PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de junho de 2018.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de junho de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: NELSON DE OLIVEIRA BUENO
ENTREVISTADO: NELSON DE OLIVEIRA BUENO
O advogado e contador Nelson de Oliveira Bueno dá umas pinceladas da história de Piracicaba, uma cidade onde muitos se conheciam e eram conhecidos. Herdou do seu pai uma loja de ferragens na Rua Governador Pedro de Toledo, mas logo viu que tinha vocação para trabalhar com números, e mais tarde também com leis. Ao sabor da sua memória, lembra-se de algumas pessoas, fatos, lugares. Mantém um bom humor elogiável, perspicaz, raciocínio rápido. Como um quebra cabeça, vai contando fatos que se encaixam no grande painel da História de Piracicaba. Nelson de Oliveira Bueno nasceu a 2 de maio de 1925. Do alto dos seus 93 anos mantém o bom humor constante, sem perder a oportunidade de provocar o riso com suas inteligentes, rápidas e inocentes frases, fazendo com que as pessoas ao seu redor tornem-se mais alegres. Nascido em Piracicaba, a Rua Governador Pedro de Toledo onde seu pai João de Oliveira Bueno era comerciante, proprietário da Casa Bueno, especializada em ferragens, situada nas proximidades do Mercado Municipal, em frente a casa de Inácio Negreiros, entre a Rua D. Pedro II e Rua Rangel Pestana. Sua mãe era Francisca de Mello Bueno.
Quantos filhos seus pais tiveram?
Tiveram 12 filhos, sendo que 5 faleceram ainda muito novos.
O senhor estudou em qual escola?
Um ou dois anos estudei no Grupo Moraes Barros, eu morava perto, na Rua Alferes José Caetano. Depois mudamos para a Rua São João, passei a estudar no Sud Mennucci.
Tive aulas com grandes professores: Demóstenes dos Santos Corrêa, conheci Benedito de Andrade, mas não tive aulas com ele. Jethro Vaz de Toledo era professor do Curso Normal. Tive aulas de química com o músico Erotides de Campos. (Ele era professor de música, mas diz a lenda que forças ocultas o forçaram a transformar-se em professor de química lecionando uma matéria que pouco conhecia, fazendo o máximo para dar o melhor de si). Erotides de Campos era pardo (afro-descendente), uma pessoa muito boa. Tive aulas com os irmãos Dutra: Archimedes Benedito e João. Eram bons professores. O diretor era Lamartine Coimbra. No Sud Mennucci fiz o ginásio.
O senhor foi trabalhar com seu pai na Casa Bueno?
Fui. Ao lado havia a Casa Guerra de José Guerra, um português, de baixa estatura, usava suspensórios, casado com Mariquinha Guerra. As chamadas “casas de curta permanência” situavam-se na Rua Benjamin Constant, entre as ruas Cristiano Cleopath e São José isso na década de 40. Era a rua do pecado. A cidade foi crescendo, e aquela área foi valorizando-se, empurrando as moradoras para um local mais afastado. Coincidiu de o Guerra ter construído uma série de casas no local denominado Cano Frio para onde essas profissionais da noite mudaram-se e viria a ser transformado na nova zona do meretrício, na rua Silva Jardim substituindo a da rua Benjamin. Quando menino presenciei muitas vezes as idas dessas senhoras que iam negociar em sua loja, pagar aluguel. Há um fato muito curioso: em frente a Casa Guerra, atuando também no ramo de armarinhos, havia a Casa da Paz, de propriedade do libanês Antonio Sallun, irmão de Elias Sallun.
O senhor permaneceu trabalhando com seu pai até se casar?
Exatamente, casei-me com Lourdes Oliveira Bueno na Igreja Matriz de Santo Antonio. Tivemos três filhas: Maria de Lurdes, Maria Lígia e Maria Lúcia.
O senhor assumiu a propriedade da Casa Bueno?
Assumi, mas achei por bem vender a Casa Bueno. Decidi morar em Santa Bárbara D`Oeste. Tinha um amigo que trabalhava em um banco, ele indicou uma empresa de tecelagem, fiquei um bom tempo trabalhando lá. Depois fui morar em São Paulo, na Rua Cardeal Arcoverde quase esquina com a Rua Fradique Coutinho. Fiquei algum tempo trabalhando lá, mas não gostei. Voltei para Piracicaba, estudei contabilidade na famosa Escola do Zanin, próxima ao Cine Politeama. Após formado tinha o meu próprio escritório: Escritório Bueno, situado a Rua 13 de Maio, próximo ao Museu Prudente de Moraes, em frente a Casa do Dedini.
O senhor continuou seus estudos?
Surgiu a oportunidade de fazer o curso de Direito, isso na primeira turma do curso que inicia seus estudos no ano de 1972, na UNIMEP. Cursei a noite. Peguei um ano em que o curso durava quatro anos, na turma seguinte o curso passou a durar cinco anos. Como advogado trabalhava em todas as áreas menos a criminal.
O senhor conheceu o Teatro Santo Estevão?
Frequentei o Teatro Santo Estevão. Foi uma demonstração de ignorância a sua demolição. Diz a lenda que a freqüência, o barulho noturno, a falta de banheiros suficientes que obrigava aos freqüentadores a se aliviarem na parte externa ao teatro, incomodava vizinhos poderosos que moravam nas proximidades. Estes com o aval de pseudo-intelectuais, subornados, apresentaram um projeto de demolição à Câmara Municipal. Estando o prefeito ausente da cidade, em questão de horas aprovaram a demolição e colocaram abaixo um monumento cultural. Eu ia muito ao Teatro Santo Estevão a noite, lá nós tínhamos um clube, no terceiro e último andar. Jogávamos ping-pong.
O senhor conheceu Jacob Diehl Netto?
Conheci! Tinha mais idade do que eu. Foi um advogado muito famoso, político, jornalista, poeta, colaborou no “Jornal de Piracicaba” foi um dos fundadores do “Diário de Piracicaba”. Presidiu o E. C. XV de Novembro e o Clube de Regatas Piracicaba. Foi consultor jurídico da Prefeitura Municipal de Piracicaba e fez parte da Câmara Municipal. Participou do 1º Batalhão Piracicabano com a esposa e o filho Paschoal, na Revolução Constitucionalista de 1932
Lélio Ferrari foi seu conhecido?
Conheci Lélio Ferrari, era proprietário da torrefação e moagem do café “Brasil”. Inaugurou o Café Haiti na rua Moraes Barros, perto da Galeria Brasil, onde instalou o primeiro café de máquina da cidade. Foi proprietário do Armazém Brasil, que nos anos 60 se tornou no primeiro supermercado do interior paulista.
Advogado era uma profissão rentável?
Não ganhava muito não. Fiz a faculdade depois de casado, na Rua D.Pedro, no prédio do Colégio Piracicabano, tem um pilar com uma placa onde consta o nome de todos os formandos daquele ano. Havia muitos professores que vinham de outras cidades lecionar aqui.
Lembra-se de Getúlio Vargas?
Meu pai e minha mãe tinham muitas idéias divergentes, a única coisa em que se entendiam bem era na política, quando Getúlio foi candidato eles o apoiaram, logo que ele tomou posse eles se decepcionaram com ele. Quando Getúlio era bom o povo era contra, depois Getúlio ficou ruim o povo resolveu ficar a favor.
Será que é por causa das Leis Trabalhistas criadas por Getúlio?
As Leis Trabalhistas, disciplinando os direitos trabalhistas não foi Getúlio Vargas que fez, foi a época! Essa mudança foi mundial.
A nossa Constituição já foi mudada por oito vezes, qual é a sua opinião?
Não sabiam o que queriam! Até hoje não sabem! Já acompanhei muito a política, nunca quis me candidatar, hoje já não acompanho como antes. Conheci Jânio Quadros pessoalmente, ele vinha à Piracicaba eu subia no palanque. Adhemar de Barros nasceu em Piracicaba, eu era contra ele. A mais espetacular ação da luta armada no Brasil foi anunciada ao resto do mundo pelo capitão Carlos Lamarca, um dos líderes da guerrilha contra o regime militar instalado em 1964. “Depois de uma longa investigação, localizamos uma parte da famosa ‘caixinha’ do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, enriquecido por anos e anos de corrupção. Conseguimos US$ 2,5 milhões. Esse dinheiro, roubado do povo, a ele será devolvido”, disse Lamarca à agência internacional France Presse. Ele se referia a um cofre retirado na sexta-feira 18 de julho de 1969 da mansão onde morava o irmão de Ana Guimol Benchimol Capriglione, que fora amante de Adhemar de Barros, morto quatro meses antes. Conhecida nos meios políticos pelo pseudônimo de Dr. Rui. Na realidade, a guerrilha tinha informações de que o ex-governador deixara oito cofres, mas só conseguiu colocar a mão em um deles. (Depoimento complementado por informações da “Revista Isto É” Edição nº 2527 de 21de julho de 1999).
O senhor conheceu Mário Dedini?
Conheci, ele tinha um filho Armando Dedini, eu tinha um amigo, Antonio Carlos Teixeira Mendes, o Dedini incentivou a viagem dos dois para os Estados Unidos, seu objetivo era que o seu filho conhecesse novas realidades.
O senhor nadou no Rio Piracicaba?
Nadei! Eu freqüentava o Clube de Regatas Piracicaba, cedinho, quando levantava ia para o Regatas. Remava catraia, tinha também um sandolin.
O senhor fez o Tiro de Guerra?
Fiz! Na época ficava na Praça Industrial, onde funcionou o Tiro de Guerra nº 270,
Escola Industrial e Delegacia de Ensino. Na rua do Rosário esquina com a rua Monsenhor Francisco Rosa. Lembro-me do trem da Sorocabana, da Paulista. Com a Sorocabana ia para São Pedro, passear. Com a Paulista ia para São Paulo.
Escola Industrial e Delegacia de Ensino. Na rua do Rosário esquina com a rua Monsenhor Francisco Rosa. Lembro-me do trem da Sorocabana, da Paulista. Com a Sorocabana ia para São Pedro, passear. Com a Paulista ia para São Paulo.
O senhor atuou no fórum da Rua do Rosário esquina com a Rua Prudente de Moraes?
Exatamente, era um prédio imponente.
Havia uma personagem famosa em Piracicaba, famoso pelos exageros verbais que cometia. Muitos senão inverossímeis próximos da inverdade, o João da Curva.
Eu o conheci! Não tinha amizade, mas o conhecia.
O senhor assiste televisão?
Não assisto, ouço um pouco de rádio. Considero a televisão um mal necessário.
Qual é a sua opinião sobre a violência?
É normal, em todo lugar existe. Onde está o homem há violência. Ela se manifesta das mais diversas formas. Explicita ou implícita. O problema é o homem.
No seu tempo de menino o Córrego do Itapeva, que em grande parte está coberto pela Avenida Armando Salles de Oliveira, ainda era a céu aberto?
Era tudo a céu aberto! Havia uma nascente, próxima ao Seminário Seráfico São Fidelis chamado de Olho de Nhá Rita. Quando era criança entrava no Itapeva, a água era limpa, tinha peixinhos que pegávamos. No Rio Piracicaba, um dia estava nadando quando um redemoinho que existe no local chamado Poção, estava me levando para o fundo, meu primo Vladimir me puxou, ou eu teria morrido.
Era moda quadrar jardim.
Quadrei muito jardim.
Arrumou bastante namoradas?
Namorava bem! Tenho uma coisa comigo, levo tudo na brincadeira. Conheci muita gente: Tuffi Elias, José Cançado, Haldumont Nobre Ferraz, os proprietários da famosa Livraria Brasil: Ari, Oswaldo. Tinha um amigo Jorge Brasil Caruso, faleceu repentinamente. Conheci Jorge Coury, advogado, seu irmão, Raul Coury, Pedro Cobra, proprietário da CICOBRA. Doutor Noedy Kràhenbühl Costa, advogado muito conhecido na cidade: um gênio em linguagens antigas e modernas, culto, autor de muitos artigos para o “Jornal dePiracicaba. Marcos Toledo Piza, Salvador de Toledo Piza Júnior. Conheci muitas pessoas. Havia uma farmácia famosa, a São Luis, ficava na Rua Governador Pedro de Toledo, ao lado de um posto de gasolina na Rua Prudente de Moraes. Conheci Monsenhor Rosa, tem um fato muito engraçado que aconteceu com ele. Naquela época os padres usavam batina. Tinha um cego sentado na calçada pedindo esmola. Sem dizer nada ele deu-lhe uma moedinha. Grato o cego disse-lhe: “-Nossa Senhora do Bom Parto a proteja”. O cego havia confundido a batina com vestido. Quando o Monsenhor Rosa ia organizar procissão determinava a posição das Filhas de Maria.
Qual era a padaria da sua preferência?
A INCA que ficava na Rua Governador Pedro de Toledo. A AVA- Auto Viação Americana tinha um ponto de venda de passagem e ponto de partida e chegada de ônibus na Rua Prudente de Moraes, em frente a Praça José Bonifácio. Piracicaba não tinha rodoviária ainda. Ao lado ficava a Padaria Vosso Pão.