A frase ”A vida imita a arte”, pode ser atestada como verdadeira. A trajetória de vida de João Manasses Laranjeira é um roteiro pronto para as filmagens de Hollywood. Já no início de sua adolescência, assumiu compromissos e responsabilidades próprias para um adulto. Com espírito criativo, amadurecido pelos rigores da vida, tornou-se um técnico especializado em trabalhos de alta precisão na indústria metalúrgica. Fisicamente ainda carrega o porte de um homem com compleição avantajada. Sua extrema gentileza e maneiras educadas em tratar as pessoas faz com que ele estabeleça um relacionamento social com facilidade. Uma história de vida de muitas lutas, garra, determinação e vitórias.
O senhor é descendente de imigrantes?
Sou descendente de português. O meu pai contava que quando o meu avô veio de Portugal, o navio atracou no Rio de Janeiro. O tradicional e encantador até hoje, Bairro das Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro, o encantou de tal forma que ele adotou o nome do local junto ao seu nome, uma homenagem ao Brasil, a terra que escolhera para viver. O nome do meu avô era Francisco Costa, passou a ser Francisco Costa Laranjeira.
Como era o nome do pai do senhor?
Era Antonio Costa Laranjeira. E da minha mãe era Elvira Fefim Laranjeira.
O senhor nasceu em que ano?
Nasci a 25 de fevereiro de 1938. Desfruto de uma boa saúde, só tenho um problema na perna em decorrência de um acidente. Recebi a cortesia de um motorista, que parou o seu veículo para que eu atravessasse a rua. Passei pelo seu carro quando um veículo da cidade de Capivari, ultrapassando pelo lado esquerdo o veículo que tinha me dado a preferência para atravessar a rua, me atropelou atirando-me a cerca de 50 metros de distância. Com bom humor, o Sr. João diz: “Um quis me salvar, outro quis me matar”. (Risadas)
O senhor dirige ainda?
Dirijo!
Em que ano o senhor casou?
Casei com 18 anos de idade, em 1957.Permanecemos casados por 12 anos. Tínhamos uma boa relação, nunca tivemos brigas. O meu pai tinha um sítio no local denominado Alto da Serra de São Pedro. O meu sogro tinha um sítio próximo. Certo dia, ele recebeu uma proposta para formar uma plantação de cana-de-açúcar em Ipeúna e foi então que ele se mudou juntamente com a família. Minha esposa que era muito apegada a eles, acabou afastando-se do nosso lar. Essa mudança foi determinante para a nossa separação. O meu pai era um português bravo, enérgico. A minha esposa não havia se adaptado à rotina da vida doméstica, talvez até pela forma como fora criada. Meu pai tecia críticas constantes quando estava comigo, sobre o comportamento de sua nora. Tinham pontos de vista antagônicos. A minha insatisfação, a insatisfação dela e o ponto de vista rigoroso do meu pai, determinaram o fim da relação matrimonial. Na realidade foi uma mudança radical para mim.
Qual foi a sua reação?
Após mais uma das enérgicas palavras que meu pai dirigiu –se a mim, criticando-me pela condução de minha família, pois minha esposa e os nossos dois filhos já estavam residindo com os avós maternos, decidi mudar o rumo da minha vida. Naquele dia, meu pai tinha discutido comigo, eu não falei nada, peguei umas três peças de roupa, coloquei dentro de uma mala. Naquela época, o único meio de transporte do Alto da Serra até São Pedro era o caminhão de leite. Era a forma de vir para a cidade. Foi assim que cheguei à São Pedro. Tomei o ônibus e vim até Piracicaba. Desci ali nas proximidades do DEDINI. Pensei: “Vou ver se arrumo serviço por aqui “. Fui até o escritório, conversei lá com a turma, disseram-me: “- Você tem que passar com o Dr. Claudio, ele tem que assinar uma autorização”. Deram-me uma guia preenchida em parte, fui até o Dr. Cláudio, ele me examinou, disse-me: “- Você vai ser bom funcionário! Está forte para danar! Está admitido. Pode começar o serviço amanhã! ”.
Nessa época o senhor já tinha os dois filhos?
Já tinha os dois filhos, eles ficaram com a mãe. Um chamava-se José e a filha, Ivani. Ela mora no bairro rural Tanquã. O José foi assassinado na Paraíba. Ele era caminhoneiro, casado com uma moça da Paraíba, com quem teve dois filhos. Trabalhava em uma companhia de gás em João Pessoa. Ele comprou um sitiozinho, tinha um poço artesiano, umas vaquinhas, umas casas, estava estabilizado financeiramente. Tinha também uma moto para ir do sítio até a cidade, para trabalhar. O assassino conhecia o percurso dele, ficou de tocaia e o matou para roubar a motocicleta.
O senhor foi admitido para trabalhar na Siderúrgica ou na Metalúrgica Dedini, embora ambas pertencessem ao mesmo grupo?
Fui trabalhar na Metalúrgica Dedini. Após ser sido admitido, veio o pensamento: “ E agora? ” Dinheiro eu não tinha. Avistei uma pensãozinha, dirigi-me até lá. Naquela época era muito comum o homem andar armado. Havia muito respeito e não existia o exibicionismo de arma. Poderia ser até mesmo para se defender de uma cobra venenosa.
Era uma senhora que tomava conta. Eu disse-lhe: “Dona, eu vim da roça, arrumei serviço, não tenho onde ficar. Fui contratado pela Dedini para começar a trabalhar amanhã. Não tenho dinheiro, mas eu tenho um revolver dentro da mala. Eu deixo de garantia para a senhora, no primeiro pagamento eu pago e a senhora me devolve.
Que marca era o revolver?
Era um Smith & Wesson ! Comecei a trabalhar. À tarde, o chefe veio e perguntou- me : ” Dá para você ficar até tal hora?”. Respondi-lhe: “ Fico! “. Eu vim para trabalhar! Eu não tinha preguiça de trabalhar. E assim foi. Passado o primeiro mês, recebi o meu pagamento, fui até a dona da pensão, paguei, ela devolveu o revolver, continuei na pensão. Alguns dias mais tarde, a família daquela que veio a ser a minha segunda esposa, decidiu vir morar em Piracicaba. Eles moravam no nosso sitio no Alto da Serra de São Pedro. Vieram conversar comigo e me fizeram uma proposta de achar uma casa para alugar; eles pagariam a metade do aluguel e eu, a outra metade. Combinamos, veio a minha futura sogra, um moço e uma moça, irmã da minha futura esposa. Dia 10 de março vai fazer quatro meses que a minha esposa Rosa Corneto Laranjeira faleceu. Tivemos três filhos: Leonice, nascida em 1970 que mora em São Paulo; Paulo em 1973 e João em 1977, que também mora em São Paulo.
O senhor morava na Vila Rezende?
Morava na Rua Dona Santina. A Vila Rezende, na época, era um bairro muito progressista, em função principalmente das Indústrias Dedini. Eu fiquei uns 10 anos na Rua Dona Santina, depois passei para a Rua Padre Nóbrega, um pouco mais acima. Alguns anos depois, saí da Dedini e entrei na Codistil , que é do mesmo grupo. O meu trabalho era traçar peça, eu aprendi a ser traçador.
O que é traçador?
A função do traçador é interpretar o desenho do projeto e riscar as medidas nas chapas e vigas de aço. Se for chaparia vai para a guilhotina, corta e daí vai para a seção de montagem. Se for vigamento, por exemplo, a estrutura de um tanque de 5.000,10.000 litros de álcool, então tem a estrutura de vigas, tem que cortar a estrutura com o grau correto, para poder montar o círculo do tanque. Eu traçava e passava para a linha de montagem.
Sofri um acidente e passaram-me para tomar conta das ferramentas. Saíam ferramentas para ir fazer montagens fora, nas usinas, passava tudo na minha mão; eu que tinha que anotar todas as ferramentas para na volta delas, verificar se estava tudo certo. Até que me aposentei.
Em que ano o senhor aposentou-se?
Aposentei-me em 1997. Foram 30 anos, como havia a insalubridade deu 37 anos, 5 meses e dois dias. Eu tinha amizade com a diretoria. O Comendador Mário Dedini nos cumprimentava, mas era homem de pouca conversa.
O diretor da empresa, Narciso (Nino) Gobin era pai de João Marcos, que ficou doente. Fui até São Paulo para doar sangue para ele. Esse episódio fortaleceu nossa amizade, Nino, João Marcos e eu.
As Industrias Dedini tinham uma cooperativa para os funcionários?
Tinham, e era muito boa por sinal. A firma sempre cuidou dos funcionários, quando fazíamos hora extra vinha um lanche muito bom. Se passasse a noite trabalhando, de manhã davam um litro de leite para levarmos para casa.
Só de falar que trabalhava no Dedini, podia comprar em qualquer loja de Piracicaba?
Podia! Eu mesmo fui na Rua Moraes Barros comprar um jogo de sofá, quando souberam que eu era funcionário na Dedini já disseram: “-Pode levar! ”.
Naquela época o ponto final do bonde da Vila Rezende era em frente a Cooperativa dos funcionários da Dedini?
Existia uma estação antiga, onde o bonde parava, dali fazia o retorno até o centro de Piracicaba. Um pouco adiante tinha a Estação Montana, da E.F. Sorocabana, segundo relato do saudoso radialista Nadir Roberto, cujo pai trabalhou nessa estação. Esse trem passava por Charqueada e ia até São Pedro. Eu já estava aposentado, quando Roberto Dedini, filho de Leopoldo Dedini, que estabeleceu grandes negociações das Indústrias Dedini, inclusive com países do exterior. A Dedini fazia fábricas de açúcar e álcool, fornecia vergalhões em enormes quantidades para grandes barragens e obras de porte. Tinha conhecimento e condições de produção. Leopoldo foi um hábil negociador. Trouxe grandes negócios para a Dedini. Como eu tive a oportunidade de fazer o curso de Segurança, no passado, o Roberto convidou-me para fazer a segurança da sua fazenda em Tatuí. “A alimentação será conosco, as despesas serão reembolsadas e terá o seu salário. Gosto do seu comportamento”. Trabalhei para ele por 16 anos! Eles sempre tiveram muita confiança em mim. Na realidade, o senhor conquistou a confiança deles…
Graças a Deus! Onde trabalhei, sempre cumpri com o meu dever. Na Codistil mesmo, era comum chegar um serviço com certa urgência e o Sr. Mario Bortoletto, que era responsável por montagens externas, dizia-me: “João, se nós colocarmos um ajudante, será que dá para entregar tal coisa em tal dia? Eu respondia: “-Podemos tentar! Eu ia no restaurante, comia e nem esperava dar a hora para recomeçar, já estava fazendo o serviço para adiantar. Depois veio o Sr. Juscelito, que era o gerente, ele ficou muito amigo meu. De vez em quando ele me chamava, queria a minha opinião de como estava o andamento. Eu dizia que estava tudo bem. Certo dia eu estava muito ruim, com muita febre, fui onde ficava um médico de nome Roberto, pedi-lhe que me desse um remédio. Ele, sem me examinar, sem fazer nada, disse-me: “-Você está com preguiça de trabalhar! ”. Isso no meio de outras pessoas. Não falei nada para ele, virei as costas e fui lá no Juscelito. Narrei o acontecido a ele, que prontamente colocou uma cadeira perto dele e mandou-me sentar. Chamou o secretário dele e disse-lhe: “-Vai lá chamar o médico”. O médico abriu a porta e quando me viu, já amarelou.
O Juscelito disse-lhe: ” Como você vai fazer o papel que você fez com esse senhor? Das pessoas que trabalham aqui, ele é um dos mais considerados! Se ele o procurou é porque ele não está bem! Ele trabalha além da sua obrigação! Vou lhe pedir um favor, volte até o consultório, pegue o que lhe pertence e vá embora! Você não serve para trabalhar aqui! ”. Mandou embora na hora!
O Dedini entrou em sociedade com o Américo Perissinotto, que era meu tio, a esposa dele é irmã da minha mãe. Eram três irmãos: Américo, Alcides e Waldomiro Perissinotto.
O senhor chegou a viajar a trabalho?
Viajei para muitas usinas em Minas Gerais, Goiás, aonde precisasse ir, eu ia. A Dedini recebia muitos clientes e interessados de todas as partes do mundo. Inclusive alguns causavam impacto nos trabalhadores, pelos seus trajes tão diferentes.
Os operários em sua forma de ver diziam que eram homens vestindo saias (túnica) e pano amarrado na cabeça (turbante). Um costume milenar, relatado no típico linguajar piracicabano!
Ao aposentar-se e logo mais continuar trabalhando em um serviço diferente, praticamente o seu trabalho era um lazer comparado ao emprego anterior?
Sem dúvida! Voltei às minhas origens. Quando vim do sítio, o meu desenvolvimento foi muito rápido e preciso. Ler e entender desenhos de alta precisão, executar de forma correta, foi um grande progresso em curto espaço de tempo.
O senhor foi aprendendo sozinho?
Não. No começo teve um senhor que trabalhou muito tempo na Dedini também; trabalhamos juntos em uma montagem, ele ia me ensinando. Fui aprendendo na prática! Com isso eu sabia que tal desenho simbolizava um furo, outro um parafuso. O padrão das medidas era o milímetro.
Qual a espessura da chapa com a qual o senhor trabalhava?
Nós trabalhávamos com várias espessuras de chapas, a mais grossa um pouco era a 5/8 (cinco oitavos) de polegada. Uma polegada corresponde a 2,54 centímetros.
No período em que o senhor trabalhou na Dedini havia ainda festas de final de ano?
Tinha. Eles alugavam o Restaurante Mirante, só que começou a ter abusos e comportamentos inapropriados, alguns jogavam talheres no Rio Piracicaba. A empresa cortou a realização desses eventos.
Havia a Unidade do Capim Fino, como o pessoal ia até lá?
Íamos de ônibus fretado pela empresa.
Dentro da sua família como era visto o seu progresso tão significativo?
Meus dois irmãos mais velhos foram embora para São Paulo. Eu sou o filho do meio, éramos cinco irmãos: Francisco, Antonio, João, Paulo e Luiz.
Os pais do senhor permaneceram no sitio no Alto da Serra?
Meus pais mudaram para São Pedro e me deixaram tomando conta do sítio. Naquela época, com apenas treze anos eu passei a tomar conta de toda a propriedade! Era uma área com 56 alqueires. Havia o sistema de plantação feita por meeiros e terceiros; o cultivo principal era de cereais.
O senhor hoje, com a sua visão de vida, não acha que é meio incomum uma criança de 13 anos assumir a responsabilidade de administrar 56 alqueires de terras?
O meu pai gostava muito de pescar, ele tinha um rancho no Bairro do Tanquã, ia com seus companheiros e ficavam por lá. A cada oito dias ele aparecia, ficava um dia ou dois, já voltava para o Tanquã.
Além de tomar conta do sítio, o senhor fazia mais alguma coisa?
Com 13 anos eu já fazia queijo! Tinha umas 20 vacas, tinha vaca que dava uns 10 litros de leite, outras davam menos, 2, 3 litros Eu tirava o leite de todas, todos os dias, tinha que amarrar os pés traseiros de cada vaca, ou elas podiam dar um coice violento.
Com quem o senhor aprendeu a fazer queijo?
Aprendi com a minha mãe. A cada 10 litros de leite dava um queijo de um quilo. Produzia bastante. Por um ano parei de entregar. Passei a entregar 100 litros de leite por dia para a Nestlé que na época existia em São Pedro. Eram dois latões de 50 litros, passava o caminhão do leite e pegava.
O queijo o senhor vendia aonde?
Vendia na cidade, alguns iam buscar lá em casa. Era queijo meia cura. Eu fazia um queijo que dava gosto, não dá para comparar com os queijos de hoje. A gente que trabalhava nesse ramo, conhece o que é bom. Só usava o coalho, leite puro. Hoje em dia colocam alguma mistura no meio, não sei se é maisena, só sei que não é o queijo de leite puro não. Ó leite puro é forte. Eu tenho um pedaço de queijo que trouxe de lá, uma senhora que produz. Ela mora na fazenda do Daniel, o cantor. Eu tenho amizade com o caseiro, a senhora faz queijo, quando quero um queijo bom vou buscar lá. Eu nasci no Alto da Serra de São Pedro. Naquele tempo tinha muito cafezal. De 50 anos para cá formou a plantação de cana. Além de plantação de café, havia muita criação de gado, lavoura de arroz, milho. Eu também criava porcos, chegou uma época em que tinha umas 80 cabeças de porco!
Entre São Pedro e o Alto da Serra, existe um desnível bem acentuado, naquele tempo era chão de terra?
Não era calçado. Tinha pedregulho no leito da estrada. Depois o trecho da subida foi calçado com paralelepípedo. O Ulisses Guimarães mandou asfaltar de São Pedro até Itirapina. No Alto da Serra não tinha nada, logo no final da subida, no Patrimônio Santo Antonio, não havia a Igreja, nem o armazém. Não havia energia elétrica.
O senhor sente saudade daquela época?
Sinto muita saudade! Era um tempo sofrido, mas era também muito gostoso! Tinha o nosso time de futebol, jogava uma bola!
Que posição o senhor jogava bola?
Era central. Jogava com chuteira de couro com aqueles cravos.
Como chamava o time?
Era o Palmital! O bairro era o Bairro do Palmital. A escola em que estudei era a Escola Mista do Bairro do Palmital. Estudei até o terceiro para o quarto ano. Tive que parar, para prosseguir nos estudos teria que mudar para São Pedro.
O senhor lembra-se do nome de alguma professora?
Passaram muitas professoras por lá! Tinha uma que me lembro, chamava-se Dinah Taborda. O pai dela era conhecido como Zeca Taborda. Ela casou-se com João Baltieri, que foi prefeito em São Pedro.
O senhor assumiu uma responsabilidade muito grande para um adolescente.
O vizinho mais próximo ficava a três quilômetros da minha casa, que era uma casa grande. Eu cozinhava, lavava, passava minha roupa. Remendava a roupa de serviço para trabalhar.
Os moradores da região não achavam um pouco estranho, um menino sozinho, trabalhando muito e com muita responsabilidade?
Talvez achassem curioso, diferente, mas não se manifestavam. Eu ganhei um bom dinheiro. A minha família construiu uma casa, ao lado da igreja com o dinheiro que ganhei no sítio.
O senhor tinha algum ajudante, empregado?
Não tinha. Só quando ia fazer uma cerca, uma divisa, contratava uma pessoa para me ajudar. Quando chegava o tempo da lavoura, tinha que abanar o arroz para tirar a palha, limpar, aí contratava alguém para ajudar. Era terreiro de chão.
O senhor tinha cavalo?
Tinha! Se era baio eu chamava por Baio, se fosse vermelho, chamava por vermelho. Os burros tinham nome: a Camponesa, a Floresta, o Pinheiro, Figueiro, Dourado. Naquele tempo arava a terra com tração animal, não tinha trator.
Quantos meeiros e terceiros, cultivavam o sítio, em áreas demarcadas?
Não havia um número definido. Conforme a lavoura, a pessoa tratava para aquela safra. Alguns plantavam uma temporada. Quando chegava a época de repartir a produção, repartíamos.
O senhor não corria o risco de ser vítima da má fé na hora de repartir?
O povo naquele tempo era um povo mais sincero. Honesto. E apesar da pouca idade eu era bem esperto, tive que aprender muito cedo a ser muito atento.
A sua desenvoltura é um verdadeiro fenômeno!
Quando eu vim embora para Piracicaba, não demorou três anos meu pai vendeu o sítio. Comprou um sitio pequeno no bairro rural Paredão Vermelho. Graças a Deus eu venci sempre e com muita amizade com todo mundo.
O senhor é religioso?
Sou! Católico. Não deito na cama sem fazer a minha oração. Ao levantar, a primeira coisa que faço é rezar para continuar vivo.
Com toda a experiência que o senhor tem de vida, qual é a importância da religião na vida do ser humano?
Depende. Hoje em dia ninguém segue nada! Só pensam em dinheiro! Em muitos casos as igrejas que foram criadas viraram um comércio! Sou católico e não mudo. Trago isso da minha formação. Tenho a minha devoção, caso eu não tivesse essa devoção acho que já teria ido também! Vou a igreja esporadicamente, mas não deixo de fazer a minha devoção aqui em casa. Tanto faz deitado, como levantado. Agradeço o dia que passei, durmo, no outro dia agradeço a noite que eu tive. Acho que a devoção nos protege, já passei por situações de muito perigo, um assalto em frente de casa, onde o indivíduo apertou o gatilho da arma por duas vezes, ambas falharam. Revoltado ele bateu muito forte em minha cabeça, que sangrou muito. Isso em plena luz do dia, com veículo e pessoas passando como se nada estivesse acontecendo.
Esse pessoal que acha que dinheiro pode tudo está muito enganado?
Totalmente! Se você falecer a única coisa que o acompanha é a roupa, isso se vestirem você!
Grupo Dedini marcou o desenvolvimento do país
Indústria Dedini, anos 50. Acervo: Dedini S/A Foto: MEMORIAL DO EMPREENDEDORISMO
Márcio Diniz | Catraca LivreC ALTO DA SERRA DE SÃO PEDRO Foto: Márcio Diniz – Catraca Livrercio Diniz | Catraca Livre Márcio Diniz | Catraca Livre Márcio Diniz | Catraca
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