PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 27 setembro de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 27 setembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
Pedro Luiz Defavari nasceu em Rio das Pedras a 20 de maio de 1959, filho de Izaltino Roque Defavari e Alzira Longatto Defavari (Dona Lila) que tiveram os filhos: Maria José (Zinha), Carlos, Pedro, Valdir e Adilson. Pedro é casado com Da. Rosangela, são pais de Douglas e Amanda. Pedro é o fundador do Clube dos Veteranos de Rio das Pedras, fundado a 23 de outubro de 1989. O que sobressai no Clube dos Veteranos é que é uma reunião de amigos com objetivos de amizade e respeito.
Pedro você além do seu trabalho tem um hobby ao qual se dedica muito.
Meu hobby principal é o futebol. Gosto também da pesca. Posso afirmar que cerca de setenta por cento das amizades que tenho foram feitas por intermédio do futebol.
Você chegou a jogar em times de expressão no futebol?
Cheguei a jogar no juvenil do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba. O presidente era Romeu Italo Ripoli, o responsável por nós era o Pedro Sallun. Jogávamos na preliminar depois jogava o time principal. Viajamos para outras cidades junto com o time titular. Foi um período em que o Esporte Clube XV de Novembro estava muito bem classificado. Com 15 anos fiz teste na Associação Portuguesa de Desportos em São Paulo, fui aprovado. Foi até curiosa a circunstância, um amigo, o Aristides, que jogava na Portuguesa, levou o Vanderlei para fazer o teste, meu pai estava dirigindo o veículo, eu fui junto, mais por curiosidade. Acabei entrando em campo na hora de fazer o teste, fui aprovado enquanto meu companheiro foi barrado, não pelo futebol, mas pela idade. Na semana seguinte voltamos Aristides, Vanderlei e eu, sendo que o Aristides que tinha 18 anos permaneceu em São Paulo, o Vanderlei com 16 e eu com 15 ficamos retidos na rodoviária pelo fato de termos menos de 18 anos e não estarmos acompanhados de um adulto. Por sorte, encontramos a Da. Lurdinha Vicente, esposa de Vicente Borsatto, ela perguntou o que estava acontecendo. Expliquei. Ela assumiu a responsabilidade sobre nós perante o juizado de menores, assim voltamos. Meu pai e Romeu Gardim tinham ido nos buscar. Isso foi por volta de 1976. Fiz também teste no Guarani Futebol Clube, passei. Por um ano treinei no Juvenil do XV de Novembro.
Seus estudos foram feitos em Rio das Pedras?
O primário eu estudei no Barão de Serra Negra, o ginásio na Escola Estadual Professor Manoel Costa Neves depois fui estudar contabilidade na Escola Municipal Contador Waldomiro Domingos Justolim, conhecida popularmente como Escola de Comércio. Na época o Zicão era o diretor, tinha os professores Genival, Avelino.
Na época qual era a atividade profissional dos seus pais?
Meu pai tinha um bar e mercearia, que depois passou para mini-mercado. Ficava na Rua Prudente de Moraes, 825. O começo de tudo foi no final da Rua Prudente de Moraes, onde hoje é a rotatória. Do lado direito de onde hoje há um posto de gasolina era o Bar do Gustão Scarassatti, pai do Anésio, do Mário. Ao lado tinha outro bar de propriedade dos irmãos Tota e Quinca, Meu pai transferiu de um lado para outro, depois passamos para um prédio próprio, na Rua Prudente de Moraes mesmo, mais acima um pouco. O Sr. Bussolotti fez um empréstimo ao meu pai que acabou construindo um pequeno barracão. Isso foi por volta de 1970. Em 1980 adquirimos do Comendador Oswaldo Miori o supermercado situado na Rua Pudente de Moraes.
Com quantos anos você começou a ajudar os seus pais?
Com 12 ou 13 anos, no bar e mercearia. A pessoa vinha com a listinha de compras, nós pegávamos a mercadoria e entregava ao cliente. As entregas eram feitas pelo meu pai com uma perua Kombi, de vez em quando eu ia junto também. A Kombi era a condução da família nos momentos de lazer. Na frente iam meus pais e atrás os cinco filhos!
Após deixar o XV de Novembro você continuou jogando?
ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA RIOPEDRENSE
Comecei a brincar na Associação Atlética Riopedrense, da Terceira Divisão. Sempre joguei como meia-direita, sempre com a camisa 8. Fiquei um ano, depois o time perdeu a vaga. Joguei na época em que o presidente era Antenor Soave e o Toninho Bassa era o técnico. Vieram umas normas da Federação Paulista de Futebol, que era necessário construir uma arquibancada para 3.000 pessoas. O time ficou um ano sem disputar o campeonato. A proposta era de ser feita a arquibancada nesse ano, o que não aconteceu e a Riopedrense parou de disputar.
O jovem em Rio das Pedras tem recebido incentivo para praticar esportes?
A situação dos jovens é digna de tristeza. A falta de interesse por qualquer tipo de esporte por parte de alguns mandatários anulou a participação do jovem em atividades esportivas. Já tivemos períodos de intensa atividade esportiva, como na época de Geraldo Bianchin, havia campeonatos, era completamente diferente.
A seu ver qual é a importância da prática de esportes?
Como disse no início, a maior parte das amizades que tenho fiz por intermédio do futebol. Quem gosta de esportes, de futebol, para fazer amizade com outra pessoa que faz a mesma coisa é a coisa mais simples, a gente fala a mesma lingua. Conhece o carater da pessoa mais fácil ainda. Quem pratica esporte só tem a ganhar, quem pratica por algum tempo dificilmente extravia sua conduta. Isso é fato!
As autoridades constituidas, em todos os níveis, federal, estadual, municipal, deveriam incentivar mais a prática de esportes de uma forma geral?
Nós vemos em entrevistas concedidas por atletas o pouco caso com relação a pratica de esportes. Aqui em Rio das Pedras tem um atleta que pratica corrida, o Mazaia, ele se inscreveu em uma corrida em Santos, ele necessitava de um patrocínio de R$ 400,00, a prefeitura da cidade não tinha essa verba. Infelizmente isso ocorre tanto no esporte profissional como no amador na natação, futebol, volei. É só dizer que necessita de patrocínio e não encontra nenhum tipo de incentivo. A única coisa que ainda está em pé em Rio das Pedras é o Clube de Campo, o Banhara que fez, o Comendador Oswaldo Miori é que estava dando-lhe suporte, isso faz 50 anos ou mais. Em 2003 conseguimos fazer o Clube dos Veteranos, o time de futebol iniciciou-se em 1989.
Como surgiu o Clube dos Veteranos?
Quando fiz 30 anos convidaram-me para disputar um campeonato em Cerquilho, jogando pela Meias Selene. O Carlos Hansen, foi talvez o único profissional que sobressaiu na cidade, que jogou no Comercial Futebol Clube de Ribeirão Preto, por sete anos. No caminho pensei em montar um time de veteranos, o Carlos Hansen disse que ajudava. Escolhi 17 pessoas, não necessáriamente bons jogadores de futebol. O primeiro jogo que fizemos foi em 1989 em Saltinho. Para nós jogar futebol é um pretexto, o gostoso é após o jogo, sentar, bater um papo, criar um ambiente descontraido. Comecei por brincadeira e deu certo. De 1989 até 2002 jogávamos na região, Iamos com vários carros, quando iam muitas pessoas alugávamos onibus.
Que cor era o uniforme?
O primeiro uniforme nosso já existe a 25 anos, está intacto, a camisa nas cores azul, vermelha e branca, cores da bandeira de Rio das Pedras. Até hoje as pessoas que ingressam no time vestem essa camisa e tiram uma fotografia uniformizado.
Você tem um carinho muito especial pelo clube.
Já passaram 63 pessoas pelo clube, jogando bola.
Você tem todas as estatísticas do clube?
Tenho tudo. Desde o primeiro jogo. Quem marcou, quem jogou. Qantos jogos fizemos, quanto tempo o jogador permaneceu. Quantas presenças a pessoa teve. Estou fazendo uma revista onde estou contando a história de cada um.
Isso é uma característica da sua formação como contabilista?
Pode até ser. Mas eu acho que é mais porque gosto. Acho que nunca ninguém fez isso. O profissional tem esses dados porque está documentado em televisão, ou em outra mídia. Agora ter o capricho de pegar um caderninho e marcar o dia do jogo, quem veio jogar, quem jogou, quem marcou gol, digo: é muito dificil encontrar quem faça.
Você é o Rocha Neto (Maior documentarista de esportes de todos os tempos)de Rio das Pedras?
Mais ou menos! Um fato que considero marcante é o de um atleta que sempre saiu vencedor em um esporte de competição individual. Um dia encontrei-o completamente alcoolizado, sem forças para ficar em pé. Conversei rapidamente com ele. Aos poucos ele passou a freqüentar o Clube dos Veteranos. Sentiu-se valorizado. Hoje é um grande companheiro. Essa é uma das historinhas que marcaram.
Qual é a faixa etária dos freqüentadores do Clube dos Veteranos?
O mais novo é o Fernando, está com 29 anos. A norma é ter no mínimo 30 anos para ingressar no clube. Com mais idade, que está jogando, é o Nico Padovese, com 66 anos. Se deixar ele joga o primeiro e o segundo tempo de jogo. A regra é jogar meio tempo cada um, para dar a oportunidade de todos jogarem. O João Morales (João Pitoco), também tem 66 anos e joga só que é 5 meses mais novo do que o Nico Padovese. São pessoas privilegiadas. O meu sonho era também estar jogando até hoje, consegui jogar até os 50 anos, o meu joelho me obrigou a parar.
A que horas começa o jogo?
Aos sábados às três horas da tarde o pessoal começa a chegar normalmente o jogo inicia-se três e meia, quatro horas. São dois tempos de 40 minutos cada um. Após o jogo o pessoal toma uma cervejinha, come um petisco, brincam, conversam. Lá pelas sete e meia da noite o pessoal começa a ir embora.
Em que dia você se casou?
Foi em 18 de setembro de 1988
Como sua esposa vê essa sua dedicação ao Clube dos Veteranos?
Fui um privilegiado. Ela gosta de atletismo, apóia, é companheira mesmo. Vamos fazer 26 anos de casados, nunca discutimos.
Seu filho gosta de futebol?
Gosta, o que o meu pai fez para mim eu fiz para ele. Ele ficou até mais tempo do que eu no Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba. Ficou de dois a três anos, saiu, fez um teste no Noroeste de Bauru, passou no teste, ficou por lá. Quando ia começar o campeonato ele parou e veio trabalhar comigo.
Qual é a área total do Clube dos Veteranos?
São 62.000 metros quadrados. Dividimos em 22 chácaras, entre os 22 jogadores do time, cada um na época adquiriu uma chácara para ele. Acredito que seja algo inédito, um condomínio de 22 amigos. O engenheiro Walmir Marcelo que também fazia parte do time fez a divisão.
Se alguém quiser adquirir um terreno lá, como funciona?
O interessado em vender informa ao conselho do clube. Se ninguém do Clube dos Veteranos quiser, passa a prioridade de venda ao Master.
O que é Master?
É outro time que criei que joga aos domingos, já faz seis anos. Os Veteranos jogam com times convidados. O Master só joga entre eles. Camisa vermelha contra camisa branca. Hoje tem 65 participantes do Master, aos quais dedico o domingo. São dois jogos, acima de 50 anos é uma turma, abaixo de 50 anos é outra turma que joga. Ao todo somando os participantes dos Veteranos e do Master são cerca de 100 pessoas. O jogo começa às oito e meia da manhã para o pessoal com mais de 50 anos, das dez horas em diante o pessoal com menos de 50 anos. Hoje no Master tem o Samuca que está jogando futebol todos os domingos aos 73 anos. O Master joga 35 minutos cada tempo. Muitos fui convidando, eles diziam “- Eh Pedro! Você está louco! Faz 10 anos que parei de jogar futebol, hoje tenho 50 anos!”. Eu dizia “- Começa devagarzinho! Deixa a mulher um pouco sossegada em casa!”. Hoje tem fila com 10 pessoas esperando uma vaga para poder participar do clube. Tem um médico, Dr. Renan, que joga e faz plantão.
Infelizmente existem alguns pseudo-atletas que usam uma partida de futebol como pretexto para se excederem na bebida na confraternização após a partida. Como você controla isso com um número tão grande de pessoas?
A base de tudo é o respeito. Sinto-me muito respeitado. Acredito que isso seja um dom. Convidar alguém para participar é fantástico. Convidar alguém para se retirar é muito difícil. Infelizmente passei duas vezes por isso. Teve um caso em que a pessoa era muito polêmica, achava que todos estavam contra ele. Eu tentei ajudá-lo, lapidar, não é assim fulano. Isso durou três anos. Chegou a um ponto em que não tinha mais o que fazer, fizemos uma cartinha de dispensa. Outro caso no primeiro dia em que ele foi ao clube já discutiu com um sócio. Tentamos mais algumas vezes, mas ele sempre acabava discutindo com alguém, ao que parece alguns não simpatizavam com ele. Até que fui obrigado a dizer-lhe que parasse de freqüentar por algum tempo. Foi muito difícil dizer-lhe isso.
Vocês jogam boche?
As sextas-feiras uns 10 ou 12 sócios se reúnem, fazem um jantar e jogam boche. Eu tinha 3 anos, meu pai tinha a cancha de boche, e de tempo em tempo é passado o rodo para nivelar a cancha, eu sentava em cima do rodo enquanto meu pai puxava! Essa convivência com o boche é desde a infância. Posso afirmar que jogo bem a ponto, e mesmo atirando a bola. Para conviver com outras pessoas tem que ter autocontrole. Cada jogo é uma história. Antes de jogar costumamos rezar. Aos que vão para somar a porta sempre estará aberta. Os que imaginam em dividir não serão bem vindos. É nossa palavra de ordem. O respeito é o alicerce, nossa base. Estamos sempre lapidando.
A seqüência de quem ingressa é jogar futebol no Clube dos Veteranos, com mais idade passa para o Master e com o passar do tempo passa a jogar boche.
Seria isso mesmo! Hoje o Veteranos está completo, com 22 jogadores, se necessitar de um jogador os 22 escolhem um nome para colocar dentro do clube. O Conselho recebe o nome dessas pessoas e é feita a votação. Não é importante apenas que o atleta seja bom de bola, ele deve vir para somar com suas qualidades pessoais. A confraternização após o jogo torna o evento importante para todos.
É um lugar onde encontramos tranqüilidade, diversão sadia. Em dia de jogo quem quiser conhecer o Clube dos Veteranos é só dirigir-se até lá. Fica a dois quilômetros da Praça da Matriz. Dá para ir caminhando.