– “Se a vida é ruim por que me deste?
Se a vida é boa por que me tiras?”
Que inspiração feliz a de Raul Seixas, filósofo, cantor e artista brasileiro. Ele foi um dos
maiores ícones do rock e suas letras frequentemente exploram temas existenciais, filosóficos e
sociais.
As frases da nossa crônica refletem profundidade sobre a dualidade da vida e a
natureza das escolhas humanas.
A arte existe porque a vida não basta nas palavras que Ferreira Gullar exprime essa
dualidade. A arte existe por existir os artistas, os protagonistas principais.
Se perguntarmos para que servem os artistas em termos práticos? Diremos que não
servem para nada. Se alguém ficar doente, se machucar, quebrar o carro ou se tiver um
problema legal não chamaremos um artista, mas sim um médico, um mecânico ou um
advogado, nunca um artista. Da mesma forma quando nos perguntam a que nos dedicamos,
nunca temos uma resposta certeira que satisfaça a curiosidade de quem pergunta. Para outras
profissões inquestionáveis isso não acontece.
Então para que servem os artistas? Para que serve um pintor, um cineasta ou um
literato? O que a humanidade ganha com um ator, um comediante, um músico? Em que nos
ajuda um escultor ou compositor? Como alguém assim resolve nossas situações de vida? Do
que nos serviriam Beethoven, Flores, Chagra, Akira, Callas, Robert de Niro, Mario Benedetti,
Vincent Van Gogh, Pedro Almodovar, Julio Jamilo, Miguel Hernandez, Picasso, Botero. Do que
nos servem os músicos de rua, os acrobatas, os desenhistas, os produtores, os poetas? Nada
prático e mensurável se apresentaria. Talvez a vida se não fosse dual seria mais chata, mais
automática ou até sem sentido.
São muitas as definições para a arte, nesta ocasião não nos daremos à sua
desenvoltura. É óbvio que a arte não existiria sem o artista. Desenvolveremos nossa crônica
dando realce ao artista, esse ser corajoso que se apresenta no cenário abstrato que propõe o
desenvolvimento humano. Para essa proposta vamos usar a figura da maçã de Adão e Eva, não
pela mordida pela da Apple da informática, mas somente a da “mordida” significando na sua
singularidade a ação de uma disposição espiritual com seu impulso.
Alguém lá atrás, que poderia ser o poeta romano do primeiro século depois de Cristo,
chamado Marco Valério Maciel, que com a maçã na mão, vermelhinha, lavadinha, questionou
“Deus, oh Deus”, se a vida é ruim, porque me deste? Se a vida é boa porque me tiras? Porém a
maçã continuava intocada. Com a citação do poeta romano não tiramos o mérito do nosso
Raul Seixas em desenvolver o mesmo tema.
Um espaço de tempo se fez e tudo permanecia em silêncio.
Isso pode acontecer conosco ao sermos questionados quando precisamos tomar
decisões. Às vezes, mesmo com as oportunidades da vida à nossa frente, demoramos para dar
respostas e ela acaba escorrendo pelos vãos dos dedos.
Vamos voltar para a maçã que já estava perdendo o seu brilho nas mãos inertes do
questionador:
Nessa hora é que se faz necessário, sem receio, tendo a certeza que a maçã é doce
aplicar a mordida certeira consumando uma atitude de vontade de saboreá-la.
Falamos de tudo isso para poder dizer que antes o artista é mordedor de maçã, não
tendo receio de expressar os seus sentimentos em situações adversas. É ele que tem coragem
de mesmo pulando de um precipício, ter a certeza que o seu paraquedas vai abrir trazendo à
luz o talento que resulta na obra de arte.
O artista tem brilho próprio, com reflexos divinos.
O que você está esperando? Morda a maçã!!!
Walter Naime
Arquiteto-urbanista
Empresário.