O apito soou. Não era o do juiz, mas o da História chamando para mais uma partida: o grande clássico , A Cópula do Mundo. Em campo, os mandatários, chefes de Estado e líderes influentes, todos vestidos com seus ternos de jogo, devidamente engomados de vaidade. Mas não havia traves, nem regras claras. Apenas um campo sem fronteiras onde todos chutam, berram, empurram e juram estar certos. De um lado, Donald Trump (EUA), atacante de cotovelos afiados e declarações inflamadas. Do outro, Xi Jinping (China), zagueiro milenar, que joga com tática confucionista e um muro na grande área. No meio-campo, Emmanuel Macron (França), elegante e escorregadio, tentando distribuir a bola entre as potências enquanto segura sua própria posse. Na lateral-esquerda, Lula (Brasil), gingando com o povo e tentando convencer a torcida de que a bola ainda é redonda, mesmo quando parece “quadrada”. Narendra Modi (Índia) corre como maratonista espiritual, enquanto Olaf Scholz (Alemanha) tenta manter a disciplina tática em meio ao caos. Giorgia Meloni (Itália) cruza bolas conservadoras, mas vive armando jogadas imprevisíveis. Zelensky (Ucrânia), camisa 10, corre com sangue nos olhos e microfone na chuteira. Já Putin (Rússia) não joga: invade o campo alheio e marca gol com mão de ferro, sob vaias e aplausos divididos. Benjamin Netanyahu (Israel) joga com chuteiras de chumbo e um escudo invisível . Na ponta oposta, Ali Khamenei (Irã) arma jogadas teocráticas que ninguém entende, mas que explodem no meio-campo. Da Venezuela, Nicolás Maduro chuta para todo lado e jura que o placar está a seu favor. Javier Milei (Argentina) corre desgovernado, driblando o próprio time enquanto grita contra os juízes. Kim Jong-un (Coreia do Norte) se isola na grande área e só aparece quando manda um petardo de fora do estádio. Do continente africano, Cyril Ramaphosa (África do Sul) tenta equilibrar o jogo com diplomacia de sobrevivência, marcando presença onde os outros esquecem o gramado. E enquanto os líderes batem cabeça, surge ele, o presidente da FIFA geopolítica imaginária: Gianni Infantino, que finge neutralidade enquanto distribui tapinhas, verbas e gramados sintéticos. E os juízes? Há muitos. Alguns invisíveis, interesses econômicos, tratados obscuros, bancos centrais. Outros são bandeirinhas hesitantes, levantando a bandeira só depois de ler a imprensa. A mídia narra, cada canal com seu tom, entre sensacionalismo, omissão e fake news. Os gandulas? Organizações internacionais correndo para repor uma bola que ninguém quer manter em jogo. A torcida é planetária, bilhões gritando em línguas diferentes, cada qual com sua dor, sua crença, seu desejo. Uns assistem em pé, outros ajoelhados. Muitos já viraram as costas, cansados da mesma pelada sangrenta que se arrasta há séculos. Essa não é uma Copa comum. É uma cópula, fecundação global de ideias, egos, bombas, e promessas. Uma gestação geopolítica de oito bilhões de pais, com parteiras digitais e ultrassons via satélite, encaminhada por Elon Musk. Mas afinal, o que nascerá dessa cópula? Um novo sistema? Um híbrido esperançoso de humanidade regenerada? Ou mais um rebento deformado por guerras e poder? O parto será natural ou cesárea de emergência? O campeão deste torneio não erguerá taça, mas parirá um novo modelo o filho legítimo dessa era de transição. Um herdeiro de contradições, que precisará desaprender a violência para aprender a existir. Oxalá venha com pulmões fortes, para respirar menos carbono e mais dignidade. Que tenha pés leves para andar entre culturas, sem pisar em ninguém. Que tenha mãos para reconstruir, olhos para ver o outro e ouvidos para ouvir antes de berrar. Esse novo modelo, nascido entre escanteios éticos e dribles morais, poderá ser o selecionado da espécie, humano e finalmente, humanizado. Porque a bola precisa continuar redonda, para que as próximas cópulas surjam melhores. A humanidade ainda merece um bom segundo tempo. E que não seja preciso VAR divino para revisar tanta falta cometida contra o futuro.
Walter Naime
Arquiteto-urbanista
Empresário