PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de março de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de março de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
Francisco Pinto Filho nasceu a 11 de julho de 1959, em Fortaleza, Ceará. Chico como é mais conhecido é fortalezense, porém já considerado cidadão piracicabano, conforme atesta a Câmara Municipal de Piracicaba. É filho de Luiz Pinto de Oliveira e Isaura Paula de Oliveira que tiveram os filhos: Manoel, Francisco, Francisco (Chico) (São dois filhos com o nome Francisco) e Silvana. A família mudou-se para Piracicaba quando Chico tinha apenas uns três anos de vida, em 1962 seu pai foi trabalhar como metalúrgico na Dedini, onde se aposentou. Francisco Pinto Filho é diretor nacional da Central Força Sindical. Casado em segundas núpcias com Edna Yoshimi Nakagawa.
Em que bairro de Piracicaba a família foi morar quando chegou de Fortaleza?
No Piracicamirim, na época mais conhecido como “Pisca”, na Rua Roberto Mange, depois da ponte sobre o Ribeirão Piracica Mirim. Freqüentei uma escolinha de pré-primário que hoje não existe mais. Ali no Pisca havia uma rotatória, com uma ponte apenas, de madeira, os ônibus vinham até ali e voltavam para o centro da cidade.
O senhor ingressou em qual Grupo Escolar?
Estudei no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. Naquela época as ruas daquele trecho não eram asfaltadas, vinha às aulas a pé. Necessariamente passávamos em frente ao Cemitério da Saudade, e era comum um grupo de crianças provocarem sustos entre si, com relação a esse trecho. A noite ninguém gostava de passar em frente. Estudei parte do ginásio na Escola Estadual Dr. Dario Brasil, fui estudar na Escola Estadual Monsenhor Jerônymo Gallo no período noturno. Nessa época comecei a trabalhar em uma fábrica de estopa, a Fábrica São João, ficava ali na Rua Julio Prestes, na Vila Monteiro, ela existe até hoje, situa-se na Rodovia do Açúcar. Foi o meu primeiro emprego, eu tinha 14 anos de idade e fui registrado.
Qual era a sua função na fábrica de estopa?
Eu era ajudante geral. A empresa tinha cinco funcionários.
Legalmente, hoje, o senhor com 14 anos de idade não poderia trabalhar. Qual é a visão pessoal do senhor sobre essa situação?
Acho que nessa idade tem que trabalhar, é um aprendizado de vida. Tem que trabalhar e estudar. Esse contato com o meio profissional, com as pessoas ajuda muito na sua decisão de qual carreira pretende seguir. Só o conceito teórico da vida não lhe dá visão da realidade. Com o meu neto de nove anos, e sua mãe, minha filha, eu já procuro direcionar para que trabalhe, faça alguma coisa, para ter a vivência do trabalho. O homem que não trabalha não tem vida.
Porque o senhor acha que existe essa política de fortes restrições de participação do menor no trabalho?
Eu ainda não consegui entender. A parte teórica dos estudos já é muito deficiente, sem a mínima noção de trabalho na prática, as indústrias não conseguem encontrar mão de obra com a mínima qualificação. Temos contato com empresas que em uma seleção de 40 candidatos, acabam por selecionar apenas 4. Há candidatos, com certificado de curso médio que não tem a mínima noção de quanto é 50% de um produto.
Estamos criando um país onde uma grande fatia da população é totalmente despreparada para qualquer tipo de atividade que não seja meramente braçal?
Infelizmente é a tal geração “nem-nem”! Nem estuda nem trabalha! São jovens na faixa de vinte anos. É uma prova de que as coisas têm que mudar. A pressão para que isso mude tem que vir da sociedade, tem que haver uma conscientização. O candidato a uma vaga tem que estar qualificado e com uma experiência mínima. É fundamental que o jovem estude, mas se ele tiver em paralelo alguma experiência de trabalho, ele terá maiores chances de sucesso.
O filho trabalhando, poderá exigir mais dos pais, tirando-os de uma zona de conforto?
É uma questão muito delicada, muitas vezes o próprio caráter do jovem determina sua ação.
Por quanto tempo o senhor permaneceu na fábrica de estopa?
Por um ano. De lá fui trabalhar no Tremocoldi, ficava na Rua São José, trabalhei ali por um ano como auxiliar de escritório.
Morando ainda no “Pisca”?
A minha infância toda foi no Pisca.
Naquela época a fama do Pisca era brava?
Era brava, assim como também eram bairros com fama de locais de valentões, o Risca-Faca, Bairro Verde. Época em que os parquinhos, circos se instalavam nesses bairros, saia muita encrenca. Com 18 anos fui fazer o Tiro de Guerra situado na Avenida Dr. Paulo de Moraes, nosso sargento era o Munuira, o Capitão Gomes era o comandante.
Para o jovem, prestar serviço militar no Tiro de Guerra é importante?
Vejo como uma coisa boa. Além da convivência, aprende-se a ter disciplina. Isso faz bem.
Há uma visão de que a maior parte dos lideres sindicalistas tem uma tendência a serem simpáticos com a esquerda política, o senhor passa a imagem de uma pessoa bastante equilibrada.
Não tenho posições pré-definidas, procuro analisar cada situação, trabalho muito isso, tive que fazer isso, a vida me ensinou a ser assim.
Após concluir o Tiro de Guerra qual foi o seu próximo trabalho?
Ingressei em uma empresa de manutenção elétrica, Escritório Técnico de Engenharia Etema Ltda, que prestava serviço para a Philips. Trabalhávamos com montagens de subestações elétricas. Eu tinha feito um curso de eletricista no Senai, as aulas práticas eram embaixo das arquibancadas do Estádio Barão de Serra Negra, fazíamos instalações ali para aprender. Fui montar subestação no Hotel Glória, no Rio de Janeiro, permaneci seis meses trabalhando lá. Isso foi em 1979. Em 1980 voltei para Piracicaba e fui trabalhar como eletricista de manutenção praticante, na Indústria de Papel Piracicaba, do Grupo Simão, em 1986 passei a integrar o sindicato. Em 1992 a Votorantin adquiriu a fábrica.
Oji Papeis Especiais é a mesma empresa?
Em 2011 a Oji adquiriu a empresa do Grupo Votorantin. A Oji Paper foi fundada em 1873 no Japão.
Que tipos de papéis são produzidos nessa indústria em Piracicaba?
São papéis especiais: autocopiativos, couchés, para imprimir e escrever. Focada no mercado interno e na América Latina.
O senhor tem idéia de quantos funcionários trabalham na Oji em Piracicaba?
São 530 funcionários. É uma empresa com alta tecnologia, muito automatizada.
Talvez pelo rápido crescimento, o piracicabano em geral não tem pleno conhecimento do grande parque industrial instalado em Piracicaba?
Talvez falte um pouco de divulgação. Há grande destaque para os setores canavieiro e metalúrgico. O setor de papel e celulose representa 4% do PIB – Produto Interno Bruto brasileiro. Em 2012 fiz parte do Conselho de Competividade Setorial, no setor de celulose, criado pela presidente Dilma, voltado a criar incentivos, fazer uma política para o setor. O prpoprio setor tinha ido reclamar de que o incentivo do governo junto ao setor é muito pífio. O governo tem sua atenção voltada para metalurgia e montadoras.
O Sintipel Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Papel, Papelão e Cortiça de Piracicaba foi fundado em que ano?
Em 1956 foi fundada a Associação e em 22 de agosto de 1958 foi fundado o sindicato. Até hoje o sindicato limitou-se a abranger Piracicaba. Estatutariamente não temos a representação, mas a Federação deu-nos a representação de Charqueada, Santa Maria da Serra, Rio das Pedras. Só em Piracicaba temos cerca de 1600 trabalhadores na indústria de papel. Temos cinco indústrias papeleiras: A Oji, a Klabin, a Reipel, RST, a Weidmann Tecnologia Elétrica Ltda, que é uma multinacional sueca, ela produz isoladores para transformadores.
A diretoria do sindicato é composta por quantos componentes?
Em torno de 30. Estão distribuidos nas empresas, continuam trabalhando normalmente. Afastados do serviço somos sete, mais seis funcionários.
Quais são os benefícios que o sindicato oferece aos seus associados?
O sindicato cresceu muito, temos sede própria, inaugurada em 1999, o local onde era a antiga sede foi reformado, fica próximo a nossa sede atual, lá criamos um centro de qualificação, para dar cursos. Construímos uma sede de campo, situada no bairro Conceição, na estrada de Tupi. Tem amplo estacionamento, salão de festas, salão de jogos, cancha de bocha, dois campos de futebol social, quatro quiosques com churrasqueiras, no ano de 2013 já elaboramos o projeto da piscina. Temos um apartamento na Praia Grande, é alugado ao associado a preço bem acessível, temos quatro apartamentos na colônia de férias do Estado. Oferecemos gratuitamente advogado trabalhista, acordos coletivos para dar assistência médica, alguns com abrangência nacional. Temos atendimento odontológico no prédio, mas estamos fechando um convênio através do qual o associado poderá ir até o consultório dentário do profissional. Todos os anos negociamos acordos coletivos, nas convenções, onde se consegue aumento real, nós temos um piso que é superior a dois salários mínimos. Conquistamos reajustes, valores de horas extras, superiores a determinação da lei. A lei estabelece 50% de acréscimo sobre as horas extras, o nosso índice é 80%, o adicional noturno a lei determina 20% o nosso é de 40%. Temos o auxilio creche, que consta em convenção, 13% da categoria é composta por mulheres. Isso é fruto de negociação do nosso sindicato com o sindicato patronal, com as empresas. Oferecemos auxilio para crianças especiais. Se faltar até dois anos para o funcionário se aposentar, terá a garantia de emprego nesse período, até ocorrer a aposentadoria.
O SINTIPEL de Piracicaba está ligado a outras entidades?
No Estado de São Paulo temos 19 sindicatos ligados a Federação dos Trabalhadores na Indústria de Papel no Estado de São Paulo. É uma entidade superior ao sindicato. As convenções são realizadas em âmbito estadual. A CNTI, que é a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria atua em nível nacional. Hoje estão se criando outras confederações, específicas de cada setor. Já existe a CNTQ, que é a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Químico, dos metalúrgicos, da construção civil, dos comerciários. As categorias estão se organizando em escala nacional.
Existe algum contato com entidades similares de outros países?
Temos a FESPAM Federação dos Papeleiros do Mercosul, com sede na Argentina, inclusive participo, sou diretor dessa federação. É uma atividade sem remuneração. A única remuneração que tenho é da empresa onde trabalho, nem do sindicato eu tenho remuneração, nunca teve. Já fizemos intercâmbios com instituições congêneres do continente europeu. Ver o que tem de melhor em outros países para trazer ao Brasil, o nosso setor de papel e celulose está se internacionalizando muito. Muitas empresas multinacionais estão vindo para o Brasil. Está ocorrendo uma descentralização, muitas empresas estão se estabelecendo também fora do Estado de São Paulo. Vemos isso no Mato Grosso do Sul, no Maranhão, no sul do país.
Há quantos anos o senhor está como presidente do SINTIPEL?
Como presidente estou a 26 anos. É uma vida.
Como o sindicato vê a importância do reflorestamento?
Isso é imprescindível. As nossas maiores indústrias trabalham com matéria prima de fonte ambiental apropriada. A árvore é plantada com essa finalidade. A produção de papel é sustentável. Usa-se o pinus e particularmente no Brasil mais o eucalipto. Madeira nobre não serve para fazer papel. É um desastre, por causa da fibra dela.
Como funciona a contabilidade de um sindicato?
Todos os atos formais têm que ser registrados. Balancete. Balanço mensal. Tem que ter um contador responsável. Proposta orçamentária para o ano seguinte. Balanço do ano anterior. Tudo isso registrado em cartório, mediante convocação de assembléia da categoria.
Sindicato recolhe imposto?
O sindicato é isento de impostos. Ele não tem inscrição estadual. Só recolhe impostos previdenciários dos funcionários. Temos todos os livros com todos os balanços de todos os anos. Todo dinheiro que entra e que sai está registrado diariamente, mensal e anual. È um recurso que pertence a uma categoria, e tem que ser administrado com total transparência.
O sindicato tem que se filiar a algum setor político?
O sindicato pode se filiar a uma central sindical, a uma federação, a uma confederação. A um partido político não. Isso pode ser uma opção individual dos diretores. Tem que ser participativo. O compromisso maior é com o sindicato. O lado social do sindicato é muito importante, uma das minhas primeiras iniciativas quando assumi a presidência foi dar aos aposentados os mesmos direitos do associado que está em pleno exercício das suas atividades. Colocamos no estatuto, o aposentado tem os mesmos direitos, de votar e ser votado. Temos um convenio médico para o aposentado fruto de acordo que conseguimos, conquistamos. São cerca de 300 aposentados que freqüentam o sindicato. Penso que temos que olhar de forma especial nas duas extremidades: a criança e o idoso.
O senhor usa informática?
Uso muito! É uma ferramenta de trabalho imprescindível. Até mesmo propostas de filiação eu recebo muitas pelo site. Mostramos que somos um sindicato de lutas e conquistas. Participamos muito dessa questão de qualificação profissional, tanto que na Federação do Estado sou diretor de saúde, segurança e qualificação profissional.
O nível técnico do associado ao SINTIPEL é um nível elevado?
É alto. Na Oji todos os funcionários são técnicos. A própria empresa está fornecendo curso técnico em química que é realizado pela instituição de ensino Anglo. São duas turmas por ano.
Existe algum evento especial realizado pelo sindicato?
Em 20 de setembro sempre comemoramos o Dia do Papeleiro, no fim de semana mais próximo a esse dia realizamos um evento na nossa sede de campo. São realizadas atividades recreativas, churrasco, comparecem os associados e seus familiares. É uma grande festa.