PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de maio de 2018.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de maio de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://www.teleresponde.com.br/ ENTREVISTADA:ROSA MARIA FURONI
O Escritório Experimental “Dr. Geraldo Bragion”; Juizado Especial Cível (JEC) com Cartório Anexo e Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) são três setores de prática real coordenados pelo Núcleo de Prática Jurídica (NPJ), o Escritório Experimental difere por ser direcionado à comunidade carente. O JEC e o Cejusc funcionam por meio de convênio entre a Unimep e o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), vinculados aos tipos de ações encaminhadas. A prática leva à perfeição e na Unimep, o trabalho realizado no Núcleo, permite que os alunos do curso de direito coloquem em prática a teoria das disciplinas e ajudem a comunidade.
Rosa Maria Furoni é professora orientadora do Escritório Experimental. Dinâmica, ágil, com sua liderança natural, recebe e atende, pessoas carentes, onde de forma clara e delicada orienta àqueles que buscam justiça, são pessoas de parcos recursos, e geralmente de estrutura familiar fragilizada. Os alunos, orientados por ela, desenvolvem a tarefa, sob o seu olhar atento e prestativo.
O Escritório Experimental atende só a parte cível?
O Escritório Experimental atende tanto o cível como o criminal. O cível, onde atendemos em sua maioria dos casos Direito de Família, é de responsabilidade do Professor Rui Pereira Barbosa e minha, na parte penal o Professor José de Medeiros, é o professor orientador da parte criminal.
Há algum padrão de renda para a pessoa ser atendida?
O Escritório Experimental é como a Defensoria Pública, o usuário pode ter renda máxima de até três salários mínimos. Diferente do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) que qualquer pessoa, com qualquer rendimento pode utilizar-se desse setor. É feito um pedido, marcada uma audiência, saindo o acordo é marcado pelo juiz e tem força executiva. Vale como se fosse uma sentença. Um acordo judicial. A assistência judiciária da Unimep existe há mais de 40 anos.
Os custos são por conta da Unimep?
A Unimep arca com todas as despesas: professores, materiais, funcionários, instalações, manutenção. Em contrapartida ela reverte aos alunos as vantagens de colocar em prática o que aprenderam em sala de aula sem contar os benefícios aos usuários. Este estagio faz com que o aluno saiba como é realmente a advocacia, aqui o aluno consegue fazer atendimento, orientar, fazer uma petição inicial, fazer procuração, declarações, acompanhar as audiências, verificar como é o posicionamento na sala do juiz, como é o acompanhamento do processo até a sua sentença. Se houver a necessidade de recurso também apresentar esse recurso, no TJ, no STJ, o aluno sai com uma bagagem de como é advogar.
De certa forma é como a residência médica para o formando em medicina?
A residência obedece a regras, aqui o aluno vai saber como fazer o atendimento, como direcionar, fazer a inicial.Buscar os fatos jurídicos, as normas que o Direito pede.
O formando verá que o que estudou é muito importante.
E que a realidade é dura e crua! Enquanto o aluno tem a teoria na universidade, na prática ele verá o que é realmente exercer a profissão.
O publico que é atendido em boa parte é composto por pessoas carentes?
Exatamente! Algumas vezes o problema tem origem na composição familiar, ou seja, a raiz do problema são causas diversas de infra-estrutura familiar, econômica, social, cultural.
Ao final do dia você sai satisfeita, cansada, “carregada”?
Você sai cansada, carregada porque muitas vezes você absorve o problema para si. Não os levar para casa é um ponto importante, você tem que trabalhar consigo para não levar os problemas vivenciados aqui. Há muitos casos que causam uma profunda comoção, penso no que posso fazer para ajudar. Às vezes estamos de mão atadas. Muitas vezes as pessoas trazem uma sobrecarga de sentimentos, necessidades. Isso tudo tem que ser trabalhado pelo profissional, para que tenha estrutura e tentar ajudá-los. Controlar a própria emoção.
Como um médico que se perder o autocontrole diante uma situação inusitada pode colocar em risco o sucesso de uma cirurgia?
O advogado tem que controlar suas emoções, se perder o controle talvez não faça uma defesa como seria necessária. Perder a linha técnica em decorrência da emoção. Deixa de ser advogado e passa a ser parte. Não pode misturar as coisas, de forma alguma.
Como é a relação do Núcleo com as autoridades?
Somos bem vistos, respeitados, é um serviço que a Unimep presta à comunidade, é muito importante, necessário. Muitas vezes as pessoas que buscam o Escritório Experimental não tem onde se apoiarem. É o último recurso dessas pessoas. Aqui eles sabem que irão ser atendidos.
Quantos alunos estão realizando trabalhos no Escritório Experimental?
Existe uma divisão: O Escritório Experimental tem X alunos, o Juizado tem Y alunos, o Cejusc Z alunos e existem os conveniados. Em média 10 alunos por dia. Já preenchem o espaço físico de que dispomos.
Rosa você nasceu em que cidade?
Nasci em Piracicaba, no bairro da Paulista, a Rua José Ferraz de Carvalho, esquina com a Rua Alferes José Caetano.Minha mãe não foi à maternidade. Nasci em uma casa em forma de castelo.
Você nasceu no famoso castelo que havia na Rua Alferes
Nasci! Era de propriedade da família Sabino. A minha avó, Anita Cizilin Pandolfo morava na Sociedade Italiana, havia um busto de Mussolini no jardim da frente da Sociedade. Na época da Segunda Guerra Mundial pegaram esse busto e levaram para enforcar na Praça José Bonifácio. Isso minha mãe me contava.
Como era esse castelinho?
Era uma casa muito grande, tinha porão, parte superior, em forma de castelo. Com todos os detalhes. Eu não tinha nascido ainda quando a minha avó começou a trabalhar, lá mesmo, constituindo uma creche em conjunto com Branca de Azevedo, ficava na parte de baixo da casa. Na entrada da porta principal da casa tinha um jardim, havia um repuxo, (construção para a condução da água que sai em jato contínuo), uma escadaria, era maravilhoso! Entrando havia uma sala, quatro quartos, sala de jantar, cozinha com fogão a lenha, a casa era muito grande, morávamos nós, minha avó, meu tio José, minha tia Maria Lúcia. Esse castelinho era um universo maravilhoso.
Qual é o nome dos seus pais?
Minha mãe é Maria de Lurdes Pandolfo Furoni, meu pai José Furoni. Tiveram seis filhos: João, Ângela, Rosa, José, Ana e Luiz. Nasci a 7 de novembro de 1959.
Você freqüentava a Igreja dos Frades?
Freqüentava a Igreja dos Frades e o Colégio Assunção onde ia brincar no jardim muito bonito que existia lá. Eu era muito feliz lá! Andei de bonde! Fiz a primeira comunhão na Igreja dos Frades, em períodos sacro-festivos, era comum a menina vestir-se como anjo, inclusive com asas. Eu fui uma delas! Fui anjo! Lembro-me do tapete vermelho que ia da entrada da igreja até o altar, era por onde as noivas passavam. Eu ia assistir aos casamentos! Tinha cinema, teatro no salão de festas da igreja.
O curso primário você estudou em qual escola?
O primário eu estudei no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, o ginásio estudei no Jorge Coury, onde tive aula de português com Da. Conceição, aulas com Da. Arlete, lembro-me da Da. Margarida, José Salles. Lembro-me da Da. Alcina, do Prof. Argemiro Ramos, sua esposa Profa. Jandira, eu adorava-a. Lembro-me da biblioteca, hasteamos muitas vezes a bandeira nacional cantando o hino nacional. O prédio era ao lado da Igreja dos Frades, existe até hoje. Conclui o colegial no Dom Bosco da Cidade Alta. Comecei a trabalhar, fui vendedora da Ultralar, ( Uma das gigantes da época). Trabalhei nas Casas Buri, (Uma das mais famosas em todo Brasil). Eu resolvi que tinha que trabalhar, meu pai era caminhoneiro. Quando eu era criança subíamos na carroceria do caminhão e meu pai nos levava para passear, era uma delicia! Minha mãe era professora.
Qual foi seu próximo trabalho?
Tarbalhei na Colina Mercantil de Veículos S/A, com seguros. Fui para a Usina Santa Helena, para ser secretária da Diretoria de Produção. O pessoal gostou muito de mim, decidiram levar-me para uma entrevista, na Usina Bom Jesus. Em 1982 comecei a fazer a Faculdade de Direito, tive que interromper os estudos até 1988 quando voltei a estudar, por razões de saúde, interrompi novamente, e em 1996 voltei para a faculdade. Me formei em 2000.
Você escolheu essa área de Direito por algum motivo especial?
Sempre gostei muito de artes cênicas, de teatro, música, meu sonho era ir para São Paulo fazer artes cênicas. Só que diante das condições na época, isso não era possível. Foi quando me encontrei no Direito. Em minha opinião todo mundo deveria estudar Direito, para conhecer os seus direitos. Tem muitas pessoas que não sabem o que é uma Constituição.
Você é a favor de já no ensino básico iniciar noções de direito, de forma lúdica?
Há a necessidade de desenvolver a consciência de cidadão. Logicamente de acordo com sua faixa etária.
Infelizmente, muitos desenvolveram a consciência de seus direitos, mas não desenvolveram na mesma proporção a consciência dos seus deveres.
Acho que é exatamente isso, eu questiono se as noções de direito e deveres deve ser já ministrada no curso primário.
A seu ver a escola particular que colocar o ensino de básico de Direito como matéria complementar (além do currículo oficial) ela pode captar mais alunos?
Eu acredito que sim!
Muitos pais preocupam-se que seus filhos aprendam artes marciais. Isso é muito saudável e louvavel. Porém nem todos lembram-se da frase autor inglês Edward Bulwer-Lytton “A caneta é mais poderosa que a espada“.
Concordo plenamente, muitos conflitos graves podem ter solução racional, conforme estabelece a Lei.
Após você formar-se em Direito foi advogar?
Formei-me, sai da Usina, e fui convidada a trabalhar como gerente administrativa de uma Factoring (Atividade comercial caracterizada pela aquisição de direitos creditórios, por um valor à vista e mediante taxas de juros e de serviços, de contas a receber a prazo).Eles me autorizavam a trabalhar no escritório deles quando eu tivesse necessidade. Havia uma vaga na monografia da Unimep, fui admitida e entrei na Unimep em 2001. Como funcionária. Trabalhei na Coordenação de monografias com o Prof. Rolim e com o Prof. João Miguel que era da prática processual. Meu horário na Unimep era pela manhã e a noite, a tarde eu trabalhava no meu escritório. Em 2007 tive a oportunidade de vir para o Escritório Experimental, que na época funcionava de manhã, a tarde e a noite. Eu ficava no período da noite. Foi extinto o período da noite, passei a ficar no período da tarde no Escritório Experimental. Fiz o mestrado, pediram que eu fosse professora em tempo integral. Fiz o concurso e estou aqui até hoje! Sou Conciliadora Judicial pela Escola de Magistratura. Fui uma das primeiras conciliadoras.
O brasileiro sempre teve o habito de opinar, discutir futebol. Tínhamos milhões de “técnicos” de futebol. Houve uma migração para a área do Direito após a Operação Lava-Jato? Ou seja, hoje temos milhões de “magistrados”?
Acho que a Operação Lava-Jato trouxe a tona, inúmeras situações irregulares que aconteciam em todos os setores, de uma forma mais discreta. Trouxe a conscientização da realidade à todas as classes.
Isso trouxe um pouco de glamour ao operador do direito?
Um pouco! Principalmente a alguns que a mídia expõe mais.
Pessoas mais maduras, a seu ver, devem estudar?
Nunca é tarde para fazer qualquer curso. Nunca é tarde para estudar. As portas sempre estão abertas para o conhecimento. Você tem que se reinventar, e estudar é uma das formas.
Rosa o que é Deus?
Deus é uma força maior. Eu tenho a certeza de que Deus existe. Fui até o Vaticano. Estive no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal.
Você tem algum hobby?
Adoro viajar! Gosto muito de ler. De uma boa música, minha preferência é por MPB e músicas clássicas
Você tem algum livro escrito?
Tenho um capítulo de livro escrito. Sobre os Refugiados Ambientais. Como fiz o Mestrado em Direito Internacional, os Refugiados Ambientais são aqueles que em decorrência de catástrofes não tem os direitos que são dados aos refugiados de guerra.
Refugiado ambiental pode ser como do caso Samarco?
Exatamente!