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PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com Sábado 09 de fevereiro de 2019.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
A professora Josemeri Aparecida Jamielniak possui bacharelado em MateUniversidade Estadualmática pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestrado em Biometria pela Paulista (UNESP),
UNESP BOTUCATU na Université de Metz, Chargé de Recherches INRIA atuando na área de Modelagem Matemática e Simulação Computacional de Biossistemas e, atualmente é doutoranda em Matemática Aplicada pela UNICAMP.
UNICAMP – VÍDEO INSTITUCIONAL Tem experiência em Matemática Aplicada com ênfase em Biomatemática, Modelagem Computacional aplicada à sistemas ecológicos e biológicos e possui também experiência em estatística computacional.
Josemeri Aparecida Jamielniak nasceu a 9 de outubro de 1989, na cidade de Curitiba, no bairro Boqueirão, é um bairro com muitas casas típicas alemãs.
Estudou sempre em escola pública. O ensino fundamental foi na Escola Municipal Nossa Senhora do Carmo, o quinto ano estudou no Colégio Estadual Professor Victor do Amaral, o sexto, sétimo e oitavo anos foi na Escola Estadual Polivalente de Curitiba e o ensino médio foi no Colégio Dr. Xavier da Silva, bem atrás do Shopping Estação.
É filha de Rosemeri da Silva Jamielniak e José Walter Jamielniak que tiveram os filhos Josemari e Walter José.
HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
UFPR 105 ANOS
Você lembra-se do nome da sua primeira professora?
Foi a professora Nilcéia! Tenho contato com ela até hoje.
Até que idade você morou em Curitiba?
Permaneci lá até os meus 22 anos.
Você nesse período nunca trabalhou?
Quando estudava no ensino médio, trabalhei em uma padaria, trabalhava na parte da tarde e à noite, atendendo no balcão. Era muito divertido, eu ia de bicicleta para o trabalho, minha mãe me encontrava no meio do caminho.
COMO FAZER O PÃO CHINEQUE
Os pães de Curitiba são diferentes dos de Piracicaba?
Há o pão francês, mas consome-se muito o pão d`agua, o chineque que é um pão doce de origem alemã, a cuca ou kuka, tem cara de bolo, vai ao forno em assadeira de bolo e até seu nome vem da palavra alemã para bolo, Kuchen. Tecnicamente, porém, cuca não é bolo, e sim um tipo de pão. Um pão doce macio e úmido, caracterizado pela cobertura do tipo de uma farofa, feita com manteiga, farinha e açúcar. É muito popular e consumida em Curitiba.
Como você sentia-se trabalhando com o público e sendo ainda muito jovem?
Sempre achei muito boa essa experiência de poder atender aos clientes, poder conversar, para mim é muito divertido.
O seu poder de ser comunicativa já se revelou nesse trabalho?
Imagino que sim! Há uma afirmação de que o curitibano é muito fechado, na realidade ele é reservado, após você fazer amizade com um curitibano irá ter amizade para sempre.
Você permaneceu a sua adolescência e parte da juventude em Curitiba quais eram as formas de diversões da época?
Os cinemas tradicionais já tinham migrado para os shoppings, lembro-me de que a primeira vez em que fui ao cinema com os meus pais, foi em um cinema no centro, que era no estilo clássico: um local que era apenas cinema. Fomos assistir Scooby-Doo, um desenho animado americano.
CINEMAS DE RUA DE CURITIBA
CINEMAS DE RUA DE CURITIBA
Por que você decidiu vir para Piracicaba?
Eu vim para cá, junto com o meu marido, Adriano Gomes Garcia, que começou a fazer doutorado na Esalq. Ele fez Biologia na Ufscar – Universidade Federal de SÃO Carlos. Fizemos o mestrado no mesmo período, foi quando nos conhecemos. Casamos e mudamos para Piracicaba.
Você tem ascendência alemã?
Tenho, a minha avó paterna é alemã: Augustin. (Rui Augustin desvendou e registrou a origem histórica e cultural da família Augustin que resultou em uma obra muito interessante). Ela me contava que a própria família a proibia de falar alemão. Ela passou para nós, apenas uma música infantil em alemão (Josemeri põe-se a cantar, relembrando alguns trechos), meus pais cantavam para mim, minha tia sabe até hoje. Minha avó manteve a comida alemã, o pirogue (ou ‘pierog’) é um pastel salgado cozido, ou frito, meu pai prefere frito. Fácil de fazer e que faz muito sucesso na época do Natal.
Você guarda boas lembranças de Curitiba?
Curitiba foi onde vivi por 22 anos, frequentei a igreja católica, fui catequista, ainda frequento as festas relativas a datas comemorativas, padroeiros, juninas.
Apesar de ser destaque por suas inovações, em alguns aspectos Curitiba ainda conserva suas tradições?
Conserva bastante! Essa igreja que eu frequentava, todos os anos eram feitas procissões de páscoa, de Natal, e com o passar dos anos, aumenta o número de pessoas que frequentam esses eventos, eu imaginava que a tendência fosse de diminuir, mas não, cada vez tem mais participantes.
Você conheceu seu marido em qual cidade?
Em Botucatu, no curso de mestrado.
Até algumas décadas, o olhar feminino não era muito voltado à matemática.
Hoje é muito comum alunas interessarem-se por matemática. Tenho mais alunas do que alunos no curso de Matemática da Unimep.
O que a atrai em matemática?
Tudo! Considero o mundo da matemática maravilhoso! Ela está presente em tudo! Sem a matemática não teríamos o grau de evolução que temos. O mundo da matemática é fascinante!
Alguém disse que a matemática é uma expressão da natureza.
Segundo consta quem afirmou foi Galileu Galilei físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano. Galileu Galilei foi personalidade fundamental na revolução científica. Disse a frase: “A Matemática é o alfabeto que Deus usou para escrever o Universo.”
GALILEU GALILEI
É uma realidade! Faço doutorado em Matemática Aplicada, a matemática, pela matemática pura, acho fascinante, maravilhosa a regra dos números, mas eu gosto da Matemática Aplicada em nosso dia a dia, hoje trabalho com transmissão de doenças. Em meu trabalho de doutorado estudo a dinâmica de um fungo que tem sido o autor principal do declínio proporcional de sapos. Esse fungo levou à extinção de aproximadamente 40% da população de sapos. Acredita-se que essa redução é consequência do surto dessa doença que chama-se quitridiomicose. O fungo que atinge os anfíbios é o Batrachochytrium dendrobatidis (BD) ameaça a população mundial de anfíbios. Está relacionado com o impacto humano, o aumento da temperatura, diminuição de habitat. Esse fungo ataca a pele do sapo e o leva à morte em 20 dias. Ele já dizimou espécies e é o principal causador da morte de sapos nos últimos 20 anos. Joaninha é o nome popular dos insetoscoleópteros da família Coccinellidae. Geralmente têm o corpo redondo e colorido, com muitas espécies predadoras de pragas agrícolas e com grande importância na agricultura, pois atuam como controle biológico, está sendo reproduzida em alta escala em laboratórios, ela está ameaçada de extinção. A próxima espécie em extinção são as abelhas.
Estamos nos envenenando?
Sim, com certeza! Isso é uma das coisas em que a minha área de trabalho atua! Como estudamos dinâmica, estudamos a dinâmica entre hospedeiros e parasitoides. Como no caso da Joaninha. Já é a área do meu marido, como ele é entomólogo (Entomologia é a especialidade da biologia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relações com o homem, as plantas, os animais e o meio-ambiente) ele estuda como as espécies interagem, qual tem que ser o espalhamento quando você quer controlar uma população invasora, qual é o parasitoide ou predador dela que você tem que liberar, qual a quantidade para manter um controle populacional ótimo, sem usar inseticida, usando controle biológico. Usamos equações matemáticas para esse tipo de estudo.
Há uma relação direta entre a matemática, biologia e o próprio homem?
Totalmente! Eu estudo especificamente Biomatemática (matemática aplicada à biologia, à medicina ou às ciências humanas (por ex.: em estatísticas demográficas, modelos funcionais de fibras nervosas etc.). Essa junção das duas ciências é nova. É uma junção fantástica! Você consegue descrever qualquer fenômeno biológico usando equações matemáticas.
Em que ano vocês vieram para Piracicaba?
Foi em 2014. Em fevereiro de 2019 serão cinco anos. Ainda conservo um pouco do sotaque original, embora ache bonito o sotaque piracicabano. Temos muitas palavras muito específicas de Curitiba: “Penal: estojo escolar para guardar lápis e canetas.”; “vina (salsicha)”; “Piá: usado para se referir a um garoto, adolescente ou entre amigos do sexo masculino”; “Mimosa. Não é mexerica, nem tangerina. É mimosa”.
Qual é sensação em ainda muito jovem, dar aulas em Universidade para alunos da sua idade ou com mais idade?
Eu já lecionei no ensino fundamental, 7° ano. É pior do que lecionar no ensino superior. Pelo fato de eu ser nova o pessoal do 7º ano não tem respeito. Acredito que no ensino superior as pessoas tem mais consciência da importância do estudo. De fato eles ficam admirados em ter uma pessoa mais nova do que eles lecionando. Já tive aluno de quase 60 anos. Para mim é muito bom, desafiador, matemática em si oferece desafios, o fato da pessoa estar muito tempo fora da escola, tem-se que resgatar conhecimentos de bons anos passados.
Matemática é difícil?
Tenho que concordar que sim. Você tem que ter um nível de abstração muito alto, e as pessoas as vezes não tem. Tem que pensar em uma coisa que não tem uma aplicação imediata, mas que faz sentido para uma outra área de estudo. Os alunos querem saber: “Aonde vou usar isso?”. Ou “Para que tenho que aprender isso?”. As vezes tem um porque imediato, as vezes não. A matemática é bonita por ter um padrão.
Você começou a lecionar quando?
Comecei em 2014 em uma faculdade em Tatuí. Ensinava Cálculo Integral e Diferencial I,II e III para as faculdades de engenharia. Lecionava Estatística também.
O que você acha do Ensino à Distância?
Eu fico um pouco preocupada com o Ensino à Distância. Isso porque exige do aluno uma dedicação muito grande que a maioria dos alunos não tem essa disciplina, essa rigorosidade. Vejo na Universidade, quando passo um exercício, muitos dos meus alunos, a primeira coisa que fazem é ir buscar a resposta na internet. Você não está saindo da sua zona de conforto para ir conhecer uma coisa nova, irá apenas copiar alguma coisa que alguém já fez. Quais serão as profissões que teremos daqui a 10 anos? A Tecnologia está tomando conta do nosso dia a dia. Muitas cidades não têm mais cobrador de ônibus. No supermercado já tem caixas onde você paga sem a necessidade de ter uma pessoa cobrando. Empregos básicos, que exigem uma formação básica estão acabando. Me preocupo porque estou formando professores que irão ser professores desses profissionais daqui há 10 anos. O que tenho que ensinar para os meus alunos que serão professores desses profissionais do futuro? Acredito que a tecnologia nunca irá tirar a nossa capacidade de raciocínio. É o que a minha geração não faz! Minha geração não pensa mais. Busca as coisas prontas.
O brasileiro têm consciência do orçamento doméstico básico?
Não têm! Nós precisamos muito aplicar a área de ciências exatas, desde ao mais singelo orçamento doméstico até cálculos avançados. Hoje lecionando na Unimep, sou considerada uma das professoras mais “difíceis” pelo aluno. Não sou considerada chata, mas dizem que as minhas provas são muito difíceis. Eu passo exercícios contextualizados, dando uma situação e um problema, quero que eles pensem como resolver aquela situação! É isso que nós precisamos! Para os meus alunos da engenharia também, sempre digo a eles: “-Seu chefe nunca irá falar: Calcule isso!”. Isso o computador faz. O seu chefe vai dar-lhe um problema e você terá que resolver esse problema. Digo-lhes: “Aí você irá usar a matemática a seu favor para resolver esse problema”. Quero que você saiba passar um problema real para a linguagem matemática, tirar o resultado, mesmo que seja no computador, e saber resolver o seu problema da melhor maneira possível.
CAMPUS UNIMEP
40 ANOS COMO UNIVERSIDADE
A Esalq tem bastante coisa que a atrai nessa área?
A Estatística só. Gosto muito de Estatística principalmente inferência bayesiana (IB) que consiste na avaliação de hipóteses pela máxima verossimilhança, da inferência estatística para a inteligência computacional (IC), onde é sinônimo de aprendizado bayesiano (ou aprendizado de máquina bayesiano), e encontra aplicações na biomedicina, computação em nuvem, pesquisa de algoritmos, criatividade computacional. Além da utilidade singular para implementações e lida com problemas reais (através da modelagem e da consideração dos dados).
Introdução ao Algoritmo Naive Bayes
Você já teve aluno que sofreu pressão familiar para não estudar matemática?
Tem. Uma aluna minha começou a fazer engenharia em Araras, no terceiro descobriu que não gostava de engenharia, queria mesmo fazer matemática, isso criou uma grande polemica na família, queriam que ela fosse engenheira, todo mundo acha que a área da matemática não dá dinheiro, não tem futuro.
Tem futuro e dá dinheiro?
É um campo que ainda está em crescimento, nos últimos cinco anos tem matemático sendo contratado para altos cargos em empresas, as portas estão se abrindo muito para quem é matemático, físico e estatístico. O cérebro de quem faz exatas pensa de forma diferente de quem estuda ciências humanas. Há uma maneira diferente de estruturar as coisas. Acho que é essa busca que está acontecendo.
Quem é mais sensível ao ser humano o matemático ou quem estuda ciências humanas?
Eu não sei! Talvez quem faz ciência humanas! Acho que os matemáticos são um pouco frios! (risos). Os matemáticos têm o habito de trabalharem de forma solitária, um dos últimos ganhadores de um prêmio, morava com a mãe, e desenvolveu toda a sua teoria fechado em um quarto. Não há muita interação entre os matemáticos.
Você joga xadrez?
Ultimamente não porque não tenho mais tempo, mas gosto bastante. Meu marido também joga, perco para ele! Em programação de computador eu levo vantagem! Uso Assembler programa que transforma o código escrito na linguagem Assembly em linguagem de máquina, substituindo as instruções, variáveis pelos códigos binários.
Você tem algum hobby?
Gosto muito de ler! Antigamente eu lia uns 15 livros por ano, antes do doutorado. Nesses últimos quatro anos só leio um por ano!
Pratica algum esporte?
Faço musculação, para manter a saúde, não que eu goste! Por um período fiz Muay Thai.
Você tem algum animal de estimação?
Tenho! Três cachorros: Grega, Zorro e Cinderele e uma gatinha: Orange. A Cinderele é manca, lembrei-me da princesa que perdeu o sapatinho. A Grega já era do meu esposo, ele achou-a filhotinha na rodoviária. O Zorro eu o encontrei próximo a minha casa, a Cinderele encontrei na Unimep de Santa Barbara d`Oeste, era filhotinha, com a patinha manca. Fiquei com pena e peguei. A Orange era uma filhotinha que estava perdida na rua da minha casa. Peguei também. Agora pretendo ficar só com esses!
Seus pais vêm para Piracicaba visita-los?
Vêm. Devem vir agora no carnaval. Minha mãe ama Piracicaba, ela adora o calor.
Quais são seus planos para o futuro?
Tenho muitos projetos, plano para morar fora do país, só que fico muito apegada ao trabalho que desenvolvo, gosto muito da minha profissão, me preocupo com os meus alunos que serão professores no futuro. Acho a minha carreira aqui muito bonita. Abrir mão disso tudo e ir para outro país, conheço pessoas que não gostaram do país para onde foram, mesmo sendo considerado país de grandes recursos.
A seu ver a idade influi na capacidade cerebral?
Eu acho que não é a idade que influencia, são os estímulos. Quanto menos você estimula, mais velho o seu cérebro vai ficando. Muito mais influente do que o tempo são os estímulos. Quando você para de aprender coisas novas, para aprender uma outra coisa fica mais difícil. Temos que estar continuamente aprendendo.
9 Provas de que Você pode Aumentar a Capacidade do Seu Cérebro
A Biomedicina usa matemática?
Meu trabalho de mestrado foi na área médica. Trabalhei com infeções hospitalares. Fiz parceria com um médico que era chefe de um hospital de Botucatu. Um dos grandes problemas na área médica são as infecções hospitalares. Ele estava em um hospital de pessoas que sofreram queimaduras graves. Eu não tinha contato com o paciente, o médico fornecia os dados e eu fazia os modelos. A presença junto ao paciente deve ser de pessoas estritamente essenciais. Na área médica a matemática pode contribuir muito. Podemos criar cenários na matemática que não são possíveis em experimentos laboratoriais por exigirem uma infraestrutura que o modelo matemático não precisa. Você passa para uma equação, usa o computador e simula situações. Por exemplo: “-Se a temperatura aumentar 30 graus, o que irá acontecer com determinado fenômeno?”. Só que para desenvolver esse modelo matemático é preciso ter muito conhecimento do processo, como eu precisava do médico para me falar como aconteciam as coisas.
O talento, a determinação e a disciplina da jovem Professora e Doutoranda Josemere muda o ponto de vista dos mais experientes com relação as futuras gerações.
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Parabéns pela entrevista feita com a professora Josimeri.Trabalho com riqueza de detalhes.Pude conhecer a trajetória da minha aluna da primeira série do ensino fundamental.Fui sua primeira professora.Sempre soube que iria ser uma grande profissional.Sempre muito estudiosa.Excelente aluna. Parabéns pelo seu trabalho João Nassim!
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Parabéns pela entrevista feita com a professora Josimeri.Trabalho com riqueza de detalhes.Pude conhecer a trajetória da minha aluna da primeira série do ensino fundamental.Fui sua primeira professora.Sempre soube que iria ser uma grande profissional.Sempre muito estudiosa.Excelente aluna.
Parabéns pelo seu trabalho João Nassim!