PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 03 de março de 2018.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
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Sábado 03 de março de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADOS: ANTONIO COSTA GALVÃO
E THEREZA ANGÉLICA MARINO GALVÃO
Antonio Costa Galvão nasceu a 9 de novembro de 1923 em Itu, filho de Silvino Costa Galvão e Tereza Marques Galvão que tiveram os filhos Sebastião, Valter, Cilza, José Maria (Juquinha) e Antonio. Ficou órfão de mãe aos 2 anos e seu pai faleceu quando Antonio tinha 7 anos.
Quem cuidou do senhor quando perdeu os pais?
Nas férias escolares o meu pai me levou para passear em Santo Amaro na casa do meu padrinho Manoel Severino, enquanto eu estava lá ele faleceu em Itu. Meu padrinho passou a tomar conta de mim. Passei a freqüentar o Grupo Escolar Paulo Eiró. Permaneci morando com meu padrinho até os 10 a 12 anos. Eles já tinham uma idade mais avançada, e eu era um garoto muito ativo. Minha irmã Cilza, que fez o magistério em São Paulo me trouxe para morar em Palmital. Permanecemos alguns anos em Palmital, até que ela veio lecionar em Santa Cruz do Rio Pardo, ela casou-se. Um amigo da família, Odilon Bueno e sua esposa me receberam em sua casa. Passei a freqüentar o Colégio Rio Branco, em São Paulo, isso foi por volta de 1937,1938.Terminei os estudos no Rio Branco fiz um ano de cursinho e entrei na Universidade Mackenzie em 1950, me formei em 1954 como Engenheiro Civil. Fiz o CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) de onde sai como Segundo Tenente. O quartel ficava no centro de São Paulo, próximo ao Parque D.Pedro II. Era para eu ter ido para a FEB Força Expedicionária Brasileira, para lutar na Segunda Guerra, na Itália, o fato de estar fazendo o CPOR impediu que eu fosse para a Itália. Conhecendo a minha vida nota-se que sempre teve a presença de Deus.
Na época em que o senhor estudava já trabalhava?
Para estudar eu trabalhava, lecionava, fazia pequenos serviços, trabalhei no Sindicato dos Alfaiates de São Paulo, situado a Rua Libero Badaró esquina com a Avenida São João. Era escriturário. Morei na Rua 7 de abril, foi no tempo em que fiz o CPOR. Morava em pensão. Aos domingos ia à missa na Igreja Consolação. Nessa época a USP tinha a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras na Rua Maria Antonia, sempre houve uma divergência com o pessoal do Mackenzie.
Após formar-se como Engenheiro Civil onde foi o seu primeiro emprego?
Fui trabalhar na Prefeitura de Santo Amaro. Naquela época o hoje bairro Santo Amaro era outro município. Ia trabalhar de bonde, era uma viagem, saia da Conselheiro Brotero segui em direção a Santo Amaro, naquele tempo chamavam Estação Indianópolis,Estação Moema, Estação Brooklin, não me lembro exatamente o tempo que demorava para chegar a Santo Amaro, mas era próximo a uma hora. Tinha o bonde aberto e o bonde fechado, denominado “Camarão” por causa da sua cor vermelha. Não permaneci muito tempo na prefeitura. Fui trabalhar em uma empresa de fundações a S/A. Sociedade Brasileira de Fundações (SOBRAF), o escritório ficava na Rua Libero Badaró. Às vezes ia ao Restaurante Brahma, na Avenida Ipiranga esquina com a Avenida São João, tinha uma exímia violinista. Ia a um concerto na Gazeta, que ficava na Rua Florêncio de Abreu. Na SOBRAF fui tomar conta de uma fábrica de bate estacas, estacas de prédio. Fiquei lá algum tempo, até que o Dr. Lorena que era o proprietário estava com uma obra de expansão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda, fui enviado para lá, Eu tinha que tomar conta de 400 funcionários. Tinha a estrutura do Núcleo de Expansão da Usina (NEU) que dava suporte. Tinha que fazer as fundações do novo alto forno, era uma obra pesada.
Tinha assessoria estrangeira?
Tinha orientação norte-americana.
Após trabalhar na SOBRF qual foi a próxima empresa que o senhor trabalhou?
Trabalhei na Construtora Mauá, em São Paulo. Morei 2 anos em Campinas construindo os laboratórios da Rhodia.
Quando o senhor conheceu a sua esposa?
Quando eu trabalhava em Volta Redonda, vim para São Paulo, e tinha uma família amiga, fui visitá-la, foi quando conheci a Thereza que estava com suas amigas. Em seis meses namoramos e casamos. Estamos 63 anos juntos!
Nasci a 6 de abril de 1933, em Rio das Pedras, fiz o curso primário no Grupo Escolar Barão de Serra Negra, com 11 anos fui estudar no Colégio Assunção, em Piracicaba. Meu pai é Nicolau Marino, foi prefeito de Rio das Pedras, a avenida que vai para o bairro Nosso Teto chama-se Nicolau Marino em sua homenagem, minha mãe é Luca Marino, minha mãe era de São Paulo e o meu pai era italiano, veio da Itália com nove anos ele também estudou no Grupo Escolar Barão de Serra Negra. O meu avô Donato Marino veio da Itália, da região de Potenza, deixou a minha avó na Itália com três filhos, quando ele se estabeleceu aqui foi buscar a minha avó. Aqui em Rio das Pedras ele teve comércio. No inicio ele era mascate. Ele não veio chamado pelo governo para trabalhar na lavoura, veio com recurso próprio. Primeiro ele parou no Rio de Janeiro, ficou sabendo de Rio das Pedras e veio para cá. Estabeleceu-se com um armazém de secos e molhados, na Rua Rangel Pestana, tradicionalmente conhecida como Rua Torta, era a rua principal da cidade. Ai ele foi buscar vovó Maria Carmela Marino, meu pai, Nicola, que aqui passou a ser chamado como Nicolau. Veio a minha tia Rosa Marino que se casou com Paschoal Limongi. Veio também minha outra tia, Vicentina. E sete dos meus tios nasceram em Rio das Pedras. Tiveram no total 10 filhos: Nicola, Rosa, Vicentina, Antonio, Vicente, Elvira, Maria Thereza, Aurora, Miguel, Américo. Meus tios foram estudar no Dante Alighieri, só meu pai que não foi. As áreas do cemitério, do clube, da praça central, da igreja, foram doadas pelo meu pai. Quando o meu pai chegou aqui só existia uma igreja pequenininha, não era a atual. Rio das Pedras tinha uma rua só, o resto era sítio, fazenda. Onde hoje é o bairro São Cristóvão era a Fazenda Fortaleza, uma das propriedades do meu avô. Meu avô naturalizou-se brasileiro. Meu pai permaneceu com a nacionalidade italiana, o que lhe causou alguns aborrecimentos na época da Segunda Guerra Mundial. Para viajar precisava de salvo-conduto. Não era permitido ouvir rádio, nosso rádio foi confiscado. O clube era uma sociedade formada por italianos, era denominada Societá Patria e Lavoro mudaram para Cultural Riopedrense. Com o fim da guerra muita coisa mudou, meu pai chegou a ser prefeito de Rio das Pedras, o clube que ele fundou rendeu-lhe uma homenagem. Minhas tias foram para o Colégio Assunção em Piracicaba. Fui também para o Colégio Assunção onde permaneci por 7 anos, de 1945 a 1952. Formei-me como professora. Ficava interna, naquela época não tinha estrada, meu pai tinha um Fordinho 1929! Tinha que colocar correntes nos pneus, por causa do barro. Perto da Caninha da Roça tem um morro conhecido como Morro do Sarapião, a saída para Piracicaba era por ali, não existia a estrada Valério Pedro da Silveira Martins. Fui visitar uma ex-colega, Terezinha, que morava em São Paulo, nós nos formamos juntas, foi na casa dela que conheci o Galvão. Dei aula em São Paulo no Itaim-Bibi por dois anos, Escola Estadual Diva Maria B. Toledo na parte da manhã e a tarde no Colégio das Irmãs de São José, na Rua da Glória, no Cambuci.
O senhor se interessou de imediato pela Dona Thereza?
Conversamos na casa dos nossos amigos, estava a Terezinha, sua mãe, uma reunião social. Daí uns dias entrei de férias e fui para São Paulo, a Thereza morava na casa do seu avô materno, Sr. João Luca. As estradas eram precárias, de São Paulo à Piracicaba só até Jundiaí a estrada tinha calçamento, o resto era chão de terra, o pessoal de Rio das Pedras ia até a Estação Taquaral para tomar trem para São Paulo, pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A Sorocabana tinha que fazer baldeação (troca de trem) Era outra época.
O senhor lembra-se do dia em que se casou?
Foi dia 4 de maio de 1954! Na Igreja Imaculada Conceição, na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, próximo a Avenida Paulista.
Dona Thereza a senhora morava nas proximidades?
Morava na Brigadeiro Luiz Antonio, região dos Jardins, lembro-me das mansões da Avenida Paulista, da Madame Rosita, freqüentada pelas moças da família Matarazzo. Eu tinha uma tia, irmã da minha mãe, que costurava muito bem, ela que fez o meu enxoval, em Piracicaba tinha a Madame Georgina, que fazia os vestidos chiques.
Após casarem, foram morar em que cidade?
Lá em Volta Redonda, em um hotel. Naquela época Volta Redonda era bem dividida, quem era engenheiro da Siderúrgica tinha um bairro lindo, com casas lindas, outro bairro era dos operários. Nós que éramos empreiteiros tínhamos que morar no hotel. O nosso patrão pagava o hotel. Havia diversos casais nas mesmas condições, que também moravam no hotel. Em Volta Redonda tinha um bairro chamado Niterói, e tinha um pessoal que tinha condições de pagar o aluguel, que era caríssimo, no mesmo hotel tinha um casal, ele o engenheiro José Buschinelli de Rio Claro e a Maria Emilia, eles tinham casado em fevereiro e nós em maio, ela ficou grávida do primeiro filho e eu também, o quarto dela ficava no andar logo acima da cozinha, com isso ela teve muito enjôos, O José foi encontrar uma casa nesse bairro, do outro lado da ponte. Fomos morar juntos os dois casais, dividíamos todas as despesas, sempre fomos religiosos, eles eram muito religiosos, com eles aprendemos a rezar o terço como casal. Rezávamos juntos todas as noites. Ela era muito devota de Nossa Senhora de Fátima. Após seis meses a empresa nos mandou para o Rio de Janeiro.
Vocês tiveram quantos filhos?
Tivemos três filhos: José Célio, Antonio Carlos e Ana Thereza.
No Rio de Janeiro qual foi a atividade do senhor?
Fui tomar conta de uma obra na Gamboa, morava na Rua Siqueira Campos, em Copacabana. Do Rio voltamos para São Paulo, fomos morar no Boaçava, bairro entre a Lapa e Pinheiros, próximo a Rua Cerro Corá. A água era de poço, não tinha asfalto, era loteamento novo. Não havia a Avenida Marginal, foi no tempo em que construíram o CEASA. Já tinham retificado o curso do Rio Pinheiros. Eu trabalhava na Empresa Mauá. Fui convidado par construir um hospital de altíssimo padrão em Uberaba. Fomos morar em Uberaba por uns tempos. Nesse meio tempo eu havia feito uma sociedade com possivelmente o maior conhecedor de edificações hospitalares, Jarbas Karman. De lá nós voltamos, eu deixei a empresa porque tinha que ter recursos para expandir os negócios. Assim mesmo fui construir o Hospital São Jorge, no primeiro quarteirão da Avenida Consolação, junto a Avenida Paulista. Esse hospital não existe mais naquele local. Construí um hospital na Rua Juriti, no bairro de Moema. Nesse meio tempo ajudei a construir a Igreja dos Frades Dominicanos no bairro da Saúde. Ficou muito bonita a igreja. Fui diretor de Obras do Clube Alto de Pinheiros, do Clube Paineiras do Morumby. Em Três Lagoas fui fazer a fundação de uma ponte sobre o Rio Sucuriú, a CESP estava construindo a ponte, eu morava em um hotel em Andradina. Fiquei um ANP e pouco.
O senhor praticava algum esporte?
Jogava tênis. Fui destaque no jogo de xadrez no Mackenzie. Na época existia a MAC-MED entre Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz dos alunos da Faculdade de Medicina da USP e a Associação Atlética Acadêmica Horácio Lane dos alunos da Faculdade de Engenharia da Universidade Mackenzie. Eu jogava pelo Mackenzie. Hoje jogo com o computador. Faço algum trabalho no Word, Excel. Envio e recebo e-mails.
O senhor foi prefeito de Rio das Pedras em que ano?
Fui de 2001 a 2004.
É uma experiência boa?
Para mim e para a Thereza a experiência resulta hoje nas amizades, no conceito que o pessoal acha que nós temos.
Dona Thereza complementa:
O Galvão pegou a prefeitura em sérias dificuldades financeiras, ele não tinha vinculo com ninguém, conseguiu 19 pessoas comissionadas, fortaleceu os funcionários, conseguiu pagar as dividas fazer com que a prefeitura tivesse confiabilidade, quando entramos tinha uma única ambulância com o motor fundido! Precisamos colocar dinheiro do nosso bolso, a oficina de Rio das Pedras não aceitava consertar mais, a administração anterior não pagava. Não pagava farmácia. Tudo isso colocamos em ordem, fizemos muitas solicitações, somos do PSDB, foram pedidas mais ambulâncias, mais carros para a polícia, que na nossa gestão não chegou, toda a documentação exigida o Galvão teve que arrumar. Para poder pedir. Com essas 19 pessoas certas, técnicas, ele conseguiu. O prefeito sozinho não faz nada, ele precisa de pessoal técnico. E que os funcionários dediquem-se.
O senhor aposentou-se quando?
Aposentei com pouco mais de 50 anos. Vim para Rio das Pedras, construí um prédio, junto com um sócio, financiado por uma instituição financeira. Construí também o prédio onde funcionou por muitos anos a Padaria Cristal, foi a primeira vez que um bate estaca trabalhou na cidade. Construí a Igreja Mãe Rainha. Fiz o primeiro loteamento asfaltado da cidade.
O senhor veio para Rio das Pedras já aposentado.
Vim para cá para não fazer mais nada, fiz essas construções, acabaram me convidando para ser candidato, eu nem político não era. Tinha na igreja um grupo denominado Grupo de Apoio Político, o Padre Eugênio Broggio Neto me entusiasmou muito. Ganhei na segunda eleição em que concorri.
Como o senhor vê a Rio das Pedras de quando a conheceu e a Rio das Pedras atualmente?
Mudou muito! São épocas diferentes, não há como comparar. Rio das Pedras não era nem calçada. O Prefeito Gramani entre outras obras fez o encanamento, Como prefeito consegui tirar o esgoto do Ribeirão Tijuco Preto. Realizamos obras no sistema viário, demos inicio no Centro Pedagógico. O povo sempre me recebeu muito bem, sou cidadão riopedrense, sempre me senti muito bem aqui. E também a Thereza fez muita coisa pela parte social da cidade. O meu casamento com ela foi um presente de Deus.
Em Rio das Pedras tinha um cinema, a senhora lembra-se do nome dele?
Tinha sim, o Cine Ipiranga. Era do meu pai. Pela primeira vez Rio das Pedras tinha um cinema CinemaScope, foi feito com inclinação, papai trouxe um engenheiro de Piracicaba para fazer uma planta apropriada. Meu pai doou o prédio para a Igreja Católica, Fizemos pela cidade o que pudemos fazer e fizemos com amor. Pensando no povo, na melhoria da cidade.