PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 9 de maio de 2015.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
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Sábado 9 de maio de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO:
GENERAL DE BRIGADA EDSON DIEHL RIPOLI
Piracicaba é uma cidade historicamente pródiga em talentos. Nas mais diversas áreas. O primeiro presidente civil da republica brasileira, Prudente de Moraes após concluir seus estudos iniciou sua carreira como advogado e como político em Piracicaba, aqui viveu muitos anos, aqui faleceu, seus restos mortais encontram-se sepultados em Piracicaba. O controvertido governador Adhemar de Barros Filho, que construiu o maior hospital da América Latina, o famoso Hospital das Clínicas nasceu na Rua Boa Morte. Grandes cientistas responsáveis pela importante posição agrícola do Brasil estudaram na “Escola Agrícola”, nome pelo qual o piracicabano denomina a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. O ensino básico teve o pioneirismo de Miss Martha Watts, a atuação de Sud Mennucci. Culturalmente uma cidade riquíssima. A instalação dos sistemas de água encanada, energia elétrica e canalização de esgotos ocorreram em Piracicaba ainda no século XIX. Tecnologias avançadas proporcionaram uma situação de pioneirismo para Piracicaba em relação às outras cidades brasileiras. A instalação da primeira metalúrgica, a Krähenbhül, e da Companhia de Navegação Fluvial Paulista, colocaram Piracicaba como pioneira no processo de desenvolvimento industrial da Província de São Paulo, como era denominado o Estado de São Paulo. Artistas, escritores, músicos, inventores como o gênio da mecânica João Bottene, que entre muitas criações construiu diversas locomotivas, Mário Dedini, pioneiro em equipamentos para a indústria sucro-alcooleira A atuação de Luiz de Queiroz no desenvolvimento industrial de Piracicaba acabou sendo o ponto de partida para a instalação do abastecimento de energia elétrica da cidade e a primeira a ter linha telefônica. A primeira indústria a se instalar em Piracicaba foi a Oficina Krähenbühl em 9 de maio de 1870. A Krähenbühl foi também a primeira metalúrgica da Província de São Paulo e fabricava troles, tílburis, charretes, carroças, carroções, jardineiras e carros fúnebres. Ficava instalada na antiga Rua do Comércio (Governador Pedro de Toledo) e dava fundos para o córrego Itapeva, na grande porção de terras que seu fundador, o suíço Pedro Krähenbühl. Nos esportes Piracicaba sempre mereceu destaque, no basquete, no futebol. Duas características acompanham o piracicabano, o seu amor pelo Esporte Clube XV de Novembro fundado a 15 de novembro de 1913 e seu sotaque característico, com o “erre” acentuado. Edson Dhiehl Ripoli é piracicabano, ainda muito jovem decidiu seguir a carreira militar. Ingressou na extremamente rigorosa Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), sendo o primeiro colocado de uma turma de 365 cadetes. Em 31 de março de 2015 foi promovido ao posto de General de Brigada, o primeiro general piracicabano. E quinzista roxo!
O General de Brigada Edson Dhiehl Ripoli é o mais jovem general do Exército Brasileiro. Foi condecorado com as seguintes medalhas nacionais: Ordem do Mérito Militar – Comendador; Medalha Militar de Ouro; Medalha do Pacificador; Medalha Mérito Tamandaré; Medalha Marechal Hermes – Bronze com uma coroa; Distintivo de Comando Dourado; Medalha Corpo de Tropa – Bronze; Medalha Prêmio Conde de Linhares; Medalha do Mérito do Ex-Combatente do Brasil; Medalha Sangue dos Heróis; Colar Comemorativo do Sesquicentenário da Revolução Sorocabana. Medalhas de Condecorações Estrangeiras: Medalha do Mérito Militar, de Portugal; Cruz da Ordem do Mérito Militar com Distintivo Branco, da Espanha (Condecoração feita pelo então príncipe, hoje rei da Espanha; Medalha de Ouro, da Itália; Medalha Esportiva de Bronze, da Alemanha;Medalha de Proficiência no Serviço de Tropa, da Alemanha;Medalha Libertador General Bernardo O’Higgins, do Chile;Medalha Francisco José Caldas – Aplicação, da Colômbia;Medalha das Nações Unidas – UNAVEM III.Medalha das Nações Unidas por Serviços Especiais.
PASSAGEM DE COMANDO
O senhor nasceu em que data?
Nasci a 9 de dezembro de 1964,em Piracicaba, sou filho de Romeu Italo Ripoli e Maria Apparecida Diehl. São seus irmãos Caetano Ripoli (Falecido), Bete Ripoli e Roberto Godoy.
O senhor fez seus primeiros estudos em que escola?
Entre 1971 e 1978, estudei na Escola Paroquial São Norberto (Igreja São Judas Tadeu) e na Escola Estadual Benedito Ferreira da Costa. Minha primeira professora era Dona Dulce, na Escola São Norberto.
O então colegial, em qual escola o senhor freqüentou?
Saí daqui com 14 anos, em 17 de fevereiro de 1979 assentei praça na Escola Preparatória de Cadetes em Campinas.
O que o levou a ingressar nessa escola?
Tomei a decisão de seguir essa carreira, prestei esse concurso, passei e fui. Foi uma decisão minha não houve nenhum incentivo familiar, não tenho nenhum parente que seja ou tenha sido militar.
O senhor identificou-se com o curso?
Acredito que sim, quando me formei ao final do curso que durou três anos, fui classificado como o primeiro aluno da minha turma composta por 210 alunos. Isso foi em 1981.
Qual foi a próxima etapa em sua carreira?
Fui para a cidade de Rezende, ingressei na famosa Academia Militar de Agulhas Negras – AMAN. Lá permaneci por quatro anos onde cursei o ensino universitário. Diplomei-me em 7 de dezembro de 1985, fui mais uma vez o primeiro aluno da turma de 365 cadetes, na época eu recebi a espada das mãos do presidente da república José Sarney.
Para quem conhece a rigorosa disciplina e o nível de excelência do ensino da Academia de Agulhas Negras, sabe o quanto é difícil cursá-la. Qual é o segredo para ser o primeiro aluno da turma?
Muito estudo! Quando conclui o curso e recebi a espada das mãos do presidente da república, para mim foi uma realização muito grande.
Terminado o curso qual foi o destino determinado ao senhor?
Em janeiro de 1986 me apresentei no quartel de Jundiaí, no 12º Grupo de Artilharia de Campanha. Era aspirante a oficial. Por oito meses permaneci como aspirante a oficial, nesse período ganhei uma viagem com a Marinha de Brasil, fui viajar por seis meses para Estados Unidos, Europa. Fui com o navio de guerra, na época denominado Custódio de Melo, hoje é o Navio Escola Brasil. Nesse período permaneci vinculado ao quartel de Jundiaí, fui promovido a segundo tenente em agosto daquele ano. Um ano depois promovido a primeiro tenente. Permaneci em Jundiaí de 1986 a 1989.
Nessa viagem com a Marinha do Brasil como era o uniforme que o senhor utilizava?
Era o uniforme do Exército adaptado. Usava os uniformes normais do Exército, mas tinha o uniforme de bordo, que era uma bermuda, uma sandália. Eu usava calça verde, eles usavam calça cinza, com a camiseta branca do navio.
Quais eram as atividades desenvolvidas pelo senhor a bordo?
Eu freqüentava todas as atividades do pessoal da Marinha. Tinha todas as instruções que eles recebiam. Tirava serviço no passadiço igual ao pessoal da Marinha. Quando chegava aos portos obviamente saia para conhecer as cidades.
O que é “tirar serviço” em um navio?
A navegação é dia e noite, quando está no mar não para nunca. O guarda-marinha, que é equivalente ao aspirante a oficial, tinha uma escala de serviço, ficavam cuidando da navegação. Eu permanecia ali, entrava na escala também, não ficava sozinho, é claro que tinha ali os oficiais. Acompanhava o radar, observando onde nós estávamos. Praticamente cuidando da navegação. Foi uma experiência interessantíssima. O pessoal daquela época passou a ser promovido a Almirante no ano passado. Mantenho contato com alguns deles até hoje, inclusive na minha entrega de espada na semana passada estava um amigo almirante, que é da minha turma, viajou comigo. E um amigo fuzileiro-naval esteve comigo no Rio de Janeiro no dia 31 de março ultimo. Essa viagem foi uma experiência diferente. Só um que viaja por ano. Era eu e um companheiro da Força Aérea que tinha se classificado em primeiro lugar na Academia de Pirassununga. Todos os tripulantes eram da marinha, menos eu e esse companheiro da Força Aérea.
Como o pessoal da Marinha via a permanência de dois companheiros um do Exército e outro da Aeronáutica, embarcados?
O relacionamento era ótimo! Receberam-nos muito bem.
Ficar 24 horas dentro de um navio é uma experiência muito marcante?
Não é fácil não. Para se ter uma idéia, de Fortaleza para Miami foi uma travessia de nove dias. De Miami para a França foram dez dias de mar, dentro daquele navio, vendo só água e céu é complicado realmente. Pensar que quando viaja e pega um avião em dez horas está na Europa.
Isso foi em um período em que não tinha internet?
Não havia internet, mas quando chegávamos conseguimos telefonar para o Brasil. Nem GPS. Existia, havia um sistema de navegação. Tinha um sistema de telefone via satélite, dentro do navio, era caríssimo. Essa facilidade que temos de mandar mensagens pelo celular claro que não existia. O que fazíamos era quando chegava a algum porto, íamos até um telefone público e telefonávamos.
Após essa viagem o senhor dirigiu-se para onde?
Voltei, continuei trabalhando em Jundiaí como tenente, em 1988 fiz um curso de especialização em comunicação no Rio de Janeiro, foram seis meses, permaneci até dezembro de 1989 em Jundiaí. Fui nomeado instrutor do Curso de Artilharia da AMAN em 1990 e 1991. Foram dois anos muito bons. Terminado esse período fui promovido a capitão, em dezembro de 1991, e fui transferido para Itu, para o 2° Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado- Regimento Deodoro, chegue em Itu em janeiro de 1992 permaneci três anos em Itu, nesse período fiz o curso de aperfeiçoamento, que é um curso obrigatório para capitães, é feito no Rio de Janeiro, tem a duração de seis meses. Retornei à Itu. No final de 1994 fui designado para a Missão de Paz da ONU, a primeira delas. O ano de 1985, inteiro, eu passei em Angola. Na época Angola tinha um conflito a UNITA, em tese apoiada pelos Estados Unidos e o MPLA – Movimento Popular Pela Libertação de Angola que esta no governo até hoje e é teoricamente apoiado pelos soviéticos. Houve vários acordos na tentativa de paz, e em um desses acordos Protocolo de Lusaka, realizado em 20 de Novembro de 1994, estabeleceu-se a UNAVEM III – United Nations Angola Verification Mission III, missão que integrei, ao longo desse ano fiquei em duas sedes, primeiro em Luena, que era ao Leste do país, dominado pelo governo e depois fiquei em um lugarejo chamado Chiteno, deve ter uns 500 habitantes, é mais ao Sul e era dominado pela UNITA.
O senhor estava em uma base brasileira?
Não, eu estava sozinho, com militares estrangeiros. Posteriormente o Brasil mandou um batalhão para lá. Éramos uns 10 observadores brasileiros, cada um em um canto do país. Eu fiquei no Quartel Regional de Luena, uns quatro meses e depois fiquei uns oito meses em de Chiteno, um lugarejo muito pobre, muito pequeno. Éramos um time de quatro militares, monitorávamos a área, informávamos o que estava acontecendo, foi uma experiência muito interessante. Os angolanos por falarem também o português, gostam muito dos brasileiros. Fazíamos nosso papel inclusive com interpretes, no primeiro quartel regional em que fiquei o chefe era um coronel holandês, eu era o tradutor, falava do português para o inglês.
O senhor fala quantos idiomas?
Uns seis. Estudei, fiz provas em inglês, francês, espanhol, italiano e alemão. O sexto idioma é o português, claro! Desses cinco idiomas estrangeiros empreguei pelo menos quatro em missões. O primeiro em Angola em inglês, na Alemanha o alemão, no Senegal em inglês e francês, e agora nessa última missão em espanhol. Esse estudo de idiomas foi extremamente válido porque o Exército me empregou muito bem. Ele sabia que eu falava diversos idiomas e me mandou para diversas missões. Após permanecer um ano em Angola retornei ao Quartel de Itu ao 2º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado entre 1996 e 1998. Voltei como capitão para Itu. Estudei para o Estado Maior, que é um concurso interno feito pelo Exército, fui promovido a major, em 1998 e fui para o Rio de Janeiro na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, sediada no Rio de Janeiro entre 1999 e 2000, obtendo o título de Doutor em Ciências Militares. Terminado o curso fui como Oficial de Estado-Maior, chefiar a 3ª Seção da Artilharia Divisionária/5, sediada em Curitiba – PR, nos anos de 2001 e 2002. Ai fui designado para ir para a Alemanha. Fui para Colônia, para a escola de idiomas das Forças Armadas Alemã. Fiz um curso de nove meses de alemão, já sabia o alemão mas aperfeiçoei bastante, e depois fui para Hamburgo onde entre 2002 e 2004, realizei o Curso de Estado-Maior das Forças Armadas na República Federal da Alemanha. A diferença e que é uma escola da OTAN, onde aprendemos a doutrina da OTAN.
DIVISAS DE GENERAL DE BRIGADA
Qual é a visão que o estrangeiro tem do militar brasileiro?
Há um relacionamento muito bom, normalmente o Exército seleciona bem os militares que vão para o exterior. Nessa missão em que fiquei por dois anos lá, conheci pessoas do Leste Europeu, da África, da Ásia, de todos os cantos do mundo. Na Alemanha há dois cursos diferentes, o primeiro que é Curso para oficiais da OTAN. E o curso que eu fia era para o pessoal de países não pertencentes a OTAN. latino-americanos só havia eu e um chileno. Havia muitos africanos, asiáticos e do leste europeu. Foi uma experiência excelente. Pela primeira vez fui com a minha família, minha filha com 12 anos teve que aprender alemão.
O senhor é casado?
Sou, a minha esposa é a Renata, é de Piracicaba, formada em odontologia. Nossa filha, Karina, também é piracicabana.
Após a permanência na Alemanha para que localidade o senhor dirigiu-se?
Terminado o curso na Alemanha, fui para Brasília, no Centro de Comunicação do Exército, que é o órgão do Exército que trata com a imprensa. Após um mês fui designa do como comandante do 2º Grupo de Artilharia de Campanha Leve – Regimento Deodoro, em Itu onde permaneci nos anos de 2005 e 2006. Na época cheguei a ter até 700 subordinados. Aquele prédio é de 1868, foi o Colégio São Luiz até 1918. Funcionou por 50 anos como colégio. Em 1918 o Exército negociou o prédio e instalou um regimento de artilharia lá. Dia 20 de janeiro faz 97 anos que o Exército está instalado naquele prédio.
Após a Alemanha o senhor fez algum outro curso no exterior?
Terminei o comando em Itu e fui para Brasília para servir no Gabinete do Comandante do Exército. Transferido para Brasília – DF, em 2007 trabalhei na Assessoria/3 (Assuntos Institucionais) do Gabinete do Comandante do Exército. Em 2008 e 2009, fui Assessor Militar da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Em 2009, integrei a Assessoria/2 (Assuntos Jurídicos) do Gabinete do Comandante do Exército. No ano de 2010, fui o Conselheiro Militar Principal do Escritório das Nações Unidas para a África Ocidental (UNOWA), em Dakar no Senegal. É uma missão que cuidava de 15 países, monitorava o que acontecia na Nigéria, Niger, Libéria, Costa do Marfim. Foi uma missão mais tranqüila do que a primeira, lá em Angola não tinha como me comunicar, ficava totalmente isolado, cheguei a ficar 35 dias sem falar com a família para saber se estava vivo ou morto. No Senegal não, a tecnologia tinha evoluído, já tinha Skype. A alimentação era elaborada por pessoas locais. Dakar para os padrões africanos é uma cidade muito boa. A missão era bilíngüe inglês e Frances, o chefe era um diplomata da Argélia.
GENERAL DIEHL RECEBENDO A ESPADA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA JOSÉ SARNEY POR TER SIDO O MELHOR ALUNO DA ESCOLA MILITAR DE AGULHAS NEGRAS DA TURMA DE 1985 COMPOSTA POR 365 CADETES
Terminada a missão o senhor retornou para onde?
Retornei pela terceira vez para o gabinete do Comandante do Exército, que é o órgão da organização do Exército que assessora o comandante. Em 2011 e 2012, servi na Assessoria/3 e na Assessoria de Contratações Internacionais do Gabinete do Comandante do Exército. Nesse período, fui também gerente do Projeto Estratégico do Exército ASTROS 2020. No final de 2012 fui designado para ir para a Espanha. Entre janeiro e março de 2013, realizei o Curso de Altos Estudos Estratégicos para Oficiais Superiores Ibero-Americanos, no Centro Superior de Estudos da Defesa Nacional, em Madri, Espanha. Em seguida, permaneci como instrutor daquele Centro até janeiro de 2015. Retornando ao Brasil, fui Chefe da Assessoria/3 do Gabinete do Comandante do Exército. Fui promovido ao posto de General de Brigada em 31 de março de 2015 e designado Comandante da Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Exército, situada em Niterói, cargo que assumi dia 28 de abril de 2015. Ela cuida instrução de seis grupos de artilharia.
2 Comentários
Parabéns General Diehl, amigo Lazzuri do 12 GAC, obrigado pela formação.
Grande General um exemplo do quão importante é o estudo na vida das pessoas.