merecida, gozou na republica litteraria. As suas poesias revelam talento e suave inspiração. Pena é, que andem por ahi – dispersas, sem que encontrem mão caridosa que as enfeixe, como em precioso ramalhete para literatura nacional. No naufragio da loucura a sua razão eclypsou-se ; convêm que as suas bellas producções não se abysmem na onda escura do esquecimento.
Trova popular
Com pena peguei na pennaPara com penna escrever,Com penna escrevi penasCom pennas hei de morrei.
Lula
“Este notável mollusco, pertencente ao gênero dos cephálopodes e á família dos decápodes , e muito conhecido dos antigos, é encontrado em grande abundancia no mar da ilha de São Sebastião, nesta província, fazendo-se notar pelo avultado tamanho. Ao passo que no norte do Brazil as lulas não passam de cinco cetimetros, e tive occasião de observar esse curioso mollusco, causou-me impressão a particularidade muito singular ou o capricho da natureza, que se revela na combinação dos dous predicados – uma vesícula cheia de um liquido negro, a que o povo chama o tinteiro e uma penna – que se encontram reunidos no organismo desse bonito habitante do mar. E me aventuro a affirmar que, mais do que pela sua especial conformação e sua qualidade de alimento substancial e appetitoso, é por conter em si aquelles dous objectos que se tem o mencionado mollusco recommendado á atenção dos naturalistas. Consiste a penna, a que nos referimos, em uma substancia córnea e transparente, que constitue a vértebra do animal em todo o seu comprimento, e assemelha-se, mais ou menos, a uma pequena penna de ganso. O liquido negro contém-se em uma pequena vesícula, que se encontra perto co coração do molusco, e é perfeitamente semelhante á tinta preta; delle me tenho servido para escrever, e diz-se que na Europa é empregado nas artes. Esses dois objectos são causa de, em alguns logares, dar-se ao curioso animal, e não sem muita propriedade, o nome de escrivão ou escrevente. S. Sebastião, 23 de Abril de 1879.” A. Ferreira Garcez
Informe
Emilio Rangel Pestana – encarrega-se de comprar e vender acções de companhias, apólices, casa, chácaras, terrenos, situações e fazendas, assim como promover hypothecas, cauções, alugueis, arrendamento de propriedades e outros negocios á consignação, tudo mediante rasoavel commisão. – 44 – Rua da Imperatriz – 44 – S. Paulo
John Deeere
O nome que ser de epigraphe a este escripto é o do fundador da grande fabrica de instrumentos agrícolas em Moline, no Illinois. Os arados d’essa fabrica já de há muito tempo gosam de grande fama no Illinois e são conhecidos na maior parte dos estados da União Americana. Narrar a historia da fabrica de arados de Moline seria fazer a biographia de um ferreiro, que graças á sua actividade e intelligencia, passou de simples operário que era a ser possuidor de um grande estabelecimento, aonde se apromtam por dia mais de 100 instrumentos agrícolas e aonde acham occupação varias centenas de operários.
Informe
Bierrembach & Irmão – Campinas – Officina movida a vapor – largo de Santa Cruz n. 40 – Fabricantes e importadores de machinas para a agricultura e industria – Officina de caldeireiro de ferro para o fabrico e concerto de machinas a vapor – Fundição de ferro e bronze – Têm sempre grande sortimento de peças soltas e fundem toda e qualquer peça que lhe fôr encommendada. Especialistas no fabrico de machinas de beneficiar café, burnidores, arados e cultivadores; debulhador de milho, matadores de formigas, moínhos, engenho de moer canna, ditos de serrar, prensas para mandioca, algodão, etc., etc.
Trova popular
A perdiz pia no campoComendo seu capimsinho.Quem tem amor, anda magro,Quem não tem, anda gordinho.
Estatísticas
Dentre os 41 presidentes que tem sido a provincia 29 governaram-na em nome do partido conservador e 12 em nome do partido liberal.
Informe
Antiga casa de Mme. Thereza – L. Larose (Successor) – Nesta conhecida casa, estabelecida ha vinte e quatro annos, encontra-se o mais completo sortimento de Charutos nacionaes e extrangeiros. Artigos para fumante. Grande sortimento de brinquedos. Perfumarias finas – E uma variedade de artigos que seria difficil designar. Preços os mais módicos por ser tudo comprado por correspondentes especiaes da caso. – 16 B – Rua dos Ourives – 16 B – Rio de Janeiro
Trova popular
Eu jurei, você jurou,Jurei, juraste, juramos,Eu quebrei, você quebrou,Quebrei, quebraste, quebramos.
Sete palavras com tres lettras
Avô, Avó, Avo, Vôa, Vão, Ova, Váo.
Informe
Casa Bancaria do dr. Theodoro Reichert – S. Paulo – Entrando esta casa no 14° anno de existência, continúa as transacções bancarias do costume, descontando letras com duas firmas, abrindo contas correntes garantidas, dando dinheiro sob penhor de ouro e prata. Recebe dinheiro a premio pela seguintes taxas : Pagável á vista 50,0 ao anno – A praso de 6 mezes 70,0 – A praso de 12 mezes 80,0. dr. Theodoro Reichert.
“Alma nobre e pura, espirito vivaz e enthusiasta, coração eterno e apaixonado ; nasceu Silveira para ser um dia grande poeta e grande orador.” É assim que Paulo Egydio de Oliveira Carvalho se refere ao explicar quem foi dr. Joaquim Xavier da Silveira. Clique aqui para poder desfrutar da leitura do artigo.
Informe
Ao Yankee – Deposito de generos Norte-Americanos – S. Paulo – Rua Direita n. 2 A – Neste estabelecimento, único em seu gênero, em S. Paulo, encontram-se as afamadas machinas de gazolina para illuminações particulares, pára-raios, bombas hydraulicas de todos os systhemas, encanamentos para água, gaz e esgotos, lampeoes de todos os systhemas, cadeiras de todas as qualidades, fogões economicos variados, artigos de ornamentação para jardins, utensis de cosinha, abundante sortimento, caixas de diversas ferramentas, machinas, campainhas electricas e telephones, escadas, apparelhos para gymnastica, lavatórios, e uma grande variedade de objectos de uso domestico, ainda não conhecidos nesta província. Recebem-se encommendas para a Europa e Estados Unidos – Affonseca & C. – São Paulo.
Guia Medico
Para servir aos srs. fazendeiros na falta de profissionaes pelo Dr. Luiz Pereira Barreto. Exemplo : Croup. – Não existe o verdadeiro croup no Brazil, só temos o falso croup, molestia relativamente benigna, que cede com o tratamento da angina e da bronchite.
Informe
Elixir depurativo – Approvado pela exma, junta de hygiene e auctorisado por decreto imperial de 1871 – Tratamento radical das affecções syphiliticas, cancros, blenorrhagias, bobões, rheumatismo, bobas, ulceras, etc. – Grande purificador do sangue. Cura infallivel das empingens, dartros, escrofulas, manchas da pelle, espinhas, pustulosas, etc., etc. Optimo restaurador da saúde. Preparado pelo pharmaceutico e chimico – Eugenio Marques Hollanda – Provincia do Piauhy – Imperio do Brazil – Preço de cada vidro – 5$000 – A dúzia – 50$000 – A venda na casa – A.L. Garraux & C. – S. Paulo – 38 – Rua da Imperatriz – 38
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Jayme da Silva Telles
Dos apontamentos que devemos á amizade do finado cônego dr. Ildefonso Xavier Ferreira sobre os importantes acontecimentos políticos que se deram nesta província em 1821 – 1824, extrahimos um facto notável, talvez geralmente esquecido. Ei-lo:
“Em 1824, o coronel Francisco Ignácio, encarregado da gerencia da casa do finado brigadeiro Luiz Antonio, mandou o capitão Jayme, seu guarda-livros, para inspecionar e dirigir os engenhos de Piracicaba e Campinas, pertencentes á casa do dito brigadeiro.
Chegando Jayme a Piracicaba, o juiz ordinário suspeitando que elle fora para sublevar a escravatura, o prendeu e remetteu encorrentado para S. Paulo, dando parte ao dr. Medeiros, ouvidor de Ytú.
Este, logo que recebeu a communicação, mandou ordem, que se tirasse a corrente do preso, mas o portador não n’o alcançou.
Jayme entrou pela capital, fardado de capitão, e com a corrente ao pescoço!
Quem, como nós, contou o capitão Jayme entre os seus amigos; quem lhe conheceu a intelligencia e o caracter nobre e elevado dos antigos paulistas, melhor do que outros poderá apreciar como nauqeles bons tempos se respeitavam os direitos do cidadão neste paiz americano, onde a liberdade ensaiava timidamente os seus primeiros vôos. S. Roque – Maio de 1879. ” Barão de Piratininga.
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Informe
Ubaldino do Amaral – advogado – Beco das Cancellas n. 1 – Rio de Janeiro
Receita para conservar viçosas as flores
Feito o ramo orvalha-se levemente com água e colloca-se n’uma jarra que contenha água de sabão, a qual avigora os talos e conserva as flores como cortadas recentemente da planta. Todas as manhãs deve seccar-se do ramo a água do sabão e volta-lo com as flores para baixo por espaço de alguns minutos. Depois orvalha-se de novo com água fresca e põe-se outra vez na de sabão, a qual deve ser renovada de três em três dias. Com este processo póde conservar-se um ramo de flores fresco e bonito como no primeiro dia por espaço de um mez ou talvez mais.
Aphorismo
“No mais grave dos homens ha uma fibra de histrião.” Eça de Queiroz
Informe
Loja da China – Estabelecimento Especial de chá, cera e sementes – Está montado em condições de poder offerecer aos seus freguezes as mesmas vantagens dos principaes estabelecimentos da corte, para o que possue grande sortimento de Chá hysson, preto e verde e chá nacional, Em latas de todos os tamanhos e em caixas, cera em velas de todos os tamanhos e millagres de varios feitios – Sementes de hortaliças e flores, chocolate, sagu, tapioca, araruta, maisena, mate em pós e em folha, – objectos de escriptorio e outros muitos artigos. 24- Rua do Comercio – 24 – S. Paulo
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Soneto
Sou velho e sou casado, tenho filhas,Advogo p’ra viver, e fui juiz,Prézo e muito o valor do meu paiz,E da Liberdade sempre sigo as trilhas.
Adoro deste mundo as maravilhas,Sonhei na mocidade – era feliz!Mas nunca abaixou-se-me a cerviz,A mim jámais disseram: – tu te humilhas !
Sim ! mas aos Reis, aos fidalgotes,Aos mandões e á troça semelhante Que bruscamente mostram-se em magotes.
Hoje sinto-me ainda terno amante,Olhando da janella os bellos dotesDe uma virgem palmeira verdejante.
Côrte – Agosto – 1880
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Informe
Fogão Americano – <> – Premiado em tres exposições universaes – Philadelphia em 1876 ; Pariz em 1878 ; e este anno na capital da Australia , por ser o melhor fogão que até hoje se tem conhecido. – No Brazil já estão bastante conhecidos e nesta capital cantam-se cerca de duzentos destes magnificos fogões funccionando. – Deposito geral em S. Paulo – 52 A Rua da Imperatriz 52 A – Frederico A. Upton.
Datal
A installação da primeira assembléa legislativa provincial de S. Paulo deu-se a 2 de Fevereiro de 1835.
Trova popular
Todo o captivo procuraTer a sua liberdade,Eu procurei captiveiroDe minha livre vontade.
Deliciosa bebida
Deitem-se tres gemmas de ovo em uma grande taça, das de preparar punch, adicione-se-lhes um calice de bom cognac e meia colher de chá de biter d’Angostura. Bata-se tudo muito bem batido durante uns dez minutos, pelo menos, e continuando sempre a mecher, despeje-se-lhe uma garrafa de verdadeiro Champagne e depois… beba-se. É simplesmente uma cousa admiravel, dizem os inventores, capaz de resuscitar defuntos. Experimentem os incredulos, e mandem-nos para o anno um perú, pelo conselho.
Informe
VASELINE – Pomada dos fabricantes Cherebruugh, Manufacture & C. – Essência de petróleo – pura e altamente concentrada ; refinada sem destilação e sem agentes chimicos – a mais hygienica – e perfeita para uso dos cabellos. Promove seu crescimento abundante e sem caspa.Também é utilíssima contra os defeitos da cútis e um emoliente sem egual. Em pacotes de cor azul. Á venda na drogaria de João Candido Martins & C.ª – 38 Rua S. Bento 38
Lição
Certo nobre, fallava muito, porém era pouco generoso. Uma dama em um dia que não estava satisfeita com o seu muito palrar, disse-lhe : – O melhor senhor deste reino, seria vossa senhoria, se os cordões que tem a sua bolsa apertassem a sua bocca.
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O Rábula
Não tem pelos formados sympatia ; Usa cartola em dias de audiência,Trajando fato preto, por decência,Faz guerra sempre ao sello e á orthographia.
Traz narizes de cera em quantidadeNas mais altas questões fazendo vasa,E sendo escravagista em sua casa,Canta idyllios na rua, á liberdade :
Uma questão pendente sempre a braços ; Bate palmas nas boas decosões,Que apertam-n’o ao cliente em doces laços :
Eis o homem das taes ardenações,E si dou d’elle aqui ligeiros traços…(Chapa)Salvo também honrosas excepções.
Paraíso, 18 de junho de 1883.
A. Daniel do Prado.______
Lição
A probidade, disse Blanchard, conduz vagarosamente ao templo da fortuna.
Informe
Escritório de Advocacia – O Advogado – Alfredo Silveira da Motta – encarrega-se de todos os negócios relativos á sua profissão, na capital e no interior – Também se incumbe de dependências nas repartições publicas, mediante módica com missão – Escriptorio : 19 Travessa do Rosario 19 – Residencia : 8 B Rua Aurora 8 B S. Paulo
Letigio interessante
Deu-se em tempo, na cidade de Ytú, em letigio entre partes, originado por uma data de terra, devoluta, sita onde hoje é o Pateo do Patrocínio, e cedida pela Câmara de então a uma d’ellas com a clausula expressa de, se durante o espaço de seis mezes a não fechasse, ficar sem effeito a doação. Como, porém, não o fizesse, a outra parte a pediu á referida Câmara, q eu também a cedeo, e estando este a levantar os muros, foi a obra embargada. Um rábula advogado do primeiro possuidor, sabendo que no dia seguinte tinha de fazer-se uma vestoria por parte da Câmara, aconselhou-o a que, para mostrar seu direito de posse, plantasse n’essa noite, (que foi chuvosa e de relâmpagos,) arvoredos por esse campo inculto. Este facto deu motivo a que o Capitão-mór Vicente da Costa Taques Goes e Aranha produzisse a poesia seguinte :
Hontem de tardesinha vi um campo,Vestido de capin, nenhum arbusto ;Hoje de manhã com assombro e sustoTroncos e fructos vi no mesmo campo.Milagrosa foi a lua e pyrilampos,Que tal milagre fez em uma noite ;Mas não se livrará de algum açoiteO autor de tão rara pantomima,Que quis cegar dos olhos a menina Do perspicaz juiz de dia e noite.
Receita para matar pulgas
Pega-se n’uma pitada da rapé e põe-se sobre o mármore do fogão, da commoda, do aparador, ou de qualquer outro móvel. A pulga vem, váe ver o que aquilo é ; mette o nariz e cheira. Como o rapé é forte, a pulga espirra,- pshi ! Dá, porém, com o craneo no mármore e morre !
Um conselho util
Systema usado pelas engommadeiras parisienses para dar brilho aos engommados e toda apparencia nova aos tecidos, incluindo as rendas : Deitam-se em um jarro 60 grammas de gomma arábica, bem branca e limpa, e por cima um litro de água a ferver ; tapa-se me seguida e deixa-se repousar durante vinte e quatro horas ; côa-se então por uma cambraia fina e guarda’se em uma garrafa. Quando se quer usar basta dissolver uma pequena porção d’este liquido na gomma, preparada como se usa vulgarmente, para obter as vantagens acima declaradas, seja qual for a qualidade do tecido, com tanto que seja de linho ou algodão. Nas chitas e cretonnes é egual a sua influencia ; apresenta-as completamente novas. O tuttle e a mais fina cambraia podem egualmente supportar este mesmo processo. A porção empregada deve ser de uma colher de sobremesa, ingleza, para cada litro de gomma.
Trova popular
Si querem saber, eu contoA vida de um desgraçado :É querer bem sem ser querido,Responder sem ser chamado.
Aphorismo
“O progresso é a lei geral do universo.” E. Pelletan
A chicana forense
“De um livrinho, Guia do Juiz de Paz, escripto em 1829, pelo padre Diogo Antonio feijó, vae abaixo transcripto textualmente, e com a propria orthographia, o capitulo que serve de introdução ao mesmo : INTRODUSAÕ – A Constitusaõ e a Lei quizeraõ impor silencio ao estrépito do Fôro Judicial ; e segurando quanto é compatível com a brevidade, os direitos do Cidadão. Prescreverão um processo simples, e natural ao Juis de Pál ; mas não tem acontecido asim. Os Rábulas, e ainda mesmo os Letrádos tem aconselhado um processo tortuozo, que vae tornando a Magistratura da Pás um flagelo, e origem de supérfluas despezas para o povo. Para obviar semelhante mal, e para que não caia em discredito um Instituisão, que tanto bem nos pode fazer, como faz prezentemente á Inglaterra, e a Fransa, ofereso minhas ideas á consideração dos Juizes de Pás ; as quaes sendo todas fundadas na Lei, que os creou, ou dezentranhadas do espírito della, podem servi-lhes de um Manual pratico, onde axarão fácil meio de dezempenhar suas tão úteis atribuisões. Praza aos Ceos, que espíritos acostumados a xicana não ponhaõ obstáculos aos meos dezejos, tornando até inútil este meu limitado trabalho ; resta-me pelo menos a consolasão de aver feito o que pude a bem da minha pátria.” S. Paulo, 30 de Janeiro de 1829, Diogo Antonio Feijó
Informe
VALVOLINE – Azeite para machinas – O melhor e mais econômico lubrificante conhecido. Os azeites de sebo, graxa, etc., etc., corrompem e destroem o metal, devido aos ácidos estearico,margarico e oleoso, que os óleos desta classe contém. As informações dos chimicos, depois de uma prolongada analyse, manifestam que a Valvoline não contém ácidos nem absorve oxigênio, e por conseguinte não póde oxidar nem corroer a cavilha mais fina, pelo contrario a conserva em perfeito estado como se estivessem endurecidas.Usado exclusivamente na esquadra ingleza, pela Estrada de Ferro D. Pedro II, typhographia do jornal do Commercio, corpo dos bombeiros da Corte e empresa da Luz Electrica de Campos. Agente em S. Paulo – F. Upton & Companhia – I- Largo do Rozario – I.
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A vida do estudante
Triste vida do estudante,Vida triste e mal falada,Que com a reles mesadaPassa miserias.
Esperando pelas férias,A vêr se ganha dinheiro,Passa-se o anno inteiroVida mofina.
Que a fome bem nos ensina,A não soffrer palanfrorios :É viver n’um purgatorio,Não ter comida.
Arrenego eu da vida,Que nos faz tanto penar,Sómente para alcançarUm pergaminho.
Andarmos tanto caminho,Té chegar á Paulicéa,Ganharmos linda tetéaBorla encarnada !
Começa a nossa massadaPor aturar veteranos,Que nos tecem mil enganos,E nos desfrutam.
As horas sete se escutam,No triste sino tocar,Que nos fazem alevantarDa quente cama…
Á pressa frita-se á ama,Que ponha a agua no fogo ;E ella vem dizer logo :<
Então de gravata tesa,Enfiando o casacão,No buxo damos c’um pão,Mal mastigado.
E vamos ao malfadadoConvento de S. Francisco,Ainda correndo riscoDas caçoadas.
Vem a feroz crueldade,Da embirrante philosophia,Rhetorica e geometria,Com que suamos.
Os sustos que então soffremosDe algum – R – levar,Não se póde compararCom os de morrer.
Mas se chegamos a vêr,Em livros para nós sagrados,Que estamos approvados,Oh que impostura !
Em casa ninguem atura,O modo porque contamos,Que ao lente nós espinhamosEm um só momento !
Tiramos conhecimentosNa magra thesouraria,E vamos á AcademiaMatricular-nos.
Logo vamos sentar-nos,Em bancos enumerados,Matutos embatucados,A ouvir cavaco.
Mas se nos mettem no cacoDe premio ser estudante,Revolvendo toda estanteSem fazer nada.
Depois de mal amassada,A desfructavel lição,Com uns cadernos na mão, Vamos aos geraes.
Depois com alegres signaes,Pergunta-se: – <>Responde um outro agastado:- <
Entra-se então descontente,Para a classe nunca vista;Puxa o lente pela lista…Oh que aperturas !
Por ora só conjecturas :Suspensos todos ficamos,Emquanto não escutamos :- <>
Maldito primeiro anno !Maldito seja o teu ponto…Mas que vá tudo em descontoDos meus peccados !…
S. Paulo – 1833.
DR. A. A. de Queiroga
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Edição especial, comemorativa do 11 de agosto. Tudo até aqui publicado foi extraído dos oito volumes do “Almanach Litterario” de São Paulo, publicado por José Maria Lisboa. Em 1875, aceitando administrar “A Província de São Paulo”, novo órgão de imprensa, fundado por um grupo de fazendeiros, capitalistas e bacharéis em direito, Lisboa teve à sua disposição não só a tipografia própria, em favoráveis circunstâncias técnicas e econômicas, como o ambiente adequado à iniciativa. Desse modo, associando-se a Abílio Marques (com experiência anterior no ramo) e a J. Taques, pôde lançar o “Almanach”. Ao todo, foram produzidos oito volumes, sendo um por ano, até 1885.