PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado 05 de maio de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.teleresponde.com.br/ http://blognassif.blogspot.com/
Não é só aos jornalistas e produtores de um jornal que devemos agradecer pelo fato da informação chegar até nossa casa. Devemos agradecer a milhares de profissionais que trabalham na distribuição dessa informação. E quando tratamos de jornal impresso, estamos falando do jornaleiro. O dono de banca de jornal Hildon Fidélis da Silva, conhecido como Castelo, é deputado estadual de Alagoas. Apesar de ter conquistado apenas 354 votos nas eleições de 2006, Castelo (PTB) assumiu o mandato, na condição de primeiro suplente. Ele substituiu o deputado estadual Marcos Ferreira (PMN), afastado do mandato por decisão da Justiça.
Graciliano Ramos em um texto de 1915 diz a respeito dos jornaleiros: “Parece que desconhece hierarquias e vaidades tolas, porque não empresta títulos a nenhum nome. Diz: “o partido do Pinheiro, discursos de Rui Barbosa, o governo do Nilo Peçanha”. Fala sobre política, conhece o valor de nossos parlamentares, discute os principais episódios da conflagração européia, critica os atos do poder e emprega imoderadamente esses vistosos adjetivos que figuram nos cabeçalhos dos artigos importantes”. No dia 30 de setembro, os jornaleiros são lembrados, pois esse é seu dia. Os jornaleiros já contam com 151 anos de história na vida do país. O jornal “A Atualidade” consta como sendo o primeiro jornal a ser vendido avulso, no ano de 1858. Quem primeiro montou um ponto fixo foi Carmine Labanca, um imigrante italiano, na cidade do Rio de Janeiro. O sobrenome do imigrante se associou ao nome dos pontos-de-venda (“banca”). A regulamentação das bancas veio com o então prefeito da cidade de São Paulo, Jânio Quadros, em 1954. Ailton Moreira é hoje uma das personalidades mais conhecidas de Piracicaba, graças ao seu trabalho incansável, sua forma atenciosa de atender seus clientes, tratando a todos como se fosse o único cliente, não importando o volume de compras que o mesmo efetua. Isso fez com que a sua banca de revistas passasse a ser um ponto de encontro dominical.
O senhor é natural de Piracicaba?
Nasci em Londrina em 19 de março de 1950, filho de Jonevil Moreira e Isaura Rosa Moreira. Aos seis anos de idade mudei-me com meu avô Albertino Moreira para São Paulo. Ainda moleque trabalhei como engraxate, na cidade de São Paulo. Trabalhei em uma pequena loja dentro da Galeria Pagé, no centro de São Paulo, fazia o serviço de atendimento no balcão. Na ocasião a Galeria Pagé tinha apenas o mezanino, não havia ainda o edifício que há hoje. Na época morava na Vila Granada, Zona Leste. Em 1964 trabalhei no Correio situado na Avenida São João, entrei como estafeta, entregava cartas no centro de São Paulo. Logo passei a entregar telegramas.
Algum telegrama o marcou bastante?
Foi um telegrama que entreguei na casa do artista Demetrius (N.J.: O artista Demetrius Gravou Rock Do Saci, O Amor Que Perdi, O Ritmo da Chuva, a música Não Presto Mas Te Amo, Esta Tarde Vi Chover, Ei, Meu Pai, Nas Voltas do Mundo, Encontro, O Menino e o Pião, Esta Tarde Vi Chover e outras músicas). Ele morava no Cambuci. Eu cheguei à casa dele, fui atendido pela sua mulher, uma loira muito bonita, na ocasião parece que eles estavam tendo algum atrito, ela queria saber o teor do telegrama. Ao que consta eles acabaram separando-se. Nunca mais ouvi falar do Demetrius. Isso foi na época da Jovem Guarda. Uma das vezes fui fazer entrega de telegramas, próximo a fábrica da Antártica, nas proximidades da Mooca, era uma região que alagava muito rapidamente. Começou um pé d água, tive que manter a sacola acima da cabeça, era uma sacola a prova de água. Imaginei que iria morrer ali.
E as gorjetas?
Era comum usar uniforme?
Usava um uniforme da cor caqui e um quepe com o emblema do correio. Usava bota ou coturno. Havia refeitório no próprio correio. Eu tinha uns catorze ou quinze anos.
Do Correio o senhor foi trabalhar onde?
Fui trabalhar na Avon Cosméticos. Ficava na Avenida João Dias, no bairro Santo Amaro, em Jurubatuba, na cidade de São Paulo. No começo eu entrei como ajudante de cozinha, função que exerci por um ano e meio, nós servíamos setecentas refeições por dia. Fui promovido para o departamento e vendas, fui trabalhar no arquivo morto da Avon. Era um serviço duro. Era uma enormidade de prateleiras, com escadas, a função era a de procurar documentos. Era muito bem organizado. Hoje o sistema é muito mais avançado, mas na época era extremamente trabalhoso. Era papel! Muitas vezes permanecia na escada procurando por um período de quarenta minutos, uma hora. Mas achava o documento! Com o tempo passei a trabalhar fora do arquivo morto Nesse período houve uma fase de corte de funcionários. Eu e meu supervisor fomos cortados.
Não demorou uns vinte dias ele entrou em contato com a minha família pedindo para que eu fosse fazer uma entrevista na Editora Abril, na Rua do Cortume. Cheguei lá e deparei-me com uma empresa enorme. Quem havia feito a minha indicação foi o meu ex-supervisor na Avon Ele tinha “mexido os pauzinhos”, preenchi uma ficha e passei a trabalhar na Editora Abril. Fui designado para trabalhar para a Rua Antonio de Barros, no Tatuapé, ficava a vinte minutos de casa. Iniciei trabalhando como auxiliar de estoque. Trabalhávamos em duas pessoas: o estoquista e eu! Os caminhões eram descarregados com empilhadeiras. Eu iniciei o meu período de trabalho das seis da tarde até as seis horas da manhã. Eu deveria ter uns dezenove anos de idade na época. Foi trabalhando lá que me casei. A minha esposa trabalhava no Unibanco situado próximo á Galeria Prestes Maia. Nós nos conhecemos na igreja que freqüentávamos.
Por quanto tempo o senhor trabalhou como estoquista?
Após três meses passei a ser estoquista.
Quantos títulos vinham diariamente?
Na época de trinta a quarenta. Hoje são muito mais.
O senhor chegou a ser promovido para promotor na Editora Abril?
Fui promovido para Promotor Brasil. Lembro-me até hoje do supervisor Milton Feliciano da Costa, tenho um grande desejo de rever esse homem, sei que ele está tocando uma distribuidora no Rio Grande do Sul. Milton Feliciano ao que consta está em Porto Alegre è uma pessoa carismática, ele tinha um grande apreço por mim. Após um período de treinamento interno passei a viajar por um período de três meses com um treinee. Na época eram feitos relatórios diários, escritos em máquina de escrever portátil, fazia parte da bagagem de viagem.
Para onde foi a primeira viagem?
Naquela época a Abril não permitia que um funcionário dela hospedasse ou se alimentasse em locais que não fossem de primeira categoria, isso para preservar a imagem da empresa. Saímos de São Paulo, fomos a Campinas, Rio Claro, São Carlos, Araraquara, Araçatuba, Presidente Prudente, Santo Anastácio, Presidente Bernardes, Bataguassu. Foram vinte e cinco dias de viagem. Resolvíamos todas as pendências, montagem de uma distribuidora, pagamentos atrasados.
Como as publicações chegavam á essas localidades?
Eram transportadas por ônibus, caminhões fretados ou veículos da própria Editora Abril.
O senhor passou a trabalhar viajando sozinho para a Editora Abril?
No início eu estava muito satisfeito, tinha carro da empresa a minha disposição por período integral, com todas as despesas pagas, tinha um bom salário, era enfim um bom emprego. Com o passar do tempo, nasceram meus filhos, e percebi então o quanto estava afastado da minha família, chegava a passar um mês viajando. Cheguei a ficar sessenta e cinco dias fora de casa, viajando pela empresa. Essa vida foi me cansando. Assim mesmo permaneci por mais dois anos viajando. Comecei a pressionar o Milton.
O senhor conheceu Victor Civita?
Eu o vi uma única vez. Ele não morava no Brasil. Era uma pessoa simpática, alto, meio calvo, muito comunicativo. Conheci mais o Mauricio Cardoso. Conheci também o Mino Carta, primeiro diretor de redação da Veja. Nessa época conheci o Bruno Gianetti, aqui em Piracicaba, a agencia que ficava embaixo da Rádio Difusora era do Balacin, que era o distribuidor, depois quem tocou a distribuidora foi o Toninho Gianetti, irmão do Bruno. O Bruno montou uma loja ao lado da Galeria Gianetti, eu que o auxiliei na aquisição do local, nessa época eu ainda estava na Editora Abril. Nesse período eu pedi a conta na Editora, minha vida era de cigano! Mandei currículo para outras firmas e recebi convite da Kibon, da Souza Cruz, mas era também para viajar. Certo dia fui fazer uns acertos na Editora Abril, quando uns amigos me disseram que o Bruno Gianetti precisava de um gerente para tocar a loja e ajudar na distribuidora. A distribuidora ficava na Prudente de Moraes passando a Armando Salles, em um casarão antigo.
O senhor permaneceu trabalhando na Agencia XV de Jornais e Revistas até que ano?
Eu pedi demissão ao Bruno Gianetti. Abri a minha loja na Rangel Pestana em 1981. Sofri para montar aquilo. Ia para São Paulo, trazia revistas. Ia de ônibus, chegava á noite, ficava até a meia noite na casa de um parente e ia até o Barroco, ao Farah, ao Galvão, trazia revistas para dar seqüência aqueles colecionadores que aguardavam seus exeemplares. Tenho clientes que já trazem seus netos até a minha banca. Um grande amigo que me incentivou muito foi Gregório Marchiori. Outro foi o José Roberto Cera. Paulo Polleti. Paulo Bassetti. Edson Rontani. Se eu começar a citar nomes terei que fazer uma lista enorme.
Em suas viagens á Piracicaba, ainda funcionário da Editora Abril, em qual hotel o senhor se hospedava?O senhor chegou á Piracicaba em que ano?
Foi em março de 1976.
Uma banca de jornal e revistas tem um aspecto muito importante que é o período de validade da publicação?
Isso eu tenho facilidade em administrar. Apesar das inúmeras publicações, há uma forma de controlar corretamente. Poucas pessoas sabem, mas Piracicaba já teve sessenta bancas de revistas! Hoje existem umas quarenta e poucas bancas.
O senhor teve que retirar revistas que estavam sendo vendidas na sua banca?
Tive que retirar revistas por diversas vezes, principalmente ás consideradas de conteúdo pornográfico.
O senhor lembra-se da época em que diversas bancas de jornal e revistas, sofriam explosões?
Lembro-me sim! Isso ocorreu mais em São Paulo. Foi obra de terroristas, foi terrível para São Paulo.
Lembra-se da revista Realidade?
Era uma das revistas mais vendidas. Na área esotérica existem revistas que se perpetuaram até hoje.
Pato Donald ainda é um campeão de vendas?
Pato Donald, Tio Patinhas, Cebolinha Mônica, são revistas que devem continuar por muitos anos.
Como era a venda do jornal Notícias Populares?
Era um dos jornais que mais vendia. Jamais pensei que Notícias Populares e Gazeta Esportiva iriam serem descontinuadas.
A revista Sétimo Céu era boa de venda?
Foi uma das revistas que vendia muito.
A revista Senhor?
É uma revista mais para executivos, tem pouca tiragem, mas mantém um excelente nível.
Qual é o público consumidor de revistas eróticas?
É o público adulto, mais senhores do que jovens. A revista G Magazine é uma revista dirigida para o público gay masculino, mas ela traz artistas conhecidos, e quem compra muito essa revista é o público feminino! Quando sai jogadores, artistas famosos, as mulheres compram essas revistas de forma compulsiva.
Mulher compra a revista Playboy?
Compra! Já vi diversas vezes elas passarem pelo caixa com várias revistas, sendo que a Playboy passa pelo caixa discretamente.
Há ainda certa reserva por parte do comprador de revistas relativas a sexo?
Existem clientes que são extremamente discretos quanto á preferência sua preferência pessoal. Alguns até permanecem por determinado tempo, quando então estão sozinhos na banca sentem-se mais a vontade, adquirem o material de leitura, passam pelo caixa e retiram-se com o material pretendido.
Há venda de livros em bancas?
Livros e DVD são produtos de boa comercialização.