PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de junho de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: JULIO CESAR BARROS AYRES
Julio Cesar Barros Ayres é nascido no Rio de Janeiro a 14 de maio de 1965, filho de Carmelo Leal Ayres, militar da aeronáutica e Maurina Barros Pulosena Ayres, tem um irmão de nome Marcos. Até os seis anos permaneceu com a família morando no bairro Laranjeiras, com a transferência do seu pai para São Luis no Estado do Maranhão, Julio iniciou seus estudos na Escola Mengue. Estudou no Colégio Marista de Araçagy (São Luis/MA). Em seguida foi cursar medicina na Universidade Estadual de Belém, no Estado do Pará. Entrou em 1985 e saiu em 1990.
Como se deu a sua decisão em cursar medicina?
Acredito ter sido por vocação, além de influência familiar, eu já tinha vários parentes que eram médicos. Por dois anos especializei-me em ginecologista e obstetrícia em Anápolis, Goiás, em 1992 conclui a especialização. Em 1993 voltei ao Maranhão, fui trabalhar em Açailândia, próximo a Imperatriz, lá conheci Dr. José Durante Sobrinho, que é de Rio das Pedras. Eu já estava casado com Viviane Bilio Ayres, advogada, natural de Minas Gerais. Lá tivemos uma filha que veio a falecer com um ano de idade. Nessa ocasião recebi um convite para vir passear em Rio das Pedras, fiquei na casa do Dr. Aparecido, já falecido e irmão do Dr. José Durante.
Atualmente o senhor exerce atividades profissionais em que locais?
Quando cheguei a Rio das Pedras o prefeito era o Marrano, havia necessidade de médico para trabalhar na cidade, me convidaram para ficar em Rio das Pedras, isso foi em 1994. Já me considero rio-pedrense, meus filhos Julio Cesar e Ana Júlia nasceram em Rio das Pedras. Por 16 anos trabalhei na Prefeitura Municipal de Rio das Pedras. Sou médico no Hospital dos Fornecedores de Cana em Piracicaba, tenho meu consultório particular, trabalho na Amhpla em Rio das Pedras, trabalho na Prefeitura Municipal de Piracicaba, onde sou concursado.
Qual foi a sua primeira impressão sobre Rio das Pedras assim que o senhor chegou?
A de uma cidade pacata, tranqüila, eu já estava vindo de uma cidade do interior. Aqui encontrei a oportunidade de conhecer muita gente. Fiz muitas amizades em Rio das Pedras.
Isso o motivou a ter o desejo de uma participação mais efetiva nas decisões políticas da cidade?
Observando as carências, principalmente na área da saúde, em 2004 a convite de Vitório Cezarino sai na sua chapa como candidato a vice-prefeito. Em 2006 me lancei na candidatura para Deputado Estadual, tive quase 40% dos votos do município. Em 2008 fui candidato a prefeito, tive 38% dos votos. Hoje sou pré-candidato a prefeito pelo PPS.
A saúde é uma questão muito delicada no mundo todo, países ricos como Estados Unidos não conseguem atender a contento sua população.
Exatamente. O Brasil nos últimos anos avançou consideravelmente no aspecto saúde. O sistema SUS disponibilizou maiores recursos, as regiões mais carentes do país melhoraram. Nossa cidade, Rio das Pedras, teve a pior nota do Estado de São Paulo: 3.7, a própria Tribuna publicou recentemente.
Por qual motivo essa avaliação foi tão baixa?
Acho que por falta de gestão. De competência na gestão. Rio das Pedras é uma cidade que tem uma arrecadação considerável, está no entorno das cidades com maior renda per – capita do Estado de São Paulo.
Em Rio das Pedras onde é feito o atendimento ao paciente?
Hoje existe um único pronto socorro, um ambulatório da prefeitura e um hospital. A cidade já está com quase 30.000 habitantes e é preciso implantar os programas do governo federal, não existe nenhum deles implantado. A cidade não tem o programa de saúde da família, o programa de saúde da mulher, da criança, do adolescente, do idoso.
E por que não têm esses programas?
Acho que é má gestão do serviço de saúde. O programa de saúde federal existe em todas as cidades, inclusive em cidades do nordeste.
Esses programas estão disponíveis e não foram implantados?
Não foram implantados no nosso município, pode ser por visão política, ou por falta de um técnico com visão competente para implantar esses programas. Tem que haver gerenciamento por técnico e não por político.
Qual é o maior problema na área de saúde em Rio das Pedras?
A prevenção. A assistência a saúde primária.
Há pessoas que adquirem determinados remédios, e não sabem que esses remédios têm distribuição gratuita?
Existe o programa Farmácia Popular, do governo federal. A população precisa de mais informações. Em Rio das Pedras temos diversas farmácias cadastradas. O governo federal dá gratuitamente o remédio. São remédios genéricos de qualidade. Isso tem contribuído para melhorar a prevenção da saúde no país todo.
Qual é o índice de natalidade da cidade?
O município tem esses dados com precisão, geralmente nascem de 30 a 40 crianças por mês em Rio das Pedras.
Houve um período em que muitas adolescentes tornaram-se mães precocemente, isso no Brasil todo, houve alguma mudança?
Continua sendo assim ainda, os números caíram muito pouco. Há muita falta de informação para essas mães precoces. Tem que haver os programas de saúde do adolescente.
Um dos grandes problemas que a saúde enfrenta é a falta de informação?
A informação custa caro, têm que ser montados programas específicos, a parceria entre as secretaria da educação e da saúde constituem em importante fonte de informação. A própria escola pública, a sociedade através de centros comunitários são canais importantes para levar a informação. É importante a parceria entre poder público e entidades religiosas, entidades de serviços.
O senhor é religioso?
Sou católico.
O senhor já tem um programa de governo elaborado?
O Brasil tem crescido muito, nós temos que aproveitar esse momento para crescermos juntos. Temos um distrito industrial que tem que ser ampliado. A cidade tem essa vocação industrial pela localização dela, entre duas importantes rodovias. Temos duas usinas açucareiras e produtoras de álcool, temos que valorizar a função agrícola.
Como o senhor vê a possibilidade de duplicação do trecho entre Rio das Pedras e a Usina Santa Helena (Rodovia Cornélio Pires)?
É uma rodovia estadual, já está passando da hora de duplicar, temos tido muitos acidentes com óbitos.
O senhor não pretende governar sozinho?
Pretendo governar com parcerias tenho o total apoio do deputado Roberto de Morais, que se prontificou a ajudar no desenvolvimento do município, colaborando com emendas para melhorar rodovias, para construção de postos de saúde, e a própria parceria privada. A cidade pode ter um portal, em sua entrada, de acordo com a sua necessidade. O que temos hoje está abandonado, poderia ser utilizado como um posto da Guarda Municipal, um local para informações. Não adianta fazer as obras e não cuidar é um dinheiro público mal empregado. Bons exemplos nós temos na cidade vizinha, o prefeito faz as obras e continua cuidando.
O senhor tem algum projeto voltado para a qualificação do funcionário municipal?
Acompanhei há alguns anos um projeto muito interessante no município de Praia Grande. A qualificação dos funcionários públicos e dos administradores tem que ter uma visão que ajude o município a crescer. Uma administração tem que ser descentralizada e com pessoas competentes. Dar responsabilidade e autonomia para cada colaborador. E cobrar resultados.
Quantos vereadores têm em Rio das Pedras?
Nove.
Hoje como é a relação da câmara com o município?
O prefeito tem a maioria. Espero se eleito for manter um bom relacionamento com o legislativo.
A população rio-pedrense tem pré-disposição para colaborar com o poder público?
Tem que haver uma abertura por parte da prefeitura para o povo ajudar. Acho que são solícitos. O que não vi nessa última administração é essa abertura. É um governo muito fechado, distanciado do povo.
O senhor acredita que a proximidade do administrador junto a população é fundamental?
É fundamental estar junto a população, aos empresários, as entidades religiosas.
As entidades religiosas têm uma atuação forte ou há uma supervalorização das mesmas?
Elas têm de fato muita importância, até mesmo pela omissão do poder público que na parte de assistência social deixa a desejar.
Como está a situação do dependente químico em Rio das Pedras?
Grave. Gravíssimo. Não existe um programa de recuperação do dependente químico. Na nossa região, de Piracicaba e Campinas, há um déficit de 17.000 vagas.
Para o jovem, Rio das Pedras não oferece muitas opções de lazer.
Pretendemos melhorar a parte de lazer, esportes. E precisa ser construído um espaço apropriado, um local onde possa ser feitas as festas do calendário municipal sem incomodar a cidade. Isso gera um custo mais baixo, as adaptações que são feitas geram despesas inúteis. Todo evento realizado no campo de futebol destrói o gramado. Quando é feita de forma improvisada em outro local, a locação das instalações é caríssima e incomoda boa parte da população. Temos já uma área em vista para a construção definitiva de um local de lazer, com terreno plano, onde as pessoas possam circular a vontade, com previsão de área de estacionamento compatível.
O senhor tem um projeto de governo pronto?
Já está quase concluído. Temos conversado muito com a população para a elaboração desse projeto. Desde 2008 quando fui candidato tenho aprimorado esse projeto. Minha forma de ser conhecido pelo povo é andar pela cidade, bater de porta em porta. Explicando nosso programa.
O senhor imagina quantos cafés já tomou em um único dia dessas andanças?
Bastante! O povo nos recebe muito bem, é muito educado, ouve nosso programa.
Qual é o seu olhar sobre o que a população vê no senhor?
De esperança, de mudança, que mude a forma de administrar o município, isso eu vejo que é o que a população pede. Para desenvolver o município, nós temos um grande problema no abastecimento de água, é um problema seriíssimo que existe já por diversas administrações municipais.
Qual é a solução?
Melhorar a captação de água, nós temos encanamentos que distribuem água com cinqüenta anos de uso, há uma boa perda de água, perde-se de 30% a 40% da água captada. A cidade cresceu, da forma que está compromete os próprios loteamentos. Seja condomínio fechado ou projeto habitacional para casas populares.
Por que a conta de água oscila tanto em Rio das Pedras?
Pergunta de resposta difícil, até na minha casa a conta de água trouxe-me esse problema no mês passado. Um mês veio uma conta de R$ 40,00 em outro mês R$ 140,00 tive que ir lá reclamar. Não sei se é preciso mudar a forma de leitura, ou mudar o programa que calcula. Precisam ser mudados os hidrômetros, a forma de leitura, um software confiável.
O senhor acredita em uma terceirização do SAAE?
Isso tem que ser estudado, depende da aprovação da câmara municipal. A terceirização pode ser boa, mas tem que ver a vontade da população. O que eu me proponho é no mínimo fazer uma gerência melhor.
O aspecto segurança como está em Rio das Pedras?
Como no Brasil todo. Ruim. A nossa Guarda Municipal precisa ser mais atuante, mais motivada. Tem que existir um plano de carreira para a Guarda Municipal. Tem que estar bem orquestrada com a Polícia Civil, com a Polícia Militar. A Guarda tem que estar na rua. Ela tem que estar localizada em pontos estratégicos, principalmente nas entradas e saídas do município.
No Brasil é muito comum quando se muda uma administração o administrador seguinte altera tudo que o anterior fez, seja bom ou ruim. Qual é a visão do senhor a respeito?
Isso é uma visão revanchista, um verdadeiro absurdo. Tem-se que colaborar com o desenvolvimento do município. O que está bom tem que melhorar. O que não foi implantado deve ser colocado. O prefeito é apenas um gerente do dinheiro do município. O prefeito é um funcionário público como outro qualquer. O dinheiro do município deve ser aplicado e bem cuidado. Conservar o que está bem feito, não destruir. Rio das Pedras não tem um plano diretor eficaz, as coisas não são feitas por prioridades, tem que ser um plano que deve ser discutido com a população. Se você perguntar a um cidadão de Rio das Pedras se ele conhece o Plano Diretor do Município, ninguém conhece. Ele deve existir por exigência legal. A prefeitura tem que ter um departamento de comunicação atuante, competente, que leve a informação a população.
As composições políticas engessam ações?
Acho que não, os partidos que formam as composições tem que pensar no bem da cidade. Não podem pensar no seu próprio benefício. Em Rio das Pedras votam na pessoa, no cidadão, embora haja cerca de 20 partidos políticos.
Dizem que quanto menor a cidade a política é mais acirrada, o senhor concorda?
A política é mais forte, é mais difícil por ser feita porta a porta, tem que convencer o cidadão. As composições tornam-se mais disputadas.
Com relação ao ensino o senhor pode adiantar alguns dos seus projetos?
Acho que têm que se usarem melhor as escolas já existentes. Implantar novos cursos, instituir cursos profissionalizantes. Incentivar os professores no aspecto pedagógico e salarial. Percebemos que os professores querem ajudar mais, mas não estão tendo apoio. Um dos maiores problemas da nossa cidade é a mão de obra especializada, as indústrias reclamam que tem que buscar funcionários qualificados de outras localidades. Pretendemos em parceria com as próprias indústrias daqui trazer escolas profissionalizantes.
Como o senhor vê quando dizem que Rio das Pedras é uma cidade dormitório?
Vejo com tristeza. É uma realidade, até mesmo pela proximidade com Piracicaba. Não podemos ficar esperando parados que Piracicaba se desenvolva, temos que nos desenvolvermos juntos.
Rio das Pedras tem aterro sanitário?
Temos o aterro sanitário, o “lixão” que precisa ser mais bem cuidado. Não existe coleta seletiva na cidade. O aterro sanitário de Rio das Pedras está com aporte de lixo coletado em outras cidades, como Jumirim que recentemente foi flagrado descarregando lixo de forma clandestina. O caminhão foi preso. Isso mostra falta de fiscalização ou irresponsabilidade da empresa que coleta o lixo lá, que é a mesma empresa que coleta em nossa cidade.
Qual é a arrecadação anual do município de Rio das Pedras?
Hoje é por volta de 80 a 85 milhões de reais.