PADRE JOSÉ CARLOS TADEU RIBEIRO (PADRE ZÉCA)
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 14 de fevereiro de 2009.Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: PADRE JOSÉ CARLOS TADEU RIBEIRO (PADRE ZÉCA)
A auto-realização é aparentemente a viagem mais longa que se faz através da vida. A vida no mundo deve ser muito honesta, muito ética. Quando o homem não observa a lei interior, que provém da lei de causas e efeitos, seus olhos estão fechados. Existe neste mundo muitos seres com os quais estamos ligados ou relacionados de muitas formas. A cada um devemos alguma coisa. A uns devemos consideração, a outros o respeito, a uns serviços, a outros a tolerância, a uns o perdão, a outros o auxílio. As religiões têm servido de referencial para nós e trouxe um grande avanço moral (família, estado e política). São Tomás de Aquino diz que: “A consciência moral é a voz interior que nos diz que devemos fazer o bem e evitar o mal”. O equilíbrio interno é a mola propulsora da harmonia, ter consciência é saber discernir com critérios justos e bons. No mundo contemporâneo, fala-se muito de liberdade de expressão, mas a vida tem regras para ser seguidas, regras essas que são impostas pela mesma liberdade e uma vez infringidas, acabam sofrendo conseqüências irreversíveis. Sabemos que ética no sentido absoluto, não é apenas aquilo que se costuma fazer em uma sociedade boa é aquilo que é bom em si mesmo. Aquilo que não é negociável, é algo que não se pode discutir nem transigir. O que é digno do ser humano, o que se opõe ao indigno. A velocidade de evolução tecnológica impôs um ritmo quase alucinante á humanidade. Quando a lei do materialismo rege os nossos atos e decide por nós, a ética desaparece e, com isso temos uma liberdade falsificada, um falso poder sobre essa liberdade. Ao líder espiritual de uma comunidade cabe uma tarefa sobre-humana: não nos deixar sair dos trilhos. O Padre José Carlos Tadeu Ribeiro, conhecido como Padre Zéca, é um líder espiritual. A sua fé o torna carismático. Religioso dedicado ao trabalho junto aos fiéis, não descuida de estar sempre estudando e conhecendo melhor a natureza humana.
Padre Zéca o senhor tem em sua família um irmão que também é padre?
Meu irmão Antonio é padre também, ele é o irmão mais velho. A seguir eu, que nasci no dia 27 de maio de 1964, e o Celso, que é Ministro Extraordinário da Eucaristia. Temos duas irmãs: a Andréia e a Silvanete. Somos filhos de Nair Granzotto Ribeiro e José Ribeiro.
Qual é a origem dessa forte religiosidade na família?
Nossos avós eram pessoas que freqüentavam a igreja, eram muito católicos. Quando a família participa da igreja ela tem muita influência na vida dos filhos.
O senhor iniciou seus estudos em Piracicaba?
Estudei na Escola Estadual Professora Jaçanã A. Pereira Guerrini da primeira até a oitava série. O colegial eu fiz na Escola Estadual. Professor José de Mello Moraes. Cursei o Magistério.
Quando se manifestou a vocação do senhor para ser padre?
Conheci Jesus através da bíblia. Tenho um grande amor á Deus. Quando meu irmão foi seguir o sacerdócio, eu tinha uns treze anos de idade. Nessa época eu já tinha um grande amor á Deus, ao ser humano, aos necessitados. Praticamente herdei esses sentimentos da minha família, pelo fato de ser muito religiosa.
Como o senhor entrou na vida religiosa?
Iniciei a minha caminhada em Jaú. Entrei para a Ordem Premonstratense, fundada em 1121, por São Norberto em Premontré, situado no norte da França. Essa ordem é responsável pela Paróquia São Judas Tadeu, aqui em Piracicaba. Eu sempre digo ás pessoas que o testemunho e o exemplo podem mudar a vida de uma pessoa. Um padre que marcou muito pela sua simplicidade, sua vocação para com o povo, foi o Padre Bruno. Ele dava a vida pelo povo. Quando eu assistia as celebrações realizadas por ele, pensava em meu interior, que se um dia eu chegasse a ser padre gostaria de ser como Padre Bruno. Um padre do povo.
Quantos anos de estudo o senhor realizou para ser ordenado como padre?
Existem dois tipos de padres. Os padres que são religiosos moram em seminário, em vida comunitária, e existem os padres seculares, que são os padres que moram na paróquia. Hoje eu sou um padre secular, pertenço hoje á Arquidiocese de Montes Claros, Minas Gerais, cujo Bispo é Dom José. A paróquia é a de São Pedro Apóstolo. Sou o pároco lá. O Padre Alencar, que é um padre muito querido dos paroquianos, me auxilia. Geralmente a formação de um padre dura uns dez anos, a minha durou um pouco mais, de quatorze a quinze anos. Não tive muita pressa. Durante esse período eu sempre buscava em Deus a resposta se era o desejo dele que eu tornasse-me padre.
Cuidar de uma paróquia é muito difícil?
Quando trabalhamos com pessoas, duas coisas são fundamentais na vida cristã: humildade e mansidão. Como pregou Jesus: “Eu sou manso e humilde de coração”. Se essas duas atitudes não existirem, fica difícil. Principalmente na atual realidade os seres humanos complicam muito a vida. E a vida é muito simples. Como pessoas nós temos muitas dificuldades de diálogos, relacionamento. O amor de Deus que todos deveriam viver é um amor que almeja a realização e a felicidade dos seres humanos.
Como é a vida de um padre?
É muito corrida. Ao contrário do que muita gente pensa. Tem algumas pessoas que acham que padre não faz nada. Tenho 11 comunidades rurais e cinco comunidades urbanas. Chego a celebrar em um domingo de cinco a sete missas. Fora as reuniões. Levanto ás cinco horas da manhã. Temos como obrigação rezar a liturgia das horas: ela é feita de manhã, no almoço, á noite e um horário após as dez horas. Fiz a Faculdade de Filosofia, que é fundamental para a formação de um sacerdote, e a Faculdade de Teologia, que é o estudo de Deus. Como amo muito aos seres humanos, sou muito espiritualista, a dimensão espiritual do ser humano eu conheço muito bem. O que ás vezes é difícil de entender é o aspecto físico do ser humano, o que ele vive em seu interior. Para entender a dimensão espiritual de uma pessoa o fato de eu ser um sacerdote torna muito fácil essa compreensão. Um problema físico pode ser uma doença mental, emocional.
Atualmente a doença da vez é o stress?
Uma das coisas mais comuns é a depressão. É uma doença mental e física. É necessário que seja definida até que ponto é física e até que ponto é espiritual. Um psicólogo ou um médico pode enfrentar alguma dificuldade em entender a dimensão da doença espiritual.
A humanidade está doente?
Sim. De duas formas: fisicamente e espiritualmente. Há mais doentes espiritualmente. É a falta de Deus.
A célula mãe de qualquer sociedade é a família, está havendo uma perda dessa identidade?
Deus é a base, o alicerce da vida familiar. Se for feita uma construção sobre areia ela irá desmoronar. É o que está acontecendo com a família. Há uma grande dificuldade de relacionamento e convivência entre as pessoas. Quando essa dificuldade é superada a vida se constrói. Em uma família onde não existe dialogo, convivência fica difícil. Hoje cada membro de uma família dirige-se á uma ocupação, trabalho, estudo. Que momento a família tem para estar junto? Quase nenhum e geralmente á noite, quando voltam do serviço. Uns ficam em frente á televisão, á internet, e a família acaba não tendo tempo para ela mesma, como família ela deixa de existir. Não há dialogo. Há uma frase de São Paulo que diz: “Não deixe o sol se por sobre os seus problemas”. Na atual estrutura social, os problemas vão se acumulando. A nossa vida por mais que se busque a realização e a felicidade sempre iremos nos depararmos com as limitações humanas. E muitas vezes deixamos de perguntar como lidar com essas limitações. O que fazer com elas? O amor constrói, edifica a vida humana. O amor é solução para tudo. A resposta para essas indagações é amor.
O senhor está indo de encontro com a grande corrente atual da humanidade, que é basicamente materialista?
Percebo que os seres humanos têm uma dificuldade muito grande em lidar com Deus. Se relacionarem com Deus. De conviver com Deus. Acredito que o grande erro, que eu percebo nas faculdades, nas escolas, na busca do conhecimento, da sabedoria humana, é querer separar “o humano” do “divino”. O humano e o divino são duas realidades que caminham juntas. Há uma grande procura de realização, de felicidade, sendo que o centro dessas realizações é Deus. Muitas vezes há quem queira descartar Deus dessa felicidade, querendo preencher a vida com aquilo que é material. O que dá sentido a vida preenche os vazios, a essência da vida humana é Deus. A partir do momento em que se afasta dessa realidade busca-se o que é superficial, a aparência. Passa a ser uma vida pautada pela falsidade, pela aparência, tentando preencher as nossas insatisfações. O que preenche o ser humano é Deus e não o materialismo, o dinheiro.
O que é pecado?
Vejo pecado como um mal existente no interior do ser humano. O pecado é aquilo que destrói o homem, que faz com que cada um perca a sua identidade como filho de Deus. A imagem e semelhança do Criador.
A Igreja Católica classifica tipos de pecados?
Existem os pecados leves, grave e os mortais. O pecado leve é aquele pecado mais comum, é o pecado do dia-a-dia. Um exemplo desse tipo de pecado pode ser a inveja, os ciúmes. O pecado mortal é o que proporciona a morte do ser humano, tanto a morte física como a espiritual. O pecado contra Deus é considerado mortal. O pecado mortal é um pecado que depois de cometido não tem como reparar-se. O aborto é um exemplo. É como um cristal que se quebra, não há como voltar a sua forma original. Quando atendemos a uma pessoa que realizou um aborto percebemos como é difícil essa pessoa ser curada. A pena de morte acompanha a pessoa por toda a sua vida. Vejo o aborto como uma atitude desumana. O nosso Deus é um Deus da vida, tem como objetivo gerar a vida dos seres humanos. Assim também deveria ser o objetivo dos seres humanos. A partir do momento em que você mata alguém, você estará matando a si próprio. Para citar um exemplo á respeito do assunto, uma mulher foi vítima de um estupro. A principio ela queria abortar. Acabou decidindo ter a criança. Hoje, essa criança é uma psicóloga que ajuda a muitas pessoas.
Qual é o melhor caminho para se conhecer mais a Deus?
É preciso buscar Deus!
Cada um tem uma imagem sobre Deus, como o senhor pode expressar essa imagem?
Eu tenho tido muitas surpresas com o Papa Bento XVI. Ele resumiu Deus em uma só palavra: Amor. Deus é isso!
Como o senhor vê o surgimento de inúmeras seitas religiosas?
Conheço muitos evangélicos, tenho muitos amigos evangélicos. Tem muitas pessoas que levam a sério aquilo que fazem. É interessante notar que a religião evangélica de certa forma já existia no tempo de Jesus. Os discípulos chegaram uma vez para Jesus e disseram: “–Jesus tem algumas pessoas que estão falando em seu nome e não são dos nossos”. Jesus respondeu: “-Se eles estão falando de Deus deixem que fale”. Existem também alguns que usando o nome de evangélicos são fornecedores de ilusão com objetivo puramente comercial.
Como o senhor define a importância do ato de confessar junto a um padre?
Existe um ditado que diz que o interior do coração do ser humano é um lugar onde nenhum ser humano consegue entrar. Deus consegue. A confissão é a permissão dada para Deus entrar em seu coração. O olhar de Deus é um olhar de misericórdia. A confissão é muito importante. Deus não irá julgar ou condenar como os homens fazem.
Em dias de movimento até quantos fiéis o senhor chega a confessar?
Eu sou um padre muito procurado. Dependendo da pessoa chego a ficar uma a duas horas no confessionário. Já ocorreu uma situação em que tinham quinhentas pessoas querendo confessar, o que lógico foi impossível. No máximo dá para atender cinqüenta pessoas, isso em confissões bastante breves. A confissão é feita sem anteparos. Eu sempre digo ás pessoas que a confissão é o encontro de você com você mesmo. Muitas pessoas vivem em um mundo fechado.
Com todo respeito, como sai o ouvido do senhor?
Acho que a pergunta correta deveria ser como sai o meu coração. Mexe muito comigo, saber que os seres humanos vivem em seu interior. Sofrem demais. A grande dificuldade da humanidade é buscar aquilo que realmente dá sentido á vida humana. Jesus mesmo fala: “Busque os tesouros do alto”.
Alguns católicos dizem que preferem fazer o contato direto com Deus, sem a intervenção de um padre. Como o senhor os classifica?
Esses cristãos são Cristãos Denorex. Parece, mas não é!
(O padre refere-se a um comercial que anunciava um produto chamado Denorex. O anúncio tinha o seguinte bordão: “Parece, mas não é”).
1 comentário
Lendo está reportagem deste padre eu acredito que seja meu primo que não o vejo a mais de 40 anos,sou de Osasco meu nome é Margarete Meire Ribeiro de Alencar,minha mãe Angelina Ribeiro de Alencar e minha avó materna Rita de Oliveira Ribeiro,meu avô Benedito Ribeiro eram de Piracicaba