PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de novembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
Dario Correa e sua esposa Maria Idalina
ENTREVISTADO: DARIO CORREA DE ANDRADE
Possivelmente o programa apresentado em rádio, dedicado a música e costumes mexicanos, com maior longevidade no mundo, 50 anos, é apresentado por um brasileiro, em Piracicaba, pelo radialista Dario Correa de Andrade, tenente reformado da Polícia Militar do Estado de São Paulo. O programa de Dom Dario Correa é digno de reconhecimento e um verdadeiro caso a ser estudado por analistas em comunicação. Como um programa se mantém por meio século no ar apresentando músicas mexicanas? A explicação mais evidente é a paixão que Dario Correa tem pelo México. Dom Dario Correa é um cônsul não oficial daquele país. Esteve inúmeras vezes em visita ao México, tanto ao pousar o avião que o conduz, ou levantar vôo, a emoção transborda em seus olhos. Piracicaba tem raros mexicanos que residem nela. O próprio país, só recentemente passou a ter laços comerciais mais significativos com o México. Nascido na cidade de Cerqueira Cesar a 1 de novembro de 1936, é um dos 9 filhos de Cantídio Correa de Andrade e Olimpia Cornélio. Seu pai trabalhava com vendas. Dario frisa que sua origem é bem modesta. Dario Correa é casado com Maria Idalina Rossini Pompermayer Correa de Andrade, que já foi ao México com Dario Correa e fez várias observações sobre hábitos e costumes que conheceu naquele país.
Possivelmente o programa apresentado em rádio, dedicado a música e costumes mexicanos, com maior longevidade no mundo, 50 anos, é apresentado por um brasileiro, em Piracicaba, pelo radialista Dario Correa de Andrade, tenente reformado da Polícia Militar do Estado de São Paulo. O programa de Dom Dario Correa é digno de reconhecimento e um verdadeiro caso a ser estudado por analistas em comunicação. Como um programa se mantém por meio século no ar apresentando músicas mexicanas? A explicação mais evidente é a paixão que Dario Correa tem pelo México. Dom Dario Correa é um cônsul não oficial daquele país. Esteve inúmeras vezes em visita ao México, tanto ao pousar o avião que o conduz, ou levantar vôo, a emoção transborda em seus olhos. Piracicaba tem raros mexicanos que residem nela. O próprio país, só recentemente passou a ter laços comerciais mais significativos com o México. Nascido na cidade de Cerqueira Cesar a 1 de novembro de 1936, é um dos 9 filhos de Cantídio Correa de Andrade e Olimpia Cornélio. Seu pai trabalhava com vendas. Dario frisa que sua origem é bem modesta. Dario Correa é casado com Maria Idalina Rossini Pompermayer Correa de Andrade, que já foi ao México com Dario Correa e fez várias observações sobre hábitos e costumes que conheceu naquele país.
Com qual idade o senhor começou a freqüentar a escola?
Nossa família tinha passado a residir em Botucatu. Com oito anos passei a estudar na Escola Rafael de Moura Campos. Fazer o curso ginasial era privilégio de pessoas cuja família tinha um poder aquisitivo elevado. Durante a semana eu andava descalço, tinha apenas um sapato que era utilizado aos fins de semana. A minha paixão não era ser rico, mas estudar. Fui até o Ginásio Diocesano de Botucatu, cujo diretor era um bispo. Ele me atendeu, perguntou-me qual era a minha necessidade. Disse-lhe que gostaria de cursar o ginásio. Na época não existia ginásio no período noturno. O bispo me arrumou uma bolsa de estudos, deu-me uma botina preta e uma roupa cáqui. Consegui cursar o ginásio na cidade de Botucatu. Um padre da Igreja de São Benedito, em Botucatu, arrumou-me um emprego no Campo de Aviação. Eu tinha uns 15 anos e fui trabalhar lá.
Qual era a sua função no Campo de Aviação?
Era almoxarife. Após concluir o ginásio fui para São Paulo, trabalhar no Campo de Marte. O hangar onde eu trabalhava tinha vários proprietários de aviões. Um senhor, Rufino Lomba, arrumou um quarto para que eu pudesse dormir no Campo de Marte. Ele também me arrumou um curso preparatório, ficava na Rua São Bento no vigésimo primeiro andar. Era um curso para ingressar na escola de aviação de Guaratinguetá. Permaneci por um ano em Guaratinguetá. Voltei para São Paulo onde ingressei na Guarda Civil, isso foi em 1956. A Guarda Civil de São Paulo tinha uma escola na Rua São Joaquim, 580, na Liberdade. Era uma corporação de elite. Os guardas civis trabalhavam com espadins, em cinemas, festividades, nos aeroportos, nas grandes agências como Cometa e Expresso Brasileiro. Como guarda civil fiz no Pátio do Colégio em São Paulo, um curso de espanhol e outro de italiano. Era um requisito necessário para trabalhar em aeroporto, agencias de ônibus. Fiz o curso cientifico, a noite, em uma escola próxima a Praça da República.
Nessa época o senhor morava em que bairro?
Eu era ainda solteiro, morava na Rua Visconde de Parnaíba, no Brás. Depois fui para a Rua Campos Salles.
Em que ano o senhor chegou a Piracicaba?
Foi no final de 1962. No dia 30 de janeiro de 1963 foi inaugurada a Guarda Civil de Piracicaba, na Rua Moraes Barros. No finalzinho de 1962 eu já estava trabalhando na rádio “A Voz Agrícola do Brasil”.
Como surgiu o rádio na vida do senhor?
Comecei na cidade de Botucatu, no “Serviço de Auto Falante do Venceslau” Era um serviço de auto falante com as características de uma emissora de rádio. Era instalado em um automóvel, parava em uma esquina fazia publicidade, como uma emissora de rádio, anunciava os filmes que seriam projetados nos cinemas da cidade, anunciava notas de falecimento e tocava músicas. Fiquei lá alguns meses, em seguida fui chamado pela PRF-8 – Rádio Emissora de Botucatu, cujo diretor era Plínio Paganini. Comecei a fazer um programa das 3 às 5 horas da tarde. O programa chamava-se: “Peça o Que Quiser e Ouça o Que Pediu” Tinha um companheiro que trabalhava lá e foi para a Rádio Record em São Paulo, ele me ajudou a ir trabalhar na Rádio Hora Certa de Guarulhos. Fui contratado pela Rede Piratininga, com emissoras em muitas cidades. Quando vim para Piracicaba a Rádio A Voz Agrícola do Brasil pertencia a Rede Piratininga. No finalzinho de 1962 passei a apresentar um programa onde tocava música mexicana. Muitos ouvintes ligavam perguntando por que eu não criava um programa mexicano. Em 1963 passei a apresentar o programa “México Canta”, na Rádio “A Voz Agrícola do Brasil”. Por 7 meses trabalhei também na Rádio Difusora de Piracicaba.
Em que ano o senhor passou a trabalhar na Rádio Educadora de Piracicaba?
Em 1968 fui contratado pela Rádio Educadora, o programa “México Canta” passou a ser “Noites do México”. Dr. Nelson Meirelles que me contratou. Ele era médico, diretor do INSS, da Santa Casa de Misericórdia. Mais tarde quem assumiu a direção da rádio foi sua filha Dona Ana Maria Meirelles de Mattos. Dr. Nelson Meirelles me ajudou muito, ele me aconselhava muito. Sua residência era na Rua XV de Novembro próxima a Rua Boa Morte. Ele me chamava de menino. Dizia-me para que estudasse. Fiz o curso de Administração de Empresas formei-me em 1978 e mais tarde em 1984 o de Jornalismo. Fiz a Academia de Polícia Militar do Barro Branco em São Paulo.
O programa “Noites do México” irá completar quantos anos?
Comecei no finalzinho de 1962, apresentado música mexicana, depois é que coloquei os nomes dos programas, considero que no final de outubro de 2012 completei 50 anos de apresentação de músicas mexicanas. Na Voz Agrícola do Brasil eu fazia também um programa chamado “Manhãs da Roça”. Na Rádio Educadora fiz muitos programas: “Eu, Você e a Música”, “Só Música Romântica”, com poesias, crônicas. Fiz um programa chamado “Sempre é Bom Recordar”, outro foi “Domingo em Alta Fidelidade”. Fiz o programa “Polícia Militar em Marcha”. Fui assessor de imprensa do quartel.
No quartel existe uma sala de imprensa?
É a “Sala de Imprensa Tenente Dario Correa”. Trabalhei no gabinete de vários prefeitos: Francisco Salgot Castillon, Cássio Paschoal Padovani, Adilson Benedito Maluf, João Hermann Netto.. Trabalhei com o Presidente da Câmara Municipal Homero Anéfalos. Por 10 anos fui oficial de gabinete do prefeito municipal.
Quantas vezes o senhor foi ao México?
A primeira viagem foi para fazer a cobertura da Copa do Mundo de 1986. Depois fui muitas vezes. Mantenho fortes laços de amizade com mexicanos, de certa forma me considero representante diplomático daquele país em Piracicaba. Existe a Escola de Agronomia em Chapingo, próxima a cidade de Texcoco, Essa escola quando mandava seus alunos para fazer pós-graduação, doutorado na Esalq, mandavam que essas pessoas me procurassem aqui. Eu me tornava um padrinho dessa pessoa. Orientava-a em muitos aspectos.
CANTINFLAS
O senhor foi convidado a participar de um programa de televisão no México?
Eu estava hospedado na casa de Juan Pitalua, ele disse-me que tinha um irmão que era diretor do Clube de Futebol America. Decidiram me levar á Televisa, para participar do programa de Juan Calderon. Na época meu programa estava a 28 anos no ar. Fui até e Televisa, para ser entrevistado e homenageado. Fui entrevistado também na Rádio Mundo, que naquele tempo tinha 200.000 watts na antena. Fui recebido pelo presidente do México Vicente Fox Quesada, de quem recebi um diploma de gratidão. Conheci muitas cidades: Vera Cruz, Guadalajara, Puebla uma cidade com muitas igrejas cujo teto e revestido em ouro. Em Puebla tem a fabrica Volkswagen. Estive em Guadalajara onde surgiram os mariachis.Mediante um determinado valor, um casal por exemplo, pode pagar para ouví-los a tocar e cantar musicas tipicas mexicanas.
O senhor está ha 50 anos apresentando um programa mexicano em Piracicaba, uma cidade que praticamente não tem laços culturais com o México, isso é um fenômeno?
O programa atualmente tem a participação de dois mexicanos, que acompanham do México o programa, via internet. O programa sempre foi apresentado as sexta feiras das oito as 10 horas da noite. Apresento outro programa diário das 4 ás 6 hras da tarde, é o programa “Chapéu de Palha” com música sertaneja de raiz, esse programa está ha 27 anos no ar.
Como é o programa “Noites do México”?
Apresento músicas mexicanas e aspectos de toda cultura do México. É um programa que requer conhecimento sobre a cultura mexicana. Tenho em um local um acervo muito significativo sobre o México. Objetos típicos de cada região, material fonográfico, fotográfico, documentação, certificados e diplomas que recebi. Tenho inclusive a imagem da padroeira da América Latina Nossa Senhora de Guadalupe.
No seu ponto de vista qual o motivo de identificação do piracicabano com a música mexicana?
As músicas mais tocadas no programa são corridos mexicanos. É próxima da música sertaneja brasileira. Muitos ouvintes são apaixonados pelo programa.
Cantinflas foi um grande artista mexicano?
Quando me perguntam como nasceu a minha paixão pela música mexicana, digo que quando era jovem ia assistir os filmes de Cantinflas, nome artístico de Fortino Mario Alfonso Moreno Reyes, ou simplesmente Mário Moreno. Ele trazia os mariachis que surgiram em Guadalajara. Interpretavam músicas lindíssimas do México.Como adolescente me apaixonei pela musica mexicana. Quando fui trabalhar na rádio “A Voz Agricola do Brasil” fui a discoteca e passei a tocar a musica que eu gostava, a mexicana, os ouvintes pediram que eu montassem um programa nessa linha. No dia em que fui ao programa de Juan Calderon, Cantinflas estava assistindo-o. Quando contei essa história, ele telefonou dizendo que ia para o programa imediatamente. Era um programa extenso, deu tempo de ele chegar a Televisa. Os mariachis cantaram, dançaram, fizeram homenagens ao brasileiro Dom Dario Correa. Na tela aparecia a legenda Ciudad de Piracicaba.
Sua paixão pelo México é enraizada, muito forte.
Tanto que quando vou ao México, o avião sobrevoando a capital, começam a cair lágrimas, o mesmo corre na minha volta ao Brasil. Tenho dois países: Brasil e México.
Como é a culinária mexicana?
O taco assemelha-se a uma panqueca, mais mole. A tortilha é uma massa mais crocante. guaca mole é puré de abacate bem temperado, que funciona como um complemento da salada. Os mexicanos são loucos por feijoada brasileira.
É um povo que cultiva o habito de adicionar muita pimenta a comida?
A pimenta é opcional. Uma criança de dois a três anos já se acostuma a consumir pimenta, os “chilis”. Antigamente no Brasil eram vendidos salsichas que ficavam de molho em um vidro. Geralmente em bares e restaurantes pricipalmente á beira de estradas. No México ao invés de salsicha usam pimenta ao molho. Tudo depende da vontade da pessoa, ela pode comer sem pimenta. Barbacoa é um dos pratos mais caros do México. Colocam pedaços de carneiro em uma vala, onde há uma espécie de prateleira. A barbacoa, ou carneiro como é chamado no Brasil é um dos pratos prediletos deles.
Como o senhor se sente, sendo dono de um patrimônio histórico, acumulado ao longo de 50 anos de apresentação de programa mexicano? Sabemos que será muito difícil existir outra pessoa que venha a acumlar tanto conhecimento sobre esse tema.
Tem que saber falar o idioma, conhecer a cultura e manter as amizades que possuo no México. É impressionante como em todos os locais onde vou ao invés de me chamarem pelo meu nome, me chamam por “Noites do México”. Isso ocorre também qundo ando pelas ruas da cidade. Observo também que intelectuais acompanham o programa. Tem muitos jovens apaixonados pela musica mexicana.
O senhor é religioso?
Bastante, quando fomos ao México visitamos a igreja matriz de Nossa Senhora de Guadalupe. É deslumbrante. Tanto ao subir como ao descer as escadarias é impressionante a ornamentação com flores. Em qualquer lugar onde se anda há abundância de flores. É muito comum o mexicano comprar um buque de flores e levar para sua casa, onde é quase unanimidade a existência de uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe.
Alguns habitos e costumes são bem diferentes da nossa cultura?
É um povo com grande epírito cívico, comemoram o dia da pátria com enorme devoção. Os festejos podem durar até uma semana. No natal consomem muito bacalhau, ao invés de peru ou suinos. O Dia de Finados é complétamente diferente do que se realiza no Brasil. Não há pessoas chorando no cemitério, Na noite da véspera de finados eles costumam ir aos cemitérios, tocam música mexicana, comem pratos típicos, isso se dá também no dia de finados. Eles acreditam que o espírito dos mortos vem até a família para visitá-los, e são recebidos com festas e alegria. Quem não for ao cemitério faz uma festa na residência.