PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de abril de 2017
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de abril de 2017
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADA: DULCE ANA DA SILVA FERNANDEZ
Dulce Ana da Silva Fernandez, escritora, poetisa, professora aposentada, tem em seu currículo um grande número de premiações e participações em antologias literárias. Nascida em Tietê a 24 de novembro de 1935, filha de Paschoal André da Silva, e Maria Berengam da Silva que tiveram oito filhos: Nair, Ida, Dulce, José Carlos, Moacir, Sonia, João e Lourenço. O pai de Dulce era comerciante. Alguns dos títulos e prêmios recebidos por Dulce em concursos literários: Tietê 1993 Conto: Lembranças; Tietê 1998 Conto: Bons tempos aqueles; Alumínio 1998 Conto: Bons tempos aqueles; Tietê 1999 Conto: No Arrulhar dos Pombos; São Vicente 1999 Conto: Nhá Dita; Tietê 1999 Poesia: Quem somos nós? ; Piracicaba 2000 Poesia: Gavetas da História; Tietê 2000 Poesia: Eternas Lembranças; Tietê 2000 Conto: A Esteira dos Peixinhos Dourados; Mogi-Guaçu Poesia: Vovó Mil Olhos; Tietê 2001 Poesia: Síndrome da Solidão; Tietê 2001 Conto: Valeriana; Tietê: 2002 Conto: Uma inacreditável Fênix; Cerquilho 2003 Conto: Uma inacreditável Fênix. Participação em Antologias Literárias: Almas Densas-1999-Barra Bonita; Meu Tirano Rio Tietê (conto); XVI Concurso de Poesias Mogi-Guaçu Vovó Mil Olhos (poesia); Concurso de Poesias Monteiro Lobato 2000 Taubaté Poema das Cores (poesia); Festival Literário da Terceira Idade 2000 Piracicaba- Gavetas da História (poesia); 500 Outonos 2000 São Paulo Eternas Lembranças I Repique do Réquiem (poesias); E por falar em Amor 2001 São Paulo Quadro Único (conto); Sinfonia Falada Opus I 2001 Itapetininga A Promessa (conto); Reverberações 2001 São Paulo Sempre há Tempo – Eternas Lembranças (poesias); E por falar em Amor II 2002 São Paulo Sinfonia de Mi-a-Dó (poesia e crônica); Escrevendo Mulheres 2002 São Paulo Nhá Dita (conto); Talentos da Maior Idade 2002 São Paulo Tonga (conto); Luz e Sombra 2002 São Paulo História de Pescadores I (conto); Energia Latente 2002 São Paulo O Faraó Destituído (conto); A Forja da Liberdade São Paulo História de Pescador II (conto); A Árvore da Vida 2003 São Paulo Caminhada alegre e ruidosa (conto); Prêmio Literário Cidade de Itapetininga 2003 Bicho-Homem (poesia); Marcas do Tempo V-2003 Descalvado Mulheres (poesia); Dias de Poesia Itapetininga Vovó 1000 Olhos – Dulce Ana da Silva Fernandez; Dias de Poesia 2003 Itapetininga Efemeridade- Estações da Vida Versos Soltos; Sinfonia Falada Opus II 2003 Itapetininga; Rebuscando Emoções O Dia “D” Normalidade Efêmera (mini-contos) Idiossincrasias 2004 São Paulo O jogo do destino (crônica e poesia).
A senhora formou-se professora em qual cidade?
Sou formada professora pela Escola Normal de Tietê.
O início da sua carreira como professora foi em qual cidade?
Comecei a lecionar em São Paulo, com 21 anos, eu tinha a tia Clementina que morava em São Paulo, foi onde me hospedei. Naquele tempo uma viagem de ônibus para São Paulo levava quatro horas. Eu morava no Brás e lecionava na Vila Maria. Permaneci lá por um ano.
FESTA DE SÃO BENEDITO
Como era dar aulas naquela época?
Era uma beleza! Isso porque naquela época o aluno ia com uma fome de novos conhecimentos, de saber. Ele não tinha acesso a televisão, as mídias, eletrônicas, isso fazia com que o aluno adorasse em ir à escola. Era uma forma de distração para o aluno. Nós tínhamos muita facilidade em manter a disciplina. Quando o professor entrava na sala de aula os alunos levantavam-se. Havia um grande interesse pela história, eu sempre tive muita facilidade em alfabetizar. O professor era respeitado pelos alunos e muito querido pelos pais dos alunos. O salário do professor proporcionava-lhe uma vida com dignidade. Eu também dava aulas para duas turmas do SESI a tarde, das seis da tarde às nove da noite. Das seis as sete e meia era uma turma e das sete e meia às nove horas da noite era outra turma.
MICHEL TEMER NASCEU EM TIETÊ
MICHEL TEMER RECITA O POEMA E CONTA A HISTÓRIA DO RELÓGIO
Como a senhora ia do Brás até a Vila Maria?
Ia de bonde até o Largo da Concórdia, lá pegava o ônibus até a Vila Maria. O bonde era aberto nas laterais. No Largo da Concórdia havia um banco onde esperávamos o ônibus chegar. Foi ali que conheci o meu marido. Tudo começou com um flerte, eu sentada, ele em pé, naquele tempo havia um respeito muito grande, era normal os homens usarem paletó e gravata. O nome dele era Jose Carpintero Fernandez, natural da Espanha. Ele veio com o pai dele, quando tinha 19 a 20 anos. No início tive um pouco de receio, ele era de um país estrangeiro, com idioma diferente, mesmo eu tendo facilidade em entender o que ele dizia.
Após casarem a senhora passou a dominar a culinária espanhola?
Aprendi muita coisa, entre eles o famoso puchero. Doces diferentes. Estive por duas vezes na Espanha, uma vez fiquei por 30 dias, outra por 59 dias, aprendi algumas receitas.
Quantos filhos você tiveram?
Tivemos três filhos: Carmen, José Ricardo e Fernando Henrique. Tenho cinco netos.
A senhora conciliava o trabalho de dona de casa, mãe, esposa, com o seu trabalho como professora?
Conciliava bem! Eu tinha uma pessoa que ajudava no trabalho doméstico.
Após casar-se a senhora e seu marido foram morar em que bairro de São Paulo?
Fomos morar na Vila Maria! A nossa casa ficava próxima a escola e ao serviço do meu marido. Ele trabalhava na CMTC – Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos, na parte administrativa. Naquela época Jânio Quadros costumava visitar os hospitais, a CMTC, geralmente eram visitas de surpresa. Ele era um político muito querido naquela época.
A senhora é também poetisa?
Sou! Tenho lançados quatro livros: “Cirandeira” é o primeiro livro, onde eu conto a história dos meus familiares. O segundo livro é “Pescadora de Emoções”, é um livro em que tenho contos, o terceiro livro é “Uma Aventura Divertida”, é um livro infantil, o quarto livro é um de poemas “Janelas da Vida” O primeiro livro “Cirandeira” é em prosa e verso.
Em São Paulo a senhora permaneceu por quanto tempo?
Fiquei uns dois anos, em seguida fui para a localidade de Iepê, situada depois de Assis. Meu marido saiu da CMTC e mudamos para aquela localidade na divisa com o Paraná, atravessando o rio já estava no Estado do Paraná. Lá eu permaneci por um ano e depois escolhi uma escola próxima a Itaquaquecetuba, meu marido montou nessa localidade um comércio. Ali permanecemos por uns 12 anos. Eu sempre queria voltar para Tietê.
O que a cidade de Tietê tem de tão atrativo?
Meus familiares eram todos de Tietê. É uma cidade hospitaleira, o povo é muito carinhoso, as amizades desde a infância, É uma grande família.
Tietê antigamente
Tietê tem famas marcantes, uma delas são os doces caseiros, inigualáveis.
Tietê mantém até hoje essa fama e a qualidade dos seus doces. Além de ser a terra de Cornélio Pires, nascido em Tietê, São Paulo, em 1884, foi escritor, compositor, conferencista, jornalista, contador de causos, folclorista e poeta. Gravou Jorginho do Sertão, folclore paulista adaptado por Cornélio Pires, lançado em 1929 por Mariano e Caçula. A primeira moda de viola gravada no Brasil.
Outra característica, quase folclórica, é que todos são conhecidos por um apelido.
É também conhecida como cidade dos apelidos, tanto que segundo contam, um senhor fez uma aposta com um amigo de que iria até Tietê e permaneceria por alguns dias sem que ganhasse qualquer apelido. Hospedou-se em um hotel, e de lá não saiu nesse período, a não ser para de tempos em tempos fumar na sacada do apartamento. Após alguns dias, ciente de ter ganhado a aposta, desceu de mala e cuia, para rumar à sua cidade de origem e embolsar a aposta certamente ganha. Estava de plantão apenas o camareiro, que prontamente chamou o gerente do hotel nos seguintes termos: “Seu gerente, o senhor pode vir até aqui que o hospede do apartamento 21 vai-se embora, o Cuco!” O hospede saia na sacada, à semelhança de um cuco de relógio! Ganhou um apelido e perdeu a aposta! O apelido do meu marido era Espanhol.
Por manter suas tradições, preservar a arquitetura, a cidade tem um aspecto muito próprio.
Inclusive as igrejas são muito famosas. A igreja matriz é uma igreja muito bonita. A Igreja São Benedito é centenária. Todos os anos têm procissão, com a vinda de pessoas de longe para participar das cerimônias religiosas ali realizadas. A Igreja Santa Terezinha é anexa ao local onde se formam padres.
Tietê tem bailes de carnaval muito famosos?
Tietê teve antigamente bailes de carnaval muito famosos, embora eu não participasse desses bailes porque havia algumas regras que meu pai fazia questão em manter, entre elas era o horário que tínhamos que estar em casa, geralmente em torno das dez horas da noite. Os bailes geralmente começavam às onze horas da noite.
Lá existiam vários clubes, mas dois eram muito conhecidos, havia até certa disputa entre eles?
Existe até hoje, são os clubes Recreativa (Sociedade Recreativa de Tietê) e Esportiva-Tietê Esportiva Clube (TEC). Há o conhecido e tradicional Hotel Cuitelo. Há uma pensão tradicional, muito boa, é a Pensão do Lazarim. No meu tempo de menina em Tietê havia pouquíssimos automóveis, a criançada brincava na rua, eu morava a uma quadra do jardim, brincávamos onde chamávamos de coléginho. Em Porto Feliz, Laranjal Paulista, Conchas não havia a Escola Normal, as estudantes vinham e ficavam no Colégio das Madres. Naquele tempo fechavam as portas das casas que se abriam para a rua somente na hora de dormir. Tanto as portas como janelas ficavam abertas.
A senhora lembra-se dos doces feitos na época?
A tradicional e famosa goiabada, pessegada, cocada, doce de abóbora, doce de batata, todos doces caseiros. Até hoje existe esses doces. A goiabada cascão é muito procurada. A minha mãe fazia esses doces. Papai gostava de pescar, o Rio Tietê era maravilhoso, as águas eram prateadas, não havia poluição. Pescava o peixe dourado, grande. Quando ia de bote trazia os peixes cascudos espada, em casa havia duas cozinhas, a cozinha externa tinha fogão a lenha, colocávamos para “moquear” os cascudos. O cascudo espada é grande, tem uns dois palmos aproximadamente. Colocávamos no fogão, quem ia passando por perto do fogão dava uma virada, para soltar o couro dele. Daí, fazíamos uma suculenta sopa de cascudo! Era deliciosa! Em casa tinha caldeirões de alumínio grande, ficava cheio de peixes fritos. Lembro-me de que havia o Hotel Lenzi, e mais três ou quatros hotéis, algumas vezes eles nos procuravam para adquirir peixes, tal era a quantidade que o Rio Tietê fornecia.
Quais eram as brincadeiras infantis da época?
Os meninos brincavam de pega-pega. As meninas brincavam de casamento espanhol, ficava um grupo de um lado e outro grupo de outro lado, os meninos escolhiam as meninas com quem queriam se casar, no final, quando todos tinham sido escolhidos, dava o braço e dirigiam-se ao altar que tinham montado, ali havia um menino que fazia o papel do padre. Em seguida todos voltavam a sentar-se. Às vezes fazíamos uns docinhos. Tinha uma amiga que morava no Pátio do Mercado no lugar onde é a prefeitura atualmente, como o quintal era grande a sua mãe deixava armar uma barraquinha e montar um circo. A entrada para o circo eram cinco palitos de fósforo sem ter sido usado. E levavam os docinhos também, algumas meninas vendiam os docinhos. Tietê tinha um cinema. As terça e quinta feiras a entrada era mais barata. Passavam filmes de Flash Gordon.
E rádio como era?
Rádio tinha! Não existia televisão! Ouvia novelas, muitas casas tinha a chamada vitrola onde eram tocadas músicas da época.
Do período da Segunda Guerra a senhora lembra-se de alguma coisa?
Lembro-me que foi para a guerra um rapaz de uma família conhecida em Tietê, combateu na Itália, e ao término da guerra voltou para Tietê. Ele narrava que nas trincheiras, muitas vezes insetos, pequenos animais, subiam pelas roupas, eles não podiam fazer um movimento sequer, para não serem notados.
Quando a senhora tornou-se uma jovem, qual era a distração preferida em Tietê?
Tínhamos o hábito de passear pelo jardim, havia a reta que ia e a reta que voltava, ali que fazíamos as chamadas “paqueras” ou flertes. O rapaz dava um sinal e a moça saia do meio das outras para conversar com o moço.
Como era dado esse sinal?
Era com a cabeça, nós já sabíamos o significado, então a moça ia para a segunda reta, que era a chamada “reta dos namorados”.
Onde a senhora busca inspiração para as suas poesias?
Minhas poesias nascem em qualquer lugar! Em uma folha, em uma gota de água. Em um olhar, em um passeio, uma caminhada. Elas brotam conforme a inspiração. Muitas vezes chega a inspiração, eu estou fazendo o almoço, tenho que desligar o fogão e fazer a poesia, tem que ser naquela hora. Às vezes de madrugada eu perco o sono, encosto no travesseiro e já escrevo. Eu tenho muita facilidade para escrever os contos.
Como a senhora vê o jovem atualmente?
A meu ver, a mídia eletrônica chegou de forma atropelada, muita novidade em curto espaço de tempo, acredito que ainda não existiu o tempo suficiente para definir o espaço que cada elemento deve ocupar. O essencial que é a leitura, os livros, estão sendo substituídos por um meio de comunicação que é mais fácil e mais rápido. Não vejo isso com bons olhos. Acredito que é importantíssimo o aluno ler e escrever. Infelizmente sente-se que muitos jovens não têm o habito de escrever. A falta do habito de escrever faz com que ele escreva de forma errada. Essa realidade está evidenciada nas redações de vestibular, onde há alunos cuja nota é zero. Estamos retrocedendo! Até o homem da caverna escrevia nas paredes das cavernas! Tinha vontade de escrever! Uma maioria dos alunos de hoje não tem essa vontade. Perderam!
De certa forma, os símbolos esculpidos nas paredes das cavernas foram substituídos por símbolos tecnológicos, deixando de lado a ordenação gramática e literária?
O homem da caverna não tinha outra opção, não detinha conhecimentos, o homem de hoje têm opções, pode obter esses conhecimentos. Simplesmente ele busca o caminho mais fácil, há uma pressa descomedida.
Qual é a importância da leitura para uma pessoa?
A leitura é maravilhosa! Ela transporta as pessoas, faz com que conheça novos lugares, desenvolve os neurônios, faz com que a pessoa raciocine,
O leitor deve apenas ler, ou ler e analisar aquilo que foi escrito?
Com o passar do tempo, após adquirir o habito de ler, surge a facilidade de ler, analisar e reter aquilo que está lendo. Entender qual é o objetivo que o autor busca.
Há autores que escrevem ao vento, ou seja, mais para se vangloriarem de que escreveram algo?
Infelizmente isso ocorre. Só que o leitor é de certa forma crítico o suficiente para ver que ali não há nenhum conteúdo, nenhuma mensagem, ele simplesmente abandona aquela leitura vazia.
O chamado livro de auto-ajuda como a senhora vê?
Acho bom. Há pessoas que não tem facilidade em ter um pensamento positivo. Esses livros ajudam a pessoa analisarem melhor seus pensamentos. Temos cerca de 60.000 pensamentos por dia, sendo que quarenta por cento deles são perfeitamente descartáveis. Um livro que melhore a qualidade desses pensamentos pode ajudar muito.
Atualmente recebemos uma carga de informações muito grande, isso exige uma filtragem maior?
Nós não dominamos essa carga, temos que selecionarmos o que serve e o que não serve.
A televisão sob seu ponto de vista exerce uma função importante?
Ela pode ser útil, basta sabermos fazer a seleção e o tempo de permanência diante dela. Há aspectos positivos e negativos, cabe a pessoa decidir o que pretende. É só selecionar o joio do trigo.
A senhora pratica exercícios físicos?
Faço. Musculação, oficina da memória e equilíbrio. Aos 81 anos é fundamental fazer exercícios. Sempre tive participação ativa junto aos alunos, nas aulas de ginástica, teatrinho, onde até interpretava alguma personagem. Todo sábado fazia o Culto à Bandeira, era uma hora de festa: com música, dança, quem tinha aptidão cantava, fazia teatro, quem tinha boa oratória lia uma poesia. Em Tietê eu participo das festividades alusivas a Cornélio Pires. Quando ele faleceu pediu que fosse sepultado de pijama, para que suas roupas fossem dadas aos pobres. Ele deixou para a cidade a Casa dos Meninos, que era uma chácara grande que ele tinha. Tietê teve também Benedicto Pires de Almeida, o Zico Pires, que escreveu em dois volumes a Cronologia Tieteense.
A senhora conquistou muitos prêmios, e tem uma memória privilegiada.
Ganhei alguns prêmios, e tem uma poesia da qual gosto muito, chama-se “Relicário de Um Vespertino” é sobre um raio de sol que visita a casa de uma idosa. (Dulce declama a poesia com total domínio trazendo muita emoção).
História do Município de IPIÊ
Fonte: Livro Iepê minha amada e querida de José Candido da Silva Filho
Famílias Pioneiras – Antônio de Almeida Prado, Francisco Severiano de Almeida, José Lino Santana, João Rudino Santana, Anfrísio Rodrigues, João Antônio Rodrigues, Tertuliano Machado Coutinho 1º Presbítero da Igreja Presbiteriana Independente, em cuja casa iniciou-se a primeira comunidade evangélica de Iepê. Em meados de 1917 chegam Anfrísio Rodrigues e Júlia Coutinho Rodrigues; dez anos depois Antônio Zanoni, em 1934 Germano Gonçalves dos Santos e Leônidas Ribeiro Passos, em 1937 Emiliano Salustiano e no ano de 1938 Antônio Francisco da Silva (Antônio Rosa) e José Cândido da Silva. O Sertão dos Patos, onde se localiza Iepê atualmente, era povoado desde o ano de 1917 por algumas famílias. Neste mesmo ano, a Companhia Brasileira de Colonização (responsável pelo loteamento das terras da região), doou dez alqueires de terras para ser fundado o patrimônio de São Roque da Boa Esperança. Este estava localizado no município de Conceição do Monte Alegre, comarca de Campos Novos Paulista, nas proximidades do Córrego do Patos. O local desenvolveu-se com o decorrer dos anos, no entanto, os moradores sentiram a necessidade de ser construída uma escola, para que seus filhos recebessem educação formal. Francisco Severiano de Almeida, mais conhecido por Chico Maria, tentando solucionar o problema, procurou os dirigentes locais solicitando autorização para a construção da escola. Estes não aceitaram a sua proposta por questões meramente religiosas, pois Chico Maria era protestante e o Patrimônio pertencia à Igreja Católica. Então ele propôs que fundada a escola o professor seria católico. Mesmo assim, a idéia de Chico Maria não foi aceita.
A situação agravou-se mais ainda quando faleceu um protestante e foi sepultado no cemitério local. Os dirigentes do Patrimônio mandaram cercar o cemitério, deixando do lado de fora o túmulo do protestante. Depois do ocorrido, Chico Maria foi à residência de João Santana comunicar-lhe a idéia de fundar um novo patrimônio, onde houvesse liberdade religiosa para todos os credos. Desta feita, os dois dirigiram-se à casa de Antônio de Almeida Prado, sobrinho de Chico Maria. Este, depois de saber dos planos do tio, doou dez alqueires de terra para a fundação do novo patrimônio.
Em abril de 1923 foi criado o patrimônio de “Liberdade” nas terras recém doadas. No ano seguinte, ocorreu a primeira tentativa de criar o Distrito de Liberdade, mas não deu certo. Somente em 29 de dezembro de 1927 que Liberdade passou a ser um Distrito de Paz, com o nome de Iepê, sob jurisdição do município de Conceição do Monte Alegre. Caio Simões propôs o nome de Iepê, que na tradição lingüística Tupi-guarani significa liberdade, pois já existia no Estado de São Paulo um outro patrimônio com esta denominação.
Em 05 de julho de 1935, Iepê deixou de pertencer ao município de Conceição do Monte Alegre e passou à jurisdição de Rancharia, permanecendo até o ano de 1944. O distrito, em 5 de agosto de 1940, passou a ser constituído de duas zonas, sendo a primeira zona Iepê, e a segunda Alegria. Iepê só foi emancipada no dia 30 de novembro 1944. Esta data passou a ser comemorada a partir de 1990, pois antes a comemoração era feita no dia 24 de junho, dia de São João Batista, o padroeiro da cidade.
A instalação do município ocorreu no dia 1º de janeiro de 1945, com a nomeação do primeiro prefeito municipal de Iepê – Dr. Agenor Roberto Barbosa. O município era composto de dois distritos de Paz: Iepê e Agicê (ex-Alegria). Passados quatro anos, nesta mesma data, foi instalada a primeira Câmara Municipal da cidade, tendo como primeiro presidente o Sr. Odilon Amâncio Taveira. Em 24 de dezembro de 1948, o Distrito de Paz de Agicê foi desmembrado de Iepê, no entanto, no dia 30 de dezembro de 1953 incorporou o Distrito de Nantes pelo Decreto – Lei nº 2456. Em 1963, Iepê teve a sua primeira vara distrital criada, como não foi instalada, revogou-se a lei em 1969. No dia 7 de junho de 1988, foi aprovado, pela segunda vez, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, o Projeto de Lei nº 725/87, a criação da Vara Distrital de Iepê, que foi instalada quatro anos depois
Cornélio Pires
(Tietê, 13 de julho de 1884 — São Paulo, 17 de fevereiro de 1958) foi jornalista, escritor, folclorista, Empresário e [Ativista Cultural] brasileiro.
Iniciou a sua carreira viajando pelas cidades do interior do estado de São Paulo e outros, como humorista caipira.
Em 1910, Cornélio Pires apresentou no Colégio Mackenzie, hoje Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, um espetáculo que reuniu catireiros, cururueiros e duplas de cantadores do interior. O Colégio Mackenzie foi fundado e sempre mantido pela Igreja Presbiteriana, à qual Cornélio Pires pertencia.
Ambicionando cursar a Faculdade de Farmácia, deslocou-se de Tietê para a cidade de São Paulo, a fim de prestar concurso de admissão. Não tendo obtido sucesso em seu intento, conseguiu empregar-se na redação do jornal O Comércio de São Paulo. Posteriormente trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo, onde desempenhou a função de revisor. A partir de 1914, passou a trabalhar no periódico O Pirralho.
Foi autor de mais de vinte livros, nos quais procurou registrar o vocabulário, as músicas, os termos e expressões usadas pelos caipiras. No livro “Conversas ao Pé do Fogo”, Cornélio Pires faz uma descrição detalhada dos diversos tipos de caipiras e, ainda no mesmo livro, ele publica o seu “Dicionário do Caipira“. Na obra “Sambas e Cateretês” recolhe inúmeras letras de composições populares, muitas das quais hoje teriam caído no esquecimento se não tivessem sido registradas nesse livro. A importância de sua pesquisa começa a ser reconhecida nos meios acadêmicos no uso e nas citações que de sua obra faz Antonio Candido, professor na Universidade de São Paulo, um dos grandes estudioso da sociedade e da cultura caipiras, especialmente no livro Os Parceiros do Rio Bonito.
Cornélio Pires foi o primeiro a conseguir que a indústria fonográfica brasileira lançasse, em 1928, em discos de 78 Rpm, a música caipira. Segundo José de Souza Martins, Cornélio Pires foi o criador da música sertaneja, mediante a adaptação da música caipira ao formato fonográfico e à natureza do espetáculo circense, já que a música caipiraé originalmente música litúrgica do catolicismo popular, presente nas folias do Divino, no cateretê e na catira (dança ritual indígena, durante muito tempo vedada às mulheres, catolicizada no século XVI pelos padres jesuítas), no cururu (dança indígena que os missionários transformaram na dança de Santa Cruz, ainda hoje dançada no terreiro da igreja da Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, por descendentes dos antigos índios aldeados, nos primeiros dias de maio, na Festa da Santa Cruz, a mais caipira das festas rurais de São Paulo).
A criação de Cornélio Pires permitiu à nascente música caipira comercial, que chegou aos discos 78rpm, libertar-se da antiga música caipira original, ganhar vida própria e diversificar seu estilo. Atualmente a música caipira é chamada de música raiz para se diferenciar da música sertaneja. A música caipira dos discos 78rpm nasce, no final da década de 1920, como o último episódio de afirmação de uma identidade paulista após a abolição da escravatura, em 1888, que teve seu primeiro grande episódio na pintura, especialmente a do Ituano Almeida Júnior, expressa em obras como “Caipira picando fumo”, “Amolação interrompida”, dentre outras. A ironia e a crítica social da música sertaneja originalmente proposta por Cornélio Pires, situa-se na formação do nosso pensamento conservador, que se difundiu como crítica da modernidade urbana. O melhor exemplo disso é a “Moda do bonde camarão”, uma das primeiras músicas sertanejas e uma ferina ironia sobre o mundo moderno.
Após encerrar a sua carreira jornalística, Cornélio Pires organizou o “Teatro Ambulante Cornélio Pires“, viajando com o mesmo de cidade em cidade, aplaudido por onde passava.
Cornélio Pires é primo dos escritores Elsie Lessa, Orígenes Lessa, Ivan Lessa, Juliana Foster e Sergio Pinheiro Lopes.
MUSEU HISTÓRICO CORNÉLIO PIRES
JOÃO NEGRÃO E CORNÉLIO PIRES
Cornélio Pires e o espiritismo
Cornélio Pires pertencia a uma extensa família de presbiterianos e, na juventude, frequentava as reuniões da igreja com os seus familiares.
Durante as suas viagens pelo interior do país, teve contato com vários fenômenos mediúnicos, particularmente algumas comunicações do espírito Emílio de Menezes, que muito o impressionaram. A partir de então passou a estudar as obras espíritas principalmente as de Allan Kardec, Léon Denis, Albert de Rochas e alguns livros psicografados pelo então jovem médium Francisco Cândido Xavier. A partir de então dedicou-se ao Espiritismo, com particular interesse pelos fenômenos de efeitos físicos.
Nos anos de 1944 a 1947 escreveu os livros “Coisas do outro mundo” e “Onde estás, ó Morte?“, tendo falecido quando se dedicava à redação da obra “Coletânea Espírita“.
Pouco antes de falecer, retornou à sua cidade natal, onde adquiriu uma chácara, tendo fundado a instituição Granja de Jesus, um lar para crianças desamparadas, que não teve a oportunidade de ver implantado.
Foi tio do jornalista espírita José Herculano Pires, tradutor e estudioso das obras de Allan Kardec e associado à corrente científica do Espiritismo brasileiro.